Vamos falar da verdade,
Na ânsia que nos invade
De percorrer as esferas.
Se quisermos iludir,
De que haverão de servir
As falácias das quimeras?!...
Sofremos todos no Umbral,
Mas superamos o mal
Que nos punha enceguecidos.
Agora, em versos mais puros,
Apesar de alguns apuros,
Damos notícia aos queridos.
Fazer o bem é o preceito,
P’ra quem queira ser eleito
Aos trabalhos superiores.
Um deles é trazer rimas,
No desejo das estimas,
Na consolação das dores.
Jesus sofreu pela gente,
Mas deve ficar contente,
Ao receber cada alma,
Que, no etéreo, a alegria
Se transforma em melodia,
Em luz, em amor, em calma.
Quando o Mestre nos dizia
Que o homem da Samaria
Fora o nobre benfeitor,
Sabia que o povo crente
Iria levar p’ra frente
Seu ensino, com ardor.
Kardec meditou tanto
Para afastar o encanto,
Levando a ciência a sério.
Fez ver ao homem, no mundo,
Que pode ser mais profundo
O fator desse mistério.
Jesus nos disse que, um dia,
O Pai nos enviaria
Alguém p’ra nos consolar.
Tendo o homem qualidade,
O “Espírito de Verdade”
Adentrou o nosso lar.
Ao estudar as mensagens,
Façamos nossas contagens,
Sopesando o bem e o mal.
Depois que veio Kardec,
Não se faz salamaleque:
A verdade é o principal.
Por isso, quando chegamos,
Carregando nossos ramos
De palmas e de oliveiras.
Enaltecemos o amor,
O trabalho, com ardor:
As virtudes pioneiras.
Alguém perguntou: — “Senhor,
Quem trabalha com amor
Tem garantido o seu lado?”
— “Tem sim, querido filhinho” —,
Disse o Mestre com carinho,
— “Tendo tudo aos pobres dado...”
Como cumprir tal promessa,
Se quem tem só se interessa
Pelos bens que a traça come?
Quando morre, chega ao “Céu”,
Nada encontra, só escarcéu,
Pobre, o rico se consome...
Vão chegando os benfeitores,
Que compreendem essas dores,
Distribuindo conselhos.
O rico que virou pobre
Começa a ver que esse “cobre”
Vai suportar, como relhos.
Não ouviu, durante a vida.
O sofrimento convida
A ficar bem mais esperto.
Pensando muito em Jesus,
Vê a excelsitude de luz
Que se perdeu no deserto.
Quem é você, caro filho,
Com quem, hoje, compartilho
Esta hora de poesia?
É rico, bom, generoso?
Ou pobre muito orgulhoso?
Que alma melhor seria?
Generosidade pode
Morar em algum pagode,
Em meio a muita riqueza.
Mas dar daquilo que tem
Sobrando não só convém:
É bom fugir da avareza.
O orgulho que mal reside
Irá servir de cabide
Para as desfeitas do povo.
Aceitar, co’a alma em pranto,
Pode quebrar esse encanto:
Eis Jesus feliz de novo!
Qual irá mais facilmente
Retemperar sua mente?
É você quem vai dizê-lo.
Mas, para contar vitória,
Vai ter de lembrar da história
Duma agulha e dum camelo...
E, se o pobre voltar rico,
Eu não sei como é que fico,
Perante o sério dilema!
A lei de Deus é um sufoco
E me funde sempre o “coco”,
No emprego do estratagema.
Que alma melhor será?
Quem por certo me dará
Atenção, respeito e força.
Ao se dizer a verdade,
Tem de ser com propriedade,
Que esse bem não há quem torça.
Ao repetir a lição
De Jesus, o bom irmão
Há de fazê-lo co’amor.
Inspirar-se é bem preciso,
Pois estar no paraíso
Vai exigir-nos valor.
É assim, com estes versos,
Simples, bobos e perversos,
Que nos pomos nas alturas.
Ao esquecermos os males,
Secam lágrimas nos vales:
Estas almas são mais puras.
Vamos rezar um pai-nosso,
Que mais que isso eu não posso,
Pois a estrofe se desfaz.
Agradeço ao povo unido,
Ao leitor desprevenido
E aos esforços do rapaz.
Diz que tem cinqüenta e sete,
No entanto, o povo repete
A expressão que o torna jovem.
Mas chamá-lo de “senhor”,
Seja “mestre” quanto for,
Acho que poucos aprovem.
Não insista mais comigo:
Pode chamar-me de Amigo
Que não irei ficar bravo.
Caso confiança tome,
Chame, então, pelo meu nome:
De Carvalho, ou de Olavo.
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