Colônia
Desde sempre sou colonizador, embora tenha muitas nacionalidades em meu sangue que pulsa e abusa dos espaços meus não meus. Fui índio e, ao interagir com o branco, mudei minha identidade e, português ganhei a certidão de nascimento. Virei mameluco nas loucuras e volúpias, adentrei pela mata na ousadia bandeirante. Ganhei diversos trajes, obrigam-me a ser poliglota e fiz minha glote alterar a voz. Aprendi português, francês, italiano, e hoje, falo inglês. Tive diversos “padrinhos” que tiraram minha genuína nacionalidade. Agora, tenho me imbecilizado e de tudo esqueci. Não precisa tantas línguas aprender já que sou vaso sanitário e recebo tantos despojos fecais. Hablo, speak, só preciso shit pronunciar e tirar fôlego pra merda não respirar. Sou colônia abusada, desmoralizada e submissa. Meus descendentes acham legal e levantam a bandeira crente na crença do reto pensar que abafam. Café, almoço e jantar temperados de pensamentos hostis ao povo primitivo, dono desta terra. Meu sangue era da seringueira e levaram, minha Madeira era pau-brasil, minha terra era indígena, meu grito de liberdade veio da senzala. Meus irmãos escravizadas vinham amarrados por correntes, e com serpentes tiveram que lutar. Abri mão de minha identidade e outras culturas, absorvi ante as volúpias nos quartos de senhores de engenho e disso não me envergonho. Nasci rejeitado pelo sangue mas ousei e resisto à condição de colônia ser. Mas, sou. Minhas fezes agora são restritas por dias alternados, e agora José? Quem vem lá?
Marcos Alexandre Martins Palmeira |