Por Jesus nós clamaríamos,
Mas a ele o que diríamos,
Se não fossem queixas mil?!...
O homem já tudo sabe,
Pois, em seu cérebro, cabe
A ciência mais sutil.
Mas nem todos fazem disso
Um mui sério compromisso,
Desleixando o seu ensino.
Se amor com amor se paga,
Um só ódio logo estraga,
Com seu dardejar ferino.
Ao peregrinar na Terra,
Viu Jesus o quanto erra
O homem pela paixão.
Ao lhe dar a diretriz,
Para ser bom e feliz,
Ninguém lhe deu atenção.
É que o seu reino o Senhor
Na Terra não veio pôr,
Mas, no Céu, bem junto ao Pai.
O povo não achou graça
De ter a comida escassa
E abrir mão p’ra ninguém vai.
Jesus pediu sacrifícios.
Pediu mais: que deixe os vícios
E se ajude ao semelhante,
Com amor e caridade,
Mas cumprir a lei quem há-de,
Se o gozar não se garante?
Isso foi há dois mil anos,
Pois até hoje há enganos
Por falsa interpretação:
Querem ter Jesus presente,
Desde que a fartura aumente.;
A própria e não a do irmão.
A religião que campeia
Quer a burra muito cheia,
Riqueza a causar inveja.
O povão está mais pobre
E não vê a cor do cobre.
E quem tem nunca se peja...
E Jesus vai prosseguindo,
Com seu exemplo mais lindo,
A dar instrução ao povo,
Ao cumprir sua promessa
De enviar alguém que impeça
Que, no Umbral, caia de novo.
É chegado o Espiritismo,
P’ra fechar aquele abismo
Que a Igreja abriu sem pudor.
Kardec tentou mostrar,
Com raciocínio exemplar,
Do mediunismo o valor.
A Igreja, com seu poder,
Não querendo empobrecer,
Ameaçou de excomunhão,
Pois se esvaziava a sala,
Enquanto se ouvia a fala
Dos amigos da amplidão.
Houve quem perdesse o emprego,
Causando desassossego
Na sociedade civil.
Kardec logrou vitórias,
Mas muitas foram inglórias,
Na reação sempre vil.
Hão de ser mais dois mil anos
Dessa batalha entre os planos
P’ra quarta revelação,
Ou o povo entenderá
Que o trabalho é para já,
No rumo da evolução?
Honremos quem nos ajuda,
Que a crise não é aguda,
Pois mais cresce o Movimento.
A Igreja perdeu poder
E não pode prometer,
No inferno, eterno tormento.
Hão de existir sacerdotes
Que completem nossos motes,
Com linguagem diferente,
Sem estarem cobiçosos
De só sentirem os gozos,
Se o dinheiro vem na frente.
Do tempo, qual a importância?
O que importa é que a ganância
Vai aos poucos terminando.
A miséria é o bem comum
Que faz sorrir qualquer um
Que pertença a esse bando.
Infelizmente, contudo,
Da doutrina o conteúdo
Prossegue desconhecido,
Pois é preciso entender
Que, p’ra cumprir o dever,
Há que lhe dar seu sentido.
Sendo assim, nos atrevemos
A fazer força nos remos,
P’ra levar o barco adiante.
Se a travessia é penosa,
Não há de ser nossa glosa:
É Jesus quem nos garante.
Se existir boa vontade,
Rejeitar não há quem há-de
A nossa peroração,
Que mais se impõe a verdade,
Se a gente se persuade
Que obramos de coração.
Queremos que seja sério
O bom aviso do etéreo,
Sem causar anseios tolos.
Vindo, embora, devagar,
Os versos têm seu lugar
E o médium sabe onde pô-los.
Da mesma forma, os leitores
Hão de respeitar as dores
De quem lhes tem tanta estima.
Conquanto sejam perversos,
Não rejeitem estes versos,
Por repetida a tal rima.
Qualquer dia, cá estarão,
Com o coração na mão,
A rimar as ricas trovas.
Mas, antes, vem o tormento
De sofrer o desalento
De um bom punhado de provas.
Ao apelar p’ra Jesus,
A mente ganha mais luz,
O verso se realiza,
A demonstrar a doutrina
Que Kardec nos ensina,
Tendo o amor como baliza.
|