Em lágrimas, previu que ali, no etéreo,
Não ia decifrar todo o mistério,
Sem dar de si aos outros, sem lamento,
Que a vida assim perdida desfilava,
Porque tanto egoísmo fora a trava
Que lhe impediu sair do vil tormento.
Chegou a suspeitar que o mestre amigo,
Aquele que lhe dera um bom abrigo,
Queria era fazer com que sofresse.;
Mas afastou de si tão negra idéia,
Porquanto quem é bom nessa odisséia
Não pode estimular tal interesse.
Apenas refletiu que o mal maior
Sabia recompor também de cor,
Impondo aos seres todos sua norma.
Mas, como o pensamento sempre voa,
Imaginou que existe uma alma boa
Que pelo amor aos seus o bem informa.
— “Então, o meu bondoso e rico mestre
Terá muito prazer, quando se adestre
O seu pupilo injusto quanto ao Pai.;
E a mim virá curioso de saber
Se tenho caprichado no dever,
Ou se tal esperança ainda se esvai.”
Foi só pensar no amor da criatura
Já despertou p’ro bem que o mal depura,
Embora seja em ânsias que se dê.
Aí, sem pôr a força dos pulmões,
Buscou chamar a si as atenções,
Rogando dentro d’alma: — “Quem me vê?”
Chegou a dar bem mais do que seu pranto:
Ofereceu carinho, em doce canto,
Compondo uma poesia sem reproches.
Mas, como tudo aquilo era mui pouco,
Julgou estar ficando insano, louco,
Porque pensava em pão, bolo e brioches.
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