Instantes
Prefiro ver o tempo que não ver a ninguém. Ele transcorre e em perpétuo socorro a si, socorre fazendo trajetos e histórias. Sou elemento instante no fulgaz momento do ardido ferimento causado na trajetória dos instantes íntimos e ínfimos aos olhos que visam umbigos. Sou olhos que saltam além da órbita para enxergar quem está nos instantes. Estou sem ser instante do tempo, pois o tempo é o instante acumulador de sua própria era. Instantes são ficções marcados pelos ponteiros nos tics tacs da espera. O instante nada diz, seu parlatório é o barulho dos ponteiros que marcam o transcorrido tempo, tempo, tempo....
Não sei o que me espera, pois eu sou a espera numa esfera que revela ao mundo, um passado e um presente computados pelo Deus Tempo. Vou seguindo, vou olhando, vou sem ir. Não me mexo. Apenas observo que vários instantes são fulgazes e não interessam à história dos deuses. Instantes são mitos que criamos para mitigar o fulgaz e dele fazer uma presença ausente. Os instantes pertencem ao tempo, irmão sol, irmã lua, na beira da Lagoa a lavar todos os meus instantes que vivi na aurora boreal onde desenhei sonhos marginais. Sou marginal a margem do instante tempo, o senhor de tudo e dono de nada. Peguei a bolsa e bati meus pés ao chão, mas a poeira por ser instante, solidificou à margem de um tempo instante que acompanhou o passo dos ponteiros. Não havia farol, salvo uma estrela guia que me ajudou a transcorrer ao tempo nos seus instantes.
Marcos Palmeira
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