Não obremos como Judas:
Ante o mal, deixemos mudas
As nossas más intenções.
Saber que Jesus perdoa
Não vai demonstrar ser boa
A razão das perversões.
Eis a triste personagem,
A mostrar como reagem
Os que não pensam no bem.
Era o Mestre superior
E não logrou seu amor,
Que o perverso amor não tem.
— “Faze logo o teu intento.
Não percas nenhum momento:
Chegou a borra da taça.”
Talvez Judas não quisesse,
Mas é Jesus que oferece
Ocasião para a desgraça.
Misteriosa situação
Que Jesus, com devoção,
Colocou nas mãos do Pai.
É difícil compreender
Que Judas tinha um dever:
Nossa mente se retrai.
Fazer o mal ao Senhor,
Só se pudesse compor
Raciocínio positivo.;
Se Jesus lhe comprovasse
Que venceria o impasse,
E se mantivesse vivo.
O desespero da morte
Vai mostrar-nos que outra sorte
Esperava o pobre ser.
Arrepender-se de pronto,
É que teve algum confronto,
Onde pôs tudo a perder.
Simbólicas, as moedas
Falam-nos das duras quedas,
Quando a matéria é exaltada.
Os tais dinheiros de ouro
Pareciam grão tesouro,
Mas, na verdade, eram nada.
Fez muito mal nosso amigo,
Não compreendendo o perigo
De pôr fim à própria vida.
Se chegasse à senectude,
Talvez tivesse a virtude
Nas obras desenvolvida.
Não sabemos os mistérios
Ou os sofrimentos sérios
Do carma particular,
Mas os séculos de dores,
Na escuridão dos horrores,
Passaram bem devagar.
Quanta vibração ruim
O manteve sempre assim,
Ao se malhar o espantalho!
Até hoje o povo pensa
Não existir recompensa.;
E não lhe dá agasalho.
Chamamos Judas de “amigo”,
Por não cairmos no artigo
Da tal lei de talião.
Se pensamos em Jesus,
Um sentimento de luz
Mostra a força do perdão.
Nesta sexta-feira santa,
O que muito nos espanta
São os judas religiosos.
O mundo parece em calma,
Mas a contenção da alma
Só promete novos gozos.
Amanhã é um novo dia,
Recomeço da folia
Que, na Páscoa, chega ao cume:
Vem recheado o peru.;
É leitão em vez de angu.;
O frango sai com legume.
De que adianta refletir,
Um só dia, no porvir,
E perder os outros todos?!
Será de Judas o ensino,
Pois Jesus vira menino,
Na prevenção destes lodos.
Mas Judas se arrependeu:
Talvez esse exemplo seu
Possa até frutificar.
Por isso, o nosso conselho,
Sem querer meter o relho,
Chegue na hora ao lugar.
Ouça, pois, o povo aflito,
Sem julgar seja bonito
Poetar sobre a maldade.
Quanto pior este assunto,
Mais a turma sofre junto,
Na maior dificuldade.
Quem teve a pele crestada,
Por folgar, nessa jornada,
Fazendo o que sempre quis,
Ao trair a sã consciência,
Sofreu toda a conseqüência,
Como Judas: infeliz.
Nesta hora, sobretudo,
Pensemos no conteúdo
Das palavras de Jesus:
Vamos dar amor ao povo,
P’ra recebermos de novo
O seu perdão pela cruz.
Vamos conter a injustiça,
Que a maldade mais atiça
A batalha entre os humanos.
Seja o coração um templo
E Jesus o sábio exemplo,
A impedir tristes enganos.
E oremos com mais ardor,
A rogar ao protetor
Mais luz para nossa mente,
Pois, se o pensamento falha
E só rancor agasalha,
É impossível ir em frente.
Jesus já desceu da cruz
E o povo todo conduz
À Terra da Promissão.
Faz tempo, chegou Kardec,
As leis abertas em leque:
Terceira Revelação.
Não há por que marcar passo:
Vamos definir o espaço,
Para avançar na jornada.
Façamos como nos versos:
Os sentimentos perversos
São esquecidos.; mais nada.
— “Perdoai-nos, pai querido,
Vosso filho foi ferido,
Por não vermos o caminho.
Impedi que nova cruz
Obscureça esta luz:
Tirai-nos d’alma este espinho.
“E a Judas regenerai,
Nós vos pedimos, bom Pai,
Em nome de Jesus Cristo,
Diante da humanidade,
Pois, dada vossa bondade,
Já o tereis por benquisto.”
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