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Contos-->3. ELPÍDIO -- 17/03/2003 - 05:43 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Navegava pela Internet o nosso amigo, em busca de encontrar com quem falar. Não tinha pensamento fixo em determinados assuntos. O que viesse podia contentá-lo satisfatoriamente, porque o objetivo era mesmo o de não permanecer em tratativas com o próprio espírito.

Achou um site promissor, quando penetrou na área dos temas religiosos. Iria, talvez, precisar perdoar a petulância de alguém que se dissesse dono da verdade, entretanto, com certeza, evitaria a “chateação” de ter de aturar a ignorância lingüística dos jovens que pululam nos “chats” destinados aos namoricos sem compromisso.

Não demorou para ser recepcionado por um interlocutor:

Rogério: Bem-vindo, companheiro. É sua primeira vez no sítio?

Elpídio: É.

Quando ia digitar uma pergunta a respeito da seriedade da conversa que se estabeleceria, recebeu outra comunicação:

Rogério: Quer ter tempo para responder ou posso ir desenvolvendo os meus pontos de vista?

Dessa feita, teve tempo para redigir:

Elpídio: É. Sim. Posso saber com quem estou conversando?

Rogério: Contente-se com a autenticidade de minhas informações e com a integridade de meu caráter.

Elpídio: O que eu queria saber, mesmo, é se você se rotula religioso e se pertence a alguma fé.

Rogério: Sobre qualquer coisa que conversarmos, o meu pensamento lhe dará claros indícios do que acredito e do que deixo de acreditar. Quer falar a respeito da existência de Deus?

Elpídio: Falo sobre o que você estiver interessado.

Rogério: Você acredita que Deus existe?

Elpídio: Naturalmente, pois sou espírita.

Rogério: Pois eu não acho importante a existência de Deus.

Elpídio: Nem como Criador do Universo?

Rogério: Que diferença faz se existe ou não quem tenha criado o universo?

Elpídio: Faz toda a diferença, porque determina o procedimento das pessoas. Uma pessoa que não crê em Deus age segundo os próprios instintos e pode causar imensos prejuízos à humanidade.

Rogério: Cite um só dos principais causadores de prejuízos que tenha sido declaradamente materialista.

Elpídio: Todos os chefes do comunismo soviético, por exemplo.

Rogério: Agora diga só um que se tenha designado crente.

Elpídio: Aonde você quer chegar?

Rogério: Quero reafirmar que, indiferentemente à crença em Deus, as pessoas praticam ou deixam de praticar o bem. Mais ainda: asseguro-lhe que a existência de Deus não interferiu jamais na consecução dos crimes.

Elpídio: Aposto que você não vai me pedir nenhum exemplo disso, porque, uma vez que o crime não foi cometido, não há como, historicamente, achar algum documento, a não ser nos anais das instituições secretas.

Rogério: Não puxe um novo assunto. Pessoas de nossas relações poderão oferecer preciosos exemplos de contenção dos instintos bárbaros. Meu pai, por exemplo, por mais que tenha sido um homem maligno, gerou esta criatura que lhe fala. Não é um bom exemplo de ação cujo resultado seja o mais previsível possível mas cujos corolários são impossíveis de determinar?

Elpídio hesitou em responder. Não estava muito interessado no exame dialético que se seguiria. Contudo, não suportou a excessiva demonstração de orgulho do oponente. Respondeu:

Elpídio: Fico satisfeito em saber que você se tem em alta consideração.

Rogério: Sua ironia aponta para uma postura intelectual superior. Isso me ofende. Parece-me que você não me entendeu. Vou explicar: o exemplo que dei de meu pai pode ser trocado pelo de seu próprio pai. Foi apenas uma observação sem “parti pris”. Você se diz espírita. Responda, então: que importância tem para os espíritos que Deus exista? Não continuarão eles a sua vidinha no etéreo do mesmo jeito?

Elpídio se perdeu em lucubrações. Diante da tela, as derradeiras palavras do desconhecido. Finalmente, por influência da palavra “pai”, resolveu dar um golpe de mestre, a ver, pensava, até onde o camarada ali poderia enrolar-se nos próprios conceitos. Bem devagar, corrigindo as falhas vocabulares, sem deixar passar nenhum erro datilográfico ou gramatical, redigiu:

Elpídio: Por falar em “pai”, como Jesus se referia a Deus através dessa palavra respeitosa, lembrei-me de perguntar-lhe se o Nazareno estava errado ao considerar o Criador sempre presente, a ponto de ofertar aos contemporâneos a lição da prece dominical, prece que herdamos transcrita nos Evangelhos.

Não demorou para ver-se perante a resposta à sua indagação:

Rogério: Sabendo que você é espírita, tenho de admitir a sua crença em que Jesus seja o modelo de perfeição para os homens, segundo se registra nas obras de Kardec. Por isso mesmo, não passa ele de um ser humano de carne e osso, como nós, embora de inteligência e sensibilidade extraordinárias. Mas eu não tenho como dizer que Jesus estivesse errado, uma vez que tratava com pessoas menos evoluídas, conforme Kardec repete constantemente, da mesma forma que os espíritos superiores da chamada Terceira Revelação nos demonstram que estamos num planeta de provações e expiação, ou de regeneração, como querem alguns. Ora, falando a seres cuja compreensão era muito limitada, utilizava de parábolas, ou seja, de palavras simples e exemplificativas, ministrando em separado aos apóstolos lições mais aprofundadas. Isto tudo se admitirmos que as Novas Escrituras constituam a reprodução fiel da verdade histórica. Assim sendo, não poderia estimular a descrença, porque o materialismo dialético ainda não existia. Preferiu ele melhorar a qualidade moral dos contemporâneos, explicando que, perante a força criadora do ser supremo, era preciso postar-se com humildade, orando em secreto. Terei respondido à sua questão?

Elpídio: Sendo Jesus o modelo para os homens, como você mesmo está dizendo, ele nos ensinou a louvar o Senhor e a pedir-lhe as graças de que estamos necessitados. Assim sendo, quem somos nós para nos definirmos perante a Divindade como criaturas ignorantes e mal agradecidas?

Rogério: Vejo que você se agastou comigo. Então, para encerrar, vou dizer-lhe que Kardec foi quem acrescentou às qualidades superiores das preces o agradecimento a que você se refere, modificando, de certa forma, a colocação de Jesus, que mandava louvar e rogar, como você mesmo lembrou. Quem foi Kardec para tanto atrevimento? Apenas um ser humano em busca da verdade, como todos nós devemos ser. Se você quiser disputar comigo por causa de uma simples observação, não estarei ao seu dispor, porque você está orientado para acatar uma diretriz definida de pensamento religioso, enquanto eu estou apenas especulando filosoficamente. Sem nenhum ressentimento, passar bem!

Elpídio desejou acrescentar algumas observações mas entendeu que o interlocutor não só possuía muita leitura, como ainda era capaz de argutas considerações, concluindo com seus botões:

“Preciso agradecer aos espíritos amigos a inspiração deste “site”: agora vou poder apreciar de novo as obras que tenho deixado esquecidas na estante. E vou poder renovar as experiências intelectuais que o trato diário com os irmãozinhos carentes do centro espírita tem sufocado nas cinzas de suas necessidades.”

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