Controlava a situação,
Pensando estar tudo bem.
Dava ouvido ao coração:
Tudo estava cem por cem.
Mas a consciência dizia
Que fosse bem mais prudente:
Base da sabedoria,
Que eu estimasse mais gente.
Por um tremendo egoísmo
Punha o meu mundo a perder.
Capaz de grande heroísmo,
Só pensava no dever.
Entretanto, um grande amor
Surgiu-me no auge da vida,
Dispondo em plano inferior
A tese que era seguida.
Conheci o que é paixão,
Na forma mais dolorosa:
Era forte a sensação
Dos espinhos sem a rosa.
A mulher por quem vibrava
Não me deu nenhuma trela,
Inclusive, ficou brava
Por ter caído por ela.
É que as rodas do destino
Pregou-me terrível peça:
Tinha um amante assassino
A quem tinha amor à beça.
Precisei me recolher,
Curtindo meu sofrimento.
Já não cumpria o dever,
Sem um forte desalento.
Aos poucos, fui compreendendo
Essa vida sem sentido,
Pois o mundo é muito horrendo,
Sem amor correspondido.
Foram anos de terror,
Com a vida em sobressaltos.
Quisera ser superior,
Pondo o ideal lá nos altos.
Mas a triste conjuntura
Apontou-me outro caminho:
A Doutrina mais segura
Para quem falta carinho.
Penetrei no Espiritismo,
Pensando alcançar ajuda,
Mas não foi por altruísmo:
Que o bom leitor não se iluda!
Desejava algum trabalho
Que me ferisse o oponente,
Mas me deram agasalho,
Num sentido diferente.
Demonstraram muitas dores
Muito piores que as minhas:
Em mares de sofredores,
Meus males eram gotinhas.
Se eu quisesse ser feliz,
Que seguisse a diretriz
De dar amparo aos amigos.;
Qualquer hora, eu sentiria
Acabar minha agonia,
Sem enfrentar os perigos.
Resolvi obedecer,
Sem descurar o dever,
Juntando um pouco de amor.
Já via em outras pessoas
Qualidades muito boas.
Estava a me recompor.
A paixão foi esquecida,
Pus alguém em minha vida,
Quis ter outras esperanças.
Constituí o meu lar,
Pronto para agasalhar
Uma porção de crianças.
De novo fui surpreendido,
Por não ter sido atendido
Nos desejos mais veementes.
Para não desesperar,
Acrescentei ao meu lar
Alguns petizes carentes.
Foi a minha vida assim,
Do princípio até o fim,
Um desejar sem sucesso,
Mas aprendi que é fraqueza
Não convidar para a mesa
Quem tem fome de progresso.
Não consegui quem eu quis,
Mas terminei bem feliz,
Cercado por benfeitores,
Pois cada amiguinho meu
A bondade agradeceu,
Suprimindo as minhas dores.
Ao retornar ao etéreo,
Quis desfazer o mistério
Dos amores que perdi.
Fui, então, esclarecido
Que havia eu escolhido
Justo os males que sofri.
Eram problemas antigos,
Revides dos inimigos
A quem causei muitas dores.
Foi preciso resgatar,
À custa de algum penar,
Os débitos anteriores.
Hoje agradeço aos amigos
A proteção dos abrigos
Dos corações generosos.
Indo em busca do assassino,
Vou mandar em meu destino:
Não vou pedir outros gozos.
A minha amada de outrora
Será como a luz da aurora,
Que ressurge a cada dia.;
Estrela no firmamento,
Causando deslumbramento:
É tema para poesia.
Já se desfez a ilusão,
Está livre o coração
Para os embates da luta,
Contudo, se for preciso,
Indicar-lhe o paraíso,
Tenho a alma resoluta.
Gostaria de dizer
Que é preciso bem-querer
P ra sentir a vida plena,
Que a dor faz parte do jogo,
Que é normal lançar o rogo,
Nos combates dessa arena.
Ao final, vem a vitória
(Não há vencedor sem glória):
Deus é pai de todos nós.
Basta seguirmos Jesus,
Em seu caminho de luz,
E modular nossa voz.
Só pretendo agradecer
Quem se dispôs a escrever
Estes versinhos p ra mim,
Mesmo sabendo perversos,
Com assuntos controversos,
Conduzindo a este fim.
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