É sagrado o treinamento
Que fazemos da poesia.
Jamais nos diga: — Eu lamento
Estar aqui todo dia.
Vamos, então, prosseguir,
Lépidos como coelhos,
Transferindo ao Wladimir
Nossos melhores conselhos.
Quem quiser participar,
Ajudando nestes versos,
Basta só se apresentar,
Sem pensamentos perversos.
A notícia que queremos
Ver aqui assinalada
É que não existem demos,
Quando a hipocrisia é nada.
Faleceu o meu compadre,
Um santarrão do pau oco,
Mas, antes, chamou um padre,
Dando-lhe o último troco.
Cá chegou na pindaíba,
Caindo logo no Umbral.
Queria subir p ra riba,
Não podia: estava mal.
Pôs-se, então, a imaginar
Como iria progredir,
Querendo o padre acusar
De ter doirado o porvir.
Falava muito em justiça,
Pensava que estava certo.
Velho hábito, a preguiça
Deixava o bem encoberto.
Chegou a pensar em Deus,
Mas arrepiou caminho:
Se não cuidara dos seus,
Se não lhes dera carinho...
Principiava a consciência
A revelar a verdade:
Era a justa conseqüência
P ra quem pratica a maldade.
Pensou na igreja da Terra,
Nas esmolas que lhe deu,
Percebeu o quanto erra
Quem só quer comprar o Céu.
Hoje sofre arrependido,
Pois não conseguiu sossego.
Quer voltar, mas eu duvido
Que tenha ao bem muito apego.
Quando o protetor lhe disse
Que era preciso estudar,
Desconversou, contradisse:
Só pretende reencarnar.
O compadre é bem teimoso,
Não sofreu o suficiente:
Da carne deseja o gozo.
Talvez volte bem doente.
São injunções desse carma
Que põem mistérios na vida.
Quem co a verdade se arma
De progredir não duvida.
O sofrimento presente
Pode ser atroz remédio,
Que nosso coração sente
Como do carma o assédio.
Quer o homem dominar
Os cordéis de seu destino,
Mas quem põe barco no mar
É p ra receber ensino.
Vamos, pois, agradecer
Toda nossa desventura:
Se cumprirmos o dever,
Noss alma será mais pura.
Conversei com o compadre,
Quis saber o que queria.
Queria encontrar o padre
Que lhe tirou a alegria.
Perguntei o que faria
Com tal oportunidade.
Disse-me que lhe daria
A mesma “felicidade”.
Não gostei dessa resposta
E lhe disse francamente.
Respondeu-me: — “Se não gosta,
Diga o que lhe vai na mente.”
Foi, então, que começou
A jornada do saber.
Para encurtar, hoje eu vou
Pedir-lhe p ra compreender
Este poema que estou
Terminando de escrever.
Espero em Deus, finalmente,
Que aceite a lição do Pai,
Pois voltar a ser semente,
Com certeza, ninguém vai.
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