Para que este irmão perceba
Que já não está sozinho,
Iniciemos os trabalhos,
Com muito amor e carinho.
Eis aí a prima estrofe,
Que não deu muito trabalho.;
Mais estranho é o rega-bofe,
Toda vez que me atrapalho.
O tom de nossa conversa
Demos tão logo — de prima —.;
Se esta tese é controversa,
Bem segura está a rima.
Este perene treinar
Vai deixar-nos afiados.;
Se formos desafiados,
Iremos desempenhar.
Encurtamos os versinhos,
Mas as quadras vêm perfeitas.;
Somos tão pequenininhos
Que as rimas já vêm eleitas.
As duas quadras acima
Têm graves contradições,
Tão fortes que até se estima
Que terão novas versões.
O nosso médium demora
P’ra apanhar fiel ditado,
Mas, tão logo chega a hora,
Desfaz o ar preocupado.
O mensageiro do dia
Só faz o melhor que pode.;
Em matéria de poesia,
Berra, berra, como bode...
A crítica subjacente,
Autocrítica, diríamos,
Não atinge o escrevente,
O que muito sentiríamos.
O nosso caro leitor,
Se o tivermos algum dia,
Receba-nos com amor
E imagine ser poesia
O que damos com ardor
E com bastante euforia,
Nem que tenhamos, somente,
Bem treinado este escrevente.
Não se poderá negar
O grande fluxo dos versos,
Pois chegamos a rimar
Alguns termos controversos,
Assim como o verbo “amar”,
Em poemetos perversos,
Pusemos, com perfeição,
No fundo do coração.
De quadrinhas a oitavas,
Passamos com algum temor,
Com os escudos e as clavas
De novato gladiador,
Com nossas teses escravas
De poderoso senhor,
Que nos impôs a ironia:
“Sai ou não sai a poesia?”
Como disse um companheiro:
— “Sorrir é o melhor remédio.”
Desde então, nosso parceiro
Vem tendo o maior assédio:
Doentes do mundo inteiro
Correm atrás deste médium,
Que, p’ra ver tudo sorrir,
Insiste em nos perseguir.
Quisemos fazer gracinha,
Nessa oitava anterior,
Mas este povo ia e vinha,
Sem enfatizar valor
Daquilo que se adivinha
Sem este humano calor.;
Sendo assim, fiquei frustrado:
Cometi outro pecado...
Admiro-lhe a paciência,
Ao nosso caro escrevente,
Que, com tamanha indulgência,
Vem acompanhando a gente,
Adquirindo experiência,
Tão-só isso, simplesmente,
Acalorado e calado,
Sempre bem acompanhado.
Às vezes, nós escrevemos
Palavras misteriosas,
Que jamais repetiremos,
Por não serem judiciosas,
Como: — “Co’a força dos remos,
Damos mais perfume às rosas” —,
Sem sentido e de mau gosto,
A desonrar nosso posto.
Por força das contingências,
Do sentido da poesia,
As fracas inteligências
Não conseguem harmonia,
Flores em suas querências
Dão perfume à pradaria:
Quando vêem o Universo,
Não extrapolam o verso.
Em versos surrealistas,
Damos mais força ao trabalho.;
Nossas bandeiras têm listas,
Somos cartas no baralho:
Eis aí algumas pistas.;
Se acertarem, me “espantalho”.;
Tudo tem o seu valor,
Quando feito com amor.
Não queremos ir embora,
Sem deixar a despedida.;
Sabemos que está na hora:
A tarefa está cumprida.;
O cansaço não demora,
Devemos cuidar da vida.;
Agradecendo o escrevente,
Só digo adeus — simplesmente.
Ao Pai do Céu vou rezar,
Pedindo paz e saúde,
Para o mundo melhorar
E faça o bem amiúde,
Para nos abençoar,
Que nossa sorte não mude,
Sem que sejamos dotados
Do amor dos nossos amados.
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