Jesus, dai-nos vossa ajuda,
Pois neste deus-nos-acuda
Da existência cá na Terra
É mui grande a barafunda,
Tanto que noss’alma afunda
Em sentimentos de guerra.
Todo o povo se compraz
Com uma horinha fugaz
De plena felicidade,
Esquecendo-se que a vida
Já chega comprometida
Com os bens da eternidade.
Este que vos vem falar
Também chegou devagar
A um ponto melhor do carma,
Mas ainda sente o peso
De haver tido forte o vezo
De sempre se impor com arma.
Perdoai-me a pobre lavra,
Pois, ao usar da palavra,
Tenho as minhas restrições.
Como vir dizer à gente
Que aqui no etéreo é mais “quente”,
Para os falsos e os ladrões?
Que dizer a quem vicia,
A quem mata ou sevicia,
Sem medo do Criador,
Julgando que tem direito
De também ser bem aceito,
Com pompas e resplendor?
O mais estranho de tudo
É que o gajo é bem taludo,
Possuindo inteligência,
Mas joga os recursos fora,
Julgando que mais melhora,
Se fugir da continência.
Disciplina de bandido
É mostrar-se arrependido,
Mas só pensar em vingança.
Se, na Terra, vence a briga,
Cá no etéreo, mais lobriga
Existir sem esperança.
Ficar velho é para poucos,
Pois se pensa que são loucos
Os que desejam a paz.
Quem viveu só vinte anos
Diz que sofreu desenganos,
Em seus sonhos de rapaz.
Não luta pela virtude
E seu filho não se ilude,
Se o quiser longe do mal.
Quem teve o pai “despachado”
Dá desculpa de logrado,
Agindo como animal.
Onde estão os missionários,
Para avisar os otários
De que vão arder no fogo?
Têm medo do desperdício,
Pois é bem mais forte o vício
Do que o vigor do seu rogo.
Sofrem os chefões também,
Ou os dólares retêm,
Levando vida de rei?
Esses são só sanguessugas:
Vivem muito e suas rugas
Vão impor respeito à grei.
Desde quando isto acontece?
Pois a mim tudo parece
Existir já há milênios.
São tão poucos os que aprendem
E dos males se arrependem,
Assinando outros convênios!...
Existirá gente boa,
Ou o povo é todo à-toa,
Pela impressão que se tem?
É que a falta das escolas,
Salários feitos de esmolas,
A muitos no mal mantém.
Mas uma parte é cordata
E se põe também à cata
De entender esta existência.
Mesmo até sendo aos tropeços,
Têm seus rudes arremessos,
Na compreensão da consciência.
Viver este espiritismo
Já tira do comodismo
Alguns milhões de pessoas,
A convocar para o bem
Quantos almejam também
Conservar as almas boas.
Pessimismo é natural,
Quando se vê tanto mal
A vicejar pelo mundo,
Mas é preciso buscar,
No seu devido lugar,
Sentimento mais profundo.
Nos rasgos do coração,
Encontraremos perdão
Para os crimes mais perversos.
Embora o nosso trabalho
Seja simples quebra-galho,
Hão de valer estes versos.
Irão dar a muita gente
Motivo mais que excelente
Para meditar na lida.
E, se tivermos mais sorte,
Vão também pensar na morte,
Para melhorar a vida.
Estando perto do fim
De uma vida bem ruim,
Não se esqueça do Senhor.
Lembre-se do sacrifício,
Ponha de lado o seu vício,
Faça tudo com amor.
Ajude os seus semelhantes,
Que não ajam como antes:
Faça que pensem na vida.
Não julgue que dar esmola
Vai torná-lo só carola:
Vai mostrar-lhe uma saída.
Em tudo tenha juízo:
Não ache que o paraíso
Vai estar ali, na esquina.
Quem quiser participar,
Ocupando este lugar,
Tem de estudar a doutrina.
Se chamar por Jesus Cristo,
Saiba que será bem visto:
Os mestres acorrerão
E darão tanta assistência,
Ao ensinar a ciência
Do rumo da evolução.
Quanto a Deus, jamais se olvide
De agradecer sua lide,
Por mais triste tenha sido.
Peça ao Pai, humildemente,
Que esclareça a toda a gente
Que ninguém está perdido.
Enquanto esta vida avança,
Há de restar a esperança
De ser exaltado o bem,
Que o sofrimento de agora
Há de ter fim qualquer hora,
Pois o amor de Deus provém.
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