Neste instante tão gostoso
Em que começo a ditar,
Crê-se que o dia está ganho
Para quem bem sabe amar.
De propósito acendemos
O fogo da intemperança,
Talvez, assim, consigamos
Despertar ternas lembranças.
O verbo “amar”, em si mesmo,
Não tem o menor sentido,
Mas, aplicado às pessoas,
Se houver maior, eu duvido.
Estamos aproximando-nos
Do momento decisivo
Em que o querido confrade
Vai sentir-se bem mais vivo.
Claro está que tal momento
Paira ainda muito longe,
Pois os treinos se repetem,
Como exercícios de monge.
Raramente, um bom poeta
Inicia uma quadrinha,
Sem já saber, de antemão,
Qual a rima que se alinha.
Quase dissemos “galinha”,
P’ra gáudio deste obsessor,
Que teima em desafiar
Todo o vosso grande amor.
Não vá reparar, irmão,
Se estes textos se aniquilam,
Pois o que só pretendemos
É saber se se assimilam.
O dia em que conseguirmos
Finalmente versejar,
Certamente, aí teremos
Lagriminhas a rolar.
Que bom se agora pudéssemos
Deixar as coisas de bem,
Pois só assim saberíamos
“O que é que a baiana tem!”
De vez em quando o folclore
Surge a nos auxiliar.;
Não que este tema se amplie,
Mas faz a quadra acabar.
Outras vezes a gramática
Fica ferida no chão,
Torturada, acabrunhada,
Cheia de desilusão.
Um bom recurso poético
É usar prosopopéias:
Fazer as coisas falarem,
Como se dessem idéias.
Até parece que nós
Seremos quem, finalmente,
Vai ter a chance de, um dia,
Aproveitar o escrevente...
Somos ramos de oliveira,
Ou inocentes pardais,
Se não tivermos coragem,
Não evoluiremos mais.
Por isso, caros parceiros,
Atentem p’ra esta verdade:
Mais vale um pardal na mão,
Que um bando na liberdade.
Conhecemos bem o tipo
Que se pretende ligeiro.;
Sabemos que, finalmente,
Vamos desenhá-lo inteiro.
Que quebra de pé de verso!
Que compasso estranho agora!
Teremos algum sossego,
Para trabalhar nesta hora?
Ainda ontem eu fugia
Das responsabilidades.;
Agora sou obrigado
A fazer tais caridades.
Como é fácil este traço
Que se põe ao quarto verso!
Se tivéssemos traquejo,
O fim seria diverso.
Perdoe-nos, amiguinho,
Termos estado patetas.;
Mas acontece que as rimas
Nem sempre ficam completas.
O bom médium está cansado,
Com sono, co’a mão pesada.;
Vamos, então, prometer-lhe
Suspender esta maçada.
Se for nosso amigo crer
Nisto tudo que escrevemos,
Poderá ficar bem certo,
Que jamais o iludiremos.
Tinha parado e voltou,
Sentindo que os versos vinham.;
Mas logo descorçoou,
Vendo o valor que não tinham.
Pois agora já é tarde,
Vamos, então, prosseguir,
Dando trabalho ao amigo,
Querido irmão Wladimir.
Parece que o nome do próprio
Não se lhe dá de escrever.;
É que, modesto, se vê
A ponto de enrubescer.
Esta linha que adotamos,
P’ra realizar o trabalho,
É método que chamamos
“Um eficaz agasalho”.
— Terá você sentimentos? —
Pois não nos parece, amigo,
Para não saber que temos
Um conhecimento antigo.
Um artista da palavra
Se aproxima sorridente.;
Será que a hora é chegada
De se alegrar o escrevente?
— “Bom dia!” — diz ele atento
P’ra que tudo se registe
Conforme seu sentimento:
É pardal comendo alpiste.
Satisfeito não ficou
Nem poderia ficar:
Tal “-istre” se destacou,
P’ra fraqueza demonstrar.
Agora ficou danando.;
Eis que o sangue lhe ferveu:
Está a improvisar uns versos,
Os quais — dá a impressão — não leu.
Enviesado e estendido,
Queda o cadáver no chão.;
Tratar-se-á dum amigo,
Ou será mais um irmão?
A derivada que demos
Ficou só na tentativa,
Pois tal experiência havida
Sumiu e não na entendemos.
Bondoso, se viu o Cristo
Diante da maldade alheia.;
Como se comportaria,
Vendo agora a casa cheia?
Aves de rapina, um dia,
Quase causaram meu fim.;
Porém, não me apavorei,
Pois tinha Jesus por mim.
Que belo soneto ainda
Chegaremos a fazer:
Basta ter muita paciência
E esperar o irmão crescer.
Rapidamente, chegamos
Ao final do treinamento,
Sem sucesso mas enorme,
Levado por pé-de-vento.
Caminhando sem destino,
Eis a nossa fantasia,
Que poderemos querer,
Se era assim que se queria?
Quase estamos perfazendo
Exatamente o contrário.
Não será tal comentário
Que continua correndo?
Nós, finalmente, encontramos
O final do pé da página.
Parece que inda teremos
Outra rima só em “-ágina”.
Não vá se atemorizar
O nosso caro irmãozinho:
Se esta coisa hoje está cinza,
Amanhã em desalinho,
Qualquer dia chegaremos
A voar do nosso ninho.
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