Querido amigo escrevente,
Lembre-se de que esta gente
Só pretende vir treiná-lo.;
Perante alguém experiente,
Vai restar-nos tão-somente
Dizer: — “Agora me calo...”
Entrementes, o destino,
Em sopros de desatino,
Enseja-nos uns momentos.;
Talvez cantemos um hino,
Talvez tanjamos o sino,
Esquecendo os sofrimentos.
— “É tarde!” — diz uma voz.
— “É cedo! Espere por nós” —
Responde um eco pungente.;
Eis uma dúvida atroz
Que, trágica, recompôs
O medo de ser carente.
Não queremos prosseguir,
Se não temos onde ir,
Nestas trovas tão pequenas.;
Perdoe-nos, Wladimir,
Pare o texto.; vá dormir:
Amenize as suas penas.
— “Se não tenho cabimento”
(Diz o meu verso em lamento)
“Por que estou sendo criado?”
Perdoe-nos o mocinho,
Fique só mais um pouquinho:
Não nos seja malcriado...
Variando a nossa rima,
Como fizemos acima,
Melhora nosso projeto:
A coisa fica mais fácil,
A poesia tem ar grácil,
A vaidade alcança o teto.
Que coisa mais esquisita!
Este esquema nos irrita:
Parece um tanto precário...
Entretanto, bons artistas,
Com cores e algumas listas,
Se ergueriam do sudário.
Não falo tão-só por mim,
Neste conceito chinfrim
Que nos dá prumo a este tema.;
O conjunto deste grupo
Receia tremendo apupo,
Ao terminar o poema.
Ao olhar o horizonte,
Por sobre os tetos das casas,
Quer o irmão que se lhe aponte
A razão de não ter asas.
Desejaria voar,
Em tremenda liberdade,
Entretanto, ao vir rimar,
Ficou preso, na verdade.
Se tivesse ele o poder
De compor um livre verso,
Por certo, iria querer
Açambarcar o Universo.
Entretanto, a nossa rima,
Que chamamos de “chinfrim”,
Como se viu mais acima,
Determina o nosso fim.
Quando estes temas nos chegam,
Por força do mais além,
São besteiras que nos cegam
P’ro amor e p’ra dor também.
Ficamos só no improviso
Dum treino xucro e banal,
Que não merece um só riso,
Embora não faça mal.
Este é sentimento neutro
Que não exige emoção.;
É um cano feito de feltro,
É arma que não tem cão.
Sabemos ser bem difícil
Definir esta “poesia”.;
Mais parece um edifício
Que se ergue a cada dia.
Compreendemos o escrevente,
Com suas preocupações.;
Não se importe com a gente,
Mas não tenha hesitações.
O galo também cozinha,
Mesmo estando a água fria.;
Só que uma tal ladainha
‘Tá longe de ser poesia.
Quando a mente fica aberta
À nossa influenciação,
Quase sempre a mão acerta
O bater do coração.
Algumas poucas quadrinhas
Merecem ser publicadas,
Mas quase todas as linhas
Se encontram bem inspiradas.
Vitupério é elogio
Que se diz de boca própria.;
Estamos só por um fio:
Qualquer rima é muito imprópria.
Ao longe, cai a “tempesta”,
Brilha bem próximo o Sol,
Nossa alma está em festa:
Não tememos o arrebol.
O bom amigo escrevente
Está a “mangar” com a gente
Pelo “medo” da “tempesta”.;
Não sabe que, no “invisível”,
Pode até dizer: —“ Incrível!
É a coragem uma festa?...”
São muitos os que têm medos
De simples assombração.;
Podemos contar nos dedos
Os isentos de emoção.
Estes mesmos, entretanto,
Bem no fundo da consciência,
Devem sofrer o seu tanto,
Por terem tanta ciência.
Estes temas vão ficando
Filosóficos demais.;
Vou, então, amenizando,
P’ra não ouvir muitos “ais”...
Recebo com efusão
Cumprimentos deste médium,
Mas não faço confusão:
Ajo por seu intermédio.
Não pretendo devolver
Elogio por elogio:
Basta-me o seu bem-querer,
Em forma de desafio.
O tempo se transformou,
Agora as nuvens imperam,
Mas um conselho eu lhe dou:
Os fortes não desesperam.
Ri o escrevente, a bom rir,
Desta facécia da gente,
Mas, meu caro Wladimir,
Há algo mais excelente?...
Quando aperta o seu cansaço,
Demonstra logo o desejo
Que desfaçamos o laço,
Ao guardar o realejo.
Só assim, acreditamos
Ser possível terminar,
Porque lhe pendem dos ramos
Estrofes que enchem o ar.
Mas, como estamos atentos,
Sabendo bem a tabuada,
Pedimos só uns momentos
P’ra dar a tarde encerrada.
É de praxe a despedida,
Cada tarde duma forma.;
Ficamos feliz da vida,
Por não fugir dessa norma.
Muito obrigado, querido,
Por sua dedicação.;
Se estiver bem comovido,
Aperte aqui esta mão.
Diga adeus ao Pai celeste,
Faça uma prece por nós:
Queremos que nos empreste
Os sons dessa sua voz.
Aguardemos, em silêncio,
A prece da despedida:
Aqui me chamam Juvêncio,
Um amigo em sua vida.
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