No portal da igreja,
Estanquei um dia,
Bênção benfazeja!
Límpida harmonia!
E por mais que veja
Coros de alegria,
É sombra que adeja
A minh’alma fria.
Perguntei por Deus,
Eu quis ver Jesus
E do céu desceu
Muito forte luz.
E em trovões de dor,
Eu vi refletida,
Espasmos de horror,
Toda a minha vida.
Quis fugir dali,
Pesadelo vão,
Sem forças, caí,
Me estendi no chão.
U’a mão benigna
De pronto me ergueu:
Era um’alma digna
Desse bom judeu.
Recobrei as forças,
Refiz a energia:
Eram simples corças,
Filhas de Maria.
Despertei sorrindo
Desse sonho triste.;
Hoje já estou indo:
Este amor existe.
Tenho tido agora
Doces esperanças:
Já se faz aurora
Em minhas lembranças.
Sinto forte a fé,
Firme a caridade.;
Tudo, penso, é
Fruto da bondade.
Cumpro a minha lei,
Sofro a minha dor,
É, como pensei,
Grande o meu temor.
Mas amigo tenho,
Bem transcendental,
Porque donde eu venho
Era imenso o mal.
Hoje, mais tranqüilo,
Serenei a ânsia:
Pesa-me um só quilo
A minha ganância.
Pesa sempre menos,
Ao findar dos versos:
Corações serenos,
Almas de conversos.
Mágoa que se finda,
Dores que amenizam.;
Sofro um pouco ainda,
Mas os céus se irisam.
Tenho p’ra comigo,
Para, dentro em breve,
Abraçar o amigo
Que por mim escreve.
Quero que desculpe
Este amor ligeiro
Que jamais se esculpe:
Tema passageiro.
Sonho de acordado,
Brilho nos meus olhos,
Mas estou velado:
Tenho meus antolhos.
Faço esta poesia,
Pura distração.;
Mas sinto alegria
Dar no coração.
Tenho muito medo
De ofender alguém,
Pois é muito cedo
P’ra quem nada tem.
Ajude, escrevente,
Estenda-me a mão,
Fique bem contente
Co’este novo irmão.
Faço referência
Ao abraço amigo,
Mas esta insistência
Ganha bom abrigo.
Quero reencontrá-lo
Não depois de morto,
Mas vou despertá-lo
Em sono absorto.
Basta o pensamento,
Firme, se apoiar,
Em doce momento
De profundo amar.
Doce como a brisa
Que nos vem do mar,
Esta vaga alisa
E nos faz sonhar.
O bulício ao longe
Lembra a realidade.;
Noss’alma de monge
Chora de saudade.
Peço desculpar-me
Pensamento incerto.;
Vou equilibrar-me,
Disso estou bem certo.
Quero vir depois
Muito mais esperto,
P’ra juntos os dois
Ficarmos mais perto.
Pedem-me que diga
A prece final.;
O fato me obriga
A esquecer o mal.
Peço a Deus somente
Que mantenha em paz
A toda esta gente
E este bom rapaz.
Vou agradecer
A meu escrevente
Todo bem-querer,
Inda que o atormente
Co’estes duros versos,
Falhos e perversos.
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