Não tenho como te deixar contente,
Que a rima que hoje trago é muito feia.
Mas vou levando a trova para a frente,
Que, ao menos, meu irmão não titubeia
E escreve, no papel, serenamente,
Levando, para o verso, uma hora e meia,
Que é quanto agüenta o espírito encarnado
Permanecer de transe neste estado.
Eu devo aproveitar-me desta hora,
Para mostrar ao povo a sã doutrina,
Porém, se a minha rima não melhora,
A idéia há de ficar bem pequenina.
Assim, faço menção de ir-me embora,
Para livrar-me desta rude sina,
E me arrependo, ao ver que mais sofrida
Está do meu irmão a triste vida.
Descabelar-me, então, por este verso
É coisa de somenos, parvoíce.
Ficar sem dizer nada é que é perverso,
Mas eu pensei que nada conseguisse,
Então me pus no bom trabalho imerso,
P’ra não lembrar depois: — “Eu bem que disse...”
E agora aqui demonstro o resultado,
Que me causou surpresa e até agrado.
Eu recomendo, pois, ao bom amigo
P’ra que não percas tempo nessa vida.
De que te adianta olhar p’ro teu umbigo,
Se é triste o que acontece a quem duvida?!...
Se julgas que vais mal, ao ir comigo,
Enfrenta, com denodo, a dura lida
E põe no teu “curriculum” a prova
De que o trabalhador o amor renova.
Eu disse que o trabalho o mal redime.;
Alguém pode dizer que o verso empolga.
Assim, o versejar é bem sublime,
Que ocupa o nosso tempo e nos dá folga.
Mas, quando o verso é mau, é puro crime:
É nele que noss’alma mais se amolga.
Por isso é que o perigo é mui constante:
Vamos amar ao Pai, que o amor garante.
Não quero que este verso seja causa
De sofrimento extremo ao bom leitor,
Que aproveitou da lida simples pausa,
Para saber o que te vim propor.
Não são suores, como em menopausa,
Por transtornar-te a vida exterior:
É a regra mais antiga de Jesus:
A de levar com calma a triste cruz.
Foi esse o ensino que deixou o povo
Impressionado, com a forte luz.
Se repetisse a vida aí, de novo,
Iria ver que a lei ninguém seduz.
Mas, ao morrer na cruz, eu me comovo
E ponho no meu verso, pois reduz,
Tremendamente, a rima que não rende,
Porque, ao falar do Cristo, a gente entende.
Engatinhei no verso e estou de pé:
Espero dar uns passos para frente.
Eu sei que vão pensar em marcha à ré,
Porque não há cristão que a trova agüente,
Porém, não vou perder a minha fé,
Que eu sei que há uma pessoa resistente,
Capaz de me aplaudir, e sem injúria:
A esposa deste amigo, a Dona Núria.
Não pude resistir a esse chamego,
Que a moça tem por nós muito respeito.
Porém, não vou privá-la do sossego,
Fazendo um verso, tolo, mau, suspeito.
Preciso dar ao tempo bom emprego,
Assim, retomo a rima em que receito
Amor ao semelhante no trabalho,
Conforme eu vejo a moça em seu borralho.
Eu avisei que a rima vinha pobre,
Mas, mesmo assim, te dei o meu recado.
Espero que o Senhor jamais me cobre,
Por transmitir um falso desagrado,
Pois, antes de faltar, melhor que sobre,
Assim, cobri de luz, Jesus amado,
A todos que me lerem, na esperança,
De que a felicidade aqui se alcança!
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