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Textos_Religiosos-->O SEGUNDO ENSINAMENTO -- 20/02/2005 - 18:07 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O SEGUNDO ENSINAMENTO


TURMA DOS
FELIZES COOPERADORES





"Espíritas: amai-vos, eis o primeiro ensinamento;
instruí-vos, eis o segundo."
Espírito de Verdade













Edição da CASA DO MÉDIUM

Rua Cinco de Julho, 1184
Indaiatuba — SP



ÍNDICE


Nota explicativa ....................................
Adiantamentos .......................................

PRIMEIRA PARTE — ESTUDOS E POESIAS

1. Campo de amores ......................................
2. Reencarnações proveitosas ............................
3. Rebeldes e jovens ....................................
4. Adeus às Armas .......................................
5. Correr atrás do vento ................................
6. O meu compadre .......................................
7. Correnteza de Luz ....................................
8. As mortes de Ananias e esposa ........................
9. Fome de bola .........................................
10. Falando de amor ......................................
11. Disposição de versejar ...............................
12. Terríveis condições ..................................
13. Débitos e resgates ...................................
14. Humildade e progresso ................................
15. Rememorando o passado ................................
16. Datilografia não é problema ..........................
17. Ajuda sempre oportuna ................................
18. Aparências e realidade ...............................
19. O abominável homem da neve ...........................
20. A importância da tese anterior .......................
21. Caprichos infantis ...................................
22. Desvios de conduta ...................................
23. Prece de sofredor ....................................
24. O mistério continua ..................................
25. A extensão do texto mediúnico ........................
26. Homens e mulheres especiais ..........................
27. Diretrizes mediúnicas ................................
28. De acordo com a vontade de Deus ......................
29. Jesus está presente ..................................
30. Riquezas do Céu ......................................
31. Pés descalços ........................................
32. As sandálias evangélicas .............................
33. No calor da refrega ..................................

SEGUNDA PARTE — EXERCÍCIOS

1. Caprichos ............................................
2. O prazer do trabalho .................................
3. Os textos poéticos ...................................
4. Exercícios escalonados ...............................
5. Calcanhar-de-aquiles .................................
6. Momentos de descanso .................................
7. Arrependimentos oportunos ............................
8. Sepulcro caiado ......................................
9. O espírito e a letra .................................
10. Desespero de pai .....................................
11. Das orações ..........................................
12. Exercício temerário ..................................

Aconselhamentos finais ..............................
Prece ...............................................







NOTA EXPLICATIVA






A Turma dos Felizes Cooperadores sente-se apaniguada com o fato de ver sua obra nas mãos dos leitores humanos, mas teme que se julgue pretensiosa a intenção de vir falar a respeito de ensinamentos.
De qualquer modo, serviu-nos de epígrafe a advertência do Espírito de Verdade que se contém no Capítulo VI de O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, para o que rogamos a compreensão de todos.
Nosso O Segundo Ensinamento se compõe de duas partes, mas poderíamos deixar todos os tópicos sob rubrica geral, solicitando que os temas fossem estudados pelo roteiro descrito na mensagem Exercícios escalonados. Contudo, decisão do grupo, não quisemos interferir.
Deste orientador, existem esta nota introdutória e os conselhos que se anotaram em diversos textos.
Aproveito o ensejo para agradecer aos amigos o poder de concentração, na tentativa de ajudar-nos, conforme reiteradamente solicitado. Para que não fiquem dúvidas, quero enfatizar que tais auxílios adquirem mão dupla, na mútua influenciação que se pode alcançar.
Fiquemos com Deus!


Informa o médium que os ditados foram apanhados de 23.9 a 29.10.93, ficando preservada a ordem cronológica.
Quanto aos textos em versos, apenas Ajuda sempre oportuna foi ditado durante o tempo destinado a esta turma. Os demais foram selecionados, sob orientação espiritual, dentre as inúmeras poesias recebidas, pouco mais ou menos na mesma época, em outro horário do dia.
Complementam-se as explicações do Professor Otávio em outros textos, especialmente Adiantamentos e No calor da refrega.
Do valor das mensagens e do proveito dos trabalhos falarão os caros amigos leitores. Muito obrigado!







ADIANTAMENTOS





Podemos ir oferecendo algumas informações para a compreensão do que se irá ler.
O bom médium deve ficar saudavelmente instalado diante da máquina, dedilhando o mais rapidamente possível as teclas, na expectativa de que o ditado vá surgindo de imediato, sem preocupar-se demasiado com os termos que se irão transferindo para sua área perceptiva. Quanto às naturais falhas de transmissão, teremos oportunidade para correções no dia seguinte, como costumeiramente vem acontecendo.
Hoje, temos a grata satisfação de trazer os informes iniciais do caráter geral da obra, não tanto como orientação para os leitores, cuja abertura poderá conter algumas idéias aqui explanadas, mas mais ao próprio escrevente, na curiosidade natural a respeito dos seres que estão surgindo em sua vida como pessoas muito importantes, dado que alunos somos da Escolinha de Evangelização.
É nosso mestre e orientador o Professor Otávio, regressando para outra leva de mensagens, agora sob o prisma dos conhecimentos mais avançados que formos capazes de assimilar e de transformar em páginas de elucidação e de pregação, como é natural que aconteça quando os conhecimentos se dão em faixa de superior sabedoria, o que nos permitirá a iniciativa de programação assaz proveitosa.
A equipe poderá denominar-se de Turma dos Felizes Cooperadores, pois desejamos lembrar, pelo nome, que temos de cumprir missões de esclarecimentos inadiáveis, já que o socorrismo para nós se coloca como alvo definitivo das conquistas espirituais.
Amanhã traremos a primeira notícia para valer, de forma que hoje vamos depositando a nossa esperança nas mãos do amigo, para que não se aliene do grupo.
Cabe-nos esclarecer que, devido à imantação ser de caráter muito vigoroso, o companheiro encarnado sentirá forte tendência ao descanso físico, interpretando mal a disposição para o trabalho. É que almejamos tornar o mais possível repentina a transmissão, de sorte que a terminologia irá adequando-se à composição das frases, conforme o texto for construindo-se no cérebro do medianeiro.
Nada, pois, de estranhar, dado que não será esta a primeira vez que o fato irá ocorrer. Há tão-somente a diferença de que a urgência da aplicação ao trabalho fará com que os dizeres se acumulem lentamente na tela, favorecendo que o texto cresça, sem que se possa exercer controle a respeito.
Por outro lado, manteremos a calma necessária para que as informações sejam passadas na justa medida da necessidade, não incentivando que as idéias sejam previamente conhecidas. O que queremos com isso é incentivar o domínio e o equilíbrio do médium a respeito do trabalho em si, podendo ficar à vontade para desenvolver outros pensamentos paralelos ou não, uma vez que terá pouco trabalho de organização fraseológica.
Não lhe parece desafiador este sistema?
Pois aqui ficamos na primeira manifestação, rogando ao Senhor que nos atenda às solicitações de boa vontade inarredável, de organização, de sustentação fluídica, de integral percepção das deficiências técnicas, no trato com a psicografia.
Vamos encerrar, agradecendo ao amigo a predisposição tão simpática, prognosticando que tudo continuará a decorrer, segundo esta amostragem, da forma mais perfeita possível, na ânsia de consignarmos as mensagens que estamos preparando.

É muito importante, ao final, enaltecer a figura do mestre, especialmente tendo em vista a facilidade que nos proporciona no manejo do instrumental e do próprio médium, dado que está afeito às reações de adaptabilidade do escrevente.
Graças a Deus, estamos retornando de trabalhos junto aos sofredores, de sorte que este oásis nas aflições será agradabilíssimo para o restabelecimento das energias abaladas por sofrimentos muito intensos, já que nem tudo podemos fazer para o alívio das dores.
Fique, portanto, a advertência, para que não se espere de nós nada que possa considerar-se milagroso ou espantosamente bem descrito, para o reconforto de cada sofredor. O campo dos estudos sempre nos promoverá alegrias íntimas, na aquisição das virtudes e na elucidação do ponto evolutivo em que nos situamos.















PRIMEIRA PARTE




ESTUDOS E POESIAS




















1

CAMPO DE AMORES





Advertidos bem a tempo pelo irmão escrevente, evitamos dar o título a esta peça de Campo de Flores, para que não imitássemos o quadro poético de João de Deus. Mas o tema que nos trouxe neste primeiro intento não sofrerá alteração, pois pretendíamos representar, nas flores, o sentimento maior, proposto por Jesus para que se fortalecessem nele os homens, na busca da eternidade com o Pai.
Vamos, pois, dar início às transmissões, prometendo deixar na alma dos leitores a melhor das esperanças, na crença de que tudo pode o homem sob o amparo das forças espirituais superiores, para o que deverá entender da Doutrina Espírita, em profundidade e argúcia.
Ganharemos tempo, se recomendarmos, desde logo, a leitura das principais obras do Espiritismo, a partir de Kardec, que estabeleceu as premissas maiores, pelo padrão fornecido pelo Espírito de Verdade, segundo alguns, grupo de entidades enviadas por Jesus, segundo o próprio Codificador, tendo em vista as informações recebidas de diversos médiuns videntes, espírito de luz, que se colocava, metaforicamente para a mente dos pioneiros, na posição de terceira pessoa da trindade divina dos católicos.
Crenças à parte, a leitura de todas as obras deve ser realizada com o espírito pleno de confiança em que a honestidade de propósitos será recompensada, havendo muito mais amor nas palavras de Jesus do que os homens possam imaginar, dado que soem julgar os conceitos superiores de acordo com os seus padrões ordinários.
Não temos, portanto, pretensões a grandes feitos, senão que gostaríamos de agitar as mentes, na mesma linha adotada pelos irmãos do grupo dos Amigos das Boas Intenções (Ver Lições e Investigações Doutrinárias, nesta coleção), principalmente na mensagem Em nome do Pai. Razoavelmente categorizados pelos estudos levados a cabo em outras épocas, vamos cultivar o nosso campo de flores, lutando por deixar as sementes resguardadas para o plantio das verdades e das virtudes, que umas não andam sem as outras.

Em primeiro lugar, a realização do amor não prescinde das atividades de benemerência, seja junto aos companheiros de sangue, seja no trabalho, na rua, na oficina, no templo, no escritório, onde quer a pessoa se encontre. São atitudes que transcendem o mero conceito de caridade, pois se entende que, no verdadeiro amor, a pessoa se doe por completo, não simplesmente desprendendo-se de bens materiais, mas vivenciando os problemas dos irmãos, sem angústia, sem sofrimentos inúteis, de forma cientificamente esclarecida, mas interessadamente, lutando para suplantar as dificuldades, com o empenho de todas as forças.
Muitas vezes, os mensageiros espirituais acuram os termos, dando ao fator tempo preponderância sobre todas as dedicações possíveis, pois o escoamento das horas faz esvair a vida, ou seja, o bem mais precioso dos encarnados. Acreditamos que tal postura tenha muito da real influenciação dos padrões superiores de procedimento, mas, alheado dos verdadeiros intentos de construção solidária da personalidade evangelizada de cada um, ninguém irá aproveitar, para seu próprio progresso, qualquer desperdício de tempo em favor dos necessitados. É que, sem o envolvimento dos sentimentos, do coração, vamos assim dizer, não se poderá afirmar peremptoriamente que estejamos dando ao próximo o amor preconizado por Jesus.
Pretendemos, assim, evidenciar o procedimento adotado para estremecer os irmãozinhos em suas bases habituais, acostumados que todos estão em considerar o sagrado lema de Kardec, fora da caridade não há salvação, com alguma inocência, sem avaliar as nuanças de significação que tais dizeres implicam.
Vamos, realmente, plantar os nossos campos de amores?







2

REENCARNAÇÕES PROVEITOSAS





Se tivermos sucesso em nossas vidas,
Melhorando as virtudes que trouxemos,
Compreendamos que os passos que já demos
Ampliam a extensão das duras lidas,

Que as batalhas que um dia nós tivemos
Nos deixaram abertas as feridas,
Para que as dores fossem entendidas
Da forma pela qual nós o fizemos.

Assim sendo, ao voltarmos para o etéreo,
Tenhamos do evangelho outra visão,
Pondo luz noutras faces do mistério.

Se merecermos receber missão,
Já que o viver tornou-se bem mais sério,
Ajamos com amor no coração.







3

REBELDES E JOVENS





Dentre os espíritos que chegam dos círculos terrestres, os que mais dão trabalho são os que se categorizam entre os rebeldes e os jovens, sendo ainda pior quando à juventude se une a rebeldia. Muitos dos que se despedem do mundo em tenra idade, não suspeitam de que tenham sofrido o passamento, de forma que não se ligam de imediato ao grupo socorrista a seu serviço, preferindo alienar-se das condições de estabilidade emocional mais propícia para o reequilíbrio, dando continuidade às preocupações com os problemas que lhes vinham agitando a personalidade, em tertúlias que começam ásperas e que tendem a amainar-se, à medida que vão reconhecendo os seres com quem dialogam a respeito dos fatos da vida e da morte.
Por outro lado, os que se rebelam contra a morte, desejando permanecer vivos, por diversas razões, vão ao cúmulo das ofensas ao Criador, na tentativa de chamarem atenção para si, esperando ver realizadas as aspirações de recebimento nas plagas da bem-aventurança eternal. São de difícil trato, especialmente quando tenham comprado indulgências dos sacerdotes e confessado os crimes, na expectativa do perdão incondicional, como se as culpas se esquecessem e os prejuízos não se ressarcissem.
Vamos abreviar estas considerações, dizendo aos leitores que precisam entender perfeitamente as próprias expectativas para depois da morte, não no temor muito comum de que venham a ser projetados diretamente na escuridão do Hades, por força de se julgarem bastante inferiores moralmente, mas no sentido de principiarem a recompor os pedaços dispersos da personalidade desestruturada pelos descaminhos das aspirações mundanas, uma vez que muito do que pretendem realizar em vida nada mais é do que dar conforto material aos parceiros que vão ficar perambulando pelo orbe.
Não se trata do incentivo do egoísmo, senão que se dê valor aos fatores da espiritualidade, na premência dos ganhos necessários para o enfrentamento das condições do plano em que existem os espíritos. Há muito que podem aprender, devotando-se ao estudo das palavras transmitidas pelos Mensageiros da Luz consagradas na literatura espírita desde o século dezenove.
Muitos encarnados estão no aguardo dos avanços tecnológicos para a caracterização do século XXI como o início de aurora de esplendores, como se, de repente, o progresso fosse instalar-se nos corações e nas mentes de toda a humanidade. A falácia das conquistas do Terceiro Milênio é própria de quem está esperando muito mais dos outros do que de si, no esforço de possibilitar a todos crescimento no campo da moralidade evangélica.
Esta visão do futuro deverá trazer inúmeras desilusões, inclusive no seio dos que professam a doutrina espírita, de forma que estamos prevenindo quanto a futuras causas de rebeldias, tanto mais que existem muitas obras e expositores que estão disseminando a noção de limpeza das populações, como se se estivesse dando aos piores a última oportunidade de freqüentar a Terra ou, do contrário, irão cair nas garras de seres mais perversos, para serem encaminhados a regiões abissais de extremado sofrimento.
São superstições e quimeras de quem acredita em que o futuro esteja determinado, sendo inútil lutar pela melhoria das condições de vida, já que tudo caminhará segundo a vontade superior dos guias maiores da galáxia, sem que a vontade dos humanos possa exercer-se, no sentido de considerar o livre-arbítrio como factível de rejeição pelos seres mais poderosos.
Tudo, em seu devido tempo, como é natural, será esclarecido, de forma que só podemos aconselhar o máximo de confiança na misericórdia divina, que providenciará para que as palavras de Jesus se realizem integralmente, ou seja, que os que procederem em harmonia com os mandamentos das leis maiores da fraternidade e do amor serão chamados para as moradas mais importantes do Pai, na segura caminhada que se dará para a Luz.

Queremos agradecer a boa vontade de todos e ofertar-lhes as palavras mais importantes que alcançamos entender: fora da caridade não há salvação.







4

ADEUS ÀS ARMAS





Não queremos provocar os pruridos da sensibilidade buscando títulos conhecidos, mas é que os temas que nos trazem são adequados ao envolvimento psicológico das obras em apreço. Fiquem, nós lhes pedimos, tranqüilos, e efetuem as leituras com desapego aos valores da moralidade fundamentada no capitalismo e na noção de propriedade. Eis o percalço a evitar, pois é penoso chegar ao "paraíso" com as idéias arraigadas de lutar pela posse das conquistas, como se tudo o que podemos usufruir advenha do arrebatamento de bens alheios.
Tanto apego à matéria gera desperdícios de oportunidades de crescimento espiritual, haja vista que Jesus nos recomendou a pretensão tão-só aos bens que a traça não come, etc.
Assim, dar adeus às armas significa muito mais do que a proposta de pacificação, mas também o despojamento das mentes e dos corações da necessidade do combate pelo lucro, na avidez que se torna natural a partir do momento em que se tem consciência de que se há de consumir alimentos para apropriação dos elementos de manutenção vital.
Separemos o que é carnal do que representa progresso moral e espiritual na concepção doutrinária espírita, para bem avaliarmos todos os procedimentos levados a cabo pela tendência íntima, como forma de cumprimento das diretrizes da personalidade, a qual, sabemos bem, existe de maneira peculiaríssima. Por isso é que recomendamos que os amigos passem a conhecer a si mesmos, segundo a mais divulgada pregação filosófica, desde épocas anteriores à construção do templo de Delfos.
Que possam as modestas palavras mediúnicas trazer o reconforto da presença destes seres que venceram as lides mundanas e buscam aperfeiçoamento nas ricas searas do amor do Cristo, conforme a divulgação evangélica poderá dar pálida idéia. Eis que avulta a importância destas colocações, não tanto por estarmos a pregar a volta à primitiva ingenuidade, mas porque havemos de superar os princípios corpóreos, no aprendizado das virtudes, para o desfrute longânime das iguarias celestiais do bem.
Fiquemos com Jesus no coração, para tornar mais fácil a vitória sobre a fixação mental das estruturas sociais vigentes. Que essa luta, porém, não tenha o sinete da farda nem o simbolismo das armas. Que seja pura a caminhada ascendente, como se a natureza nos desse as diretrizes do procedimento digno em relação aos irmãos que conosco precisam cooperar, porquanto lhes oferecemos o apoio da nossa vida e do nosso tempo.
Se permitida nos for sadia imagem, vamos dizer que a existência, nos termos que se propõem a partir dos dados arquivados no etéreo, seja o sistema sangüíneo do corpo humano, sempre necessitado do oxigênio que se extrai das conjunturas exteriores para a vivificação de todos os tecidos, para que o conjunto possa subsistir e crescer e cumprir seus objetivos. Sejamos aquela minúscula hemoglobina a carregar consigo os fluidos vitais.
Digamos, pois, definitivamente, adeus às armas.







5

CORRER ATRÁS DO VENTO





Encontra-se o médium lendo o livro do Eclesiastes, de onde extraímos a expressão que dá título à mensagem. Não há novidade no procedimento de composição, pois pretendemos fazer fluir naturalmente os dizeres de fatos da realidade dos encarnados, embora nem sempre de fácil acesso intelectual para todos. Mas vamos levando as comunicações a bom termo, que é o que nos interessa.
Na verdade, não temos muito do que nos envaidecer, a não ser da pertinácia de nos mantermos fiéis à programação, como, de resto, se poderá observar no pequeno livro citado, onde as recomendações se dão justamente no amparo dos vaidosos, para que possam suplantar o terrível defeito, através das advertências de como se manifesta. Remetemos os leitores à proveitosa leitura, para que não tenhamos a pretensão (vaidade das vaidades) de tudo informar.
Entretanto, não vamos desperdiçar a oportunidade para sugerir a reforma íntima dos que se reconhecem não inteiramente humildes perante a existência, já que é muito difícil, para os que têm ensejo de decifrar estes dizeres, tornar a leitura anódina quanto aos comentários a respeito das fragilidades textuais.
Não será demais alertar para o fato de que útil treinamento de redação, a respeito dos ganhos evangélicos possíveis a partir da aplicação das normas cristãs ao cotidiano, irá repercutir favoravelmente no momento de se estar frente a frente com o trabalho que ora desenvolvemos. Caso contrário, o só julgamento crítico das comunicações mediúnicas irá impedir que as pessoas vejam as próprias falhas, o que ocorreria na tentativa de espraiar conhecimentos e intuições.
Para o treinamento, não há que se preocupar em dizer nada de forma absolutamente original, podendo repetirem-se as lições ouvidas, dando-se prioridade aos temas que mais de perto falem ao coração. Contudo, é bom estarem atentos para outros desenvolvimentos, de modo que, de perto, se acompanhem os amigos da espiritualidade, nas apreciações das virtudes e da moralidade.
Reclamação assaz comum que nos tem chegado das plagas terrenas diz respeito à insegurança material, à vista da grande quantidade de crimes que se perpetram na atualidade, havendo forte crescimento da violência, dado que os avanços tecnológicos são postos a serviço dos criminosos. Assim, desagradamos quando estamos a redigir a respeito do sexo dos anjos, quando a preferência seria que desenvolvêssemos os temas sugeridos pelos problemas humanos mais prementes.
Caberia perguntar se estaríamos sendo proficientes no aspecto evangélico das necessidades cármicas, de resto, as mais importantes, dado que a evolução dos seres passa, obrigatoriamente, pela fase do aprendizado das noções basilares do cristianismo, para aplicação no campo das benemerências inevitáveis.
Se damos a aparência de desprezo pelas tristes condições dos encarna¬dos ameaçados constantemente, é porque sabemos muito mais pungentes as situações dos que se espojam nos lodaçais do Umbral, onde o sofrimento se torna insuportável, porquanto, diante da possibilidade de se ter cumprido a obrigação perante os semelhantes, as pessoas se fecharam em egoísmo pernicioso.
Se, na Terra, o medo de cada instante faz fenecer a esperança da felicidade — pelo menos nas regiões dominadas pelos malfeitores —, no etéreo, a certeza das dores morais constituem a base das crises existenciais mais sérias, sofrendo a evolução longas suspensões. Assim, mesmo que os indivíduos não se sintonizem de imediato com as instruções que transmitimos, pelo menos terão subsídios importantes para as reflexões obrigatórias onde estiverem após o desencarne.
Não pretendemos oferecer grandes conhecimentos, a ponto de facultarmos a todos que se firmem intelectual e sentimentalmente para o ingresso direto nas esferas superiores da espiritualidade. Não o faríamos, conforme advertimos inicialmente pela citação oportuna do Eclesiastes, contudo, a prevenção é necessária e útil, conforme ali mesmo todos podem ler.
Após estarmos certos do destino para depois da morte, seguros de que a vida prossegue inalterável no campo das reações pessoais, suspeitemos de que devemos oferecer a nós mesmos o apanágio da sabedoria de termos realizado algo no sentido do cumprimento dos ensinos do Nazareno.
Se estivéssemos escrevendo para o grande público, encerraríamos aqui a composição, cientes de que estaríamos respeitando as crenças religiosas de todos os cristãos. Todavia, sendo esta obra destinada a público de formação espírita, temos a acrescer que as luzes de Kardec devem servir com muito brilho a quem esteja bem situado na vida, uma vez que a pregação se dá para os intelectuais, pessoas que tiveram ensejo de capitalizar os conhecimentos, por força de se verem privilegiadas pelas instituições educacionais.
A diretriz lingüística serve para os bem dotados de cultura, mas esperamos que os que sofrerem mais com a decifração dos sinais gráficos não se desiludam das assertivas, como se o público leitor se limitasse a um pugilo de homens. É que aguardamos em Deus que os melhor dotados se ofereçam para as explicações necessárias, à vista de terem perdido as aspirações às superioridades carnais, que, estas sim, estão sempre sendo levadas pelo vento.
Não é verdade que o benefício do conhecimento espírita abre perspectivas bem mais amplas para os que sofrem os horrores da guerrilha urbana?







6

O MEU COMPADRE





Faleceu o meu compadre,
Um santarrão do pau oco,
Mas, antes, chamou um padre,
Dando-lhe o último troco.

Cá chegou na pindaíba,
Caindo logo no Umbral.
Queria subir p ra riba,
Não podia: estava mal!

Pôs-se, então, a imaginar
Como iria progredir,
Querendo o padre acusar
De ter doirado o porvir.

Falava muito em justiça,
Pensava que estava certo.
Velho hábito, a preguiça
Deixava o bem encoberto.

Chegou a pensar em Deus,
Mas arrepiou caminho:
Se não cuidara dos seus,
Se não lhes dera carinho...

Principiava a consciência
A revelar a verdade:
Era a justa conseqüência
P ra quem pratica a maldade.

Pensou na igreja da Terra,
Nas esmolas que lhe deu,
Percebeu o quanto erra
Quem só quer comprar o Céu.

Hoje sofre arrependido,
Pois não conseguiu sossego.
Quer voltar, mas eu duvido
Que tenha ao bem muito apego.

Quando o protetor lhe disse
Que era preciso estudar,
Desconversou, contradisse:
Só pretende reencarnar.

O compadre é bem teimoso,
Não sofreu o suficiente:
Da carne deseja o gozo,
Talvez volte bem doente.

São injunções desse carma
Que põem mistérios na vida.
Quem co a verdade se arma
De progredir não duvida.

O sofrimento presente
Pode ser atroz remédio,
Que nosso coração sente
Como do carma o assédio.

Quer o homem dominar
Os cordéis de seu destino,
Mas quem põe barco no mar
É p ra receber ensino.

Vamos, pois, agradecer
Toda nossa desventura:
Se cumprirmos o dever,
Noss alma será mais pura.

Conversei com o compadre,
Quis saber o que queria.
Queria encontrar o padre
Que lhe tirou a alegria.

Perguntei o que faria
Com tal oportunidade.
Disse-me que lhe daria
A mesma felicidade...

Não gostei dessa resposta
E lhe disse francamente.
Respondeu-me: — Se não gosta,
Diga o que lhe vai na mente.

Foi, então, que começou
A jornada do saber.
Para encurtar, hoje eu vou
Pedir-lhe p ra compreender
Este poema que estou
Terminando de escrever.

Espero em Deus, finalmente,
Que aceite a lição do Pai,
Pois voltar a ser semente,
Com certeza, ninguém vai.







7

CORRENTEZA DE LUZ





Seguindo na esteira das leituras do psicógrafo, deparamo-nos com o belo título da obra do Espírito Camilo, pela mediunidade firme do confrade José Raul Teixeira. São comentários a respeito de tópicos extraídos d O Livro dos Médiuns e d O Livro dos Espíritos, feitos no sentido maior de facultar aos leitores a oportunidade de avaliação dos próprios méritos, em função das lições que ali se encerram.
Aparentemente, não temos grandes elementos a sugar das apreciações, tão conjugados estão os textos às diretrizes que nós mesmos imprimimos às mensagens. Contudo, havemos de recomendar a leitura do opúsculo, para que os médiuns e demais interessados possam ajuizar das diferenças e semelhanças de construção textual e lingüística, na definição das próprias tendências no apanhado dos ditados mediúnicos.
Mas a obra realiza pregações diretas, fornecendo à reflexão inúmeros elementos evangélicos, ao mesmo tempo que se inclina para o desfazimento das superstições espíritas, caminhando junto com os ensinos dos Espíritos de Luz da Codificação.
Esse é excelente exercício que todos podem executar sem medo, a partir dos elementos sacados das obras de Kardec, na elucidação dos problemas que sejam capazes de detectar no âmbito das suas realizações cármicas.
Vamos fomentar o destemor da imitação, lembrando o desejo do Mestre Lionês de atribuir o nome de Imitação do Evangelho ao livro que conhecemos como O Evangelho Segundo o Espiritismo. Todavia, não objetivemos conseguir texto absolutamente original, ou não estaremos reproduzindo os ensinamentos de Jesus nem as luzes procedentes dos conhecimentos espíritas. Vamos realizar modesto trabalho de redação, aspirando a que sejamos acompanhados pelos benfeitores, que têm o sagrado encargo de nos encaminharem, seguros, pelas sendas evangélicas.
Havemos de prevenir que todos os dizeres devam surtir do coração, antes de merecerem o tratamento intelectual necessário para que ganhem feições de mensagem. Não será esse, necessariamente, o caminho de todos, nas correntezas de luz do pensamento doutrinário?

Deixamos o barco à deriva, para demonstrar cabalmente como tem reagido o escrevente, que não teme estar sendo levado por intuições anímicas, desde que se coloca na crista da onda dos conhecimentos a serem transmitidos por nós, à vista de estar fornecendo-nos os subsídios das leituras. Mas isto fazemos de propósito, para que os leitores avaliem a extensão das recomendações desta Turma dos Felizes Cooperadores, interessada em fomentar o intercâmbio entre os planos da maneira mais cordata possível, sem ânsias, sem temores, sem desejos de grandiosidades.
Fiquem atentos para os exercícios que se propõem ao longo das dissertações, pois não queremos deixar a idéia de que as nossas intervenções tenham só o mérito de existirem. Não. Lutamos para que sejam úteis, honestas, saudáveis, além de agradáveis e alegres, o que pode dar a entender que estejamos correndo atrás do vento.
Seguindo na esteira de Camilo, vamos dar-nos as mãos, para que a nossa corrente de luz seja também de fraternidade, na carinhosa afeição que devemos ter pelos maiores e pelos menores, rogando a uns força e discernimento e a outros, atenção, bondade e trabalho, na mesma medida que formos capazes de oferecer os melhores sentimentos de amor a todas as entidades.







8

AS MORTES DE ANANIAS E ESPOSA





Estranhamos muito ler nos Atos dos Apóstolos que um tal de Ananias bem como a esposa tenham morrido em seguida à recriminação que sofreram por terem vendido as propriedades, conservando a metade dos valores alcançados, não entregando, portanto, todo ele à igreja que nascia a partir das pregações de Jesus.
Grande temor encheu o coração de todos os que presenciaram os acontecimentos, pois estavam a testemunhar a necessidade de completa lisura e total reconhecimento da força espiritual da congregação religiosa que se formava.
Teria, realmente, sucedido da forma que se encontra relatado? Admitir-se-ia hoje que os centros espíritas incentivassem a venda das propriedades, para oferecimento da renda à comunidade dos que lhes seguissem as determinações doutrinárias?
Na realidade, estamos propondo que se suspeite dos redatores, que dispuseram os acontecimentos na intenção de que mais e mais pessoas oferecessem dinheiro, para que se distribuíssem alimentos e agasalhos aos necessitados, na certeza ainda de que, assim agindo, cumpriam as obrigações da solidariedade, da fraternidade, do cooperativismo entre os membros da seita.
Vamos dar de barato que os redatores e os divulgadores de tão sagrada obra agiram com o máximo de boa fé, de honestidade, de correção moral, no intuito da divulgação dos ensinos do Senhor, tão eivados estavam das verdades das pregações evangélicas. Mesmo assim, saberíamos justificar a morte daqueles que, tendo vendido tudo o que possuíam, conservaram, sagazmente, metade do produto da venda?
O texto nos afirma que não tiveram a devida confiança, a devida fé nos ditames de Jesus, caso contrário não teriam mantido a malícia de suas organizações mentais ou morais. Por outro lado, não se define o processo pelo qual se deram os óbitos, não se acusando o etéreo de causar o fenômeno, ficando subentendido que tenha havido arrependimento, remorso, vergonha, culpa, enfim, na autopunição emotiva que os infelizes se deram.
Realizamos algumas considerações a respeito dessa estranha passagem. Teriam os amigos outras apreciações para acrescentar? Desconfiariam de que se estaria exercendo pressão sobre a congregação através do medo, como tendência inicial do Cristianismo, tendência que posteriormente se desenvolveu às últimas conseqüências nos processos do Santo Ofício? Teriam atenuantes a apresentar, conforme o próprio Jesus se manifestou a respeito da necessidade de falar misteriosamente ao povo por meio das parábolas, uma vez que o desenvolvimento mental não se adequaria para a percepção das verdades inerentes aos ensinos superiores?
Quaisquer sejam as conclusões dos amigos, solicitamos que transfiram a situação para os dias de hoje, pondo-se no lugar dos ministros da incipiente congregação, para a avaliação das tendências psíquicas que os teriam levado a considerar valioso consignar nas Sagradas Escrituras acontecimentos tão insólitos do ponto de vista do amor pregado pelo Nazareno, que determinava o perdão para todas as faltas.
Na linha destas considerações, vamos recomendar que os leitores se atenham à visão do casal, logo hajam adentrado o plano da espiritualidade. Como teriam reagido? Que pensamentos lhes teriam ocorrido a respeito da lei de causa e efeito? Como analisariam o próprio passamento? Etc.

Otávio não resistiu à possibilidade de encaminhar-nos para o trabalho que mais gosta de fazer: a organização didática dos temas evangélicos. Sendo assim, pede-nos que façamos ver aos encarnados que tal linha de procedimento se encontra desenvolvida no conjunto sob o título de Estudando Espiritismo com a Equipe do Irmão Otávio, onde se encontram outros desenvolvimentos no mesmo sentido, caso haja interesse em prosseguir recebendo os ensinos em forma de desafios.







9

FOME DE BOLA





Quando queremos significar que alguém deseja muito realizar um trabalho, usamos a expressão fome de bola, que é o que acontece quando o esportista fica demasiado tempo distante dos campos e quadras, apenas preparando-se física e tecnicamente. Ao retornar à prática desportiva, vem com vontade quadruplicada de exercer plenamente o esporte.
Assim também ocorre conosco, quando paramos o atendimento aos sofredores e ficamos a estudar a parte teórica, reclusos nas dependências dos educandários. Claro está que todos se cansam quando se encontram há longo tempo no exercício do socorrismo, precisando mesmo estagiar para cursos de reciclagem evangélica, principalmente no intuito de caracterizar os ganhos morais, como ainda de avaliar os defeitos perceptíveis a partir das reações perante as inevitáveis provocações dos irmãos infelizes.
Mas os períodos de estudos também geram espécie de nostalgia das conquistas valiosas junto ao campo das recuperações dos viciados e dos criminosos, como se tudo decorresse de forma absolutamente normal ou natural, no empenho que todos fazemos de alcançar sucesso para reconforto dos assistidos e alegria dos mentores.
Quando enleados pelas lições e trabalhos, ficamos como que em estado de suspensão, compreendendo que os benefícios que recebemos devem ser bem assimilados, pois repercutirão diretamente na continuidade da obra da fraternidade e da solidariedade. Se assim não fosse, ficaríamos excessivamente ansiosos por retornar aos trabalhos práticos.
É evidente que não nos contentaremos em relatar o que se passa junto a estas turmas de mensageiros, senão que pretendemos solicitar aos amigos que façam profunda análise de consciência, para a percepção das nuanças psíquicas, em relação aos desejos mais íntimos de executar trabalhos na zona da assistência e da benemerência. Não passará tudo de meras obrigações, das quais se despacham sem entusiasmo, acreditando que vão acumulando méritos para evoluir espiritualmente, sem outro envolvimento afetivo, como se os seres em defasagem moral ali estivessem tão-só para que se exerçam os deveres evangélicos?
Sabemos que interrogar quem pretendia apenas ouvir sábios arrazoados talvez não seja a melhor política para a captação da simpatia dos leitores. Mas a necessidade da pregação se faz imperiosa para quem, estagiando embora, ainda se lembra de que sua principal ocupação é o socorro oportuno, no oferecimento incondicional de todos os recursos disponíveis para a melhoria dos semelhantes.
Sendo assim, requisitamos a boa vontade dos amigos e insistimos no ponto anterior, inquirindo de novo a respeito da possibilidade das ações maliciosas, em função de conhecimento que não firmou base moral no intelecto nem sensibilizou o coração.
Se estivermos pretendendo muito, lembrem-se de que estamos com absoluta fome de bola e perdoem-nos os atrevimentos acintosos. Se julgarem que a pretensão não é ofensiva, respondam com o coração na mão, afirmando peremptórios a verdade, mesmo que seja o reconhecimento de que suas atitudes estejam fundamentadas nas virtudes evangélicas mais consideráveis, prometendo futuro de luz quando do regresso ao plano da espiritualidade.
De qualquer forma, vigiem todos os procedimentos e peçam ao Criador que lhes envie mensageiros capazes de esclarecimentos particulares, à vista dos problemas que ficarem no ar, sem resolução adequada para sua compreensão. Com certeza, agindo sem hipocrisia, com muito apego à verdade, como fonte de sabedoria, terão muito antes do que imaginam o auxílio declarado dos protetores, ainda que em sonambulismo inconsciente, para que se firmem as tendências do melhor comportamento. Sem a predisposição, contudo, de se alcançarem os objetivos da forma que descrevemos como fome de bola, talvez nem todas as informações venham a ser transmitidas ou captadas.
Ajamos com sabedoria perante todas as situações, o que significa dizer, necessariamente, que devamos seguir as normas superiores dos ensinos de Jesus.







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FALANDO DE AMOR





Quem não tem encontrado apoio nos parceiros acaba carecendo desse sentimento, que brilha na amizade, no devotamento, na simpatia e em todas as formas de companheirismo. Terá a sensação de ser menosprezado ou irá fervilhar no ódio mais absurdo, pela convicção de estar amando e de ser rejeitado?
Não vamos categorizar os humanos em débeis mentais, por favor, que os raciocínios não podem ser tão simplistas, diante da falência de nossas interpretações da psique dos encarnados. Não é para todos que é importante o amor real, mas o reconhecimento dos méritos, dos esforços, das lutas, do trabalho, da dedicação ou, simplesmente, da mera presença diuturna, a infernizar quantos estejam desejosos de algo mais profundo, de maior pureza e sensibilidade.
Queridos irmãos, fiquemos alegres com o fato de estarmos encontrando repercussão sentimental ou emotiva no coração daqueles que estimamos, e a mais não almejemos, pois podemos estar pretendendo a escravização das pessoas ao nosso egoísmo. Ciumeiras à parte, vamos ficar contentes em sermos correspondidos um pouco, buscando distanciar-nos dos extremismos das exigências absolutas, como no caso do marido ou da esposa que não compreendem sequer a necessidade de as pessoas se relacionarem para além das fronteiras da família, por força do amor universal preconizado por Jesus e reforçado por todos os verdadeiros espíritos de Deus.
Quem poderia atirar a primeira pedra, se alguém se desviar do conforto do lar para as vielas lamacentas do pecado? Baste-nos a confiança em que a nossa sinceridade seja a mais perfeita possível, primeiro perante a própria consciência, depois perante o conjunto dos seres que compõem o nosso sistema gravitacional na sociedade.
Há muitos mistérios que somos incapazes de compreender, não sendo poucas as criaturas totalmente infensas quanto aos raciocínios que partem do princípio de que nem tudo o que se passa conosco deva estar necessariamente correto. É que não conseguimos dissipar as dúvidas que nascem a partir das colocações mais difíceis dos teóricos e filósofos, sejam de que quadrante espiritual forem.
Se quiserem exemplos bem chãos, basta pensarem nas contas das Matemáticas, nas inferências do raciocínio histórico, na nomenclatura eriçada da Biologia etc. São pouquíssimas as pessoas que conseguem absorver todos os conhecimentos fundamentais que compõem as ciências, notadamente nos tempos atuais, quando tudo se desenvolve tão rapidamente nos domínios das especializações.
Desse mesmo modo devemos considerar os problemas da espiritualidade, da moral, do intelecto, da mente, do coração, só para ficar nos mais comuns. Se é verdade que todos somos capazes de conceituar uma traição, nem sempre estamos propensos a efetuar o exame das causas e motivações intrínsecas, de forma que nem nós nos conhecemos à suficiência, nem somos capazes de vislumbrar a verdade relativamente aos demais.
Quiséramos dissuadir os amigos de odiar, mesmo quando ofendidos e humilhados. O perdão deverá estar sempre na ordem do dia dos pensamentos e meditações, para que não corramos o risco da tentação dos julgamentos in¬completos e impositivos da nossa vontade soberana.
Ainda que seja difícil de considerar, vamos pôr muitas das conclusões nas mãos de Deus, para não formularmos preconceitos e alienarmo-nos da ventura do recebimento de todas as explicações, quando a zanga nos enfurece e obscurece a mente para o bom sopeso das decisões alheias.
Queira Deus este arrazoado encontre eco no coração de alguém que esteja a pique de ofender, em revide, algum desafeto, mesmo que a contragosto e com o coração despedaçado pela incompreensão dos que se desviaram da rota do amor, para ir testemunhar outros feitos no campo da emotividade, talvez até com o destino certo do descomprometimento e da frustração.
As experiências devem ser recebidas da melhor maneira possível, de forma a oferecer a todos os seres o direto da defesa, como gostaríamos de receber nós mesmos. O bom em amar com desapego aos ganhos materiais é que possibilitamos ao tempo que se apresente para a configuração da realidade íntima de todos os seres envoltos nos terríveis conflitos da alma.
Sejamos bons, compreensivos e amáveis, sem submetermo-nos à escravização dos sentimentos. Sejamos altaneiros, sem orgulho, e abramos mão dos falsos direitos da ascendência moral sobre quem se estilhaçou diante de nós. É que telhados de vidro todos temos, por mais rigorosa seja a vigilância. A consciência de cada qual é que deve ditar as normas dos procedimentos no ajuizamento dos procedimentos alheios, como norma evangélica superior.
Na dúvida da melhor decisão, oremos ao Senhor, pedindo esclarecimentos oportunos, pois a fé nos benfeitores espirituais redundará, evidentemente, em auxílio que não se nega nem se posterga. A confiança em que as palavras vão ser benéficas para a postura que deveremos observar perante as falhas alheias estará condicionada ao nosso entendimento sem traumas psíquicos, já que não adianta manter calma aparente, quando o desejo mais profundo é o de jogar o desafeto nos caldeirões ferventes dos quintos dos Infernos.
Entramos de sola na maldade de quem se sente traído e pedimos complacência para os defeitos alheios. Será pedir muito? O Cristo estaria enganado ao pedir ao Pai que perdoasse os algozes por não saberem o que faziam?!
Finalmente, solicitamos comiseração para esta pobre mensagem, pretensiosa e desumana, pois pressupõe que todos os leitores sejam imbecis a ponto de não conhecerem as regras do jogo estabelecidas por Jesus. Solicitamos, ainda, que façam vistas grossas para a rancorosa citação reiterativa das palavras bíblicas, porque não temos luzes para efetuar textos mais propensos ao convencimento puro e simples, conforme a pregação mais tradicional dos mensageiros da Escolinha.
Tudo o que desejamos, afinal, é estar de bem com o povo, de ambos os lados da realidade, para o que não enfeitamos os termos, já que será de bom alvitre alcançar que haja melhoria de todos, para o aperfeiçoamento do livre exame dos temas em pauta.
Falamos o que queríamos e abrimos espaço para ouvir tudo o que os amigos desejarem transmitir-nos, bastando que, ao momento da leitura, teçam comentários a cada pequenina idéia em desacordo com os princípios que seguem, para que possamos bem avaliar as reações de agrado ou desagrado que o texto fomentar.
Ajudamos? Talvez. Mas, com certeza, seremos ajudados. Muito obrigado!







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DISPOSIÇÃO DE VERSEJAR





Se não é fácil fazer versos bons,
Que se dirá quando nos faltam dons,
Ficando a estrofe manca de uma perna?!
A nossa sorte agora está lançada,
Pois tudo o que fizermos vale nada,
Diante do esplendor da vida eterna.

Vamos marcando assim nossa passagem
Que os versos saem mas sem qualquer mensagem
P ra serenar o coração do homem,
Que só deseja dos que vêm do etéreo
Que desvendem da morte o seu mistério,
Sem perceber que os vícios o consomem.

Se algum sentido encontram nos meus versos,
Busquem achar os bens que estão dispersos
Nas obras dos autores mais famosos,
Que o estudo dos bons nos faz melhores,
Embora as dores sejam bens maiores,
Desfazendo o prazer dos nossos gozos.

Se fosse em prosa este discurso à-toa,
Daria idéia bem mais clara e boa
Dos pensamentos que nos vão na alma,
Mas os versinhos se complicam muito,
A tornar infeliz o nosso assunto,
A ponto de perder o povo a calma.

O médium só registra os bons momentos,
Embora note os nossos sentimentos
Pelo bulício que se passa aqui.
Mas, no final, o resultado disto
Faz exclamar, alegre: — Jesus Cristo!
Como foi boa a vida que eu vivi!







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TERRÍVEIS CONDIÇÕES





Quando estipulamos as condições do retorno à matéria, nem sempre estamos satisfeitos com o destino que enfrentaremos, tendo em vista, principalmente, os distúrbios orgânicos, que representam as deficiências morais ou espirituais das existências desbaratadas.
Se quisermos entender as revoltas, busquemos as dificuldades do dia-a-dia, dado que não possuímos integral poder de adaptabilidade a todas as situações. São muitos os desesperos por não executarmos todos os desejos, ficando muitos em nossa mente, por força das frustrações.
No entanto, a maior parte das pessoas consegue suplantar esses sentimentos, substituindo as pretensões por outras mais exeqüíveis do ponto de vista dos atributos pessoais, momento em que se conformam ao ego, realizando quase todos os empreendimentos, ou justificando a impossibilidade por multíplices argumentações de compensação.
Façamos por compreender os empecilhos como restrições de natureza espiritual, para que fiquem evidenciadas as carências a serem vencidas evangelicamente, ou seja, através da atenção com que atendermos às necessidades alheias, carma coletivo que todos carregam, pois são outras terríveis condições que se impõem aos reencarnantes.
Sentimos ter de ferir este cediço tema das especulações espiritistas, cansando a paciência aos amáveis leitores, mas é que, dentre outras, esta é pequena cláusula do contrato de restabelecimento cármico, para que possamos pleitear novas atribuições socorristas. Patenteamos a obrigatoriedade das tarefas, para demonstrar que não é só no plano denso da carne que existem premissas a serem satisfeitas, para o desenvolvimento das potencialidades espirituais. O mesmo ocorre no campo da espiritualidade, tendo em vista a compreensão e a extensão dos conceitos, do lado de cá, se imantarem mais definitivamente às criaturas, pois a norma superior é de só obterem sucesso os que forem apropriando-se de todos os itens da doutrina.
São condições terríveis ou apenas e simplesmente imposições da verdade, para que se possa deixar dominar pelos pobres seres em evolução? Eis a consideração que apresentamos aos leitores, para que apliquem, no que couber, aos diversos setores de sua possibilidade de captação da realidade, a partir do momento em que forem capazes de discernir o quanto são devedores, por força dos cataclismas psíquicos e orgânicos.
Se fosse possível conceber algum ser humano perfeito, não nos aventuraríamos a tais considerações, pois não iríamos correr o risco de ofender a ninguém, especialmente a quem se dá ao trabalho da decifração destas mensagens. Mas, sabendo que a imperfeição é concepção universal, dado que a deterioração se evidencia pelo tempo, vamos arriscando um pouquinho mais, no enfrentamento das dúvidas morais e filosóficas.
Por outro lado, conhecendo a naturalidade com que os leitores encaram as dissertações mediúnicas, pois não se atreveriam ao desvelamento das verdades espirituais se não estivessem sendo coagidos por problemas quase insuportáveis no âmbito das realizações impossíveis, vamos transferindo para o papel os resultados das observações e das discussões a respeito das atitudes mais comuns nessa faixa da população que tem a ousadia do desafio dos dogmas e dos preconceitos.
A nossa fala estaria beirando o discurso dos ilusionistas e dos que pretendem iludir os encarnados desprecavidos, não fossem os cuidados a respeito das atitudes, na exortação ao bem e ao amor, que devem pairar augustos por sobre todas as demais atividades intelectuais ou físicas. Com Jesus a presidir os pensamentos, não haverá temer qualquer infiltração nas conceituações, inclusive, da doutrina de Kardec.
Suscitamos dúvidas, resolvemos problemas ou tão-só debatemos inutilmente à luz da necessidade dos textos? Dependerá da argúcia interpretativa dos leitores, fundamentada na honestidade com que se aplicam à descoberta de si mesmos, para avaliação ponderada das melhores medidas em prol do congraçamento com a verdade, para que todos os atos possam considerar-se caritativos, quer no âmbito social, quer no íntimo da consciência. São frentes que devem ser vencidas, ou não teria razão de ser o ingresso nesse mundo de dores e expiações.
Sonhemos com um mundo melhor, se isso for auxiliar a preparação da alma para o retorno ao etéreo, mas tenhamos a certeza de que todos os seres que encarnam estão sujeitos às mesmas considerações, tendo em vista que o mistério se põe igualmente diante de todos, havendo que enfrentar os desafios com as armas que aperfeiçoarmos ou que formos capazes de criar.
Não atinando com as saídas para as crises existenciais, antes de mais nada, lembremo-nos das terríveis condições e oremos sentidamente ao Senhor, para que amenize os efeitos das dores e nos soerga o ânimo na confiança de que Deus é Pai de eternal e absoluta misericórdia. Livrar-nos-emos dos problemas? É pouco provável. Mas saberemos delimitá-los mais eficazmente, na tentativa das resoluções supremas.







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DÉBITOS E RESGATES





Nem todo débito alcança ser resgatado em uma única existência corpórea. Entretanto, não se pense que haverá necessidade sempre de novas encarnações, para que as dívidas sejam saldadas, pois há plenas possibilidades de reconciliação no etéreo, conquanto mais dificultosa pelas naturais debilidades dos espíritos em aflição.
Na carne, a alma pode ser muito inferior, mas o corpo, em sendo saudável, dá sustentação a que todos os atos se realizem conforme o desejo ou a vontade das pessoas. Por isso é que os criminosos se dão bem na extorsão ou no estipêndio dos valores que os mais fracos devem pagar-lhes. A rigor, ninguém, na Terra, pode reconhecer-se pela fisionomia ou pelos dotes físicos, já que o espírito fica camuflado. Indícios mais seguros do grau evolutivo das pessoas podem extrair-se dos procedimentos e das palavras.
Estamos referindo-nos a tais fatos, pois muitos se iludem diante da força de que são dotados e da saúde com que vicejam. Não se devem precipitar conclusões através dos dados de empréstimo da materialidade. Havemos de analisar os pensamentos e as intenções, o que somente a própria pessoa está apta a realizar de maneira bastante aproximada da verdade.
De qualquer forma, as dívidas que se contraírem devem ser estimadas em valores putativos, formulando-se o intento de se livrar delas o quanto antes, para que as dificuldades assinaladas quanto ao plano da espiritualidade não venham a impedir ou a postergar a solução dos problemas do relacionamento.
Não se pode, contudo, subestimar o poder que adquirem os credores, jul¬gando que, se se fizer o bem à humanidade em geral, não será necessário ir às falas com os antagonistas. Se houve conflitos, há que os litigantes co¬locarem os fatos em pratos limpos, o que só eles mesmos estão em condições cármicas de fazê-lo a contento.
Está claro que o gerenciamento das atividades amoráveis em prol dos necessitados irá fornecer subsídios preciosos para a compreensão dos defeitos, pois os dramas íntimos se esclarecerão, à medida que adquirirmos consciência das necessidades de eliminação dos defeitos e de aquisição das virtudes. Isto fará crescer o desejo de contato com os desafetos, para a resolução imediata de todas as pendências, ainda mais porque nos sentimos aptos a discernir onde erramos e o que devemos perdoar.
Se estivermos preparados evangelicamente, nada nos faltará, nem o apoio dos protetores, nem as luzes dos mentores, nem a segurança dos guardiães. Para tanto, porém, há que o coração florir em hastes de puro amor, na comiseração pelos defeitos alheios e na descriminação dos adversários perante as rígidas atitudes formuladas a partir da lei de talião, tão insidiosamente encravada na alma dos seres humanos.
Se a cada qual segundo as obras, façamos o máximo para favorecer o crescimento espiritual dos inimigos, que poderemos receber, com agradável surpresa, a incumbência de administrar-lhes conselhos, para que seus procedimentos se rejam pelas regras áureas de Jesus e da doutrina, transformando-os e a nós mesmos, a ponto de eliminarmos as antipatias, solidificando digna amizade onde outrora havia selvageria e ódio.

Não é fácil o comentário bíblico, quando a clarividência do Mestre Nazareno nos disse tudo. Entretanto, há desenvolvimentos sutis que ousam enfrentar certas posturas maliciosas das criaturas que se pretendem acima do direcionamento evangélico, no pressuposto de que nem tudo se encaixa às maravilhas nas situações previstas pela peroração cristã. Se for esse o maior defeito dos amigos, eis aqui a advertência oportuna, para que se tornem mais humildes, menos agressivos contra as pregações de Jesus, bem como mais cordatos para com as nem sempre justas palavras dos mensageiros da Escolinha de Evangelização. Creiam firmemente em que este grupo seja de Felizes Cooperadores e que o Mestre Otávio tenha o dom da prestação do serviço didático mais conveniente para a superação das dificuldades.
Em última instância, apelem para o Senhor, diretamente, na expectativa do esclarecimento de todas as dúvidas, pois está vivíssimo, nos Evangelhos, que a reconciliação é de rigor, havendo-se até dado ênfase a que se proceda a ela durante o encarne. Ou teriam os evangelistas sido ludibriados mediunicamente na reprodução das orientações atribuídas a Jesus? Pensemos muito nisso, pois podemos estar a criar fantasmas na interpretação dos pareceres bíblicos.







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HUMILDADE E PROGRESSO





Um dos mais controvertidos temas do Espiritismo e, de resto, de todas as tendências doutrinárias fundamentadas no aperfeiçoamento moral, é o da humildade, que se põe diante dos homens como o bicho-papão das falências, como se tudo pudesse sofrer análises perfunctórias, a partir da observação de que a ninguém é dado valorizar-se a si mesmo, sob risco de engrandecimento fictício e prejudicial.
Não queremos examinar o problema do ponto de vista carnal, onde as prerrogativas dos conhecimentos são como que a pedra de toque das susceptibilidades, pois é importante que se reconheça que a sabedoria é extremamente parcial, estando muito longe o cabedal humano de comportar significativos ganhos neste aspecto. Aliás, a lição dos mais sábios e dos especialistas é a de que, espontaneamente, se reconhecem incapazes de julgamentos universais, dada a fragilidade dos estudos e das possibilidades de acrescentamentos para o avanço científico em sua área de atuação.
O que surpreende os menos doutos é o fato de que há muitas descobertas no campo a que se dedicam, sem que eles próprios tivessem atinado com a necessidade de tais pesquisas. Assim, quem terá verdadeiramente categoria para discorrer a respeito da humildade, sem demonstrar orgulho por possuí-la em alto grau?
Diferentemente dos humanos, os mais categorizados no plano da espiritualidade não temem, segundo sua faixa de energização vibratória, recomendar medidas tendentes à fixação das diretrizes evangélicas, para a aquisição dos bens das virtudes. Vejam que estamos referindo-nos aos aconselhamentos, dado que é por demais evidente que os mestres possuem os dons que preceituam, sem que tenham necessidade de falar diretamente a respeito de como hajam alcançado assimilar tais prerrogativas.
Se fizermos rústica comparação, poderemos falar no caso dos professores que ensinam gramática, sem precisarem redigir peças literárias para a exemplificação. Ou ainda poderemos lembrar as aulas de anatomia, onde são dissecados os cadáveres, sem que haja para os mestres a obrigatoriedade da demonstração nos próprios organismos.
Assim, ao examinarmos a moralidade, dando ênfase à importância do crescimento das virtudes, avultando a humildade como sintoma irrefutável de progresso, deveremos colocar o jaleco do professor ou as luvas do médico, para não nos contaminarmos com as impurezas do objeto.
Se lhes ficou clara a exposição, passem adiante, sem temerem ser acoimados de vaidosos, porquanto cabe aos espíritos de escol que cuidam pessoalmente de nós avaliar o grau de pureza com que lidamos com tão delicado tema.
Não poderíamos deixar passar a oportunidade para ufanar-nos pela facilidade da peroração. Não era isso que os bons amigos estavam esperando, para a descontração da seriedade temática? Pois aí está método assaz valioso para que os ouvintes atentem para as explicações, deixando em paz o expositor. De qualquer modo, não iremos dizer que os méritos da mensagem nos cabem, pois tudo ouvimos dos mentores e discutimos em classe. Apenas a contextura da composição está afeta diretamente ao mensageiro, posto aí também haja a participação de diversos colegas, que nos influenciaram diretamente para as considerações se fixarem desta maneira. Além do mais, temos a ajuda do mediador encarnado, que se põe alerta para que os dizeres adquiram substância, não deixando, como se diz popularmente, a peteca cair.
O reconhecimento, portanto, do que se deve aos protetores, aos autores, aos precursores e aos expoentes do assunto (em outros termos, a citação bibliográfica) deve constar como parte integrante das pregações, das aulas ou dos textos, momento em que se distribuem os méritos a quem de direito.
Finalmente, havendo muito mais para ser dito, deve-se pedir desculpas por não se terem abrangido todos os aspectos da pauta, de forma que se poderá evidenciar que a humildade não é galardão, mas premente necessidade, à vista do ínfimo desempenho da gente perante a universalidade do tema.
Quando estivermos assim dispostos a falar a respeito da humildade e dos demais temas da moralidade, teremos a certeza de que progredimos muito naquele mesmo sentido. E quando reconhecermos que o que dissemos carece de aperfeiçoamento, será sinal evidente de que estamos encaminhando-nos para novas pesquisas e novas conquistas, jamais dormindo sobre os louros da vitória, que, neste campo, nunca será suficientemente completa, até que reconhecida como tal pelo Senhor. E aí, haverá mais trabalho, mais estudo, mais responsabilidade, mais...







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REMEMORANDO O PASSADO





Querem alguns visualizar, nas lutas do passado, claríssimas vitórias sobre os males e as vicissitudes, julgando tudo por que passaram de sublime aspecto, tendo em vista, no presente, serem absolutamente felizes, no que respeita ao plano material. Como não sofreram desgraças ou, se sofreram, souberam esquecer, julgam que são senhores da consciência e do destino.
Evidentemente, são poucas as pessoas capazes de tal apanágio, mas isto não é indício de superioridade, senão que está a determinar muito maior cuidado com as atitudes e procedimentos relativamente aos semelhantes, pois quem muito possui, muito deve distribuir, seja em bens materiais, seja em dons do espírito.
Não é admissível que as pessoas em tal estágio de contemplação fiquem alheias aos sofrimentos, pois pode estar ocorrendo que mereçam a confiança dos benfeitores, para que exerçam a caridade em níveis muito elevados. Os missionários de Deus são os que recebem as tarefas mais sacrificiais, embora nem sempre tenham motivos aparentes para os sofrimentos. Em linguagem popular, quase sempre buscam sarna para coçar, pois desafiam os poderes constituídos, demonstrando os erros de conceituação evangélica.
Exaustivo seria enumerar os seres em tais condições cármicas, uma vez que o inverso é que nos preocupa, ou seja, os que, tendo todas as faculdades, nenhuma empregam em benefício do próximo.
Rememorar o passado em regressões conscientes é propiciado a poucos. O que mais acontece é a mera suposição, através do estágio da atual conjuntura física. Se a pessoa nasce com debilidades mentais, por exemplo, já se suspeita de que tenha ofendido o cérebro em encarnação anterior. Se vem paralisado das pernas, com o coração arruinado, com o sistema glandular em cacarecos, então, já é dado como suicida. E assim por diante.
Inúmeras comunicações mediúnicas batem nessa tecla, a fomentar as des¬confianças de que todos possam, de um modo ou de outro, estar estigmatizados pelas culpas, pelos débitos ou, ao menos, pelas deficiências morais.
Não vamos contestar as informações nesse sentido, pois, realmente, os defeitos podem indicar problemas de tal natureza. O que podemos afirmar é que as entidades sobrecarregadas de culpas pedem reencarnações difíceis. Outras recebem, à revelia, corpos defeituosos, a demonstrar que precisam equipar a mente com os valores evangélicos.
Mas o contrário não é verdadeiro, ou seja, quem porta aparatos físicos irrepreensíveis não podem, necessariamente, concluir estarem isentos de obrigações em relação aos semelhantes. Aliás, se formos induzir conclusões, iríamos até dizer que seus deveres são flagrantemente manifestos, no sentido de que precisam cuidar dos outros, porque de si mesmos não têm nenhuma necessidade.
Para resumir, é bom desconfiar de que haja para cada um tarefa especialíssima a desempenhar junto aos companheiros, precisando olvidar possíveis regalias, para o sacrifício espontâneo, em prol da felicidade geral.
Como realizar obras que satisfaçam a quaisquer premissas? Trabalhando com amor, com paciência, com prudência, com serenidade, com previdência, com dedicação, com humildade, virtuosamente, enfim, segundo os padrões evangélicos. E orar muito para que se dê a compreensão de que todos somos igualmente filhos de Deus, sem privilégios, sem regalias, sem proteções especiais.
Finalmente, resguardaremos a idéia de que estejamos propugnando que os amigos se desfaçam da felicidade para a lamentação dolorosa. Não. O que pretendemos é que a alegria se justifique pelo amparo dado aos irmãos e não pelo gozo egoísta das benesses materiais. O que pleiteamos é que seja transformada a felicidade material em espiritual, por honra da magnanimidade do Senhor. Que se esqueça o passado, porque, se tiver sido bom, justificará a missão e, se tiver sido mau, preconizará o trabalho redentor.
Não é bem assim que se define o carma individual?







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DATILOGRAFIA NÃO É PROBLEMA





Queremos vir em apoio das teses do escrevente, que não vê óbice algum no apanhar das mensagens mediúnicas diretamente no teclado do computador. Bem gostaríamos, se nos fosse possível, de utilizar os mecanismos eletrônicos para a redação espontânea, mas não sabemos como o faríamos, mesmo porque não tem o mediador capacidade mediúnica adequada para os efeitos físicos e cinéticos necessários.
Vamos, portanto, prosseguir informando os dizeres paulatinamente, aspirando a que a tradução se faça o mais próximo possível da transmissão, momento grandioso, cuja fórmula material não perturba nem favorece, pois a passagem para o plano dos encarnados se dá com propriedade.
Como em todos os trabalhos deste teor, o que importa é o nível de evangelização que se possa conseguir, favorecendo a aprendizagem dos que não sabem, seja na espiritualidade, seja junto aos encarnados, pois o objetivo maior da apresentação destes ensaios é fazer com que haja desenvolvimento mental ou sentimental, no agitar dos temas relacionados à pregação cristã.
Manuscrever, datilografar, fazer girar as mesas, os mochos, os copos e as cestas, tudo visa ao mesmo fim, se tivermos em mira a possível ajuda que uns e outros possam dar entre si. Cabe ressaltar, para os que desconfiam de que os espíritos nada têm para aprender, que a imantação não é dom natural, mas deve ser assimilado na prática e na teoria, o que os médiuns de todos os tipos facultam.
Quanto ao desenvolvimento dos temas em função das necessidades dos participantes da reunião ou sessão, tudo depende do grau de evolução dos comunicadores. Aqui, na Escolinha de Evangelização, temos tido oportunidade de trazer todo tipo de mensagem, conforme as aulas tendam à exemplificação da dor ou dos êxtases de felicidade. Nesse momento, todos têm o que aprender, pois o trabalho socorrista não deixa jamais de incentivar o interesse pelo aperfeiçoamento das técnicas e pelas respostas dos assistidos.
Temos para conosco, portanto, que não há motivo de discriminar esta ou aquela forma de proceder o apanhado das mensagens, havendo que se dar crédito de confiança ao mediador, no sentido de que possa escolher os meios mais adequados para que sua disponibilidade mental se apresente o mais isenta possível de interferências externas ou de perturbações de outras áreas do cérebro.
Raciocinando por absurdo, se fôssemos ditar pauta musical ao nosso médium, não saberia como proceder, pois desconhece por completo o valor das notas e dos demais signos musicais. Não é o mesmo, se a pessoa tem maior facilidade em datilografar do que em escrever a lápis?!
Eis a curta comunicação deste dia atípico, quando as pessoas se sentem mais soltas devido à ausência no trabalho ou à perspectiva do feriado de doze de outubro. Mal comparando, é como se hoje se solicitasse dos médiuns que mudassem a habitual maneira de arrebanhar as manifestações espirituais.







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AJUDA SEMPRE OPORTUNA





Esta poesia cá do etéreo é p ra ser lida
Co amor no coração, trazendo a mente aberta,
Pois tudo o que se faz, no entender desta lida,
É para oferecer aos seres um alerta.

Sabendo que a poesia ajuda o entendimento,
Todos vão fazer força ainda mais ativa,
No intuito de chegar a bom conhecimento,
Que é muito alto o dom a que se objetiva.

Por isso, a nossa briga, eufórica, atrevida,
Na ânsia de deixar os pontos aclarados,
Pois sempre existe alguém de mente resolvida
A duvidar de nós, julgando-nos errados.

— Paciência! — hão de dizer os nossos instrutores,
Sabendo que algum dia as coisas bem se encaixam,
Pois a tendência agora anula o rol das dores,
Mas, em breve, o vigor e as vibrações abaixam.

A cada dia, pois, existem os que fazem
Reflexão sadia acerca desse corte,
E nesse bom momento os justos se comprazem
A demonstrar que a vida acerta a sua sorte.

Eis, pois, que o texto assume um foro de importância,
Na busca do infinito ainda incompreensível,
Sustendo da alma impura a mais forte ganância,
Fazendo do mistério um mundo mais visível.

Querendo conhecer os dons da Providência,
Há que conseguir paz no imo da consciência,
Pois nada neste mundo atinge o ideal,
Sem perpassar a dor que fere fundo o peito,
Sem alcançar virtude em busca do perfeito,
Que o bem que se deseja é o bem universal.







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APARÊNCIAS E REALIDADE





Quanto mais nos preocuparmos em adquirir os dons evangélicos, mais ficaremos dependentes da compreensão dos demais, isto porque lhes daremos a falsa impressão de que desejamos ficar em plano espiritual mais elevado. A idéia de falta de modéstia, de recato, de humildade, fixar-se-á indelevelmente nos que nos observarem trabalhando e teremos de nos haver com inúmeras vibrações de desagrado, no jogo das opiniões.
Progredir é, pois, algo que devemos restringir aos domínios da consciência e, por mais que desejemos usufruir os direitos da angelitude, que nos bastem os ideais do auxílio e do estudo, que o mais o Senhor nos fornecerá em acréscimos de misericórdia.
Não será bom, portanto, almejar a santidade, conforme as premissas do amor, estabelecido por Jesus como norma superior de vida? Claro que será perfeito, que tal perfeição é o que o Pai espera dos filhos para arrebanhá-los para o paraíso. Não foi assim que Jesus dispôs aos discípulos?
O que devemos evitar, a todo transe, é a falência dos aspectos positivos, na ânsia das conquistas nominais. Trabalhar e estudar devem ser ações perfeitas, ou seja, realizadas pelo valor das conquistas do trabalho e do estudo em si, e não na perspectiva das recompensas ou dos atributos advenientes por força de dedicação sacrificial, como se tudo na vida fosse supremo toma-lá-dá-cá de favores.
Se fosse possível, diríamos para as pessoas se esquecerem das promessas do progresso evolutivo nos termos do Espiritismo, para se fixarem nos anseios de vida ou existência mais apetecível para os irmãos encarnados ou não, segundo os esclarecimentos e os amparos de que sejam capazes, à vista das suas propriedades intelectuais, morais e materiais.
Vamos conhecer melhor os defeitos para subjugá-los tenazmente, pela vontade soberana de quem sabe quantos percalços deverão ser aguardados até que tenhamos domínio das tendências do corpo e do espírito, dadas as imperfeições. Este acréscimo de atividades de meditação, na perscrutação dos escaninhos da consciência, irá debelar os eflúvios de aparente superioridade, pois seremos capazes de declarar as fragilidades, para que as criaturas nos vejam tão falíveis quanto elas mesmas, podendo ocorrer que tenham as chaves que nos facilitarão a abertura das portas conscienciais, na busca das soluções.
Esse o toma-lá-dá-cá que deve ser cultivado, na configuração de que todos somos igualmente filhos de Deus e singramos pelos mesmos mares encapelados das dores, das expiações e dos sofrimentos.







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O ABOMINÁVEL HOMEM DA NEVE





Além desse título, poderíamos ter dado outro até mais conforme ao tema que desenvolveremos: E.T., esse desconhecido.
Cabe-nos informar, com desagrado, que encontramos mais pessoas acreditando em seres absurdos, absolutamente impossíveis de se formarem na natureza, do que nas lúcidas explanações científicas que comprovam, através de experimentos controlados, a existência das comunicações do plano da espiritualidade, ou melhor, da esfera energética do cosmo fluídico em que todos os espíritos existem, a partir do desligamento dos vínculos corpóreos.
É de interesse assinalar que muitos sacerdotes, não conseguindo refutar a existência desse intercâmbio, apelam para as forças demoníacas, sem considerarem o fato de que tais seres seriam muito mais incongruentes, lógica, filosófica ou teologicamente falando, do que os espíritos, que não são mais do que as almas dos encarnados. Aceitam a tese da persistência da vida além da morte, mas com destino certo, mais de acordo com as idéias que lhes dão equilíbrio conceitual, tendo em vista a repartição maniqueísta a que procedem, segundo o silogismo de que tudo o que não for bom deverá, necessariamente, ser mau.
Muito teríamos para desenvolver neste sentido, mas iríamos queimar boa vela onde não há defunto, uma vez que os leitores destas páginas se contam entre as pessoas formadas na doutrina dos espíritos, convictas de que a natureza dos seres deve comportar recursos para a manutenção da consciência, conforme a enorme soma de informações acumulada nestes últimos decênios. De qualquer forma, para a comprovação, basta participar, in loco, das atividades mediúnicas nos centros espíritas, onde a fenomenologia insta por preparar a mente para a recepção da verdade espiritual.
Não é verdade que a racionalidade humana comum rejeita o impalpável para acreditar no improvável?
Algumas ilações poderiam absorver-nos a partir desse registro, mesmo no seio do movimento espírita, onde muitos conceitos são relegados ao esquecimento devido às dificuldades filosóficas, preferindo-se aceitar, pacificamente, informações que prometem realizações grandiosas.
Apenas para dar um exemplo, se tivermos paciência para ler as conclusões de Kardec relativamente à possibilidade de conhecimento dos fatos vindouros, veremos que pretende o sábio lionês configurar os fenômenos da previsão e da predição como espontâneos, acatando a tese de que tudo esteja predeterminado, contraditando o que os espíritos asseveraram como resultado da aplicação do livre-arbítrio. Aliás, ficam os conceitos kardequianos nebulosos nesse ponto das explanações, pois sua natural tendência para a realidade fá-lo precaver-se contra tudo que não tenha sido rigorosamente documentado.
Apenas para lembrar, se planejarmos os acontecimentos, seremos capazes de fazê-los acontecer. Se tal fato ocorrer no plano da espiritualidade e se informarmos os humanos, poderão estes pensar que existe o dom do conhecimento dos eventos futuros, caindo na esparrela da futurologia.
Por outro lado, têm os espíritos a faculdade de influir nas decisões dos encarnados, segundo o nível de docilidade que apresentem, acabando por levar as pessoas a cumprirem os rituais anteriormente definidos, resultando, aparentemente, em que os dizeres premonitórios estivessem corretos. Nesse sentido, os acertos são bem menos numerosos do que os erros, mas ficam impressos na mente, favorecendo a crença em que exista o destino, o fatum, a sorte, como ponto definido, sem possibilidade de alteração.
Estamos colocando tópicos relativos às predições, para que os amigos percebam a complexidade dos próprios estremecimentos, quando se trata de interferir em conceitos cristalizados, no temor da ofensa aos benfeitores da doutrina.
Em última análise, caso não tenhamos disposição psíquica para aceitar a argumentação contrária às teses de Kardec relativas a este aspecto específico, lembremo-nos de que é ponto de honra do Codificador que a fé esteja rigorosamente amparada pelo raciocínio, de preferência embasado nos cânones científicos oriundos do empirismo experimental até a conceituação testada sob todos os prismas da lógica e da verdade comprovada.
Ou será melhor acreditar na existência do abominável homem da neve?







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A IMPORTÂNCIA DA TESE ANTERIOR





Se tivermos ficado melindrados por se ter tocado na falibilidade do Codificador, devemos lembrar-nos de que somos todos seres imperfeitos e que iremos aperfeiçoando-nos, à medida que mais e mais formos absorvendo a verdade, de acordo com o desenvolvimento moral, intelectual, sentimental que estivermos conseguindo através do empenho nos estudos da realidade.
Haverá quem suspeite de pronto, tendo em vista a possibilidade acima aventada de que todos somos falhos, que Kardec não poderia estar mais errado do que estes incultos mensageiros da Escolinha de Evangelização, dando por encerrada qualquer discussão a partir dos elementos colhidos na obra da Codificação Espírita.
Bem comparando, estarão agindo os que desejam resguardar as teses kardequianas da mesma forma que nós, quando nos negamos a afirmar conceito contrário às informações levadas à humanidade pelo Espírito de Verdade. Nesse caso, nós nos colocamos sob suspeição e não nos atrevemos a qualquer ponderação que se desvie um til das assertivas dos espíritos de luz.
Entretanto, muitos encarnados materialistas teriam razões de sobra para se divertirem com tais susceptibilidades, tendo em vista a condição primordial de que o argumento de autoridade se derrui pela autoridade do argumento, conforme nos explica a lógica.
Se não nos considerarmos suficientemente argutos para a compreensão de certas teses, é preferível levar a sério a instrução, conforme premissa estabelecida pelo próprio Espírito de Verdade, dedicando-nos aos estudos dos textos fundamentais veiculados através da mediunidade, buscando configurar as opiniões de Kardec como resultantes de estruturas mentais cronologicamente situadas no século XIX, geograficamente postas na Europa civilizada, socialmente condicionadas pelos ideais da alta burguesia, culturalmente restritas pela visão ocidental da existência, politicamente adequadas ao liberalismo proveniente da Revolução Francesa, etc.
A importância da tese apresentada na mensagem anterior reside, exatamente, no fato de que cada indivíduo deve chegar de per si só às conclusões relativas a todos os eventos existenciais, sem se deixar envolver por pre¬conceitos ou fantasias, mesmo sob o risco de se constituírem em desafios para os instrutores da doutrina, encarnados ou não.
Abramos a mente para o conhecimento superior e não tenhamos medo de ofender a quem quer que seja intelectualmente, pois, devemos reconhecer, ninguém é dono da verdade. Ou existe o temor inato, o medo atávico de sermos expulsos do paraíso, por estarmos a degustar o fruto proibido da árvore do conhecimento? Será que Kardec o considerava proibido?







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CAPRICHOS INFANTIS





Não são poucas as criaturas que conservam até depois da morte as nuanças de comportamento adquiridas na infância. Quase sempre são voluntariosas, crentes de que devam merecer atenções especialíssimas, arrogantes e discriminatórias.
Se não tivéssemos conhecimentos espíritas a respeito do carma e das leis fundamentais, como as de causa e efeito e da reencarnação, talvez pudéssemos suspeitar de que estivessem continuamente sob efeito de reações químicas alucinatórias, produzidas por disfunções humorais ou glandulares. Se fôssemos espíritas e supersticiosos, iríamos aventar a hipótese da mediunidade mal conduzida, deixando-se elas influenciar por espíritos de baixa categoria, malvados ou malévolos, inferiores moralmente, que muitos existem, ávidos pela dominação fácil dos imprevidentes.
Mas somos seres com alguma consciência da fenomenologia mediúnica e da fisiologia do corpo humano, de sorte que podemos avaliar o fato do ponto de vista espiritual, delimitando, caso a caso, as suas reais condições. Embora a sintomatologia apresente inúmeras coincidências nas reações exteriorizadas, fica-nos mais acessível o conhecimento das injunções pessoais que provocaram as diferentes disposições, segundo imensa série de ocorrências de comportamento, ao longo de uma ou mais encarnações.
Assim, para cada ser existe tratamento próprio, segundo a ingerência que tenha exercido na vida dos que a ele se ligaram nas mais diversas categorias de relacionamento, desde os sangüíneos mais chegados, até os simples contatos profissionais ou sociais.
Tais criaturas recebem o influxo das anomalias de procedimento dos semelhantes e as traduzem como ameaçadoras, buscando caracterizar as próprias reações como necessárias para a obtenção de sucesso junto ao grupo responsável por seu desenvolvimento, imbricando razões e argumentos de toda espécie, na tentativa de envolvimento emotivo-sentimental, para o efeito da prevalência de seus desejos sobre as vicissitudes coletivas.
Se tiverem um pouco de paciência, analisando bem o procedimento de toda hora, haverão os amigos de reconhecer indícios desse tipo de reação psicológica, mais ou menos atenuada pelos embates da vida, no litígio entre o querer e o poder, que se resolve normalmente pela instalação dos compromissos e obrigações como deveres reconhecidos de valor mútuo, na aplicação da lei da igualdade perante o Senhor. Mas vestígios existem, camuflados por atitudes de descontrole momentâneo, muitas vezes perceptíveis nos temores ou fobias específicos.
Não queremos desviar-nos muito do objetivo de esclarecimento de como o plano da espiritualidade trata de tal afecção psíquica, mas vamos relacionar alguns exemplos. Quando se sentem acuadas pela vontade alheia, como no caso do preço fixado para os produtos, as pessoas reagem de forma a avaliar exatamente o grau de justiça, de lealdade, de honestidade que se instalou no elemento exteriorizado, ou seja, no valor em dinheiro atribuído ao objeto. Se concordarem em pagar o preço, levam para casa a desconfiança de que tenham sido ludibriados ou de que tenham realizado bom negócio. Se tenderem a ficar rememorando todas as facetas da negociação, envolvendo-se, alternadamente, em temores e em euforias, podem crer que a insegurança estará a demonstrar os resquícios aludidos acima a respeito da fixação das reações infantis não totalmente controladas e compreendidas.
Se tais sutilezas podem extrair-se de corriqueiros fatos do dia-a-dia, mais ainda podemos observar a persistência dos caprichos infantis quando se trata de teorias contrárias às convicções firmadas no plano da religiosidade, da filosofia, dos conceitos morais e dos relacionamentos sentimentais.
Os mentores que cuidam de nos ministrar os conhecimentos curriculares para a formação socorrista insistem em que devamos obedecer, de plano, a roteiro firmemente estabelecido pelos padrões evangélicos, conforme rigoroso procedimento de análise das causas, em todos os níveis psíquicos. Imaginaram os leitores se estivéssemos sob a pressão dos caprichos infantis trazidos para a espiritualidade por desleixo doutrinal ou religioso, dado que o estabelecimento da rebeldia como hábito de conduta se sobrepõe a todas as regras da boa convivência? Não iríamos circular entre os condiscípulos, na expectativa do reconhecimento de que deveríamos merecer cuidados particulares.
Se os caros amigos aproximarem o tema da dissertação ao fato de que todos precisaremos ultrapassar estas fases de estudos, para recebermos os galardões do progresso, deverão, obrigatoriamente, reavaliar todos os atos e pensamentos, para o diagnóstico das moléstias, na tentativa da cura antecipada, antes que as manifestações dos desvios conscienciais se dêem em prejuízo do avanço evolutivo possível em cada encarnação.
Como sempre, orar com humildade e fé é o caminho mais fácil para se alcançar a luz. Apelemos ao Senhor e aos benfeitores, no bom sentido, caso contrário aquele pequeno déspota se evidenciará e nos arremessará por tempo incerto na negritude umbrática. Sejamos cordatos e recebamos bem as informações mediúnicas, mas ajamos com discernimento, para conseguirmos evidenciar a verdade.







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DESVIOS DE CONDUTA





São poucos os que conseguem amenizar as fortes tendências para a fixação dos modelos egoísticos que estruturaram arquetipicamente nos cérebros, de sorte que tudo produzem de pior para alcançarem seus objetivos, mesmo que em detrimento, e, às vezes, até por causa disso, da sociedade.
Não vamos acusar a ninguém, como se a criminalidade não fosse reversível, se bem que haja muitos perdidos para o evangelho na corrente peregrinação, dadas as lesões de toda espécie: morais, intelectuais, emotivas, orgânicas, fisiológicas, a prejudicarem o entendimento das leis (principalmente as cármicas) e sua conseqüente aplicação no relacionamento.
São tão terríveis as afecções nesse campo, que existem muitos seres capazes de coordenar sistemas jurídicos próprios, com fundamento no revide, na vingança e demais oposições que fazem ao que se regulou para a sociedade. A partir dessa postura de afronta aos valores historicamente formulados, combinam inúmeros princípios de moralidade, de religiosidade e de respeito aos ditames do ego, parecendo dominar filosoficamente o dom da vida.
Estamos a desfilar diante dos estarrecidos olhos dos pacatos leitores, muito mais habituados à poesia dos textos doutrinários, os aspectos sórdidos da psique humana, aqueles mesmos que levaram o Cristo ao martírio da cruz. Eis do que são capazes os espíritos inocentados por consciência encoberta pelos escombros das dores milenares das injustiças, das perseguições, dos terrores. Se há quem se ilumine pelas palavras do perdão, na ânsia de cumprir o objetivo de amar os inimigos, muitos outros se dão ao desperdício das encarnações, almejando conseguir, finalmente, suplantar as dificuldades, impondo-se pela força que as circunstâncias lhes reuniram na mão.
Desenvolvemos tais tópicos pouco comuns na literatura mediúnica porque os recursos atuais para a divulgação das atividades criminosas, mais ainda, bélicas, das organizações marginais, tem colocado grande medo nos corações e imenso pavor nas mentes dos infelizes que dão prioridade ao amor e não ao ódio, à lhanura no trato e não à intemperança dos procedimentos incivis.
Se se deixarem levar os amigos pelas notícias reiteradas das atividades ilegais, como se, na verdade, estivesse havendo profundas mudanças culturais na sociedade hodierna, poderão falsamente concluir que os princípios evangélicos estão defasados em relação às novas estruturas de poder emergentes, principalmente as estabelecidas pelos interesses dos que visam à escravização do povo (dos jovens, prioritariamente), através dos psicotrópicos e alucinógenos.
Entretanto, não há que se apelar para as predições miraculosas para se prever que, se não for colocado paradeiro ao crescente poderio das hordas de marginais, haveremos de contemplar a derrocada das forças vivas da espiritualidade alocadas para o orbe, prevalecendo o terror como o mais natural estado psíquico da humanidade.
Do ponto de vista histórico, não haverá temer que tudo se perca, senão que serão riscadas do mapa muitas civilizações, através do extermínio das nações, não pela guerra, mas pela fome, não pela poluição, mas pela infiltração das energias solares incompatíveis com a organização dos tecidos que compõem os corpos dos seres vivos.
No campo da espiritualidade, porém, o desenvolvimento das atividades prosseguirá incólume, de sorte que só os homens necessitados de mais reencarnações regenerativas serão impedidos de usufruir imediatamente as benesses de tão propício e agradável planeta.
Se pensarmos com rigor, podemos, inclusive, talvez até temerariamente, inferir que o prazer, o luxo e as riquezas materiais é que estão conduzindo a humanidade para desfecho tão trágico de seu ponto de vista. Não tem sido sempre assim que as civilizações vêm desaparecendo?
Palavras de otimismo? Digamo-las para nós mesmos, a partir das promessas de Jesus.







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PRECE DE SOFREDOR





Eu, quando aqui estive noutro dia,
Falando sobre a vida que vivi,
Nem tudo disse em forma de poesia,
Mas nesta forma cabe o que senti.

Tive furores grandes, sem mentira,
A ponto de perder as estribeiras,
Mas Deus não quer agora que eu fira
A quem já se esqueceu das tais besteiras.

Estou a relembrar, inutilmente,
Quanta maldade fiz aos companheiros:
Cada lembrança que me vai na mente
Me assusta com promessas de braseiros.

Ao tentar recordar as coisas boas,
Logo percebo em tudo só malícias.
Não poderei cantar, em pobres loas,
Imaginando um mundo de delícias.

São sofrimentos grandes que me trazem
As lembranças mais graves dessa vida.
São tormentos terríveis que me fazem
Pensar em que não tenho mais saída.

Mas tenho amigos cá nestoutra esfera,
Que me deram o dom desta poesia,
Tornando a minha alma menos fera,
Fazendo dos meus gritos melodia.

Sei bem que tenho um compromisso sério,
Ao desvendar da morte o seu mistério,
Na ilustração dos meus caros leitores:
É dar-lhes tento aos crimes e ousadias,
Que só lhes vão deteriorando os dias,
No mau presságio de aumentar as dores.

Buscando conseguir bom desempenho,
Já serenaram vibrações que tenho,
P ra que dê curso aos versos deste exemplo,
Que os sentimentos nobres que nos crescem,
Além de paz de espírito, oferecem
Recolhimento digno deste templo.

Pretendo aproveitar-me deste ensejo,
Para dizer, em prece, que desejo
Livrar-me destes males que me prendem,
Pois ouso perdoar os devedores,
Que bem pior eu sou — provam as dores,
Que tantos sofrimentos vis me acendem.

Senhor, ouve esta voz de desgraçado,
Que dos infernos lança triste brado,
Neste momento grato de ternura;
Conserva esta esperança sempre acesa,
Chama de amor perene sobre a mesa,
Promessa de esplendor que em mim perdura.

Vou suspender agora estes meus versos,
Que não quiseram ser muito perversos,
Embora o tema traga sofrimento.
Ainda existe tempo p ros mortais,
Que podem desejar fazer bem mais,
Para evitar dos males os tormentos.

Lembrar-me-ei também do bom amigo
Que ofereceu a mim seu nobre abrigo,
Dando vazão aos versos penumbrosos.
Receba o meu abraço com ternura,
Que a minha alma sai daqui mais pura,
Revigorada e calma destes gozos.







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O MISTÉRIO CONTINUA





Quem julgar que a passagem para o etéreo irá dirimir todas as dúvidas e responder a todas as perguntas, irá enganar-se redondamente. É que tudo prossegue no mesmo diapasão, conforme as pessoas vão preparando-se para enfrentar novos problemas. O mistério é tão insondável, ou mais, se considerarmos que há outra estrutura fluídico-energética para ser compreendida.
Assim, as informações que se vão passando para os encarnados por meio da mediunidade adquirem importância fundamental, desde que formuladas com responsabilidade e utilizadas com respeito.
Apesar de tudo, não conseguimos alvará para todas as respostas, mesmo porque o pouco que conseguimos decifrar não caberia no linguajar humano, o qual deveríamos adaptar por meio de comparações, alijando as explicações dos mais importantes recursos técnicos ou científicos.
A partir dessa colocação de prudência e de descortino intelectual para as manifestações dos espíritos, podemos inferir importantes conclusões, pois muito do que fazemos prescinde dos conhecimentos específicos, já que os roteiros para mais rápida evolução se postam no campo da moralidade, das virtudes e do respeito pela criação, o que deve refletir-se na irmanação global, em busca da felicidade.
Queremos enfatizar a expressão em busca da felicidade e não a conseqüência da pesquisa meramente acadêmica dos cordames que conduzem o agitar humano sobre a face da Terra. A felicidade nem sempre está disponível, dado que os recursos são sobremodo escassos para a maioria dos seres, uma vez que nem todos se apresentam hígidos quanto às possibilidades de reconhecimento da verdade. Entretanto, para os que compreendem as principais leis do carma, fica absolutamente inteligível que o mais importante é a busca, a luta, a peregrinação, o desafio moral e honesto quanto ao desempenho evangelizado.
Sendo assim, nem sempre será possível estabelecer o forte nexo existente entre os benefícios proporcionados aos companheiros e os que usufruímos pelo fato de trabalhar para tal objetivo. Eis a grandeza de alma que se prognostica para os que se esquecerem de si mesmos, apenas se lembrando de que todos somos irmãos e carentes dos mesmos fatores para o crescimento espiritual.
Não é verdade que, se alcançarmos entendimento destes tópicos, iremos suspeitar, pelo menos, de que alguma ponta do mistério estará levantada?!
Fiquemos, pois, atentos para as reações diante dos textos mediúnicos, para sabermos o quanto estamos propensos à aceitação da veracidade dos dizeres ou se a desconfiança nos põe de sobreaviso para possíveis infiltrações de quem nos queira iludir, mentindo a respeito das ações mais eficazes para sairmos da carne sem medo de sermos arrebatados para o Umbral.
Certeza completa ninguém poderá ter, tendo em vista que muitos dos fatores da moralidade são subjetivos, mas a prática do bem, com ou sem sacrifício, sempre será melhor que o desperdício dos recursos no emprego em inutilidades, vícios ou desvios de conduta, para satisfações de pequeninos desejos de caráter material ou para prevalência sobre as demais criaturas.
Num sentido mais amplo, temos de admitir o fato de que a vida não se diferencia grandemente do ponto de vista espírita, sempre que a dor se põe diante de nós como o melhor dos artifícios para os testes da coragem ou para as provas do desapego.
Se todas as criaturas reagissem uniformemente, a lição do etéreo não valeria. Contudo, como vemos tão diferenciadas posturas diante dos atributos conscienciais a se embasarem no bem, conforme Jesus, estimulamos as noções da responsabilidade cármica, para que mais e mais pessoas vão adquirindo pequenos conhecimentos a serem aplicados, futuramente, no campo das conquistas espirituais. Quem sabe, assim, as surpresas não serão tão grandes!







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A EXTENSÃO DO TEXTO MEDIÚNICO





Para os que preferem textos curtos, recomendamos muitas quadrinhas, em que se sintetizam conhecimentos, em exortações ao bem, ao amor, à caridade e demais virtudes evangélicas. Quem necessite de paciência, haverá de encontrá-la, na prática, nas mensagens mais longas, que exercitam a capacidade de raciocínio, através de longos desenvolvimentos, nem sempre afetivos ou emocionais, mas rigorosamente técnicos, em obras de muitas páginas.
Nós temos optado por textos curtos, onde discutimos problemas específicos, para que não se cansem os leitores e encontrem o que buscam através do teor geral das obras. Entretanto, o pessoal da Escolinha de Evangelização já se atreveu ao romance, ao conto, às explicações técnicas do Espiritismo, à exegese bíblica, aos testemunhos comentados, aos poemas e demais formas encontradiças na psicografia.
O que não podemos responder é pela qualidade lingüístico-literária da produção dos alunos, conquanto respeitemos os esforços de concentração do mediador. Quanto aos textos dos orientadores e mentores, haveremos de enaltecê-los, muito embora estejamos bem longe de interpretá-los a contento.
Esta turma se esmera por executar trabalhos dignos, oferecendo desenvolvimentos com certa desenvoltura temática, mas nem sempre alcançamos o ideal que conceituamos como a expressão máxima possível para o nível evolutivo, intelectual e sentimental, que nos dispusemos a representar perante o público, já que é com integral respeito e boa vontade que nos pomos à disposição de todos para os textos de orientação evangélica.
Para quem se acostumou aos lavores literários dos mestres que escrevem através do excelente Francisco Cândido Xavier, as turmas que se sucedem junto ao nosso médium devem parecer bastante rústicas ou muito complicadas: as primeiras, por não se despojarem dos pesos cármicos terrenos, ainda sofredoras e inoperantes moralmente; as últimas, por não conhecerem em profundidade os temas que ousam desenvolver, para o que buscam encontrar terminologia adequada, sem total sucesso.
Pediram-nos para que fizéssemos a crítica das mensagens, agora que estamos além dos trinta volumes, momento mais do que certo para a reflexão didática, já que tudo o que fazemos no plano mediúnico visa ao envolvimento doutrinário dos leitores, pois não temos autorização de virmos tão-só para distraí-los.
Contudo, textos como estes podem parecer internos demais, sem trazer aquele conteúdo que declaramos, pois, se não se constituir em formal pedido de desculpas pela inferioridade dos autores, não apresentará qualquer finalidade, uma vez que a crítica mais apropriada cada qual haverá de realizar, segundo o aproveitamento que possa haurir das leituras.
Anunciamos, no título, que iríamos discorrer a respeito da extensão dos textos. Claro está que, à vista das qualidades intrínsecas, é que deveremos ajustar as apreciações. Ninguém poderá, por exemplo, desejar que esta dissertação avance muito mais, pois não há grande interesse nestes comentários. Entretanto, se nos referirmos aos colegas que examinarão nosso ponto de vista, poderemos demonstrar que poderá movê-los extrema curiosidade para a percepção dos raciocínios que embasam a tese, para se proverem de razões, na justificativa dos próprios trabalhos.
Abrimos, assim, campo novo para os encarnados, pois poderão lembrar-se de que aqui estarão, mais cedo ou mais tarde, como alhures já nos referimos, e aí irão lembrar-se de como proceder para o cumprimento mais fiel das obrigações psicográficas.
Dentre os textos mais importantes, estão as preces de agradecimento e de solicitação de luz para a compreensão do mistério existencial. Esses são os mais curtos, quanto à extensão intelectualizada, mas julgamos que os mais longos emotivamente falando. Vamos examinar detidamente o pai-nosso, a suave oração de Jesus, para chegarmos ao conceito mais proveitoso do dia. Haverá ensinamento superior?







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HOMENS E MULHERES ESPECIAIS





Quem não gostaria de ser alguém tão lúcido a respeito dos fatos espirituais quanto Francisco Cândido Xavier?! Do mesmo modo, muitos pretendem ser tão bons no Futebol quanto Pelé, na Física, como Einstein, na Literatura, quanto Dante, e outros, mas, na configuração de suas inferioridades, percebem que não têm potenciais de intelecto, de moral ou de sentimento da mesma forma grandiosos que os tremendos modelos.
Qual a atitude mais coerente para a satisfação da premissa evolutiva, na direção dos seres em que se espelham? Evidentemente, a descoberta do que os fazem incomparáveis, para a justa assimilação das virtudes correspondentes.
Entretanto, com a desculpa de que jamais se alcançaria ponto de equilíbrio semelhante, as pessoas desanimam e passam a enfatizar até o que de negativo existe na personalidade, para que fique bem demonstrado, para as forças extraterrenas, que algo não anda bem na distribuição dos aparatos orgânicos.
Se alguém se atrevesse a imitar a Cristo, por exemplo, fugiria célere dos sacrifícios mais pungentes, sabendo, embora, que os mártires do Cristianismo julgavam naturabilíssimo doar as vidas em nome do Senhor, impedindo-se, por algum modo, de ofender os princípios da angelitude a que visavam. Atualmente, o que mais podemos aproximar desse total desprendimento é a dádiva das ordens religiosas de clausura, mantida por fanatismos que se não compreendem.
Vejam que estamos opondo pensamentos extremados, pois, mesmo para nós, repugna o fato de que as pessoas possam afastar-se do convívio social para o eremitério egoísta de se suporem em condições de impor ao sobrenatural a obrigatoriedade do reconhecimento do sacrifício, do cilício, da mutilação, da flagelação e até da morte.
Para o Espiritismo, não basta querer ascender em paz. É preciso enfrentar a belicosidade social e oferecer tudo que for possível para cumprir o ditame da lei de justiça, que declara todos iguais perante o Senhor. Mas isto só se consegue após muito estudo, muita meditação, muito trabalho junto aos mais experientes, muita dedicação aos consangüíneos e afins, muito afeto a todas as criaturas, na expectativa de que haja entendimento do que esperamos realizar na presente encarnação, pois não há querer todas as virtudes de uma só vez.
Não é verdade que Chicos Xavieres, Pelés, Einsteins, Dantes e quejandos modelos de muitas qualidades devam ter carmas específicos e terríveis condições de vida, para a concretização máxima das habilidades que desenvolveram? Ou seriam perfeitos nas aptidões, não necessitando oferecer ao seu mister qualquer sacrifício?
Se tivermos por meta adquirir as virtudes evangélicas, façamos tudo em prol dos semelhantes, mas não criemos a fantasia rudimentar da perfeição sem trabalho, sem estudo, sem esforço, sem dedicação, sem sacrifício. Se tivermos faculdades únicas e se formos capazes de prodígios na área das atividades que almejamos conquistar definitivamente, lembremo-nos de que teremos muitos outros atributos em falta, os quais serão motivo de novos investimentos, em outros encarnes.
Homens e mulheres especiais somos todos nós, à vista dos carmas e programas únicos perante a existência. Regozijemo-nos, pois, e agradeçamos ao Senhor a compreensão do nosso verdadeiro eu, objetivo assaz complicado até para os filósofos mais importantes. Ou estariam eles escondendo o jogo, quando declaram que a perfeição não existe na Natureza com sentido absoluto, mas relativo?
Esse é ponto para futuras reflexões. Por ora, vamos empenhar-nos em orar com muita devoção, no agradecimento obrigatório da criatura pela ação do Criador.







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DIRETRIZES MEDIÚNICAS





Muitas pessoas se põem espontaneamente sob orientação do plano espiritual, certas de que obterão recursos morais, intelectuais ou emocionais de que estejam presumivelmente carentes. Tal hábito, aparentemente saudável, acaba gerando dependência, se não houver comedimento nas solicitações, reservando-se os apelos para situações agudas, em que qualquer hesitação poderá reverter em malefício para os seres envolvidos no problema.
Por outro lado, há que se estar prevenido para as malícias decorrentes das posturas em que os ganhos se dêem sem esforço, sem amor ou sem convicção de que os atributos inerentes a tais auxílios devam ser assimilados e incrustados na personalidade. Nesse caso, os benfeitores costumam afastar-se, dando azo a que entidades menos perfeitas e menos interessadas no bom sucesso dos consulentes se aproximem, para o engodo, para a ilusão, para a confirmação justamente daqueles maus pendores.
Se não fosse certo aspecto de incongruência, poderíamos, em muitas situações, recomendar que não se consultem as forças da espiritualidade, evitando-se o congestionamento dos pedidos de intercessão, buscando-se soluções a partir dos conhecimentos da doutrina ou da leitura dos textos psicografados especialmente para a inspiração oportuna.
Se se quiser ir mais longe, que se realizem as orações rogativas de auxílio, no sentido de se clamar por luz para as deliberações e decisões, no âmbito da consciência do requerente, longe de se atribuírem às forças do etéreo quaisquer sugestões que, mais tarde, poderão parecer não inteiramente satisfatórias.
Condensando o pensamento, o que estamos recomendando nada mais é do que muita prudência e muito discernimento no exame das circunstâncias, para a sagaz avaliação de quais medidas se justificariam pelo evangelho de Jesus, não havendo que se suportar a ameaça de preconceitos nem de julgamentos simplistas, uma vez que exercitar o bem, a caridade e o amor passa, necessariamente, pelo conhecimento das leis analisadas n O Livro dos Espíritos.
Assim, quanto mais ingênuo o indivíduo, melhores os resultados a se obterem das rogativas aos benfeitores espirituais. Quanto mais experiente, mais sabido, mais estudioso, mais intelectualizado, mais deverá resguardar-se da ilusão da fragilidade psíquica, aplicando a todos os atos os conhecimentos há longo tempo filtrados para a mente, para o coração e para a consciência. Afinal de contas, se tivermos de recomendar todas as atitudes adequadas a cada situação de vida, não conseguiremos realizar nós mesmos os trabalhos que nos conduzirão à sabedoria. Não é verdade?!
A independência, neste caso, dá o braço à liberdade, não tanto do encarnado mas dos guias do etéreo, que gostariam de ver os pupilos na augusta condição de mestres e não de alunos. Para tanto, a vida deverá ir ensinando, paulatinamente, que outro não é o objetivo das encarnações.
Finalmente, a assunção das responsabilidades é muito mais importante quando corresponde à livre iniciativa dos humanos, perante o Senhor, nas dificuldades e vicissitudes imanentes à condição dos seres vivos dotados de consciência. Desprender-se do seio materno exige que se corte o cordão umbilical. É bem assim que entendemos o relacionamento entre os planos, estabelecendo-se vínculos adultos de resguardos cabíveis quanto às injunções mórbidas, impossíveis de sopitar por desequilíbrios alheios à vontade. Mas, se houver ponderação judiciosa a respeito dos ensinamentos evangélicos, é impossível que haja desvio do norte de luz que conduzirá ao Pai.
Claro está que, se houver íntimo relacionamento, na certeza de que os protetores estejam liberados para as influenciações mediúnicas, todas as consultas redundarão em transcendentais alegrias, e as respostas poderão abranger aspectos mais amplos e complexos, deixando para trás, inclusive, as explicações que ora estão sendo passadas. Mas tudo decorrerá do nível evolutivo do conjunto médium—orientador, segundo a premissa de que ninguém haverá de carregar fardo superior a sua capacidade de suportar.
A partir deste ponto, sugerimos, por força das tendências didáticas do instrutor, que cada um busque outros argumentos em favor da tese, ampliando os limites da dissertação. Ou, então, que argumentem contra com razões extraídas das obras kardequianas. Acreditamos que, para labores escolares, não haja necessidade de acompanhamento espiritual. Ou nos enganamos?







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DE ACORDO COM A VONTADE DE DEUS





Realizar todos os atos da vida segundo a vontade do Senhor pode parecer sobremodo pretensioso. Ou não? Haverá quem, deveras, deseje tudo fazer, cumprindo os princípios estabelecidos no decálogo mosaico, lei magna respeitada por Jesus e enaltecida por Kardec como a mais rigorosa norma de vida?
Pois aqui estamos a desconfiar de que os humanos que primam nos procedimentos através de tal sentido não mereçam dos demais o devido respeito, uma vez que, para a concepção da grandiosidade alheia, se há de admitir a própria, já que, para o julgamento superior, se exigem juízes da mesma forma superiores.
O raciocínio, implacavelmente, nos leva a configurar que, nesse caso, o único que poderá reconhecer os méritos de seu proceder é o próprio indivíduo, a menos que atribua à espiritualidade recursos para o julgamento muitos próximos da angelitude.
Vamos revelar alguns mistérios para o artifício da preparação moral mais adequada para o cumprimento integral das leis supremas relacionadas ao plano material.
Em primeiro lugar, há as pessoas que acreditarem na possibilidade do aperfeiçoamento das qualidades, partindo do princípio de que, se fossem perfeitas, não estariam encarnadas. Assim, se errarem, devem examinar detidamente a falha e justificá-la à luz do conhecimento bíblico, impedindo-se de qualquer sentimento de culpa, a menos que tenham agido acintosamente contra as normas admitidas como as melhores, para o efeito da maldade. Mas aí não há que se ajuizar mérito algum, pois as pessoas comuns fazem exatamente isso, não podendo quem deseje pautar o comportamento pelos mandamentos de Deus descer tanto na satisfação da vontade particular.
Outro recurso valioso para o cumprimento das diretrizes do decálogo está no enfrentamento das opiniões adversas sem envolvimentos emocionais, deixando que as demais pessoas errem em seus pontos de vista, uma vez que não podem ser consideradas igualmente propensas ao acerto evangélico. Aqui ressalta a necessidade da compreensão e do perdão, mesmo que todas as atitudes estejam sendo colocadas em xeque pela opinião, até mesmo com prejuízo social, profissional ou familiar. Quem pretende figurar para si a perfeição divina não pode deixar-se imiscuir pela imperfeição humana, nem que seja das pessoas mais chegadas. Haverá mesmo que discordar do pai ou da mãe que exigissem, por exemplo, que o filho se ajoelhe aos pés do altar da Igreja Católica, sem, contudo, ferir o princípio segundo o qual se deve honrar pai e mãe.
Não queremos colocar óbices espetaculares ao cumprimento do desígnio de satisfazer em plenitude a vontade de Deus. Caso é, entretanto, que vivemos no seio da sociedade, a qual se rege por preconceitos culturais que se estabilizam como princípios integrativos dos indivíduos, para a harmonização dos objetivos que se consagram nos códices escritos da legislação ou nos mores consuetudinários. Sendo assim, há a perspectiva de se subtrair ao convívio social, estabelecendo-se em ilha desabitada. Alguns poderiam suspeitar de que a saída para o impasse estaria em fundar seita em que todos tendessem para o mesmo fim, no cumprimento da vontade do Pai. Mas isto não contrariaria os próprios argumentos do decálogo que visam, sobretudo, a trazer regras de conduta social, especificamente se nos lembrarmos do que estabelece o princípio do não furtar?! Retirar-se do grupo não seria espécie de furto?
Como se pode perceber, os segredos que buscamos desvendar para o cumprimento desse desejo de só agir em função dos mandamentos das leis de Deus correm paralelos a rígido controle de todas as ações forçadas, obrigatórias, socialmente estruturadas pelos valores culturais vigentes.
Cumprir a vontade do Pai, ficaria muito mais por conta da sublimação das atitudes, naquilo que se possa considerar o mais próximo possível da perfeição, no momento em que vivemos, deixando para conjunturas menos coercitivas, menos materiais, a prática de todas as virtudes, abrindo mão de certas convicções demasiado rígidas no presente estado consciencial. Não foi esse o ensinamento de Jesus, quando pregou por parábolas, sabendo que as palavras apropriadas seriam rejeitadas pelos homens?
Por que haveríamos nós de nos considerar acima deles? Será que temos absoluta certeza de que tudo estamos habilitados a compreender desde já?
Na dúvida de que conseguiríamos atender a todas as premissas evangélicas superiores, ajamos muito humildemente, caritativamente com nós mesmos, não exigindo demais, mas também não facultando à vontade que prevaleça, quando está forte para nós o indício do desvio das normas morais estabelecidas por Jesus e confirmadas pela Codificação.
Orar, em todos os casos, há de ser sempre o melhor remédio, para que os irmãos benfeitores da espiritualidade possam exercer o sagrado ministério socorrista. Cumprir a vontade do Senhor, muitas vezes, é confiar em que o destino, estando nas mãos do Pai, estará resguardado dos prejuízos das nossas imperfeições. Pensemos grande, sabendo que muito peregrinaremos aqui e acolá para sermos realmente grandes.







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JESUS ESTÁ PRESENTE





Caso os amigos suspeitem de que o título esteja a sugerir a presença física do Salvador, imaginem-se em reunião de culto, onde os pregadores acusem a vinda de Jesus como prerrogativa do congresso, dada a afirmativa evangélica de que estaria onde duas ou mais pessoas se reunissem em seu santíssimo nome.
Ninguém estaria vendo ao Cristo e, no entanto, saberiam que ele ali está. Como? Pelas sutis vibrações de amor que se espargem pelo ambiente, tornando todos os seres em paz, impedidos de quaisquer pensamentos ruins, ofensivos, maldosos, inclementes, usurpadores dos bens alheios, mesmo que em conjectura. A simples enunciação de algum desses destrambelhados movimentos espirituais inferiores seria, na evidência do amor da sagrada criatura, insuportável, e o ente que assim procedesse iria enrubescer até o último fio de cabelo.
Não é bem assim que pensam os amigos?
Pois, então, até quando vamos ignorar a existência das vibrações de luz, de sabedoria e de amor que descaem dos planos superiores, permanecendo indiferentes às reações grosseiras de nossas vãs conjecturas de poder, seja em que plano for?
A nossa exortação se dá com o objetivo de que cada qual deve imunizar-se contra o mal, praticando todos os atos caritativamente, na esperança de arregimentar os melhores dons intelectuais, sentimentais e morais, para fazerem jus ao congraçamento com o Mestre, quando chegar a hora. Enquanto mantivermos a atitude em desarmonia com as virtudes proclamadas pelo Nazareno como as que nos elevarão perante o Pai e nos encaminharão ao Paraíso, não poderemos perceber as vibrações que nos dariam o real sentido da perfeição.
Esta mensagem visa a dirimir certas dúvidas íntimas das criaturas que se julgam injustiçadas pela Divindade, à medida que só praticam benemerências e não recebem a comprovação de que Jesus esteja ao lado delas, para festejar seu ingresso nas moradas dos seres angelicais. Se todos formos capazes de burlar os efeitos dos pensamentos deletérios, ainda teremos contra nós o ambiente formado pelo magnetismo do povo ao derredor, sendo praticamente impossível abrir clareiras de luz nessa espessa selva de impropriedades evangélicas.
Aí virá a insopitável questão dos méritos dos mensageiros que se aprestam para as orientações mas que não evidenciam a própria desenvoltura, de acordo com os ideais de angelitude que proclamam. É que não temos as luzes necessárias para o efeito da percepção dos eflúvios vibratórios superiores, meros alunos de primeiras letras desta Escolinha. Mas não afastamos a hipótese de virmos a ser apaniguados pela presença de Jesus em alguma das reuniões para as preces de agradecimento pela felicidade de estarmos sendo esclarecidos quanto ao conhecimento das falhas e dos caminhos que deveremos trilhar, para ascender ao plano seguinte na escala evolutiva.
Virá Jesus em pessoa ou enviará algum mensageiro de grande envergadura moral? Melhor ainda, dignar-se-á o Benfeitor da humanidade preocupar-se com tão insignificantes servidores das mais humildes searas, favorecendo-nos com emanações fluídicas de abençoada luz, ou alguém se postará, em nome dele, diante do grupo, para, por demasias de consideração, propiciar amostragem do que seria a grandiosidade do Empíreo, segundo a capacidade que tivermos de absorção desses resplendores de amor?
Para nós, pobres seres ignorantes, não seria permitido distinguir a diferença, permanecendo na mesma angustiosa dúvida dos seres que acima configuramos como presumidos injustiçados. Entretanto, qualquer sentimento de paz, de conforto, de esperança, de apoio, qualquer indício de luz, de sabedoria, de conhecimento superior, iriam ser recebidos como a nobreza infinita do divino amor que apanigua o Mestre Inolvidável, pois somos capazes de compreender os zelos de virtude de quem sofreu todas as dores e perdoou todas as infidelidades, e se posta no Alto, em ponto que não chegamos sequer a conceber.
Eis a perfeição que se exige de quem se esmera na produção do bem, pois não há que titubear um só instante, na desculpa da falibilidade humana, para não sermos colocados de lado por não termos cumprido rigorosamente todos os mandamentos da lei nem favorecido que os ensinos evangélicos adentrassem o coração.
Na presença de Jesus, teremos de ser absolutamente bons, justos e amorosos, para recebermos o impacto energético das vibrações superiores. É o que podemos chamar de êxtase de amor. Oremos para que todos alcancemos, o quanto antes, tal ponto evolutivo.







30

RIQUEZAS DO CÉU





Estes poetas do etéreo
Vêm decifrar o mistério
Da vida depois da morte;
Trazem consigo a esperança
De que o bem sempre se alcança,
Quando se compreende a sorte.

Não é sempre que estes versos
Trazem temas mui perversos
Para assustar os leitores;
Quase sempre a nostalgia
Põe saudade na poesia,
Ao relembrar velhas dores.

Hoje mesmo, o nosso tema
Faz bem mais próprio o poema
Para quem deseja a paz;
São sutis os sentimentos
Que dão brandos movimentos
Ao coração do rapaz.

É suave esta frescura,
Que nos torna a alma pura,
Em poção afrodisíaca;
São noções de terno amor,
Que dão à alma frescor,
Em voga paradisíaca.

Para chegar a este ponto,
Foi necessário o encontro
Da alma consigo mesma,
Que tudo vem da consciência,
Pois é preciso a ciência
De afastar o abantesma.

Em nossa vida na Terra,
A nossa vontade erra
De desejos em desejos,
Sem um pensamento firme,
Que sempre o melhor confirme:
A maldade não tem pejos.

No etéreo, é bem diferente,
Pois tudo temos na frente,
Desde o melhor ao pior:
A alma faz sua escolha,
Como é natural na folha
Saber a forma de cor.

Mas o movimento d alma,
Sobre a folha, leva a palma,
Pois pode mudar de forma,
Desde que logo compreenda
Que escolheu a forma horrenda,
Quando ao mal não se conforma.

Eis que o evangelho é bem útil
Para demonstrar ser fútil
A aspiração da vanglória,
Pois tudo o que bem requer
É dizer: — Se Deus quiser,
Alcançarei a vitória!

Desta forma, vamos indo,
Buscando o assunto mais lindo,
P ra tornar o irmão feliz,
Que a vida passa depressa,
Quando se tem na cabeça
Que amar é bem de raiz.

Se quisesse dar agora
Consolação a quem chora,
Dir-lhe-ia, simplesmente,
Que tudo na vida passa,
Ao se receber a graça
De ter Jesus bem presente.

Pois o Mestre, com carinho,
Afastou da rosa o espinho,
Pondo na vida mais cor,
Prometendo a salvação
A quem pusesse atenção
Em dar ao Pai todo o amor.

P ra tanto, será preciso
Cumprir o seu claro aviso
De auxílio ao irmão que sofre,
Pois fazer o bem ao povo
Fará nascer um renovo:
Mais bens se encerram no cofre.

Mas a riqueza é no Céu,
Onde não há escarcéu,
Furto, ferrugem ou traça,
Que os bens de lá são eternos,
Não há verões nem invernos,
Mas, de Deus, bênção e graça.

Desejamos encerrar,
Dizendo que está no ar
A fragrância mais amena.
Que Jesus nos abençoe,
Que Deus os males perdoe,
Que nos seja leve a pena!...







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PÉS DESCALÇOS





Famosa expressão essa que intitula esta modestíssima peça mediúnica. E muito significativa, se atentarmos para o sentido mais profundo, quando soubermos que a exigência da pureza consciencial é o que representa, para quem deseja entrar no paraíso celeste.
Quantas pessoas são capazes de andar sobre brasas, não pequenas corridas em noites de festas, mas grandes caminhadas, sob a inclemência do sol, nas areias escaldantes do deserto? Fisicamente, não há uma única. O que estamos propugnando, contudo, tem significado moral, pois a caminhada é a própria peregrinação vital e as areias são as perturbações de toda espécie que sofremos em nossas expectativas de engrandecimento de toda natureza.
Falar de forma figurativa é muito cômodo, ainda porque os homens gostam de representar cenas na imaginação, principalmente quando se lhes é dado o papel de heróis. No entanto, gradativamente, vamos inteirando-nos do significado último das palavras e vamos compreendendo que o jogo textual vai tornando-se verdadeiramente árido, pois nos arremessa, iniludivelmente, aos campos da desesperação, por não sabermos decifrar o enigma superior da vida, ao contrário do feito mitológico de Édipo.
Tudo haverá de ser sempre algo fantasioso, algo misterioso, algo enevoado e perverso? Evidentemente, as palavras de Jesus, postas em parábolas para a incompreensão dos não iniciados, vão, aos poucos, sendo interpretadas à luz da verdade, até que Kardec, com critério e profundas evidências espíritas, as coloca desvendadas e toscas, sem poesia e sem apelos psíquicos, consciência diante da consciência, a facultar ao povo que veja, que ouça e que se faça dono da verdade.
Não haveremos nós de ir mais longe nas elucidações dos pontos evangélicos. Não há realmente necessidade de vir fazer apelos patéticos, nem em prosa nem em verso, pois a responsabilidade vital de cada um faz com que se exerça o conhecimento segundo a potencialidade do ser humano de entendimento, dado que tudo se tornou meridiano após a fala de Kardec.
Se tivermos a pachorra de ler O Livro dos Espíritos com o intento de meditar a respeito de todos os atos que produzimos na vida, vendo-lhes as razões espirituais, para dar-lhes o conteúdo do carma que nos trouxe à carne, poderemos surpreender-nos por termos estado tanto tempo alheios ao próprio destino de dor, buscando os prazeres que nos dariam o esquecimento dos compromissos.
Para que, então, vir de novo, bater na mesma cediça tecla da advertência, da pregação, para que os encarnados se ponham diante de si mesmos com honestidade, com inteireza de propósitos, com a máxima fé em que poderão deliberar a respeito de todos os fatos de modo preciso, evangélico, perfeito?
Cabe-nos trazer o testemunho da dor, na apresentação de nossas feridas, por não termos tido a precaução que solicitamos, por não termos tido suficiente descortino da verdade, o que nos cabia compreender para podermos ultrapassar os limites das forças que nos foram dadas, na esperança de virmos a corresponder aos mestres e orientadores familiares, segundo a própria vicissitude na luta empreendida. Mais ainda, cabe-nos vigiar, para que os amigos não tenham as desculpas tradicionais da falta de tempo, da falta de capacidade, da falta de oportunidade, da falta de orientação, da falta, enfim, da advertência rigorosa a respeito de todos os percalços que vão dando com os pés descalços, tropeços de muita dor, na recuperação futura.
Cabe-nos também desempenhar o papel de irmãos mais experientes, condoídos pela sorte dos que, mais inteligentes e sábios, não querem ver as próprias iniqüidades, por julgarem de direito argüir a Divindade, perante as injustiças mundanas.
Dados estes passos para a revelação da malícia, da hipocrisia, do destempero intelectual, sentimental e moral, aguardaremos, pacífica e pacientemente, que sejamos invocados, seja lá de que forma for, para vir dar outros esclarecimentos, no dirimir das dúvidas capitais que estão a impedir as ações da benemerência, da caridade e do afeto a todas as criaturas.
Que Deus nos ampare hoje e sempre! Graças a Deus!







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AS SANDÁLIAS EVANGÉLICAS





Para termos a certeza de que não nos queimaremos na jornada através dos areais escaldantes, havemos de calçar as sandálias evangélicas do amor e de todas as virtudes propugnadas pelo Cristo, mui especialmente as do perdão e do bem a todos os necessitados, seja de que atributo for.
A exemplificação destas míseras páginas despejadas do alto, como se a comiseração espiritual se exercesse por força de ofício, não há de servir de roteiro para cada caso, pois são infinitas as possibilidades de realização dos carmas individuais. Entretanto, a voz de Jesus poderá ser ouvida por todos, bem assim as explicações de Kardec.
Fazer da vida algo apetecível moralmente está em cada um, segundo as perspectivas que lhes tiverem sido dadas, a partir das condições sociais do nascimento. Mais ainda, haverão os humanos de atentar para os aspectos intelectuais, nos casos em que houve lesões mui profundas no caráter das pessoas atingidas por desesperações produzidas pela fome, pelo desterro dos serviços humanitários, pelo desleixo dos comanditários das leis, principalmente pelos profundos desvios que se notam nos desígnios dos que mantêm o poder político-econômico.
E não estamos desejando falar a todos, pois sabemos que muitos não se encontram em condições mínimas de decifração destas letras, que se escrevem segundo as normas mais elementares das dissertações. Estamos, sim, desejosos de ser lidos por aqueles que sabem entender a malícia dos corações, nos atos da própria hipocrisia. Se estivéssemos certos de que só atingiríamos os seareiros do Espiritismo amoroso e caritativo, não viríamos para produzir textos que iriam chover no molhado.
Ah! Quanta irrisão, Senhor!
Perdoem-nos os desfalecimentos emotivos, mas é que os sentimentos afloram quando vemos que tudo o que produzimos vai sendo posto de lado, como quiméricas comunicações de fantasmas impalpáveis. Nas ânsias dos engrandecimentos materiais, a grande maioria segue caminhos batidos, fazendo fermentar a ambição como ponto de maior contacto entre os indivíduos, uns amparando as mazelas dos outros, elaborando as leis com que determinam os serviços de proteção para a propriedade injustamente adquirida, mediante a exploração do trabalho e dos sacrifícios alheios.
Quando irão os humanos verdadeiramente elaborar leis que fluam dos ensinos de Jesus e dos reais dispositivos espirituais, vigentes nas colônias de trabalho e de recuperação que se erguem frutíferas ao derredor da crosta?
Pois, sem prenúncios de glórias, podemos afirmar que muitos dos seres reciclados nesses ambientes evangelizados estão adentrando os cenários humanos, trazendo a chama da verdade para fazer a pira da igualdade e da fraternidade arder junto aos corações dos justos. Mas preciso haverá de ser que criem coragem de enfrentamento dos que tomaram o poder à força, imiscuindo-se lentamente na sociedade dos corruptos, para ali se sacrificarem em nome dos ensinos maiores de Jesus.
Até quando irão prevalecer a iniqüidade, a desonestidade e o acordo entre os que mantêm a miséria impeditiva do desenvolvimento cármico? Até quando haverão os infelizes de combater com as péssimas armas da lascívia, da luxúria, da incontinência, da ignorância, nessa guerrilha fomentada pelos gananciosos?
Calçar as sandálias de Jesus irá fazer de muitos, mártires deste Cristianismo da Nova Era. Mas não poderá haver outra maneira, pois o esclarecimento há de partir da educação e esta, sem os mínimos recursos da alimentação e da saúde, não alcançará realizar-se.
Quando se pede aos amigos, portanto, que exerçam a caridade, estamos indicando-lhes o caminho dos grandes empreendimentos, pois não haverá a sociedade de consignar, em suas cartas legislativas maiores, justamente aquilo que fará derruir o próprio poder dos que vêm manipulando as riquezas materiais e, por via de conseqüência, a capacidade de evolução espiritual, através das realizações materiais conscientes.
Quem, convicto, nos afirmar que o sofrimento irá proporcionar aos seres humanos meios de elevação espiritual, ao retornarem ao etéreo, estará consciente de que a assertiva é sobremodo maliciosa e perversa?
Calcemos, irmãos, definitivamente as sandálias evangélicas de Jesus, por amor daquele que não mediu sacrifícios para nos salvar. O texto é antigo, as palavras são cediças, os conceitos reproduzem os sermões dominicais. Mas a verdade é profunda e nosso ardor absolutamente real. Oremos, para que este entusiasmo contagie, na busca de fazer de cada leitor um amigo, pois concretizaremos assim o objetivo maior do amor, fazendo com que o manto de Jesus se estenda mais e mais, até que todos nele se agasalhem.

Senhor, dai-nos a felicidade de presenciar a evolução de cada amiguinho ou amiguinha, neste encaminhamento doloroso até as vossas sublimes terras!







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NO CALOR DA REFREGA





Tal como ocorre conosco nestes momentos da transmissão mediúnica, devem os leitores considerar-se em pleno centro do combate vital, ao tomarem contacto com os textos do etéreo, dado que os temas se agitam em torno dos pontos cruciais do amor, do perdão, do carma e dos deveres da caridade e das demais virtudes.
Havemos todos, pois, de pôr em funcionamento o melhor da inteligência, para a compreensão do que se espera de nós, no sentido evangélico das proposituras. Se tivermos mais consideração uns pelos outros, iremos poder chegar a conclusões importantíssimas, a partir das quais reestruturaremos as vidas, caso não tenhamos suficiente discernimento para os atos condizentes com as cristãs diretrizes.
Devemos deixar claro que não temos ilusões quanto ao que iremos conseguir, motivo pelo qual sempre ofereceremos às deliberações dos amigos o encaminhamento às obras consagradas dos mensageiros da Luz, especialmente as que foram por Kardec organizadas. Nem por isso, contudo, nos furtamos ao comentário oportuno, segundo nosso nível de adiantamento nos estudos e nas aplicações das teses espíritas, tudo elaborado sob rigorosa vigilância moral exercida pelos mentores da Escolinha de Evangelização.
É aqui que exercemos o direito à exortação ao bem, na tentativa de dar aos mortais o melhor conselho, conquanto esbarremos nas deficiências naturais de quem está tateando nesse campo das conquistas morais superiores. Em última análise, amparemo-nos ombro a ombro, na presciência de que tudo, um dia, caminhará segundo as determinações do Alto, para honra e glória do Pai Eterno.
Muitos haverão de estranhar, tendo em vista a propriedade das observações e reflexões, que mantenhamos o timbre da humildade e das desculpas, incapazes que são, muitas vezes, de elaborações semelhantes, julgando que o descortino intelectual e literário da turma está a indicar poderes e conhecimentos bem acima dos que declaramos. Entretanto, não haverá contestar a assertiva de que, por mais nos empenhemos na produção de textos íntegros quanto à forma e ao conteúdo, ainda assim não alcançaremos a luminosidade dos espíritos que formam no conselho dos mentores da instituição. Preservar a modéstia será, portanto, de obrigação, pois, se a crítica que fizermos pode até parecer sumamente favorável e elogiosa, não saberemos tão cedo quais serão os comentários dos mais perfeitos.
Resignemo-nos, pois, em efetuar o melhor que podemos, na expectativa de que os próximos comunicados venham com a chancela das correções aludidas pelos professores durante os debates que se seguirão, para a demonstração do que esteve fraco e do que se encaminhou de modo razoável para a obtenção do apoio dos leitores, objetivo final destas dissertações.
Um dos aspectos mais importantes deste trabalho é a consciência que se deve ter dos atributos postos em ação, o que remete inexoravelmente à decisão de suspender a mensagem, no ponto em que esteja a transformar-se em mero esgrimir de idéias, sem proveito real para ninguém. Eis que se aproxima, pois, o momento de encerrarmos, não sem antes propormos aos amigos que se deixem dominar pela sensibilidade e agradeçam ao Pai as luzes para o entendimento do que para nós significa o apuro máximo de nossa capacidade, na tradução para as páginas enviadas a custo aos irmãos encarnados.
Deve ser já fortemente perceptível o desejo da turma de prosseguir escrevendo indefinidamente, já que o maior dos nossos desideratos é o de demonstrar que estamos desenvolvendo à proficiência os trabalhos determinados pelos responsáveis. Mas que não nos percamos por tolas aspirações, senão no sentido de pôr na vontade dos leitores o mesmo desejo de virem a partilhar das alegrias de equipe de socorristas em formação, quando dos labores concernentes à magnetização e transmissão dos pensamentos fecundados pelos ensinos evangélicos.
Não é mesmo uma doce tentação?!

Glória a Deus nas alturas, paz entre os homens e entre os espíritos e boa vontade por todas as partes da terra e do etéreo!













SEGUNDA PARTE





EXERCÍCIOS



















1

CAPRICHOS






Quando aqui estivemos pela primeira vez para tratar do tema dos caprichos da alma, muitos dos quais atribuímos à influência das ocorrências junto às almas infantis, quer no campo da esfera terrestre, quer no etéreo, fomos assaltados pelo temor de que as nossas idéias pudessem oferecer pontos de resistência aos encarnados, no que tange às informações provenientes dos espíritos.
Voltamos agora para referirmo-nos especificamente aos fatores das inferioridades espirituais como causadores dos maiores distúrbios, qualquer seja o campo psicológico a que se agreguem as dificuldades.
Após muito peregrinar infrutiferamente pelo etéreo ou em encarnações inúteis, os espíritos tendem à fixação dos defeitos de que se deixam dominar. Nada mais claro, em se sabendo que são esses sobre que devem atuar insistentemente, para a cura definitiva das lesões perispirituais, que trans¬parecem organicamente dos veículos físicos.
Assim seria se todos se concentrassem na necessidade do aperfeiçoamento moral, intelectual, emocional, espiritual, em suma. Mas muitos são atrasados a ponto de não conseguirem perceber que estão sendo prejudicados pelas próprias atitudes de menosprezo da verdade, reiterando-as indefinidamente, porque têm a impressão de que estão sendo bem sucedidos, principalmente tendo em vista as reações dos seres atingidos pela malversação dos poderes espirituais ou materiais, segundo estejam no etéreo ou na carne.
Que poderes são esses?
Na carne, é fácil de se imaginar que as pessoas possuam riquezas ou forças de milícia disponíveis para a coação.
No etéreo, existem outras formas de imposição, como sejam a coerção mo¬ral, a arregimentação de seres imperfeitos para as pressões sobre quem se deixa impressionar pelas ameaças e pela concretização de atos de vingança dos mais variados aspectos, desde a reclusão, a chibata, o terrorismo, segundo as deficiências do caráter das vítimas, até as encenações mais vigorosas das monstruosidades infernais guardadas no fundo das consciências.
Todos esses fenômenos psíquicos tendem para atividades lúdicas, no conhecimento possível para as mentalidades encarnadas, mas são tremendas realidades para quem sofre o assédio dos que não primam pela evangelização dos atos.
Do nosso ponto de vista, não passam de caprichos pessoais, pois o que se encontra no substrato de comportamento é sempre o mais terrível dos desvios da personalidade: o egoísmo acendrado, a vaidade perniciosa, o orgulho deletério.
Estamos evidenciando pensamentos bastante positivos, para que se configure a necessidade da melhoria do procedimento, no sentido do acatamento dos ensinos do Mestre Nazareno, segundo as orientações dos espíritos colocadas à luz do orbe por Kardec. O mais é um trabalhar incessante para o conhecimento das virtudes e da doutrina, o que resultará em inelutável desejo de partilhar das benesses prometidas para quem se aliar aos mensageiros da Luz.

Agradeço muito ao médium esta nova oportunidade, pois me parecia que algo iria deixar consignado em prejuízo das comunicações da turma.
Pede-nos o Professor Otávio que mantenhamos o primeiro texto e que orientemos os leitores no sentido de que descubram os pontos divergentes entre as duas mensagens. É exercício, segundo ele, agradável e esclarecedor.







2

O PRAZER DO TRABALHO





Nem sempre os amigos compreendem inteiramente os avisos da espiritualidade e passam a reagir de maneira intempestiva em relação aos serviços que lhes são solicitados em nome de Jesus. Não que não tenham consciência dos deveres como cuidados que se devem ter para o acréscimo das virtudes em falta, mas ocorre que se estimulam tanto para o trabalho socorrista que se esquecem de averiguar se não estão desleixando setores importantes para o crescimento espiritual. É como se destinassem o ser aos demais, sem avaliarem que, se tivessem melhores recursos, poderiam alcançar resultados mais proveitosos e rápidos, além de envolverem mais eficazmente a vontade de todos os amigos sob sua jurisdição caritativa.
Indo um pouco além, encontramos outros que não executam os serviços senão por julgarem de obrigação, relutantemente abandonando muitas das regalias carnais, como se devessem o sacrifício ao Senhor por terem, um dia, sido cruéis, azedos, insatisfeitos ou meramente descontentes. Seria espécie de autopunição irrefletida, como se resgatassem débitos de que absolutamente não têm consciência. Estes não podem encontrar prazer em realizar os feitos do evangelismo prático, sedimentando revoltas justamente por saberem que não estão procedendo em harmonia com as diretrizes íntimas, uma vez que desejariam alegrar-se um pouquinho mais na vida.
Não são casos extremos, pois, um pouco mais, um pouco menos, todos haverão de se perguntar, às vezes, a respeito do que estarão fazendo no campo da assistência abnegada, quando não existem pendores naturais para tanto. Forçar, pois, a vontade poderá arremessar as reflexões para campos insuspeitados, por influenciações emotivas ou sentimentais, já que o desagrado poderá refletir, verdadeiramente, desconfiança, na falta de convicção dos ensinamentos superiores do Cristo e das disposições doutrinárias de Kardec.

É óbvio que o exercício a se propor neste setor das meditações espiritistas é a análise e a crítica de todos os serviços prestados no campo da benemerência e dos estudos, para se definir se existe real prazer no fato de se apresentar para as tarefas de cada dia.
Para exemplificar, se o amigo for médium, buscar saber se as atividades estão sendo as que julgava anteriormente como a realização dos ideais místico-religiosos e se estão satisfeitos em emprestar o veículo físico para as comunicações de sofredores impenitentes, que se apresentam sem nenhum desejo real de assimilar a doutrinação e de se regenerarem.
Neste ponto das perquirições conscienciais, fugir do lugar comum das solicitações aos protetores, procurando afastar-se deles, para que as conclusões estejam o mais próximo possível da realidade psíquica. Em seguida, em havendo oportunidade, conjugar esforços de reflexão com os amigos interessados nos mesmos temas, esforçando-se o grupo na avaliação das diretrizes seguidas para os trabalhos da casa de atendimento espiritual, para se solidificarem os pontos positivos, nesse repensar doutrinário superior.
Não estamos propondo algo que vá realizar-se em uma ou duas sessões. Antes, queremos evidenciar a necessidade de verdadeiros despojamentos conscienciais, para que os elos da amizade se fundamentem nos pontos evangélicos, como se a congregação estivesse voltando aos tempos em que os primeiros cristãos se reuniam, muitas vezes às escondidas, para a confirmação da fé e a reiteração das promessas feitas ao Senhor.
Mas nada deve ser realizado como se fora pungente a situação moral dos componentes. Não. É só a recuperação do entusiasmo inicial, muitas vezes adquirido pelas injunções admirativas da iniciação e esquecido pelos embates frustradores das decepções oriundas das resistências das pessoas não integradas ao movimento espírita mas que se aproximam do pessoal por interesses subalternos, em ambos os planos.
Não é verdade que, muitas vezes, estas intuições têm surgido em suas mentes e são afastadas, no temor de se ofenderem os protetores e demais mentores da instituição? Pois estamos liberando os amigos do medo, propiciando-lhes condições meramente intelectuais, para, conscientemente, chegarem a resultados mais lúcidos, com o fito de se dar seqüência pragmática à aquisição das virtudes e dos bens superiores da compreensão e do amor, segundo o princípio de que a fé deve estar apoiada na razão.
Se Kardec, de repente, comparecesse à reunião, não haveria de gostar de saber que os cânones doutrinais estão sendo seguidos à risca, com integral discernimento?!







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OS TEXTOS POÉTICOS





Imiscuídos nos textos racionais em prosa, vão alguns poemas, para amenizarem a aridez filosófica com eflúvios vibratórios do sentimento.
Este exercício requer dos amigos que exponham pontos de vista relativamente à pertinência de tais mensagens, já que quebram, de certa forma, a seqüência das exposições.
Estão de acordo com a deliberação de se acrescentar alguma poesia? Julgam pura perda de tempo? Consideram tais textos poéticos apenas quanto à escansão, de forma que bem poderiam ser desenvolvidos os temas em prosa, com mais proveito, uma vez que as teses seriam melhor discutidas e comprovadas?
Ajudem-nos no conhecimento dos frutos que se poderão colher, para que deliberemos mais esclarecidamente quanto às futuras obras.







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EXERCÍCIOS ESCALONADOS





Não temos a pretensão de elaborar os mais perfeitos exercícios, para que os amigos encarnados possam averiguar a realidade espiritual ou as dificuldades dessa averiguação. Devemos refletir a respeito de todos os sucessos na carne, separando, meticulosamente, o que poderia ter sido previsto como mau para o desenvolvimento moral ou espiritual, de forma que encontremos os remédios para corrigir as falhas, tudo é claro sob o patrocínio da doutrina espírita e das normas evangélicas.
Se formos propor inúmeros exercícios, cairemos, invariavelmente, na repetição enfadonha dos temas, de modo que podemos sugerir que os amigos elaborem questões a respeito de cada mensagem contida na primeira parte, de sorte a ir mais fundo na apreciação dos temas, buscando outras fontes para o confronto inevitável, do qual decorrerão mais conhecimentos e mais luz.
O tipo de pergunta fica a critério de cada um, pois nós só iríamos complicar as diretrizes pessoais ou dos grupos reunidos com o fim do estudo dos pontos mais difíceis. De qualquer forma, sempre haveremos de estabelecer roteiro básico, com os elementos essenciais. Sendo assim, preparem-se para receber algumas sugestões, sempre na expectativa de que tudo não passe de meras proposições que deverão ajustar-se ao andamento das próprias pesquisas, segundo o nível evolutivo de cada um.
As primeiras perguntas deverão referir-se aos vocábulos empregados, segundo sua compreensão técnica ou filosófica. Definir os termos é essencial para o entendimento dos textos. Mas as questões não podem olvidar a crítica, pois, sabemos, muito da terminologia é inadequada ou não corresponde precisamente ao momento doutrinal que os companheiros atravessam, dado que o Espiritismo não pode estacionar, enquanto as ciências avançam, conforme a pregação kardequiana.
Entendidas as frases, há que se aceitar ou não as expressões, as idéias, os pensamentos, os raciocínios ou os postulados, havendo que se questionarem as proposições quanto à verdade ou às meias verdades, ou superstições de que estejam carregadas. Assim, o interrogatório fica preso aos limites da extensão dos conhecimentos dos leitores, podendo até ocorrer que haja total destruição da mensagem, em função do maior grau de sabedoria e discernimento dos estudiosos. Aí é perdoar os autores e seguir em frente...
Como não estamos interessados somente em ensinar mas, principalmente, em aprender, podem tais luminares espíritas desenvolver os pensamentos críticos de forma bastante aprofundada, solicitando que estejamos presentes para ouvirmos as preleções, de sorte que iremos dedicar-nos às retificações para futuras transmissões.
Não se pense que estejamos sendo apenas retóricos nas assertivas acima. Acontece que temos a necessidade do progresso e toda ajuda, venha de onde vier, será bem-vinda. O mesmo descortino e humildade propomos que seja o apanágio dos amigos, de forma que tudo se faça no sentido de nos aperfeiçoarmos cada vez mais, sabendo previamente que o caminho, do ponto em que nos situamos, se estende ao infinito.
Estabelecidos os critérios de julgamento, as questões irão determinar do modo mais exato possível quais os tópicos que se constituíram em novidade, quais os que são cediços, quais os que precisam modificados e quais os surpreendentemente inovadores, a ponto de estabelecer a necessidade de reestudos junto às obras da codificação ou outras de reconhecido valor.
A maior ou menor firmeza conceitual dos investigadores deve estar sendo posta em evidência, de sorte que cada qual irá exercer estreita vigilância de seus ganhos, a cada passo dos trabalhos, para que o grupo se estimule pelas recompensas. Se, apesar de forte dedicação e empenho, não se alcançar entendimento satisfatório, é preciso não se deixar envolver pelos fatores negativos da falta de conhecimento. Antes, que haja maior incentivo para que as deficiências sejam sanadas no mais curto lapso de tempo possível.
De qualquer forma, vencida a etapa dos conhecimentos relativos aos temas em sua amplitude doutrinal, as últimas questões devem voltar-se para a crítica geral dos textos, se corresponderam às expectativas, se se desenvolveram de forma agradável, se estiveram aquém de outras mensagens desta ou de outras equipes, apanhadas por este ou outros médiuns, e assim por diante.
Observem que estamos unindo os aspectos formais aos de conteúdo, para averiguação conjunta do grau de adiantamento da turma que transmitiu e da turma que examinou, tudo com o alto compromisso de se descobrir a verdade; jamais com o intuito do prevalecimento opiniático sobre os demais participantes.
Dessa forma, todas as intuições das pessoas devem ser examinadas detidamente, mesmo que, à primeira vista, sejam tremendamente contrastantes com os dizeres dos textos ou com a linha de pesquisa estabelecida pela turma. Pode parecer, às vezes, que o companheiro esteja muito defasado em relação aos demais, mas o trabalho se justificará plenamente, se tomado como auxílio evangélico dos mais sagazes, dos mais sabidos, dos mais espertos, dos mais cultos, dos mais doutos, como quando Jesus determinou que os apóstolos saíssem ao mundo a pregar o evangelho.
Eis roteiro bastante geral, que qualquer dos leitores poderia ter estabelecido com facilidade. Como última recomendação, haverá o estudo de conter aspectos lúdicos, para estímulo do interesse e para que tudo fique mais assimilável, dada a aridez natural dos temas a que nos dedicamos. Se ao final de cada unidade, se chegar ao resultado de que fora da caridade não há salvação, cremos que tudo tenha recebido o selo do perfeito.







5

CALCANHAR-DE-AQUILES





Todos os homens têm defeitos mais ou menos sérios. Até os que aparentam ser fortalezas morais apresentam pontos de fragilidade, que buscam esconder, inclusive de si mesmos.
Este exercício visa a revelar as malícias para ocultação das mazelas que se praticam, incentivando a pureza de procedimento, a partir da aquisição das virtudes evangélicas.
Se quisermos aprofundar a perquirição dos pequenos e dos grandes pecados, devemos despreocupar-nos com a opinião alheia, promovendo estudos que possam auxiliar a confraternização entre os amigos, deixando-lhes na mão o coração. Talvez não elucidemos todos os pontos, pois nem sempre os companheiros estão capacitados para profundas análises psíquicas ou para o aconselhamento mais seguro. Contudo, haveremos de despertar para os procedimentos compensatórios, ao procurar ajudar os demais, pois todos, como dissemos acima, navegamos pelo mesmo mar encapelado.
Como fazê-lo sem alvoroços sentimentais? Lembrando-nos de que Jesus nos incentivou o conhecimento de todas as virtudes, independentemente do estágio social, afirmando, ademais, que os que mantivessem, como norma maior de procedimento, as estruturas ali adquiridas dificilmente iriam encontrar a passagem para o Céu.
Além desse desprendimento da afetividade em favor dos interesses intelectualizados, também devemos perceber quais as emoções ou sensações que ficaram no substrato da personalidade, a dificultar o envolvimento nos trabalhos de revelação perante os colegas.
À medida que as confissões forem sendo incrementadas, paulatinamente, iremos demonstrando o que realmente somos, de forma a perceber quais os desvios de conduta passíveis de regeneração. Aí, será ler muito, buscando os tópicos da descrição doutrinária capazes de ajudar na descoberta dos atributos em falta.
Advertência utilíssima nessa altura dos exames conscienciais será a percepção dos exageros, pois é próprio da humana tendência ultrapassar os limites da realidade, fantasiando ocorrências para manutenção sua como centro das atenções do grupo. A observação justa, no momento certo, deverá ser o apanágio dos que desejam verdadeiramente corrigir os principais defeitos.
Se, por mais que faça, a vergonha atrapalhar os amigos ou amigas na divulgação das suspeitas da vaidade, do orgulho e do egoísmo, não se esqueçam de que o amor-próprio, quando mal direcionado, vai constituir-se em tremendo obstáculo ao progresso espiritual. Boa lembrança para este momento dos trabalhos é a de que, no etéreo, tudo haverá de decorrer de forma absolutamente clara, para que os indivíduos possam ser reconhecidos pela luminosidade de suas auras. Já pensaram se os sábios, os bons e os justos se escondessem das demais criaturas, sem oferecer-lhes seus dons de superioridade?!
Pois a última observação, mutatis mutandis, deverá servir para os bons amigos encarnados, mesmo que fraquejem a cada momento e se julguem péssimas criaturas. É que todos temos boas qualidades que aflorarão no momento das discussões e apreciações, de forma a facilitar o convívio entre os integrantes do grupo.
Façamos sagrados esses momentos de concentração consciencial, dando-lhes integral importância diante da fenomenologia corpórea, que se porá a serviço dos acrescentamentos espirituais. Não nos iludamos, porém, pensando que tudo será absolutamente pacífico. Haverá momentos de insegurança, de hesitações e de arrependimentos, mas as orações, ditas com o ânimo coroado de amor ao Pai, irão facultar aos beneméritos da espiritualidade que ajam em favor dos pupilos, na proteção devida contra os que ameaçarem aproveitar-se desses momentos de incertezas para as infiltrações deletérias da maldade.
Não somos perfeitos mas perfectíveis, e esse crescendo de aquisições morais deverá ser realizado em alguma época de nossas existências. Quanto antes, portanto, iniciarmos ou retomarmos a caminhada ascendente, menos sofrimentos haveremos de enfrentar.







6

MOMENTOS DE DESCANSO





Tendem os amigos a suspeitar de que todas as recomendações do plano da espiritualidade visem ao trabalho incessante, não podendo ninguém perder tempo, muito menos destiná-lo a atividades de lazer, infrutíferas totalmente no que concerne à caridade aos necessitados ou assistidos.
Se formos tirar todas as ilações de tal raciocínio, caminhando ao absurdo, poderemos pensar, inclusive, que as observações que fazemos incidam até nas horas de sono, exigindo que os amigos se desprendam do corpo material do orbe, para freqüentarem cursos de aperfeiçoamento espiritual no etéreo.
Tais conclusões são falsas ou parcialmente incorretas.
Quando se trata de trabalhar em favor dos irmãos, todos os sacrifícios são válidos, desde que não perturbem o ambiente doméstico, a saúde, a profissão ou o círculo das amizades que se devem cultivar com o objetivo último do caminhar conjunto em busca da perfeição.
Mesmo quando assumimos o controle administrativo das casas de assistência espírita, ainda aqui devemos destinar ao serviço da caridade oficializada, por assim dizer, umas boas horas semanais, atendendo aos chamamentos emergenciais, mas sem exclusivismos perniciosos, sabendo que tudo o que fizermos poderá, com igual proveito, ser realizado por outros seareiros disponíveis.
Absurdo será querer enfeixar nas mãos todas as responsabilidades, mesmo porque cada qual deverá responder por si mesmo, perante suas consciências. Cada pequenina imputação de responsabilidade aos semelhantes será tida na conta de alheamento das decisões que deveriam justificar todos os atos, a favor ou em detrimento da criatura, dado que todos temos compromissos perante a existência, conforme as antigas contas a serem saldadas.
Se o corpo necessita do sono restaurador das energias desgastadas, também o consciente precisa informar-se a respeito do que ocorre nas profundezas da mente, para o que deve alhear-se das circunstâncias da realidade circunjacente, para poder atuar mais eficazmente em seguida. São reflexos das leis naturais, as quais respeitamos e até enfatizamos, para que sejam compreendidas e obedecidas.
Sentir prazer é um dos pontos altos da magnífica organização corpórea, conforme o que está indelevelmente impresso no cérebro, para o estímulo à vida. Assim, o olfato, o paladar, o tato, a visão e a audição merecem os afagos das artes, dos perfumes, dos alimentos, do sexo. Sem estas realizações prazerosas, o viver vai tornando-se deveras desagradável, não se justificando perante as próprias injunções materiais.
Ao pensar tão naturalmente, não iríamos objetar quanto à necessidade da alegria, da felicidade, apanágios,
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