Saudade
maria da graça almeida
A saudade dói demais,
lanha a alma, fere a paz.
A lembrança do passado
jaz no retrato rasgado,
não dá mais para colar;
jaz no berloque quebrado,
que o tempo fez desbotar.
Quem me dera por um dia
ter de volta a fantasia
dos meus olhos de criança,
onde a cor da nostalgia
não velava a infância;
onde o encanto e a magia
tinham ritmo de dança.
Ai, a antiga identidade
que vagueia à distância,
assustada com a idade,
vem provar que a aliança
com a antiga mocidade
entristece a lembrança,
pois seu elo é a saudade.
Saudade
maria da graça almeida
Saudade sem rosto,
sem corpo, um flagelo.
Imprime na alma
tristeza, mistério.
Saudade um torpor
que à distância se espalha
e mostra a dor
pelo olor que exala.
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