A PRIMEIRA
VER NINGUÉM ESQUECE
Naquele
domingo, 2 de agosto de 2008, acordei com uma ressaca como há muito não sentia.
Na véspera, até parte da madrugada do dia 2, passei com uns amigos bebendo em
uma festa junina lá na minha querida Pacoti e depois fomos jantar em um
restaurante, onde ficamos conversando amenidades até bem tarde: eu, Faheina e
Sebastião Belmino. Este último conhecido apresentador de programa esportivo na
nossa capital.
Na
ocasião, lembro-me, falamos de diversos assuntos, principalmente de futebol, e eu
contava ao Sebastião um episódio que ocorrera comigo quando jogava futebol de
subúrbio e era praxe os juízes, devido a inúmeras reclamações dos jogadores,
entregarem o apito, pondo-o em cima da bola. Bem lembrado, disse Belmino, era
assim mesmo. Qualquer dia te levo ao meu programa para contar mais algumas reminiscências
daquela época sobre futebol. E, o que contava naquele dia, era um fato ocorrido
numa partida entre o Cialta, time que eu jogava, uma conhecida empresa de
ônibus de Fortaleza e o Alvorada, que depois transformou-se em Uniclinic e hoje
em Sport Cearense.
Pois
bem, mas voltando ao assunto principal da ressaca, porque a conversa do bar não
é a questão no momento. Quando acordei, não quis nem tomar café, uma das primeiras
coisas que faço logo ao me levantar. Mas devido ao meu estado: dor de cabeça e
o estômago embrulhando com vontade de vomitar não tomei o bendito café da manhã.
Mesmo assim, fui para o bar do Beguim assistir ao sorteio de um consórcio e depois
de algum tempo, já melhor, consegui comer alguma coisa.
Terminado
o sorteio, fui em casa, peguei minhas coisas e vim para Fortaleza, acompanhado
de um casal de amigos. Em Baturité paramos para ir ao banheiro de um
restaurante, tomar água e o casal aproveitou para pedir uma cerveja também.
Ofereceram-me. Como já havia melhorado da ressaca, pensei em tomar um copo de
cerveja, porém como a Lei Seca tinha sido instituída há poucos dias, fiquei
receoso de ser parado numa blitz, embora o horário não fosse muito convidativo
para isso, devido ao calor que fazia; mesmo assim pensei, pensei e terminei
recusando.
Minha
sorte! A viagem transcorria tranquila e sem qualquer problema até Redenção,
quando na parte duplicada da estrada, demos de cara com uma blitz; montada
estrategicamente num local que não permitia retorno. Não havia como escapar, só
se podia seguir em frente. Para se salvar
da blitz seria preciso que os agentes estivessem todos ocupados, e não foi o
caso.
Fomos
parados!
Gentilmente,
um agente do trânsito dirigiu-se a mim e pediu o documento do carro e a
carteira de habilitação; entregues, depois dos exames de praxe; o agente
pergunta-me se eu poderia descer para fazer o exame do bafômetro.
Preocupado
com a bebida do sábado e madrugado do domingo, origem da abençoada ressaca
àquela altura, porque se não fosse ela provavelmente teria tomado um copo de
cerveja em Baturité e o provavelmente pegue no bafômetro, ponderei, dizendo-lhe que havia bebido à noite
até por volta de uma da madrugada e estava com receio de algum problema.
O
guarda, sempre cortês, perguntou-me se eu já havia comido naquele dia. Sim, respondi-lhe. Não haverá problema, assegurou-me;
é somente rotina. Hesitante concordei.
Dirigi-me
a um veículo equipado que estava estacionado no outro lado da estrada para
fazer o teste de bafômetro. Recebi o aparelho e as instruções necessárias para
seu uso; hesitei novamente; meu desiderato não era aquilo, com medo da
carraspana do dia anterior, que me deixava aflito, se o resultado fosse
positivo; com a punição advinda. Embora a Lei Seca ainda não fosse tão dura
como hoje. No entanto, não havia outro jeito; era fazer, ou fazer. Fiz. Soprei
o tal bafômetro como o coração disparado. Deu negativo, para meu total alívio.
Ufa! Escapei, pensei comigo mesmo.
Na
mesma hora que eu fui fazer o teste, veio também outro convidado: um sujeito
alto, magro, vestido com a camisa do São Paulo. Após fazer minha estreia no
bafômetro, fiquei me recompondo do susto; conversando com o agente, que
inclusive era amigo de um dos meus companheiros da farra anterior, enquanto observava
o torcedor sampaulino. Este ao receber o aparelho de teste, olhou para o
guarda, hesitou também um pouco como eu e disse: “Olha, seu eu não soprar
direito, não é por não quero, é por que estou com uma dentadura nova e não sei
se vou conseguir.” Fiz grande esforço para não ri, afastei-me e fui embora.
Portanto,
foi assim minha estreia no bafômetro, e até agora a última, mas como se diz:” A
primeira impressão é a que fica”; e eu fiquei com a do sampaulino da dentadura
nova.
HENRIQUE
CÉSAR PINHEIRO
FORTALEZA,
AGOSTO DE 2019. |