O CONVIDADO
Súbito, não de todo inesperado,
o convidado bate à porta.
O coração, trêmulo, pergunta: "Quem está aí."
A alma responde: "A lua".
Ele entra em nossa casa
e, loucos, corremos para a rua,
os olhos fixos no seu brilho.
Já dentro da casa, ele grita: "Aqui estou!"
E nós, correndo em círculos,
desnorteados, clamamos por ele,
sem saber de onde vem o grito que o anuncia.
Clamamos por ele, ébrio rouxinol
aprisionado em nosso cativeiro.;
e nós, no jardim, pombas enlutadas,
apenas murmuramos: "Onde? Onde?
"No escuro da meia-noite, trancadas as portas,
já recolhidos ao leito, ouvimos seus passos.
Todos correm, tropeçam, gritam:
"Socorro! Um ladrão!"
E uma voz funde-se às outras:
é o ladrão-convidado que partilha do tumulto,
ecoando nossos gritos:
"...um ladrão! ...um ladrão!
"E ele está contigo, contigo em tua busca,
mais perto que tu mesmo estás de ti.
Se o procuras, o encontrarás
em teu próprio olhar.
Por que correr aí fora?
Derrete como neve e lava-te de ti mesmo!
Da alma ungida pelo amor brotam línguas
como estames do lírio.
Todavia, aprende com a flor:
silencia tua língua
(Rumi)
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