Meu caríssimo escrevente,
Atenda este sofredor,
Que, hoje embora impenitente,
Quer dar uma de doutor.
Ainda tenho problemas
Difíceis de resolver.
Serão esses os meus temas:
Compromissos co o dever.
Talvez eu melhore um pouco,
Depois de dar a mensagem:
Eu já não seria louco
De fazer qualquer bobagem.
Pois sei, com propriedade,
Aonde o mal nos carrega,
Por isso, digo a verdade:
Sei bem que a justiça é cega.
Tenho medo de escrever:
Quem mais fala é quem mais erra,
Mas, se eu tiver bem-querer,
O meu medo cai por terra.
Vou indo bem devagar,
Para os padrões do escrevente,
Mas preciso relatar
Algo mais que consistente.
Se eu deixar escrito um verso
Que “faça o povo pensar”,
Por mais que seja perverso,
Termino por ajudar.
Meu amigo morde o lábio,
Mui temeroso de errar,
Julgando ser bem mais sábio
Quem já navega no mar.
Mas eu sou um navegante,
Com medo dos furacões:
Se desejo estar distante,
Temo muito as frustrações.
Já demonstrei, fartamente,
Que me falta inspiração:
Esta obra é do escrevente,
Que teima em me dar a mão.
De qualquer forma, eu consigo
Vibrar com certa harmonia.;
Tanto é assim que o meu amigo
Sente um pouco de poesia.
Eis aí outro problema
Que expus muitíssimo a medo:
A vaidade é outro tema
Dos que se descobrem cedo.
Por isso, não quero dar
A impressão de ser perfeito:
Bastar-me-á agradar
Um pouco, embora sem jeito.
Qualquer dia encontrarei
Algum bom leitor amigo.
Por certo, perguntarei
Se está zangado comigo.
Eis aí que a presunção
É outro dos meus pecados:
Dói fundo no coração
Tê-los assim tão pesados.
Recorrendo ao escrevente,
Sinto-me bem mais seguro.
Espero que não invente
De me cobrar algum juro.
Eis que essa desconfiança
Também pesa na consciência,
Mas quem tem fé sempre alcança
Evitar total falência.
Finalmente, uma virtude
Surgiu muito temerosa:
É porque minha atitude,
Ao fugir da simples prosa,
É bem um gesto que alude
A dúbia fé corajosa,
Se não for temeridade,
Egoísmo ou falsidade.
O resultado da rima
E dos versos como um todo
Talvez não dê bem o clima
Desta flor que vem do lodo.
Não é como eu disse acima
"Os malfeitos vêm a rodo":
Nem tudo é puro ludíbrio:
Existe algum equilíbrio.
O que temo lá no fundo,
Diante dos resultados,
É fazer pensar o mundo
Que os versos são inspirados.;
Mas, aos poucos, eu me afundo,
Por serem mal acabados,
Voltando a tranqüilidade:
Não há por que ter vaidade.
De qualquer forma, já dei
Este recado gostoso.
Se foi muito que eu errei,
Pretendo já outro gozo.
Do pouquinho do que sei,
O que me deixa vaidoso
É dar também esperança
A alguém que já se cansa.
Os versos já têm sentido,
Embora fracas as rimas,
Mas, no treino, é permitido
Navegar por estes climas,
Mesmo que os temas hão sido
Tratados em obras-primas.
Faço só o que é possível:
Dizer mais seria incrível.
Os is já têm os seus pingos,
O treino chegou ao fim,
Consegui ouvir uns “bingos”,
Mas não dêem crédito a mim:
Nesta terra há mais “gringos”
Que nos campos há capim.
Se vitorioso houve alguém
É porque sofreu também.
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