“Por todo o sempre” é uma frase
Que deve ser aplicada
Somente quando o princípio
Se dá para coisa grada.
O que não se conseguir
Através de linda prece,
Vai ser difícil chegar:
Outro recurso falece.
O grito que ontem ouvimos
Pareceu incomodar,
Mas a verdade é que todos
Deram de choramingar.
De tudo o que temos dito,
Muito pouco se aproveita,
Porquanto o espírito humano
Muito pouca coisa aceita.
Antes mesmo que disséssemos
Que não estávamos aptos,
Eis que os irmãos socorristas
Não nos viram mentecaptos.
Por certo, o pouco que estamos
Deixando neste papel
Pode até ter algum mérito,
Se bem nos souber a mel.
É perigoso ficar
Preenchendo estes papéis.;
Seria melhor deixar
Conduzir-se por cordéis.
O ritmo de nossa frase,
Ao iniciarmos o verso,
Promete ser mui fiel
A tema não controverso.
Antes de qualquer suspeita,
Temos fé cristalizada.;
Porém, parece que o amigo
Tem mente desconfiada.
Somos bem capazes de algo
P’ra melhorar a poesia,
Pois parece-nos possível
Terminar com alegria.
Sentimos muito, amiguinho,
Se a nossa rima fenece,
Sempre que desempenhamos
Este roteiro sem prece.
Hoje as coisas estão indo
De modo bem inferior.;
Talvez cantemos um hino
P’ra que nos dê fé e amor.
Este ritmo e melodia
Estão bastante apagados.;
Quem sabe se esta harmonia
Nos deixa melhor postados...
O mistério deste dia
Já se desfará, esperamos,
Pois se torna insuportável
A vontade destes amos.
— “Que pena!” — dirá o irmão,
Ao perceber, finalmente,
Que ficou a versejar
De modo mui inocente.
Quando surge a boa rima,
A indicar algum progresso,
Logo vem o nosso irmão
A proclamar seu sucesso.
Essa rima a que aludimos
É fácil de realizar-se.;
Vai ser como esta daqui,
Pois basta saber postar-se
Que dúvida vou criando
Para este bondoso amigo,
Já que não vai conseguir
Escrever aqui comigo.
Se Jesus vier um dia
Trazer colaboração,
Por certo, vai fenecer
Com tão pequena emoção.
Que triste não ter sossego
Que ajudasse o nosso irmão
A desvendar o segredo
De tanta imaginação.
— “Podem, sim, contar comigo” —,
Diz nosso mestre a sorrir,
Mas, para tanto, é preciso
Ficar sereno e sentir.
Quando as coisas acontecem,
Crê-se que o mundo cresceu.;
De alegria se enche o peito:
O coração não morreu!
Os religiosos do mundo
Têm um dever a cumprir.;
Precisam dizer a todos:
— “Tenham ouvidos de ouvir!”
Desculpe-me, caro irmão,
Mas é preciso dizer
Que nossos versos de agora
Irão desaparecer.
Antes de tudo, querido,
É preciso respeitar
Esta idéia que enche a mente
E que promete brotar.
Raramente temos tido
Ajustamento total,
Porquanto o “jovem” que escreve
Participa e coisa e tal...
Fique quietinho na sua,
Espere que o povo diga.;
Nós não queremos que assuma,
Pois assim ninguém se liga.
Por pouco não avisamos
Que este dia está perdido:
É que o bondoso leitor
É tão-só o escrevente adido.
Pão, mel, manteiga e feijão
São quatro pratos do dia,
Mas, se se unirem, darão
Muita dor e muita azia.
Que belos são os chorões
Que se plantam junto às tumbas!
Trazem sentimentos lindos,
Tão perto das catacumbas.
Por isso, prezado amigo,
Tivemos dificuldades:
É que você se perturba
Diante destas claridades.
Não nos vamos esquecer
De que este dia termina.;
Bem aí nos dá um soninho,
Nossa cabeça declina.
A noite está com luar,
O céu, coberto de estrelas,
Aí, olhando p’ra cima,
Pensamos: — “Como é bom vê-las!”
Acreditar é preciso
Em que coisa aproveitável
Poderá ser extraída.;
Mas isso é pouco provável...
Um belo dia será
Aquele em que, finalmente,
Um espírito dirá:
— “Estou aqui bem presente!”
Não desejando ofender,
Ainda estamos p’ra ver
Algo bom acontecer,
Porquanto o triste exercício
Se estende, como suplício,
Deixando tudo bem chão.;
E já está chegando a hora:
Vamos partir sem demora,
Retornando ao bom rincão.
Caros amigos do etéreo,
Vamos falar francamente:
— “Teremos necessidade
De germinar a semente?”
Mas que hora é esta — meu Deus! —
Em que tudo está perdido?
Já não mais temos sossego,
Com este grupo atrevido.
Eu duvido que se chegue
A um resultado qualquer,
Pois me parece que tudo
É móvel como a mulher...
Sempre que o amigo dispara,
Enchendo as linhas azuis,
Parece ficar mais fácil
De escrever os nossos “-uis!”
Que grã pobreza, queridos,
Parece até que sou eu
Quem as escreve em seguida
Coisas mais negras que breu...
Todo dia, mais um pouco
É o que lhe temos pedido.;
Quem sabe, algum dia, achemos
Quem vai dar-nos seu ouvido.
Se coisa boa fizermos
Que deixe o amigo contente,
Agradeça logo a Deus,
Só depois pense na gente.
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