Há poucos dias Angelina Jolie voltou às manchetes não pelos seus lindos lábios nem por mais um filme de grande sucesso. Desta vez ela anunciou ter retirado o ovário e as trompas. Há pouco tempo retirara os seios. Ela alega que está prevenindo-se do câncer já que sua mãe, a avô e a tia o tiveram e foi muito doloroso para a família. Igual a todos os pais ela quer proteger os filhos. Na proteção somos todos iguais... Só que ela o fez cortando a própria carne e mostrou o quanto é diferente de nós.
Quando criança eu tinha medo de ‘alma do outro mundo’. Adulto, tenho medo de acidentes de carros, de assaltos, de perder o emprego... E você, tem medo de quê? Certamente listaremos uma infinidade de medos.
Especialistas dizem que o medo nos mantém vivos. Diante do perigo nosso instinto natural nos faz fugir e procurar abrigo. Neste caso o perigo está ali, à nossa frente, é real. Outros perigos estão no nosso imaginário, talvez nunca aconteçam. Esse medo de algo distante foi tão forte na Angelina que se tornou real e a levou à decisão drástica das cirurgias.
Lidamos com nossos medos de maneiras diferentes. Às vezes fugindo, outras encarando-o. Às vezes ganhando, outras perdendo. A vida ensina não existir receita pronta para vencermos nossos medos. Mas recomenda enfrentá-los, sempre.
A maneira de lidar com os medos é o que diferencia heróis e covardes. Jolie foi heróica ao se mutilar por uma questão de ‘achismo’, já que os médicos não garantem que ela teria câncer. Mas foi covarde ao tornar real um medo imaginário. E se ela contrair outra doença? E se sofrer um acidente grave e perder a visão? O medo de cáries a fará arrancar os dentes?
Naqueles dias o noticiário mostrou pais escalando janelas das escolas na Índia para ‘dar cola’ aos filhos que faziam provas. Nos meus tempos de professor vi pais pedirem aos colegas de matemática para facilitarem a vida de seus pupilos. Cada pai, a sua maneira, protegendo os filhos.
Na velhice Angelina e nós esperamos o apoio da prole. Se nenhum imprevisto acontecer, ficaremos velhinhos, perderemos a mobilidade, usaremos cadeiras de rodas... Na velhice somos todos Jolie.
