Jesus buscou, no deserto,
A companhia, decerto,
Dos espíritos maiores,
Pois, longe das tentações,
Mais livres os corações,
Os bens serão os melhores.
Mas foi na luta do mundo
Em que o golpe mais profundo
Demonstrou o seu valor:
Sabia do sacrifício,
Mas ergueu seu edifício,
Fundamentado em amor.
As pirâmides do Egito
Tornam o homem aflito
Por conservar a matéria.
Mas o ideal de Jesus
A todos nós só conduz
À energização etérea.
Que coisa existe mais linda
Do que entender como infinda
A vida, ao lado de Deus,
Inda mais quando se sabe
Que é apanágio que nos cabe
Cada qual junto dos seus!
É o amor que se propala,
Eternidade de gala,
Festa perene no Céu.
Mas é preciso, bem antes,
Demonstrar aos semelhantes
Que a verdade não tem véu.
Serenidade na vida,
Confiança que convida
A colher frutos em paz,
Embora saibamos bem
Que nem tudo se mantém,
Pois o tempo estragos faz.
Determinismo, contudo,
Na essência do conteúdo,
Só o bem feito co’amor.
Em matéria de caráter,
Constitui “celula mater”
A força de ao mal se opor.
Auscultar o coração,
Na presença da lição
Do sacrifício do Cristo,
Pode levar a pessoa
A saber se é má ou boa:
Não há sentimento misto.
Mas a turma da poesia
Jamais se predisporia
A incentivar fanatismo:
É com base na ciência
Que se prova a consciência,
Sob a luz do espiritismo.
Quem quiser subir de posto
Há que realizar com gosto
Os trabalhos caridosos.
Eis o ensino permanente
Dos que velam pela gente,
Preparando excelsos gozos.
Seria infantilidade
Pressupor que Jesus há-de
Receber os pecadores.
Se são os santos perfeitos,
Precisamos ser eleitos,
Na expiação destas dores.
Basta um pouco de critério
Para saber que é bem sério
O compromisso co’a vida:
Ninguém virá por prazer,
E sempre para entender
O valor de toda a lida.
Mas sofrer o tempo todo,
Não vá cair nesse engodo,
Nem Jesus lá no deserto.
Alegria permanente,
Mesmo quando a alma sente
A morte chegando perto.
E, se perdermos um filho,
Serve ainda o estribilho
Do grande contentamento?
Diante de um filho morto,
Tenha noss’alma conforto:
É uma questão de momento.
Lágrimas serão bem-vindas,
Mesmo que não sejam lindas,
Pois o amor precisa delas.
Contam que Jesus chorava,
Mas ao Pai não reclamava:
Eis as lágrimas mais belas.
Os exemplos de Jesus
Servem sempre, não a cruz,
Perversidade romana.
A dor vem p’ra espicaçar
Quem saiu a navegar:
A doutrina não se engana.
Mantenhamos firme o brio,
Se o tremendo desafio
Nos atingir bem de perto.
A provação permanente
Alcança a toda esta gente:
É areia no deserto.
Nos momentos da agonia,
Lembremos desta poesia,
Derivação para a dor.
Elevemos para o Pai
Um pensamento que vai
Demonstrar-lhe nosso amor.
Saibamos corresponder
De Jesus o bem-querer,
Em lhe seguindo a lição.
Na prece, cantemos hino,
Com doce voz de menino:
Os anjos nos guiarão.
|