Eu sempre achei que esses lances que surgem assim do nada são os melhores, quando não há nenhuma intenção ou premeditação, quando os dois nem estão ai um pro outro e de repente o cupido parece que flecha bem no coração.
Já namorei uma garota só de esbarrar nela numa escada, outra só de ter discado o número errado e uma outra por ter sentado ao lado durante uma viagem longa.
Mas tão rápido como surgiam mais rápido ainda acabavam e assim estava sempre sozinho quando queria é ter companhia ou alguém para gostar, sempre tive muitos amigos, mais amigas do que amigos, simplesmente por uma questão de carinho ou talvez por achar que a companhia feminina é mais agradável, com as mulheres eu era mais confidente do que com os meus amigos.
Sou uma pessoa muito ligada ao toque, parece que vejo e sinto melhor quando toco algo ou alguém, me dá a sensação de uma proximidade muito mais sensível e por isso sempre gostei de ficar de mãos dadas, de abraçar e de fazer carinhos.
Assim foi com uma amiga muito especial, no inicio ela era como todas as outras amigas, mas aos poucos foi surgindo uma afinidade e depois um carinho maior,a proximidade foi nos dando uma intimidade muito grande e a atração não demorou muito a aparecer.
Eu não tinha a intenção de me apaixonar por ela, estávamos num grupo de amigos grande e eu gostava de conversar com todo mundo, fazia massagens nas costas de todas as garotas com a mesma intensidade (confesso que isso é um certo charme e uma forma de me aproximar das pessoas sem causar medo ou confusão) e isso não me trazia problemas algum, porque sabia muito bem não confundir as liberdades e nem os sentimentos.
Mas sempre que eu me aproximava dela parecia que tinha algo diferente no ar, sabe, tipo um clima de romantismo e isso foi surgindo aos poucos e tomando dimensões inesperadas e depois de um telefonema dela percebi que uma química estava rolando.
No começo tentei disfarçar que não estava sabendo de nada, mas os nossos amigos todos já faziam brincadeirinhas e invariavelmente nos deixavam vermelhos de vergonha, mas não nos incomodávamos e continuamos num jogo cego de seduções.
Ela sempre tinha aquele jeitinho meigo de falar com você sabe, tipo fazendo uns biquinhos involuntários, tinha um cheiro que eu adorava e volta e meia ficávamos cheirando de brincadeira o cangote um do outro (todo mundo sabe que fazer isso dá aquele arrepio que não tem nada haver com cócegas) , gostava muito dos olhos dela que me passavam algo triste e ao mesmo tempo terno (aliás, a ternura é uma das coisas mais doces que a gente sente por outro alguém), dos seus sorrisos, ela tinha um diferente para cada ocasião, do jeito que mexia e prendia seus cabelos,com a sua presença que sem perceber sentia falta e queria estar sempre junto, acho que vi nela uma carência afetiva que eu tinha vontade de suprir, como peças de um quebra-cabeça que se encaixam perfeitamente,enfim vi nela alguma coisa que não sabem as palavras e que me atirou direto aos braços de um novo amor.
E mesmo assim não tínhamos coragem de declarar um pro outro o que sentíamos e foi preciso o acaso para nos juntar, a turma marcou um cinema num sábado à noite, só que depois foram todos desmarcando e sobramos só nós dois( ainda hoje acho que foi uma tentativa de turma de nos juntar, mas todos juram de pés juntos que não).
O filme era de ação e não favorecia nem um pouco algum clima de romance, mas quando ela recostou a cabeça no meu peito tive a certeza que já estávamos juntos e depois do primeiro beijo já estava rendido e como tem sido bom para mim esse amor.