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Contos-->Uma árvore no nosso quintal -- 22/01/2003 - 02:26 ( Andre Luis Aquino) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Quando eu nasci minha mãe plantou uma árvore no nosso quintal, era só uma mudinha que ela pegou do pé da serra, fazia parte daquela tríade famosa de plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho que alguém disse um dia como realização de uma vida.
Escrever um livro ela nunca escreveu embora tenha histórias de sobra para escrever vários deles, mas teve três filhos e plantou muitas árvores pelo mundo.
Eu fui crescendo e a árvore também, um dia sentado no quintal com a minha mãe a sombra dessa mesma árvore ela me contou essa história , que aquela árvore tinha sido plantada um dia depois que eu nasci, eu devia ter uns cinco anos e nunca mais olhei aquela árvore com os mesmos olhos, naquela época nossa casa era uma das poucas do bairro e não tínhamos muito vizinhos.
O tempo foi passando e eu subia nela pra fugir das surras da mamãe quando eu aprontava, li Monteiro Lobato, Dom Quixote e a coleção vaga-lume na sua sombra, meu primeiro beijo foi sobre a sua copa, minha primeira decepção também, muitas vezes molhei o seu tronco com as minhas lágrimas da dor e da adolescência, escrevi meu nome em coração nesse mesmo tronco e dentro desse coração escrevia o nome dos meus amores e depois ia apagando e colocando outros, até que um dia cessou essa mania e a árvore apagou com o tempo os meus corações, eu escondia brinquedos em buracos do tronco dela e outras coisas que não queria que ninguém achassse.
Ela ficou uma árvore grande e alta e de longe ela podia ser vista, era por ela que eu sabia onde estava a minha casa quando ia brincar pelas vizinhanças, muitos ninhos foram feitos nela, uma vez um filhote de passarinho caiu dela e eu fiquei cuidando dele durante semanas , quando ele estava quase bom e eu achava que ia salvá-lo ele morreu pela noite, foi minha primeira experiência com a morte e nunca mais esqueci, enterrei o passarinho aos pés da minha árvore.
Um dia meu pai me ajudou a fazer uma casa na árvore, daquelas que eu via nos filmes, foi uma festa só, foi a primeira vez que dormi fora de casa, fui uma das maiores alegrias que tive na vida, um amigo dormiu lá comigo e ele diz que essa também é uma das maiores alegrias de sua vida, toda vez que nos encontramos ele sempre fala disso, na noite seguinte caiu uma tempestade e o vento me levou a casa da árvore, chorei muito, meu pai disse que ia fazer outra igual, mas nunca fez e eu também esqueci disso logo.
Mais um tempo passou e eu fui morar longe de casa e ficava muito tempo sem ver a minha árvore, de noite eu sonhava que estava lá sob a sombra dela e toda a minha família reunida, aquilo me matava um pouco as saudades de casa e da infância...
Um dia eu fiquei doente, muito doente e fiquei internado num hospital, era pneumonia e quase morri, eu não pude ver, mas meu irmão me contou que as folhas da arvore caíram e do tronco dela escorria um liquido transparente, como se fossem lágrimas, parecia que ela estava doente também e quando eu fui melhorando ele também voltou a ficar verde, naquele tempo nunca relacionei os fatos, eu não tinha pensado nisso e só agora estou contando essa história.
O bairro cresceu e a árvore estava espremida por muros e concreto por todos os lados, parecia resistir bravamente a tudo aquilo, o tempo passou e meus pais mudaram-se daquela casa, queriam uma casa menor, afinal todos os filhos já tinham partido, eu já não morava lá fazia um tempo, só passava as férias, antes deles venderem a casa fui me despedir da casa e dela, ela ficou por ultimo, lá no fundo do quintal ela estava como se estivesse abandonada, ela era o único verde no meio daquela opressão de concreto.
Sentei mais uma vez aos seus pés e usei as suas raízes como banco, ali me lembrei de tudo que passei naquela casa e com ela, senti que estava deixando um pedaço de mim, abracei o seu tronco e guardei uma folha dela na carteira, chorei mais uma vez e dei adeus a minha árvore e virei as costas, escutei um estralo e quando me voltei para olhar o que era descobri que um de seus galhos havia caído ao chão, tinha sido a forma dela se despedir de mim...
E os anos se passaram, passei por tanto na vida, subi e desci na gangorra do sucesso, décadas se foram como anos, fiquei velho, os cabelos brancos vieram e uma doença terminal tomou conta de meu corpo, lutei com todas as forças mais meus dias na terra haviam acabado, o médico me deu mais duas semanas de vida.
Senti muito medo, senti muito desespero, mas aos poucos fui ficando calmo e aceitando meu destino, me lembrei de meus irmãos ainda vivos e felizes e ali do meu lado, me lembrei de papai que cuidou tão bem de mim, me lembrei de mamãe...mãe que me amou com tanto carinho...antes de morrer ela pegou na minha mão e disse que tinha enterrado o meu cordão umbilical nas raízes da arvore...já tinha me esquecido de tudo isso, tinha me esquecido da minha árvore, a dor me fez voltar a enxergar e ouvir as vozes do passado.
Voltei ao bairro que eu nasci, era como estar voltando para a minha casa, como estar voltando para o ventre da minha mãe, afinal a vida é isso mesmo é um ciclo que se repete infinitamente...tudo estava tão diferente, já não havia mais casas, tudo havia sido derrubado, era um imenso campo, alguém havia feito do bairro um parque, estava difícil de localizar onde havia sido minha casa, meus irmãos me aparavam mais eu pedi para ir sozinho , iria seguir os meus instintos e a minha intuição, o corpo doía e eu me apoiava numa bengala que tinha sido de minha vó e fui de meu pai e agora era minha, caminhava lentamente por aquele campo verde aos poucos eu senti que estava me aproximando, nessa hora eu senti uma presença muito forte de algo muito bom a minha volta, eu olhei para trás e lá estava toda a minha família, eu nunca pude ter filhos, por causa das contingências da vida, eu não podia ver os seus rostos mais tenho certeza que estavam muito preocupados comigo.
O vento soprou e eu pude ver algo caído no chão, eu havia chegado onde há muitas décadas tinha sido minha casa, era um tronco velho era a minha árvore que havia morrido, me ajoelhei diante daquele tronco velho e chorei, senti que o vento me abraçava e sentia muita coisa boa, apaguei e sonhei com todas as pessoas que passaram na minha vida, vi seus sorrisos, senti seus abraços, parece que foi uma eternidade, mas foram apenas 2 minutos, quando acordei e voltei a mim ainda estava só, a minha família não havia percebido nada estava ainda lá ao longe me olhando, olhei de novo para a minha árvore morta e percebi que havia chegado também a minha hora e então me levantei para voltar para a minha família e cumprir o meu destino...mas algo atentou ao meu olhar, no mesmo lugar onde o tronco morto repousava sobre o solo agora ao seu lado crescia uma mudinha....
Eu não morri, duas semanas se passaram, dois meses e depois dois anos...escrevi um livro contando minha vida, eu levei aquela mudinha comigo e a plantei no quintal no mesmo dia que adotei um filho, a história mais uma vez iria se repetir...


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