E o mar rumorejando vela
A cidade adormecida e a moça à janela
Deixa cair lágrimas olhando o firmamento,
Porque a partida quebrou o encantamento
Do romance nascido na primavera.
Como todo amor morre quando não se espera
Partindo, no coração, os dourados elos,
Que formam os arenosos castelos
Onde as juras reluzem como astros.
Sonâmbula, no jardim, pisa em alabastros,
Não se alegra com o canto das aves à tarde,
Nem pede mais ao menino que guarde
O estilingue para não partir a vidraça,
Nem ferir a gente que passa.
Não tem mais forças nem o forte alento,
Pois, só tem aquela primavera no pensamento,
Quando o conheceu à beira-mar absorto,
E dos seus braços que lhe deu tanto conforto.
E conversa com o infinito em voz pausada
Enquanto a natureza engolfada
Na azáfama que lhe foi destinada
Não percebe que saudade não tem idade,
Pois é filha da eternidade.
10/08/03.
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