Ao se expressar, porém, não conseguiu
Tornar claro e patente o sentimento,
Pois tudo quanto disse não sentiu
E só sentiu o esforço em vão lamento,
Que a mente estava lúcida e se abriu,
Embaraçada a voz, porém, foi lento
O recompor dos dotes da expressão,
Que a alma acostumara a dizer “não”.
As mãos é que prendiam sem largar
Os companheiros todos que acudiam:
Queria compreender o tal lugar,
Mas os sensores lá não reagiam,
Pois tudo o que pensava era vulgar.
No entanto, os sentimentos mais feriam
O coração, no avesso da maldade,
Que o bem na idéia os erros dissuade.
Em lágrimas tentou dizer a todos
Que muito agradecia os seus favores,
Mas tantos tinham sido os seus apodos
Que a voz não conseguia os tais louvores,
Pois pobres foram sempre os seus denodos,
Na exposição perene dos rancores:
Agora compreendia, enfim, que a vida
Não lhe valera nada e foi perdida.
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