Querido amigo escrevente,
Cá viemos novamente,
A ditar nossa poesia.
Fique conosco contente,
Pois atender esta gente
Só lhe trará alegria.
Quero trazer algo bom,
Para orientar as pessoas,
Pois nem todas têm o dom
De entender as coisas boas.
Com esta ajuda do etéreo
Nem assim há de se crer:
Fica envolto em mau mistério
O que não dá para ver.
Mas bons olhos têm a alma,
Quando a fé explica tudo.
Neste ponto, leva a palma
Quem for menos carrancudo.
Conselhos eu não daria,
Se tivesse mais juízo.
Mas, em forma de poesia,
Que importância tem meu siso?
Seja valente na vida,
Que a morte chega p ra todos.
O lírio é flor que convida
A meditar sobre os lodos.
Se existe um dom de poeta,
É que existe um deus do Amor,
Que busca lançar a seta,
No coração deste autor.
Sentimentos têm grandezas
Difíceis de compreender,
Caprichos e sutilezas,
Ossos duros de roer...
Raramente encontraremos
Facilidades totais:
Quem empunha estes remos
Tem de se aplicar bem mais.
Por isso, vou eu levando
As estrofes co a barriga,
Que me fogem do comando
As facetas desta briga.
Se tenho um ótimo tema,
Falta-me a inspiração,
P ra terminar o poema,
Imprimindo-lhe emoção.
Outras vezes este lance
Demonstra todo o meu brilho.
Mas não há quem não se canse
De repetir o estribilho.
Falando bem à vontade,
Vou levando a minha rima,
Com grande precariedade,
Como já se viu acima.
São toscos versos sem lei,
Que pedem licenças mil.;
São bem perversos, eu sei,
Mas azuis, da cor do anil.
Já não tenho muita fé
De concluir a contento.;
Mas basta dizer que é
Tudo um simples treinamento.
Resolvo logo a parada,
Com um toque bem dramático.;
Era pouco, vira nada:
Agora é melodramático...
Quem ousar seguir-me lendo
Estes versinhos que escrevo
Jamais vai ficar sabendo
Se disse tudo o que devo.
É que tenho de ficar
De castigo até o fim.
Embarquei, saí ao mar:
Ninguém tem pena de mim.
Mas vou dando trela ao tema,
Que jamais me vi perdido.
Hoje o escrevente é quem rema
Conforme sopro ao ouvido.
Por ter poucas pretensões,
As quadrinhas logo eu faço.
Existem hesitações,
Mas as rimas caem no laço.
Vale a pena resolver
O problema destes versos,
Pois, cumprindo este dever,
Sofrimentos vão dispersos.
Esquecer da vida as dores
É auxílio poderoso
Que nos dão os protetores,
Ao ruir da vida o gozo.
Não desejo terminar
Sem sequer me referir
Ao meu lépido auxiliar,
O paciente Wladimir.
Hoje está mal de saúde,
A cabeça transtornada.
Mas não tomou a atitude
De ficar sem fazer nada.
Vou passando as instruções,
Que nem tudo está perdido:
No mundo das ilusões,
Algo sobra divertido.
Encerrando estes meus versos,
Alguns bastante perversos,
Oro a Deus com muito gosto,
Agradecendo este dia,
Com mui profunda alegria,
Sorriso franco no rosto.
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