Devo dizer a verdade
Que em meu coração se encerra,
P’ra demonstrar lealdade
Aos meus amigos da Terra.
Não tenho grande esperança
De deixar forte registo:
A verdade não se alcança
Quando o sentimento é misto.
Não fomos de todo mal
Em nossas quadras acima.;
Mais importante, afinal,
É quanto a gente se estima.
Se falharmos neste intento
De fazer versos perfeitos,
Lavraremos nosso tento
Nos textos que forem feitos.
Há garrafas que estão cheias
De líqüidos prodigiosos,
Bem assim, as nossas veias
Contêm plasmas valiosos.
Era assim que eu desejava
Que fossem os versos meus:
Cheios da voz que brotava
Dos mandamentos de Deus.
Sinto, porém, que na vida
Não amealhei virtudes
E esta minh’alma ferida
Só contém idéias rudes.
Quando ao amor me refiro
Como algo mui superior,
Sinto que apenas sugiro
Um bem sem qualquer valor.
É que, à emoção do relato,
Não sinto qualquer poesia:
Deu-se a vida como um fato
Comum, neste dia-a-dia.
Por isso, os versos que faço
Mais se parecem com prosa,
São mais rígidos que aço,
Não têm odores de rosa...
Mas, falando francamente,
Neste treino que angustia:
Não é verdade que a gente
Já não gosta de poesia?...
Se estes versos são “quadrados”,
Cheios de termos “vazios”,
Tidos por “arrevesados”,
É lixo lançado aos rios.
Se são simples as quadrinhas,
Com suas rimas bem fáceis,
Já lá vêm as ladainhas,
Com ares gentis e gráceis...
Se a lição for oportuna,
Cheia de sabedoria,
Já se espera mão gatuna,
A furtar de outra poesia.
Se somos originais,
Nossa verve se confunde:
Ninguém nos entende mais,
Nossa fé não se difunde.
É preciso acreditar
Que ainda existe no mundo
Quem saiba o que seja amar
Com sentimento profundo.
Eis aí nossa harmonia
Que dará razão de ser
P’ra triste, humilde poesia,
Que brota do bem-querer.
Se existem bons sentimentos
No fundo dos corações,
Louvemos estes momentos
Em que entoamos canções.
Nosso verso se engrenou,
Nossa rima se ajustou,
Nosso escrevente sorriu.;
Agora já temos calma,
Está feliz esta alma,
Nosso grupo já se uniu.
Sinceros são os desejos
Que nos inspiram os beijos
Nestas rimas mui formosas.;
Se temos tido vergonha,
Já não nos chamam “pamonha”:
Já recendem nossas rosas.
Serão felizes os dias
Em que mais belas poesias
Florirem neste jardim.;
Sentiremos as virtudes,
Não serão emoções rudes
Que se apossarão de mim.
Se dissemos a verdade,
Foi por pura caridade,
Já que a verdade não dói.;
A mentira descoberta
Somente fúria desperta:
Fazer bem, isso não sói.
Se tivermos paciência,
Em breve, com eficiência,
Brilhará nossa poesia,
Já que estamos progredindo,
Nosso verso fica lindo,
Enche-se de melodia.
Se o nosso exercício finda,
Enquanto temos ainda
Algo bom para dizer.
— “Não faz mal!” — retruca o médium,
— “É só por seu intermédio
Que demonstro bem-querer.”
Se tivermos paciência,
Se for pouca a exigência,
Terminamos o trabalho.
É que a nem tudo na Terra
Nosso coração encerra,
Nem dá noss’alma agasalho.
Nós já estamos bem feliz
Com a nossa diretriz
P’ro trabalho deste dia.
Vou encerrar o tormento,
Pois tenho o pressentimento
Que a mais não me atreveria.
Tenho ainda p’ra dizer
(Talvez nem fosse escrever)
Que alguma luz já se fez,
Pois, por força de Jesus,
Que o nosso mundo conduz,
Voltaremos outra vez.
Só vou pedir ao irmão
Que queira de coração
Escrever estes ditados.
Está bem pertinho agora
De sabermos quão sonora
É a tal poesia dos grados.
Adeusinho, caro irmão,
Receba de coração
Os amigos desta esfera,
Agradecendo ao Senhor
O nosso pacto de amor,
Esta amizade sincera.
Apenas p’ra terminar
Resta ainda desejar
Que Jesus nos abençoe,
E que nos leve consigo,
Do sofrimento ao abrigo,
Que todo mal nos perdoe.
Sabemos ser sacrifício
Afastar-se do bulício
Das formas de nosso verso,
Mas é bem chegada a hora
De todo o grupo ir embora,
Em outro trabalho imerso.
Ao nosso Pai oraremos
E tudo agradeceremos,
Com o coração na mão,
Já que sabemos da luta
Que exige força bem bruta,
Para a nossa salvação.
Bem gratos, pois, irmãozinho,
Vamos deixando o carinho
Destes versinhos finais.;
Não se queixe do trabalho:
Você está quebrando o galho,
Ouvindo estes nossos ais.
Se tivermos um tempinho
P’ra agitar nosso lencinho,
Em sinal de despedida,
Fique apenas um instante:
Um só segundo é o bastante
Para salvar uma vida.
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