Enquanto discursava, via o grupo
A rir e a despedir-lhe o seu apupo,
Em vaias horrorosas de promessas.
A gente era curiosa de saber
Qual era do tratante o seu poder
De pôr os temas todos às avessas.
Então, um só se pôs à sua frente,
Julgando que o terror era fremente,
Que o gajo se sujava só por vê-lo.
Mas não lhe deu conselho nem tabefe,
Chamou-o de covarde e mequetrefe
E disse que o faria só por zelo.
No chão cuspiu escarro diluído
Em negro muco, fétido, fluído,
Que se empoçou num furo do terreno:
— “A sua pena, moço, há de ser curta,
Que eu quero ver como é que alguém se furta
A não lamber a gosma com que ‘aceno’.”
O povo ao derredor lembrou a cena
“Do bem dos corações que lhes acena”,
Na mansa podridão da mente suja.
Mas aplaudiu também, porque se cala
Aquele que os feriu em forte escala,
E foi de encontro a ele, que não fuja.
|