Quem quer saber a verdade
Da existência do outro lado
Vai ter de olhar pela grade
Que o mantém encarcerado.
Minh’alma é luz que irradia
Cristais de felicidade.;
Meu sentimento é poesia,
Em busca da eternidade.
Meu coração canta em verso
O amor, o bem, a ternura,
Espraiando, no Universo,
A melodia mais pura.
Eis que o “Grupo da Poesia”
Finalmente apareceu,
Trazendo tanta alegria
Quantos brilhos há no céu.
Se for bem curto o pavio,
A explosão se dá em seguida,
Como a vela do navio
É pelo vento movida.
Eis bela comparação
P ra poesia mediúnica:
Sem a nossa inspiração,
Poesia é uma guerra púnica.
Vamo-nos ter de inspirar,
P ra melhorar nossa rima:
Se estamos a navegar,
Nada façamos que oprima.
Parece que o nosso irmão
Que apanha estes nossos versos
Padece do coração,
Ao fazê-los tão perversos.
É boa a desenvoltura
De quem nos apanha a quadra,
Mas, daqui da sepultura,
Nada vemos que se enquadra.
Finalmente, uma quadrinha
Saiu do lado de cá:
Posso até dizer que é minha
Do jeitinho que ela está.
Essa outra também foi
Bastante prejudicada.
Nosso amigo nos perdoe,
Mas deve ser apagada.
Mas não queremos dizer
De modo definitivo:
É só p ro amigo saber
Nosso sentimento vivo.
O conjunto nos agrada,
Posto que muito imperfeito.
É que marujo não nada
Com muito peso no peito.
Somos muito maleáveis
Quanto aos versos que fazemos:
Serão sempre renováveis
No momento em que os leremos.
Hoje estamos preguiçosos
Quanto ao tema destes versos:
Em seus estados gasosos,
Os seres ficam dispersos.
Mas os versos se estruturam,
Devagar, em nossa mente.
Sabendo que pouco duram,
Já passamos p ro escrevente.
É que são versos teimosos
Que aparecem por acaso:
Se fôssemos talentosos,
Não seria esse o caso.
Porém, as quadras que ficam
São de per si excelentes:
Ao menos elas indicam
Que nossas almas são “quentes”.
Com a ajuda do escrevente,
Fica mais fácil rimar.
Não fica o grupo contente,
Quando não quer ajudar.
Nossas quadras desesperam
Nosso amigo Wladimir,
Pois nossos temas já eram:
Não prometem bom porvir.
Facilidade não temos,
Mas alguma coisa cremos
Que irá ficar por escrito,
Para que, ao ler, alguém diga
Que a turma daqui mendiga,
Como o ser mais pobrezito.
Nós jamais daremos trela
Para alguém que só estrela
Os filmes bem humorados.
Havemos, pois, de sofrer
Apenas para dizer
Uns versos bem malparados.
A coisa sai contorcida,
Mas levamos de vencida
Desta vida os seus percalços.
Fazer bons versos suspeito
Que precisa alma de eleito,
Mas que tenha pés descalços.
É preciso ser humilde
Para se chamar Cremilde,
Sem ter laivos de revolta.;
Ou ter por nome Serena,
Mantendo a vontade plena
De trazer a rédea solta.
Suspeitou o meu amigo
Que nem tudo isto que digo
Tem fundamento vernáculo.
Saiba que, na academia,
Ao ler a minha poesia,
Era silente o cenáculo.
Vela benta e pretensão
Se acendem co a mesma mão,
Para fins bem diferentes:
As velas servem p ras almas,
P ra pretensão bato palmas:
Saem versos nos repentes.
Hão de perguntar-me agora
Se eu disse versos outrora
Parecidos co estas rimas,
Pois talvez não acreditem
Que são poetas que ditem
Estas obras pouco primas.
Se tiverem na lembrança
Uma memória que alcança
A prima quadra do dia,
Irão ver que em nossa obra
Há realmente, de sobra,
O que propôs: alegria.
Espanta-se este escrevente,
Ficando até bem contente
Com o volume dos versos:
Sempre assim, ao fim do dia,
O bom “Grupo da Poesia”,
Retira seus tons adversos.
Cabe agora agradecer
A quem cumpriu seu dever,
Ao dar a mão para nós:
Foi um gesto carinhoso
Correr risco perigoso,
Ao desatar nossos nós.
Falando bem francamente,
Conheço pouco escrevente
Tão ousado a este ponto
De prosseguir escrevendo
Algo tão despiciendo,
Sem ter qualquer desaponto.
É que parece saber
Que, se cumprir seu dever,
Irá ter a nossa estima.;
Pois fique também sabendo,
Neste verso despiciendo:
Nós com você também rima.
Eis grande complicação,
Difícil de inspiração,
Se for médium um qualquer.
Para ser nosso escrevente,
Há de trabalhar contente,
Dizendo: — “Se Deus quiser...”
Falta só pequena prece:
É justo quem agradece
Toda a ajuda do Senhor,
Que por nós tem forte estima
Sempre que se escreve a rima,
Coração pleno de amor.
|