Bem suave melodia
Vai entranhando-se n alma
Daquele que faz poesia,
Um bem superior que acalma.
Não serão muitos os versos.
Serene o seu coração:
Pensamentos vão imersos
Nos caprichos da afeição.
Queremos aproveitar
Para abraçar este amigo,
Que não resiste ao cantar
Que o alerta do perigo.
Vá preparando o sonar
P ra captar este som.
Já cansamos de esperar:
Isto não é de bom-tom.
Solidéu vem na cabeça
Que se julga coroada.;
Espero que estabeleça
Quem é a alma penada.
Recorremos ao mistério
Destas palavras cifradas.;
Se o assunto é muito sério,
As rimas são preparadas.
Vamos salvar as quadrinhas,
Antes que o motor desligue.
Não preencha estas linhas:
Já no mar navega o brigue.
Serenamente seguimos
Nossos versos a ditar,
Por certo, já conseguimos
Confiança assegurar.
Nem sempre o treino prossegue
Conforme um plano perfeito:
Talvez o médium não negue
Que não nos ouve direito.
Contudo, nosso leitor
Não se apercebe de nada:
Na parede fica a cor,
Jamais fica a pincelada.
Queremos dizer, com isso,
Que nossa idéia bambeia,
Mas é bem nobre o serviço
De tirar mel da colmeia.
O resultado é bem claro:
Não nos move a perfeição.
Se certo verso é bem raro,
A maior parte não são.
Espero que tenha visto
A tal concordância acima:
O mote sempre é benquisto,
Quando se encerra na rima.
Valho-me do companheiro
Para exprimir estranheza:
Percorri o mundo inteiro.;
Acabo junto a esta mesa.
São voltas que o mundo dá,
A fazer pensar na vida.
Do jeito que a alma está,
Se sente um pouco perdida.
Mas, de pronto, os protetores
Se põem à disposição:
Se me afligem muitas dores,
Serenam meu coração.
Aí os versos vêm soltos,
A demonstrar alegria:
Pensamentos desenvoltos
São a base da poesia.
Renego o meu sofrimento:
Já sofri feito cachorro.
Mas não lanço o meu lamento:
Recebi pronto socorro.
Que vou esperar da vida,
Nesta órbita do espaço?
Que se cure esta ferida,
Que acabe este meu cansaço!
Pedem-me uma linda prece,
Já que sou bom com os versos.
Tal pedido mais parece
Um castigo dos perversos.
Se estou dizendo que peno,
É porque sou inferior.
Embora esteja sereno,
Treme a alma de pavor.
A responsabilidade
Pesa muito sobre mim.;
Para dizer a verdade,
Já anseio pelo fim.
Entretanto, reconheço
Que bastante me acalmei.;
Ossos quebrados, no gesso:
O desafio aceitei.
Tive ajuda do mentor
E do médium, bom amigo,
Que me deram muito amor
Salvando-me do perigo.
Agora estou bem melhor.;
Se errar o verso, não ligo:
Poderia ser pior,
Mas podem contar comigo.
A prece que foi pedida
Não vou fazê-la: não posso.
A questão foi resolvida:
Vamos rezar um pai-nosso.
Serenamente desligo
As vibrações que me prendem
Ao cérebro deste amigo:
Nossos laços se distendem.
Retiro-me, comovido,
Por ter feito algo de bom.
Já mal chega ao seu ouvido
Da minha voz este som.
Adeusinho, camarada,
Continue a trabalhar:
Jamais queira obra acabada.;
Deseje só muito amar.
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