Quisera poder, um dia,
Registrar minha presença,
Através duma poesia
Capaz de elevar-lhe a crença.
Perigosamente, digo
O que desejo fazer,
Mas a verdade é que tenho
A condição de escrever.
Por que, então, eu não consigo
Deixar o recado já?
Será que tenho motivo,
Ou vou deixar como está?...
Certo refrão popular
Diz que o errar é muito humano,
Mas perdoar é divino:
Repetir o erro, insano.
Conhecido dos amigos,
O provérbio faz furor,
Porquanto todos desejam
Livrar-se de algum pavor.
Languidamente é que escrevo,
Pondo o médium aturdido,
Pois tudo isto que redijo
Eu assopro-lhe ao ouvido.
Parece que o dia está
Fortemente positivo:
É que esta turma daqui
É do socorrismo ativo.
Impropérios são ouvidos,
Subindo das profundezas.;
Ergamos, contudo, irmãos,
Com nossa fé, fortalezas!
Caminhando pela praia,
Ia o menino Jesus.;
Assinalava as estrelas,
Pelos seus fachos de luz.
Chegou-se a ele um sujeito,
Ancião de barbas brancas.;
Ajoelhou-se ao seu lado,
À altura de suas ancas.
Calou-se o quanto podia,
Buscando ouvir o menino,
Que prosseguiu enlevado,
Ouvindo do céu seu hino.
O pobre velho chorou
Conturbado de emoção,
Quando, no rastro do jovem,
Viu estrelas pelo chão.
Se pudermos burilar
Os versos acima escritos,
Poderíamos deixar
Os temas bem mais bonitos.
Por isso, caro escrevente,
Após o fim da sessão,
Dedique um pouco de tempo
Para boa refacção.
Não lhe pedimos seja hoje,
Respondendo à inquirição.
Poderá ser noutro dia,
Após a preparação
Do texto duma outra equipe
Do qual falta só a impressão.
Deverá ir percorrendo
Todos os versos de novo.;
Aí, bem devagarinho,
Os problemas eu resolvo.
Da mesma forma que acima
Tivemos dificuldade,
Ao procurar nossa rima,
Daremos mais propriedade.
Como você pode ver,
As instruções continuam,
Mas o treino não parou,
E com ele todos suam.
Como seria feliz,
Se isto tudo me viesse
Com muita facilidade.;
Mas o que vem, na verdade,
Que simples jóia parece
Exige grande acuidade.
Não vá afastar-se de nós
Só porque titubeamos.;
Não vale a pena chorar,
Quando nós nos enganamos.
Deveríamos calar,
Ante crítico feroz,
Mas iremos enfrentando,
Com um sofrimento atroz.
Se algum poeta viesse
Para observar estes versos,
Falaria, ao que parece:
— “Mas que compassos perversos!...”
Que dor não termos a veia
Dos poetas mais sublimes.;
Esse é o desejo daqueles
Que não jogam nesses times.
Poderíamos rimar
Com “crimes” o verso que acima,
Mas não há “crimes sublimes”:
Isso nunca vai dar rima.
Como é duro labutar,
Forçado por este vezo,
Já que é preciso acabar
Com o vaidoso desejo.
Se a rima não é perfeita,
Que se apresente soante,
E que preencha o versinho,
De modo a não ser frustrante.
Quedaremos mui felizes,
Quando chegar a nossa hora
De dizermos: — “Finalmente,
Já é hora de ir embora...”
Parece custoso, às vezes,
Uma outra folha enfrentar,
Mas, de repente, eis que chega
A hora de terminar.
Arrumamos nossa trouxa,
Vamos pelo mundo afora,
À procura de quem queira
Receber-nos logo agora.
Caminhando pelas trevas,
Surpreendemos muitas vezes
Quem esteja elaborando
Pensamentos mui soezes.
Aí, tentamos orar,
Em proveito desse irmão,
Mas nem sempre conseguimos
Realizar nossa intenção.
São muitos os que arreliam,
Quando percebem que estamos
Rezando uma ave-maria:
Somos folhas nos seus ramos.
Passou a oportunidade
De bela quadra preencher.;
Não faz mal, vamos para outra:
Aquela não vai valer.
Apesar de concluída,
A anterior não progrediu,
Avançando, sobranceira,
No sentido que intuiu.
Escrever por escrever,
Jogando conversa fora,
É bom p’ra desocupado,
Ou p’ra treino como agora.
Saiu-se bem o irmãozinho
Procurando resolver
O problema que se punha:
Era o de ver para crer.
Sempre que nos acontece
De se quebrar o versinho,
Põe-se o médium a contar
Com dedinho após dedinho.
Pois aí está o exemplo
Do que acima lhes dissemos.;
Já lá está nosso irmãozinho:
— Tá, tá, tá, tá, ti, tá, temos!...
Pois é com grande alegria
Que viemos hoje aqui.;
Como de treino tratava:
— Tá, tá, tá, tá, ti, tá, ti...
O recurso imaginado
Só se deu por euforia,
Jamais, em quadra formada,
Alguém isto marcaria.
Por muito que elucubremos,
As trovas são bem capengas.;
Só aguardamos que nos chegue
Quem não queira lengalengas.
Neste dia, vou deixando
Várias recomendações.;
Apesar de alguns percalços,
Conseguimos emoções.
Não queira, bom amiguinho,
Ver nesta nossa poesia
Nada de muito solene,
Nem qualquer patifaria...
Quando for chegada a hora,
Há de ser você avisado.;
Portanto, ponha-se atento,
Não fique desesperado.
As quadrinhas vão surgindo,
O texto está progredindo,
O médium fica sorrindo,
Com seus recursos servindo.
O gerúndio não se presta
Para fazer algo lindo,
A não ser que não se encontre
Um nome que vá servindo.
Eis nosso último arremesso
Deste bom final de dia,
No entanto, não estremeço,
Pois isto não é poesia.
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