Café d"manhã nas manhas humanas
Sinto que minha referência sem a pessoa do Pessoa, não faz sentido, pois no ponto solitário há um Deus que não é Deus, mas julga ser. Ele deixa bem claro que nossa insignificância é infinita tal qual nossa estupidez, o que permite dizer que deve-se assimilar bem não só o pontinho, mas todos os sinais que expressam nossas manhas nas manhãs de um Deus que não é Deus, salvo se Ele permitir, pois uma folha jamais cairá sem que o vento o faça. Meu rosto celebra o dom de nada ser, tal qual a pessoa do Pessoa falou: " não sou nada. Não sou ninguém." E isso já tira de mim uma responsabilidade imensa de querer ser algo que não posso, o que me permite noites tranquilas sob a luz do luar. Sua função, é justamente pra nos fazer lembrar e esquecer nossas mazelas e nossas quimeras jantadas. Isso me deixa em paz comigo e com os pontinhos que, igualmente a mim, tentam "viajar" pelas imaginações que nos salvam de julgamentos desnecessários. São elas que nos permitem a doce ilusão de sermos deuses, de acreditar estar enganar a eles da furia natural, escapar das pedras que vem de telhados extremamente frageis que para se firmarem em pé, se desmoronam em reticências. A exclamação de repúdio, a interrogação da super inocência, as reticências, nos dão a impressão da inexistência do ponto final e por isso, temos a ilusão da nossa imortalidade nas memórias póstumas de algum simples ponto. E no ponto que me diz respeito, sinto-me livre pra ser quem eu desejar ser, sem que para isso eu deseje a imortalidade. Ao contrário, prefiro ser mortal pois no ponto diário da existência, vou vivendo um dia de cada vez, na esperança da ausência de ser obrigado a, mas eternamente agradecido pelo dom de não ser Deus.
Marcos Alexandre Martins Palmeira |