Jesus contemplou o mundo:
Sem hesitar um segundo,
Deliberou encarnar.
Convocou muitos dos anjos,
Designou uns arcanjos,
Para tudo se aprestar.
Isso foi há dois mil anos.
Desde lá, muitos enganos
Se deram no santo nome:
Além da forca, a fogueira,
O pelourinho e a cadeira.;
Mata-se até pela fome.
Era Jesus a esperança
De que o bem sempre se alcança,
Com fé e com caridade.
Se muitos evoluíram,
Existem os que caíram,
Pois grassou grande maldade.
Hão de perguntar: — “E, agora,
A salvação não vigora,
Para os que vivem no bem?
As normas que Jesus deu
São valores de judeu,
Ou a todos nós convêm?”
Enquanto o homem discute,
Em seu coração se embute
O rigor da opinião.
Melhor faria, contudo,
Se entendesse o conteúdo,
Trabalhando pelo irmão.
Jesus chamou pelo Pai,
Na suprema hora em que vai
Desprender-se da matéria,
Seu exemplo aí deixando,
P’ra que fujamos do bando,
Na temática mais séria.
É lá, no fundo da alma,
Que deve manter-se a calma,
Pois nem tudo é só mistério:
Há valores superiores,
Como compreender as dores
Que se desfazem no etéreo.
A morte nos atribula?
Não há “correr numa vula”,
Para salvarmos a vida.
Nosso destino bem certo
Há de estar ou longe ou perto:
Não existe outra saída.
E, na chegada ao Além,
Não existem dois também
Co’a mesma desenvoltura.
Alguns tombam maltrapilhos,
Outros resplendem em brilhos:
Cada qual é uma figura.
Por que tanta diferença?
Não é de todos a crença
De que são filhos de Deus?
A bondade do Senhor
É tanta que o seu amor
Dá proteção aos ateus.
Mas as obras, essas são
O que dá a solução
Do mistério da chegada.
Quem pelo irmão trabalhou,
Nem água, nem pão negou,
Chega aqui, não falta nada.
Quem tudo lhe sonegou
E jamais o perdoou
Pelos transtornos na vida
Vai curtir lá nos infernos,
Que vão parecer eternos,
Até dar com a saída.
Qual será a tal saída?
É a compreensão da lida
Como parte do dever.;
É a prece compungida,
A mostrar arrependida
A alma, por seu viver.
E, se a maldade perdura,
Sofre sempre a criatura,
Ou lhe darão alforria?
Perdoar só sete vezes
Só se fossem mui soezes
Os que nos mostram a via.;
Pois, se Jesus se encarnou,
Para ajudar quem pecou,
Que coisa melhor faria
Do que propor-lhe outra vida,
P’ra que possa ver cumprida
Sua missão, algum dia.
Agradecemos, Jesus,
O sacrifício da cruz,
Que nos deu vosso caminho.
Se rudes dores nos ferem,
É que as nossas almas querem
Conhecer o vosso espinho.
Dai-nos, pois, tranqüilidade,
Que haverá felicidade,
No final desta jornada.
É como fazer os versos:
Sempre nos sabem perversos,
Mas o que é bom não enfada.
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