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Artigos-->Feliz Ano Seminovo -- 17/01/2016 - 22:53 (João Rios Mendes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Criança não deseja Feliz Natal nem Feliz Ano Novo porque ela não imagina que todos os dias não possam ser felizes. Essa imaginação é coisa de adulto. Fomos nós adultos quem criamos o Infeliz Ano Novo.



Por isso nossa necessidade de mutuamente nos desejarmos Feliz Ano Novo. A lógica é simples: se meu próximo terá um ano feliz, por consequência, o meu ano também será feliz. Assim como Gentileza gera Gentileza, Felicidade também gera Felicidade. Se você duvida, experimente ter por perto uma pessoa que só joga pra baixo seus projetos e pensamentos.



Ora, se sei que praticarei o bem, obedecerei as leis e cuidarei de mim e do próximo, por que tenho a necessidade de desejar felicidades no ano vindouro? Acredito que a resposta está na preocupação alojada no nosso inconsciente de que se você não for feliz, você vai infernizar minha vida. Na dúvida, eu te desejo Feliz Ano Novo.



Essa felicidade virá se houver harmonia na família, no trabalho e na saúde. Se um membro desse tripé desandar adeus Feliz Ano Novo.

Outra explicação seria que nas festas de fim de ano, somos contaminados pelo colorido das luzes natalinas, as músicas trazem mensagens de harmonia, sucesso, saúde e paz. Além disso, um velhinho que não nos dá nenhum trabalho nos traz um presente e vai embora pra bem longe. Maravilha!



As crianças que não estão felizes, aquelas que estão nos campos de concentração, refugiadas, hospitalizadas vítimas de uma bala perdida ou de motorista embriagado ou com os pais separados, não estão felizes por culpa dos adultos. Essas crianças não provocaram suas infelicidades. Só louco provoca sua própria infelicidade. Na noite da virada do ano, as ruas estarão cheias desses loucos querendo ser felizes no próximo ano.

Por não serem loucas, as crianças não se preocupam com a ausência de felicidade. Como disse Erasmo de Roterdã, em Elogio da Loucura, só os políticos e os pastores se parecem com loucos gritando para ser ouvidos.

Até nisso os loucos tem mais razão que nós, eles também não desejam Feliz Ano Novo.



Por isso quando vi Madalena na festa da virada, vinda não sei de onde, cara amarrada, olhos úmidos e rubros de raiva, vestindo preto... eu soube: é louca! Afaste-se.



Mas já era tarde. Sua imagem destoante já havia sido impressa em minhas retinas. Justo eu que sempre tive uma queda por dissonâncias. Até pensei em resistir, não dei conta. Pouco antes da meia noite estava ao lado dela que absorta em sabe-se lá que pensamentos, não me notara. Os olhos antes inquietos, estavam estáticos a olhar a legião de pessoas festivas que infestavam a areia da praia. Toquei de leve em seu ombro, e com minha cara mais simpática lhe desejei um feliz ano novo. Recebi um “Vai se danar” raivoso em troca que me desnorteou. Afastei-me.

Fez-me pensar em outra coisa que sei sobre os festejos da virada. Sei que eles também carregam muito mais do que a contaminação do vírus do Natal, trazem latente a crença desesperada da mudança. Não a mudança fácil, aceita, desejada. O fim dos vícios, a aquisição de hábitos saudáveis ou bens de consumo, as metas de trabalho, as metas para a família... Todo o arcabouço de anseios que constroem as listas de promessas de ano novo. O que fica latente é a crença de que o ano vindouro vai viabilizar, não sabemos se por magia ou física quântica, as mudanças que não temos força sequer para assumir o desejo. Aquelas que negamos até para nós mesmos. As que ignoramos tapando os ouvidos da alma com as mãos quando o desejo ou a necessidade delas surge.



Não pensei mais em Madalena naquela noite, tive receio que ela com seus olhos rubros atrapalhasse a magia que iria fazer as mudanças acontecerem. Melhor não facilitar com essas coisas. Celebrei com as pessoas de branco a chegada de mais uma sucessão de 365 dias. Bebi a cântaros, pulei sete ondas, guardei sementes de romã na carteira e sei lá mais quantos feitiços. Amanheci no outro ano com o mesmo fígado reclamão do ano velho.



Passaram–se dezessete dias, o ano não mais era novo e as pessoas ainda trocavam desejos de um ano novo feliz a medida que se encontravam pela primeira vez depois da mudança do calendário. Foi quando vi Madalena de novo. Quase não a reconheci sem os olhos furiosos. Estava sentado, protegido pela sombra de uma árvore, fotografando o pensamento dos transeuntes. Aproximou-se com um sorriso constrangido, perguntou se eu era o cara que ela havia mandado ir se danar na noite de ano novo. Respondi que era eu mesmo.



Conversamos sobre uma porção de bobagens, até que ela quis saber o que eu estava fazendo. Contei que estava brincando, ela brincou comigo. Ficamos ali atoas, por um tempo imaginando como seria a vida das pessoas estranhas que passavam por nós, cada um agregando características e vivências aqueles rostos desconhecidos.



Quando Madalena percebeu que era hora de ir embora, despediu-se e de algum modo intuí que meu ano seria bom. Depois de uns dez passos, ela virou-se e mostrando um largo sorriso, desejou-me “Feliz ano seminovo”.





Obs. Com a participação de Ângela Fakir

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