É bem lúcida a atitude
De ficar sem trabalhar,
Se tudo que for ditado
Vier para atrapalhar.
Jamais escreva, amiguinho,
Sem se sentir inspirado:
É bem provável que esteja
Pronto p’ra ser enganado.
Aos poucos, vamos ditando,
Um a um, os nossos versos,
Mas só ‘staremos contentes,
[Se não ficarem perversos].
Nós fizemos de propósito
Deixar a quadra incompleta,
Para que possa o amiguinho
[Tornar o que é curva em reta].
Mais um terceto deixamos
P’ro nosso amigo inteirar.;
Quem sabe esteja o segredo
[Em saber o que calar].
Vamos, pois, continuar
Complementando as quadrinhas,
Pois já seria abusar
[Por serem tão pequeninhas].
Nosso amigo não se importa
Com o destino do verso,
Pois sabe que demonstramos
[Amor maior que o universo].
Eis que teimamos ainda
Em deixar tudo incompleto.;
Quem sabe seja mais linda
A solução [em secreto].
— Hoje não vão bem as coisas —,
Pensa consigo o escrevente,
— Pois os amigos poetas
[Estão a mangar da gente].
Realmente não queremos
Tornar difíceis as cousas.;
Por isso é que estes versinhos
[Se apagam, como nas lousas].
Mais um pouco e terminamos
De ditar nossas quadrinhas,
Deixando p’ra que o escrevente
Termine [todas as linhas].
Sabemos ser bem difícil
O que estamos a propor,
Mas, para o bem do amiguinho,
[Vamos a todo vapor].
Queremos dizer apenas
Não estar acostumados
Com este tipo de prova,
Que [nos põe aparvalhados].
O caro amigo escrevente
Sacode as pernas nervoso,
Mas, no fundo, está contente,
[Pois é o que acha gostoso].
Vou parando por aqui,
De todos me despedindo.;
Jamais conheci pessoas
[De tanto talento lindo].
Não complemente os tercetos,
Deixe as rimas p’ra depois.;
Existe a hora dos versos:
[O mais faremos nós dois].
Lendo-lhe seu pensamento,
Suspeito que dei um fora,
Pois não existe intenção
[De reservar outra hora].
Seria até de interesse
Que tudo ficasse assim:
Não haveria leitores
[A me oferecer capim].
É este um bom exercício
P’ra quem quer se divertir:
Basta deixar o bulício
[Só nas mãos do Wladimir].
Bem que disse o tal amigo
Que esteve aqui da outra vez,
Que fazer verso era um sarro
Desde que não [fossem três].
Estamos só reafirmando
Esta nossa posição,
Pois bem sabemos que a rima
Se completa à perfeição.
Eu não venci o bom desejo
De perfazer a quadrinha.;
Afinal de contas, tinha
Uma rima [que versejo].
Mas a quadra logo acima
Já deixou a desejar,
Principalmente que a rima
Está fora do lugar.
Sabemos compor as quadras,
Como se vê logo acima.;
Estamos só pretendendo
Ver o médium pôr a rima.
Sabemos ser importunos,
Mas a hora não é esta.;
Agora estamos lutando
P’ra transformar numa festa.
O ritmo destes versinhos
Deixa muito a desejar.;
Nem por isso, exatamente,
Vamos parar de treinar.
Pusemos a quinta marcha,
Já ninguém mais nos segura,
Pois estamos desejando
Demonstrar vontade pura.
O pobre de nosso irmão
Na cadeira se segura,
Achando quase impossível
Pôr cobro à vontade dura.
Não sabíamos agir
Até pouco tempo atrás,
Mas o amigo Wladimir
Ergueu bandeira de paz.
Eis que termina o tormento
Desta poesia escabrosa.;
Se for tão-só treinamento,
Sente-se o aroma da rosa.
Às vezes os versos soam
Desafinados e pobres,
Entretanto, para o amigo,
Os sons lhes parecem nobres.
Se o amigo completar
As quadrinhas manquitolas,
Que fiquem suas emendas
À guisa de meias solas.
Não pretendemos voltar
A propor tais exercícios,
Mas sabemos que é difícil
Abandonarmos tais vícios.
Eis que tudo o que fazemos
Tem o sentido bem claro
De tornar nosso amiguinho
Um médium de muito faro.
Graças a Deus, aqui estamos
Fazendo a quadra final.
Rogamos ao nosso irmão:
Não nos queira muito mal.
Ao Senhor, agradecemos
Esta nossa lucidez,
Pedindo que intensa luz
Nos brilhe mais uma vez
Até breve, meu irmão,
Fique bem, na paz de Deus,
Junto da cara-metade
E dos caros filhos seus.
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