Eu era criança quando houve uma chacina no campinho da quadra 28 do Gama/DF onde eu, Vando, Galego e o finado Mauro jogávamos bola. Certo dia seis corpos de jovens estudantes amanheceram degolados no campo. Que eu me lembre foi a primeira grande violência que tive notícia. A partir de então chacina virou moda. Mas o Mauro não foi uma dessas vítimas, noutro dia falarei sobre ele.
Desde aquela época os assassinatos covardes vieram tomando corpo. Os bandidos evoluíram as formas de violência, os alvos, os horários, os instrumentos. Com o crescimento da violência, fomos obrigados a aperfeiçoar as nossas defesas.
Já foi moda colocarmos cacos de vidros nos muros. Como não bastou, instalamos cercas eletrificadas para proteger nossas famílias. Com medo de furtarem o toca-fitas dos nossos carros, era comum entrarmos num comércio carregando o aparelho. Naquela época, anos 80, nós homens achávamos que impressionávamos as meninas. Numa mensagem subliminar estávamos dizendo: “tenho carro, sou poderoso”. Só que uma delas me desbancou: “Se você se preocupa em roubarem este som mixuruca é porque você é pobre”. Falou assim..., na lata.
Sem gracinhas, voltemos à violência. As câmeras de segurança com a frase “Sorria, você está sendo filmado”, já não inibem os bandidos. Eles evoluíram suas táticas com sequestros relâmpagos, explosão de bancos, assaltos a mão armada em plena luz do dia. A polícia também evoluiu as suas mas a bandidagem cresceu mais que o efetivo policial. Talvez por isso sentimos que a polícia não tem como garantir segurança para todos nós.
A violência forçou a nos escondermos. Nossas casas são verdadeiros presídios protegidos por muros altos e novo arame farpado com o nome de serpentina. As cidades cresceram os costumes mudaram, a tecnologia nos presenteou com algumas facilidades, mas também favoreceu aos bandidos.
Não precisamos de muito estudo nem de ir muito longe no tempo para vermos como a violência se desenhou. O principal destaque está na página do Ministério da Justiça. 81,81% dos nossos presos tem de 18 a 34 anos; 91% deles tem até o ensino médio incompleto. Estamos acuados por homens jovens e sem estudos.
Nos últimos dias vimos imagens assustadoras de alguns bandidos pobres amarrados em postes, pagando seus crimes pelas mãos de cidadãos honestos. Como a quantidade de cidadãos que obedecem às leis é muito superior à dos bandidos, não é difícil pegá-los e amarrá-los para a polícia levá-los. Parece-me que cansamos de recuar e agora partimos para o contra ataque. Certamente os bandidos já perceberam que os postes são fortes aliados da sociedade.
