Vilão
maria da graça almeida
Queria parar o tempo.
Chega de andança, caminhante cruel;
basta de caminhada, andarilho das horas.
Da tua imobilidade muitos se beneficiarão.
Mas, incólume, passas, com ameaças que,
religiosamente, cumpres.
Comprometes a humana aparência,
a vontade, o ânimo, os sonhos, a vida
e, de nós, um por um, cada um,
desumanamente, liquidas.
Porém, dentro da tua crueza,
para certas feridas,
és o bálsamo, a cicatrização.
Ó tempo, tu és déspota, vilão
e, incoerente, das dores,
por meio de ti
vem-nos a minoração.
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