A mediunidade é um dom
Que precisa melhorar.;
Ao se ouvir um lindo som,
Vem desejo de cantar.
Por isso, caro amiguinho,
Não se canse do trabalho.;
Trate dele com carinho,
Sinta nele um agasalho.
Se somos impertinente,
Se queremos melhorar,
Diga lá, caro escrevente,
Não é fácil poetar?!...
Mantenha o pulso bem solto,
A mente deve estar leve,
O tema virá envolto
Dum pensamento mui breve.
Se algo não der muito certo
E a quadra ficar caduca,
Inda assim, com peito aberto,
Não deixe fundir a cuca.
Espere tão-só um momento,
Pois nem tudo está perdido.;
Concentre seu pensamento:
O problema é resolvido.
A contagem não dá certo,
A rima não é perfeita,
Mas o tema já está perto
De ter solução aceita.
Fez-se a luz em seu deserto,
A claridade é perfeita,
A solução está perto
Do teor que a mente aceita.
Falamos só de improviso,
Sem contagem e sem rima,
Mas é com muito juízo
Que o médium nos reanima.
Vai ele feliz ao pote,
Sem medo de o derrubar,
Como a serpente dá o bote,
E se põe a navegar...
Caso o assunto seja triste,
Coisa de fazer chorar,
Nosso amigo aí insiste
Em nosso pêlo arrancar.
O troço, então, fica alegre
E todos riem à toa,
Mas o poeta “possegre”:
Ele quer a coisa boa...
É bastante divertido
Treinar com satisfação.;
O verso não tem sentido,
Mas alegra o coração.
Mesmo assim, vamos levando,
Sem nenhuma confusão,
Pois é grande o nosso bando
E todos nos dão a mão.
Gostaria de dizer
Como é rápido este verso,
Mas o tema iria ser,
No mínimo, controverso.
É que as horas não se contam
Pelos relógios humanos
E estes versos só se montam,
Com a ajuda dos dois planos.
Em todo caso, diremos
Que levamos uma hora,
P’ras trinta quadras que vemos
Criarem-se sem demora.
Se fôssemos mais depressa,
Muito mais nós erraríamos,
Mas não vamos cair nessa,
Pois ajuda não teríamos.
É fácil fazer poesia
Deste lado onde moramos,
Mas um conselho eu daria:
— “Cuidado com outros amos!...”
Nem sempre a rima final
Responde ao que se queria:
Às vezes, é um grande mal,
Às vezes, salva a poesia.
Fazemos questão, contudo,
De revelar como somos,
Pois é nesse conteúdo
Que nossa verdade pomos.
Parece até brincadeira
Estes versos que compomos,
Mas será desta maneira
Que diremos o que somos.
Ficou bem melhor agora,
Já que o tema recompomos,
Muito presto, sem demora,
Vamos separando os gomos.
É chegada a cara esposa,
Sinal que minh’hora finda.;
Há certo aviso na lousa:
— “Amar é uma coisa linda!”
Iremos, pois, encerrar,
Com a prece rotineira,
Festejando este seu lar,
Que não há melhor maneira.
Eis-nos, Pai, aqui de novo,
A rogar para este povo
Bênçãos de felicidade.;
Releve todas as falhas,
Coloque fluidos nas talhas:
Que esta tarde dê saudade!
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