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Artigos-->O OUTRO LADO DA INDIGNAÇÃO -- 31/05/2018 - 00:22 (João Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O OUTRO LADO DA INDIGNAÇÃO

João Ferreira

30 de maio de 2018



A temática da indignação tem sido explorada pelos comentaristas políticos como uma temática capaz de explicar mil coisas, incluindo a disposição do eleitor brasileiro atual.Dias atrás, numa roda organizada por uma emissora brasileira, um dos debatedores apresentou a indignação como o sentimento dominante no eleitorado brasileiro para 2018. Parece porém que não há uma conceito claro sobre o que seja a indignação. Muitas pessoas confundem indignação com o sentimento genérico de oposição do cidadão a atos do governo. Outros a interpretam como uma simples reação a atos que acontecem no dia a dia político ou até em relação a sistemas políticos dominantes de governação. É claro que há elementos mais profundos e mais realistas e até mais objetivos para definir a indignação diante de sociedades e eleitorados. E há sobretudo dados para definir e caracterizar a vida real e eleitoral do cidadão e de sociedades democráticas que aspiram por uma lei e uma ordem social próprias de uma cidadania de convivência organizada e pacífica. Por esse motivo, hoje em dia é indiscutível que o ponto nevrálgico de uma sociedade democrática é a cidadania. Acima da indignação. Para avaliação de comportamentos pré-eleitorais ou outros.

Em nossa visão de mundo, quando falamos de cidadania temos em vista sublinhar a normalização de direitos e deveres, a vigência de uma constituição acompanhada de códigos civis e penais, sistemas legislativos, judiciários e executivos. A cidadania passa a ser o espelho onde rapidamente vemos o comportamento singular e coletivo de uma comunidade. É o espelho onde transitam direitos e deveres. É a clareza dos comportamentos onde a hipocrisia não tem muito como se esconder. Onde as tramoias de grupos antidemocráticos disfarçados em discursos falaciosos se desfaz à luz dos fatos.

Quem acompanha a crônica dos últimos dias sabe que o Brasil acaba de sofrer uma abalo inesperado em suas estruturas políticas, sociais, industriais, comerciais e de transporte, através de uma greve denominada greve dos caminhoneiros. Inicialmente seria uma greve para reivindicar o preço do óleo diesel que teria chegado a um preço insuportável. Só que ao fim de 11 dias desta greve que inicialmente se denominava greve dos caminhoneiros se está descobrindo a complexidade da teia que atingiu perigosamente o funcionamento básico da economia brasileira e produziu o desabastecimento geral. A falta de combustíveis ocasionada pela paralisação no abastecimento, evidenciou uma trama que reteria os caminhões paralisados nas rodovias, com obstrução e bloqueios, criando uma crise geral nos mercados e nos sistemas de abastecimento do país atingindo até hospitais e clínicas pela falta de insumos necessários. Graves carências na assistência a doentes em hospitais, em postos de abastecimento de combustíveis com os preços ganhando cifras estratosféricas em produtos de alimentação básica como batata, cebola, frutas e vegetais.

É claro que tudo isto se mostrou como uma teia tecida para atingir objetivos de bloqueio capaz de desacreditar e derrotar forças políticas ligadas ao poder em exercício, escondendo-se seus autores no anonimato, pelo menos até agora, sob a capa de greve. Os jornais brasileiros chegaram a colocar concretamente algumas forças políticas no eixo desta crise profunda. Trata-se de um período pré-eleitoral quando se estão definindo candidaturas para o pleito da eleição presidencial que ocorrerá em outubro próximo. Muitos capítulos se produzirão certamente para análise nos próximos dias e próximos meses.

Por agora, como brasileiro que preza sua cidadania, gostaria de chamar sobretudo a atenção para um elemento a destacar numa hora de crise como esta.

Neste dia de manhã, dia 30 de maio, que passa a ser o dia 11º da crise, ao ouvir o noticiário sobre a reação dos cidadãos brasileiros a esta greve dita de caminhoneiros que se mostrou ter a profundidade de uma postura política confusa, sem coragem para dizer claramente ao que veio, o espírito vivo dos cidadãos brasileiros que lutam pelo seu trabalho e que têm uma incomum inteligência para manter este país vivo orgulhosamente emparceirado entre as nações do mundo que lutam pela dignidade humana e crescimento de um IDH cada vez com melhor qualidade de vida, eu senti que "um outro lado da indignação" ressurgia entre os brasileiros. No momento lembramos aqueloutra indignação surgida anos atrás na Praça das Cibeles em Madrid e depois na primavera árabe de Túnis, do Cairo e de outras comunidades árabes. Marcou muito internacionalmente essa indignação. Gostaríamos de destacar porém que a própria indignação brasileira das concentrações e passeatas de 2013 era diferente da indignação que hoje experimenta uma parte da população brasileira diante da greve dos caminhoneiros. A indignação agora não é romântica,nem uma coisa vaga para mostrar apenas descontentamento. Hoje, há uma pauta definida para mostrar a base do novo espírito indignado dos brasileiros. Nesta indignação há um programa de ação real, um programa exequível. Neste 30 de maio de 2018, no Brasil nasce um novo espírito de indignação que se mostra vivo na busca de um desejo profundo de sobreviver, de renascer, e também de proclamar bem alto que o Brasil continua vivo. É um desejo de viver radical, uma vontade firme de renascer, de dizer não aos bandidos, à bandidagem que comete atos cruéis e vilipendiosos contra os cidadãos pacíficos. É uma manifestação cívica contra a crueldade dos que ficam indiferentes à fome, ao desabastecimento, à morte de milhões de seres vivos nas granjas brasileiras. É o lado humano e cívico da indignação, um outro lado da indignação que é necessário colocar em foco. A indignação que grita bem alto contra as paixões políticas, contra os atos cruéis e insensíveis de grupos que não valorizam os direitos da sociedade e das classes pobres e carentes que ficam sem mercados e bens de sobrevivência. É uma indignação concreta que luta em favor da ação que tenta reabastecer os mercados, que busca combustível nas refinarias, mesmo que com escolta militar, ou querosene para os aeroportos, ou gasolina para os postos, ou produtos hortigranjeiros para as comunidades que precisam de se proteger contra a alta de preços. Este espírito de indignação se insurge contra o vandalismo que tem sido realidade em vários pontos do país, contra a crueldade de elementos anticívicos que desafiam a sensibilidade cidadã dos brasileiros. Este outro lado da indignação representa o outro Brasil, o Brasil que acredita na construção de uma política para o povo brasileiro, sem politicagem medíocre, dizendo não ao ódio e aos grupos e grupelhos com interesses escusos, que prefere atuar na sombra e que gasta bilhões de reais em esquemas para derrubar inimigos políticos. A nova indignação brasileira é esta. Não é fundada em romantismos vagos. É uma indignação que aposta na construção de um país, começando pela consciência cidadã. Esta indignação é objetiva. Ela quer construir uma consciência cidadã capaz de atuar como fermento social nas escolas, nas universidades. Uma indignação capaz de limpar nossas ruas de vandalismos e de baderneiros criminosos. Uma indignação que gostaria de livrar nossas universidades do fundamentalismo ideológico, e político-partidário, no desejo de concentrar sua ação na pesquisa e no ensino que são seus objetivos originais. Esta indignação busca fazer renascer o espírito puro e original do cidadão brasileiro. Mais do que atear fogo em pneus há que buscar outro tipo de indignação, descobri-lo e mostrá-lo a todos os cidadãos para que possamos superar a crise que ora se manifesta e que exigirá alguns meses de recuperação e de muitos sacrifícios. Este é o espírito que vem do povo. O espírito que se ilumina na luta dos trabalhadores que diariamente saem de madrugada para enfrentar filas nos transportes públicos e que vivem em sua maioria de salários mínimos, que sofrem com o desemprego e com todas as carências produzidas pelos esquemas dos inimigos do povo. O espírito de sobrevivência visa retomar a normalidade. Praticar a indignação sem perda de tempo, sem perda de palavras, significa partir para ação. A ação é esperar nos postos, nas filas, para abastecer. Pagar alguns preços exorbitantes. Mas só de passagem. Porque este tipo de cidadão sabe que partir para a ação vai abreviar o tempo anormal do golpe.Essa ação é a luta pela normalidade. Preços, PIB, inflação. Sim. Haverá. Estão na praça. O cidadão sabe que algo de muito grave se produziu e está teimosamente se produzindo. Mas há algo maior. Este algo, o povão sabe. É algo que garante sua sobrevidência pelo sacrifício, algo que realimenta a luta que diz não a esses corruptores e bandidos que tentam poluir a impedir seu caminho. Eis o que importa cultivar: a vida cidadã. É um segredo a descobrir pela outra face da indignação que é a praticidade do ato de viver. Muito acima dos sistemas corruptos de todos os que tentam fazer parar o Brasil. Descubramos o outro lado da indignação e alinhemos na reconstrução do Brasil, pela cidadania. Para além de greves, de intimidações nas estradas, de piquetes ideológicos, de ameaças reais., é preferível uma luta simplesmente cidadã.Uma luta que o espírito original do povo brasileiro saberá preservar porque é a cidadania o instrumento de que dispõe para preservar todas as suas vidas. A vida da alma. A vida do coração. E a vida do corpo.

João Ferreira

Brasília 30 de maio de 2018



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