Encheu a lixeira com papel amassado. O fracasso nas primeiras tentativas, não o fez desistir do sonho que desponta na brisa do amanhecer. Como está escrito:  ‘O amor e o ciúme caminham na mesma direção, dormem e acordam juntos;  um é a régua, o outro, o compasso, ambos porém, necessários na caminhada a dois. Tudo concorre para que a harmonia deixe rastros distintos e uma mesma pegada.

Mal raia a madrugada, a passarada, alvissareira faz festa. Não semeia, nem recolhe no celeiro. Canta a vitória e dá glória Àquele que provê, enchendo de víveres a mesa do justo. Tudo passa no vértice da existência: a angústia, a dor, e o sofrimento. Finalmente, também a vida passa, repousa como a areia deixada pelo vento e descansa em paz. Toma, pois, caneta e transfere para o papel, as dores que te acorrentam a alma. E ficarás aliviado, o coração limpo e a alma lavada.

Cuide do corpo. Cuide principalmente da alma, não permitindo que tribulações venham obstruir o canal por onde passa a virtude da esperança. Jogue fora toda sujeira e lixo espiritual, porque assim como as máquinas devem passar por  revisão e reparos, a alma humana necessita de restauração para remover o azinhavre que impede o brilho de Deus refletir no rosto  humano. De que vale o efêmero diante daquilo que é infinitamente duradouro? ‘Não somos dono de nada. Nenhuma obra humana é eterna, nem dura eternamente a memória do sábio.’ Faça uma faxina, deixe a casa limpa. Limpe a represa e a chaminé. Comece escrevendo. Escreva para si mesmo ou para outrem. Conte um conto, cante um canto, ainda que seja de dor. Lance fora o cobertor de problemas que envolvem teu coração... O papel absorve tudo.