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Artigos-->Foi muito bom -- 24/10/2016 - 14:04 (João Rios Mendes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos



“Mainha, o que houve? A senhora está passando bem?”



Amélia viu sua mãe atender ao telefone, ouvir a mensagem em silêncio e desabar no sofá. Pegou o telefone mas a ligação já havia caído.



“Jacinto, corre aqui, mamãe está passando mal”.



Massagearam o pulso da mãe, chamaram-na pelo nome, mas nada fazia D. Dália recobrar os sentidos.



“Traz álcool e passa no nariz e nos punhos”.



Amélia passou o pano embebido de álcool no rosto e nos punhos da mãe. Aos poucos ela foi recobrando os sentidos. Disse que a ligação era do hospital. Dava notícia que o seu esposo havia passado mal no trabalho e o haviam levado para o hospital. Não se lembrava de mais nada. Nem o nome do hospital nem o que havia acontecido.



O telefone toca novamente. Jacinto atende e fica sabendo do estado grave do pai no hospital. Sofrera uma parada cardíaca.



D. Dália começa a chorar. Amélia se derrama em prantos. Jacinto tenta ser o mais forte e controlar a situação.

Chegaram ao hospital no fim da tarde. Pelo semblante do médico perceberam que a situação era grave.



“Boa tarde. Vocês são familiares do senhor Antúrio? Ele teve uma parada cardíaca aguda e não resistiu. Lamento informar mas ele foi a óbito a poucos minutos. Fizemos tudo que estava ao nosso alcance. Aceitem meus pêsames”.



D. Dália não se conteve.

“Como assim, o senhor está me dizendo que estou viúva? Nós havíamos combinado que ele não morreria primeiro. Pela primeira vez ele não cumpriu um acordo.”



Amélia abraçou-se a mãe. Choravam muito.

“Eu órfã. Não posso admitir. Como era bom ter um pai, aquele pai. Agora só restam as lembranças dos passeios, das brincadeiras, das histórias antes de dormir...”



Jacinto não chorava. Olhava pro teto e passava-lhe um filme dos momentos com seu pai. Se soubesse que ele iria hoje pro céu, ontem teria conversado mais com ele, teriam bebido a última cerveja juntos, teriam falado do futuro, do neto que chegará em poucos meses. Cabia agora a ele tomar as rédeas dos acontecimentos. Teria que tratar de tantas coisas práticas e nem sabia de onde tirar forças. E Camélia ainda não estava sabendo de nada, teria que contar a ela. Ser emissário de más notícias é uma tarefa muito dolorosa, há tempos ele aprendera que não se deve ser o primeiro a dar uma notícia ruim. Certo dia seu pai o aconselhou:



“Espere três pessoas dar uma notícia ruim. Se ninguém aparecer a obrigação é sua.”



Levantou os olhos para o céu através da fresta da janela do corredor. Orou pedindo força e serenidade. Neste momento as lágrimas brotaram. Respirou fundo, abraçou a mãe e Amélia e disse que cuidaria de tudo. Saiu para tomar as providencias necessárias.

“Camélia? Chegou? Ta aí no quarto?”

“Oi Jacinto, cadê todo mundo?”

“Vem aqui. Tenho que te falar uma coisa”.



Camélia viu nos olhos do irmão que a notícia era ruim, deu um aperto no peito. Faltou ar. Perguntou:



“Foi papai ou mamãe?”



“Papai, passou mal e levaram ele para o hospital. Não puderam fazer nada.”



Camélia saiu em disparada a procura da mãe e da irmã. Queria estar com elas. A morte tem significados diferentes para cada criatura. Nunca achou que ‘morreu, acabou’! Não que soubesse lidar com a ausência e saudade daqueles que ama, isso é sempre uma coisa muito complexa. O amor necessita ser alimentado pelo som da voz, pelo toque das mãos, pelo tinir do sorriso sincero... Olhar nos olhos de quem amamos nos dá plena certeza da reciprocidade do amor. Dizem que olhos são as ‘janelas da alma`, por elas os sentimentos tornam-se tão claros que atravessam as janelas das outras almas, feito raios de sol expulsando as trevas e iluminando o coração. E agora? Como será sem painho?



“Mainha? Amélia?”



Entrou em prantos pelo corredor do hospital. Abraçaram-se e as lágrimas fluíram torrencialmente. Pouco a pouco foram chegando parentes e amigos, e tudo correu como habitual nestas ocasiões dolorosas. Carinhos, abraços, palavras de consolação. No dia seguinte ao voltar para casa desabaram de cansaço. Como estivessem anestesiados.

Quando acordaram no dia seguinte reuniram-se na cozinha à mesa. Camélia olhou a cadeira vazia que o pai sentava todos os dias e disse:



“Vamos procurar levar nossa vida com alegria e serenidade apesar da falta que paizinho nos fará. Sejamos acima de tudo gratos pela oportunidade de termos convivido com ele por tanto tempo, especialmente por termos construído laços bem mais importantes que os sanguíneos. Podemos afirmar que construímos laços familiares profundos com base no amor verdadeiro.”

Fechou os olhos em prece silenciosa e murmurou baixinho:

“A essência do amor impregna nossa alma para sempre, e mesmo não estando ao alcance dos olhos, segue em nós, por toda a eternidade... Painho, descanse em paz, nós também ficaremos em paz. Apesar da dor e da saudade, foi muito bom.”



















Colaboração: Ângela Fakir e Jeanne Martins

Desenho: Ângela Fakir

http://riscoserabiscosangelafakir.blogspot.com.br/

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