Estremeceu de medo e foi de borco
Arremessado à lama, como um porco
Que refocila imundo no excremento.
No instante em que bebia o visco ascoso,
Imaginou Jesus tão poderoso,
Sorvendo às fezes seu real tormento.
A só lembrança do Senhor foi justa
Para levar de volta, à própria custa,
O gajo ao leito do hospital, de novo.
Ao acordar, se viu de todo limpo
E imaginou-se um deus dentro do Olimpo,
Abençoado pelo próprio povo.
Então se pôs a lamentar baixinho,
Que se perdera, inútil, no caminho,
Que os males da matéria eram verdade:
— “Não há logro na mente.; eu não me engano
Ao afirmar que estive tão insano
Quanto Jesus no Horto da maldade.
— “Não fiz o bem e agora sofro tanto,
No aguardo de entender da vida o encanto,
Em sintonia com os bens alheios.
Fui egoísta, sim, já reconheço
E mais sofrer ainda aqui mereço,
Por terem sido os meus senões tão feios.”
Levou uns anos a entender que a vida
Trouxera, por rancores, destruída,
Agasalhado em leito protetor.;
Até que, um dia, esteve a perguntar
Pelo mentor que desprezara ao dar
Ares de quem lhe fora superior.
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