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Textos_Religiosos-->FALANDO DE EVOLUÇÃO -- 26/02/2005 - 13:05 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
WLADIMIR OLIVIER







FALANDO
DE
EVOLUÇÃO



AMIGOS DA VERDADE









Edição da CASA DO MÉDIUM

Rua Cinco de Julho, 1184
Indaiatuba — SP



ÍNDICE


Nota explicativa ......................................

EQUIPE I DOS AMIGOS DA VERDADE

Introdução ............................................
1. A hora da decisão .....................................
2. Fatores do progresso ..................................
3. A primeira etapa ......................................
4. Pequeninos ganhos .....................................
5. A preparação ..........................................
6. A oração ..............................................
7. Consagração ao trabalho ...............................
8. Subserviência ao amor .................................
9. A luta ................................................
10. Rebeldia ..............................................
11. Pesadelos .............................................
12. Socorro ...............................................
13. O lucro ...............................................
14. As virtudes ...........................................
15. Distúrbios emocionais .................................
16. O exame ...............................................
17. Desleixos .............................................
18. Repouso ...............................................
19. Temores ...............................................
20. As categorias .........................................
21. A prece ...............................................
Palavras finais .......................................


EQUIPE II DOS AMIGOS DA VERDADE

1. Opinião ...............................................
2. De novo ...............................................
3. A honestidade .........................................
4. A lealdade ............................................
5. Revelação .............................................
6. Desenvolvimento mediúnico .............................
7. O desespero ...........................................
8. Opositores ............................................
9. O bem-querer ..........................................
10. A hora de chorar ......................................
11. O vibrião colérico ....................................

Derradeira página .....................................


APÊNDICE — TEXTOS PREPARATÓRIOS E COMENTÁRIOS

1. Primeiras palavras ....................................
2. Pressupostos ..........................................
3. Especificações ........................................
4. Experimentos ..........................................
5. Equipe da Justa Medida ................................
6. O parto da montanha ...................................
7. Esclarecimentos .......................................
8. Sob forma de comentário ...............................
9. Pequenos informes .....................................
10. Agradecimento .........................................
11. A utilização da datilografia ..........................
12. Explicações ...........................................



NOTA EXPLICATIVA


Falando de Evolução tem por objetivo auxiliar as pessoas na análise de suas reais condições espirituais, oferecendo recursos para a suplantação das deficiências detectadas. Não se trata de obra acabada, perfeita, apesar do empenho dos mentores da Escolinha de Evangelização ter-se dado no sentido de propiciar aos alunos da Equipe dos Amigos da Verdade totais condições de trabalho, favorecendo, inclusive, que houvesse a possibilidade de transmissão mediúnica estando o escrevente em estado de meio sonambulismo. Outra novidade foi a refacção que se fez de todos os textos, já que a equipe não alcançava a formulação ideal em sua primeira transmissão.
Cremos que poucos grupos tenham deixado tantas instruções para orientação do médium, como se poderá verificar através da leitura dos textos colocados em apêndice. Isto facilita esta nota quanto à necessária exposição dos métodos, pois basta agora remeter o leitor para a última parte do opúsculo.
Rogando a Deus nos dê a convicção de termos conseguido cumprir nossa tarefa, deixamos a obra nas mãos do leitor, juntamente com o nosso coração.


A Equipe dos Amigos da Verdade trabalhou no período de 20.12.91 a 19.3.92. Cumpre o médium a obrigação de tornar público seu agradecimento pelo treinamento a que foi submetido pelos irmãos desta turma. Falaram de evolução, propiciando ao escrevente, concomitantemente, o ensejo de desenvolver a sua mediunidade. Que Deus os abençoe!










EQUIPE I DOS AMIGOS DA VERDADE













INTRODUÇÃO





Não se espere de nós qualquer malabarismo mediúnico que coloque o leitor em êxtase. Se fosse desejo nosso impressionar, procuraríamos médium de efeitos físicos e provocaríamos algum rebuliço, como o arremesso de objetos, o atear de fogo em materiais não comburentes etc. E qual o real proveito disso? Quem desacredita dos fenômenos psíquicos de origem espiritual lucubrará nomenclatura específica, para desnaturar a atividade. Assim sendo, não nos basta deixar o povo boquiaberto. A prestidigitação, deixamo-la para os seres que temem a permeabilidade entre os planos, necessitando vasto caminhar para a compreensão dos princípios mínimos que regem a vida.
Interessados estamos em discutir o procedimento individual, em função da orientação para o cumprimento das diretrizes evangélicas do Senhor Jesus. Incitaremos o raciocínio por meio de arrazoado extraído da verdade bíblica, no intuito de conduzir seguro conhecimento do carma. Eis, portanto, que o refreamento dos impulsos deletérios é o que nos importa categorizar como factível de realização. Caso, entretanto, persista o alheamento dos mortais pela fraqueza da exposição, pela pobreza das expressões e falta de vigor doutrinal, já que somos aprendizes junto à Escolinha de Evangelização, paciência! Restará a possibilidade da recomendação da leitura de tantas e tantas obras de idêntica origem, com igual destinação.
Não teremos conosco irmãos sofredores, para doutrinação e encaminhamento, nem demonstraremos que é a dor que se constitui no princípio emulativo da recondução aos parâmetros da virtude divina. Amai-vos uns aos outros é a luz que nos guiará os passos e que nos fará incitar para o bem.
Parece-nos óbvio que não poderá haver recompensa para quem não se dedicou à vida com morigeração, sem ânsias de prepotência. Por isso, não nos estimula o incremento do terror como norma de advertência. Que cada qual responda por seus atos: eis a chave do mistério. Temos, nós também, compromissos assumidos, o que fundamenta o objetivo de propiciar aos irmãos encarnados os recursos racionais para sua deliberação e controle de vida no seio do Senhor.







1

A HORA DA DECISÃO





Há, para todos os indivíduos, certo momento em que devem assumir responsabilidades. Precede esse instante longa meditação em que os conceitos se formam, no sentido de darem fundamento moral aos desejos de progresso. Aí se toma a decisão, que é hora sagrada de profundo recolhimento espiritual, quando se está perante Deus, com a consciência aberta e devassável.
Não nos cabe interferir com a mínima observação, no intuito de direcionar esse lúcido debater íntimo contra as más tendências, pois cabe a cada qual fixar como critério a ordem evangélica, que subsidiará todos os atos futuros. Sendo assim, é de prece e de compunção esse instante de supremo enlevo, já que é impossível o resgate de débitos, sem que se dê a exata compreensão dos valores da existência e dos comprometimentos da vida.
O levantamento deve pretender ser completo exame das motivações das realizações do conjunto de idéias, de objetivos, de filosofias que justificaram o procedimento até aquele ponto do desenvolvimento pessoal, o que inclui a vida atual, os interregnos passados no etéreo e todos os encarnes anteriores. O mais das vezes, acontece esse balanço na erraticidade, durante o impedimento natural de reformulações imediatas, a não ser quanto às intenções. Há, entretanto, na vida, momentos de intensa meditação, em que todos os atos são passíveis de análise e avaliação. Se a pessoa puder contar com avisos como o desta mensagem, inevitavelmente terá melhores condições de prosseguir empenhando-se pela reformulação do procedimento, em função da pregação cristã.
É lamentável que muitos deixem passar a oportunidade da reflexão cármica, adiando indefinidamente a hora da recomposição dos objetivos, segundo a orientação de Jesus, enquanto outros, precípites, julgam ter tomado as decisões mais sábias, crentes de que nada têm para ser modificado no comportamento. Por isso, há dificuldade muito grande, o que nos faz insistir em que o momento da decisão deve ser precedido de muita reflexão a respeito de todos os valores admitidos como corretos, mesmo que, muitas vezes, preteridos em função de ideários sociais mais atraentes do ponto de vista material.
E quais são esses princípios que devem nortear a integração do indivíduo no chamado reino de Deus? Em primeiro lugar, vem a firme decisão de acatar as divinas leis como normas, evitando-se, por conseguinte, julgar o amor e as virtudes como prendas desprezíveis. Por isso, é imperativo que, lucidamente, se compreendam os atributos da magnanimidade e da benquerença universal como inerentes à alma dos que ingressam no reino do Pai, o que pressupõe a inexistência absoluta do egoísmo, do orgulho, da vaidade, da hipocrisia e da má-fé. É necessário ver no irmão o semelhante em condições de crescer diante dos olhos de Deus.
Eis que a nossa pregação se confunde com os ensinamentos de Jesus em seu evangelho de amor. Se algo provocar suspeita no texto, no sentido de ferir a mensagem cristã, então que se alerte o consulente para a ênfase que deverá atribuir à palavra do Senhor.
Fique, portanto, irmão caríssimo, à vontade para iniciar a sua hora da verdade. Que Deus o inspire, para que haja felicidade em seu coração!







2

FATORES DO PROGRESSO





Embora concebamos a evolução como um continuum em crescendo, admitimos a possibilidade de vislumbrar fases de progressão definidas através dos seus fatores preponderantes. Assim, se nos for permitido, avaliaremos todo o processo conforme perspectiva meramente didática para tornar o discurso assimilável e, à vista disso, possível de vir a ser aceito como princípio aconselhável para o desenvolvimento dos leitores mais humildes, daqueles que esperam dos textos algo em que se apoiar para a compreensão da existência. Sendo assim, vamos principiar.
Em primeiro lugar, é de todo conveniente que a pessoa se coloque na posição de receber influenciação de caráter espiritual. Não há necessidade de envolvimento mediúnico, no sentido de comparticipação dos fluidos vitais, para sábio entendimento dos dizeres que lhe chegam pela forma de mensagens descodificadas e explicitadas. Entretanto, deverá ter suficiente bom senso para equilibrar-se diante das informações adquiridas, ou não se harmonizará com o todo universal.
Se estivéssemos interessados em, simplesmente, elaborar doutrinas do bem viver, bastar-nos-ia citar o conjunto filosófico a que se convencionou denominar de zen-budismo ou zen. Como, entretanto, é objetivo nosso ultrapassar os limites da contextura de vida realizada pelos encarnados, alargando a visão para a formação espiritual como seqüência de enriquecimentos, que prevêem estágios evolutivos diferenciados para cada ser, não iremos incentivar o estudo dessa ideologia estranha, para a qual não há propensão de aceitação da parte dos ocidentais, sobretudo porque individualiza o desempenho, em evidente contraste com as teses kardecistas. Além disso, há sempre que se considerar a pregação de Jesus, em que o amor ao próximo é das leis a segunda, inferior apenas ao amor a Deus.
Por outro lado, é preferível estabelecer contato por meio da nomenclatura mais consentânea com o discurso espírita, o que nos remete à doutrina como fonte em que buscaremos basear os conhecimentos.
Vencida a primeira fase, em que se dá a aceitação não só da possibilidade do contato, mas também da necessidade de influenciação, deparar-nos-emos com o segundo aspecto de profundo significado: a deliberação de se assumir a vida como definição de estatuto normativo, em função de procedimento moral superior. Não será suficiente acatar as recomendações dos mestres iluminados, senão que é absolutamente imprescindível que se assimilem completamente os direitos e deveres estabelecidos para a cidadania celestial, segundo os padrões vigentes no reino de Deus, em ideal antecipação dos preceitos que regerão o proceder, quando estivermos filiados às hostes do Senhor. É decisão de profundo respeito pela criação, sem resquício de violação dos princípios cármicos.
Uma vez estabelecido que se deseja, realmente, fixar-se nas diretrizes emanadas do plano mais elevado, há necessidade de se exterminar dos hábitos tudo o que represente presilha material, tudo o que possa constituir-se em empecilho para o completo envolvimento com as falanges de Jesus, havendo de se passar por completo expurgo das estruturas mentais que agem em nós independentes da vontade. Este período de autodomínio é difícil de realizar, pois exige pleno conhecimento de si mesmo na busca profunda dos elementos constitutivos da personalidade. Há o indivíduo, para isso, que se projetar para o mundo exterior, capacitando-se a compreender a matéria em seu exercício de influenciação. Não se trata de incentivo ao anacoretismo nem à mistificação. Trata-se de inevitável fase de conduta coerente, em que se opera a densidade corpórea por meio da reflexão, atribuindo sentido a todos os fatos que ocorrem na vida.
Se utilizássemos terminologia mais ou menos filosófica, diríamos que é o momento de bem caracterizar o acidental, para se poder ater à essência do indivíduo como criatura de Deus. Tal trabalho se estenderá por séculos e ter-se-á como concluído quando atingido o conhecimento integral da personalidade, preparando-se o indivíduo para prosseguir a carreira evolutiva em círculo mais elevado.
Eis o limite do conhecimento. Embora estejamos muito longe de atingir esse apogeu, não nos é proibido conhecer os caminhos que levam a ele.
Caso pareça ao caro amigo que se estenderá na peregrinação por muito tempo, devemos deixá-lo ciente de que pode haver longos períodos de estagnação do indivíduo desatento, enquanto o grupo avança e se distancia. Há que se ir com cuidado, abraçando com carinhoso afeto este prisma da vida que se oferece como apanágio para quem se capacitar ao entendimento da verdade, evitando-se as sofridas suspensões que levem ao desespero. A compreensão dos atributos essenciais gera a ânsia de se sentir vitorioso sobre a dor, mas requer do ser consciente total desprendimento dos interesses que o manietariam à carne. Por isso, propugnamos que o amigo se compenetre de que a vida espiritual é o supremo objetivo do homem como indivíduo ou como elemento integrado à sociedade. Estacionar significa, neste caso, irremediável retrocesso, à vista do deslocamento uniforme que o grupo busca imprimir aos seus movimentos.
Haverá, contudo, instante em que serão alvas as nossas vestes, que resplenderão de nossas virtudes, a demonstrar que estamos sendo impelidos pelos bons sentimentos de cooperação, de integração comunitária e de solidariedade. São marcas do desenvolvimento dos seres que ultrapassaram os sofrimentos provindos das culpas e que encontram graça diante do Pai.
Eis a importância destes textos: a de abrir a mente do encarnado para o destino, não o possível, não o provável, mas o previsível, o inexorável. Tornar mais próxima a fase de harmonia com o todo é mérito individual, independente de auxílio externo; contudo, incentivar para isso é missão de alto significado socorrista.
Eis que se completa o círculo da mensagem. Pretendemos ter trazido para o espírito do irmão a lembrança de seu destino maior. Pretendemos ter propiciado instantes de amarga insegurança, diante da flacidez da vontade perante a imponência do plano condensado da matéria. Pretendemos ter provocado certa hesitação, para quem estivesse prestes a profundo mergulho na obsessão falaciosa da grandiosidade humana. Pretendemos ter fornecido elementos para reflexão e poesia, pois projetar a mente no regaço do Senhor é próprio dos bons e dos puros.
Fiquemos nas mãos do Pai, que é hora de retornar ao bulício natural dos eventos. Que se dê esse reingresso com maior paz interior e perfeita harmonia cósmica!







3

A PRIMEIRA ETAPA





Se o preceito que estipulamos foi a aceitação integral da tese da dicotomia matéria/espírito, tal princípio não deverá ser admitido sem longa peregrinação pelo conhecimento. Floresce, assim, a necessidade de se perlustrar os bancos escolares, na busca da sabedoria.
Cabe esclarecer, dentro de parênteses, que toda a humanidade terá de ser salva, não se dando a ninguém o direito de fuga desta fase de profundo desenvolvimento intelecto-sentimental. Pode-se afirmar que há indivíduos bons e dignos, apesar de ignorantes das operações fundamentais da matemática. Pois há hipótese mais séria: há os que mal conseguem articular algumas palavras sem nexo, tal é sua defasagem em relação aos demais, e, no entanto, terão de progredir como se dotados estivessem de genialidade.
Como considerá-los à luz de nossa proposição? É que o acidente deste encarne se determinou por razões cármicas imponderáveis, antes que houvesse perspectivas de progresso. Para tais pessoas se abrem em leque as opções, tão inferior é o seu estágio. Contudo, para o seu crescimento até o nível de razoável entendimento, há sendas abertas pelo Senhor.
Importa-nos deixar claro que a decisão de caminhar com o Cristo requer significativa dedicação aos estudos, em todos os ramos do saber. Sem esse conhecimento, não há progredir. Dizer-se que se é incapaz, que é impossível a evolução mediante limitações ponderáveis, é restrição indébita à lei geral do progresso.
Como se sabe, é o potencial humano minimamente aproveitado. Colocar-lhe obstáculos é forçar-lhe a própria natureza, é deixar-se embalar por fantasias de comodidades, em nome de necessidades de circunstância. Sirva-nos de roteiro o capítulo anterior para a elucidação deste tema. Será que não se haverá de enxergar a essência para se obter a exata noção do que se espera de cada um? Como observar o fenômeno em profundidade, sem se aplicar a seu conhecimento? Como saber, sem extensa peregrinação pelos meandros e intimidades de cada tópico em que se divide o todo?
Este enquadramento ótico da necessidade do desenvolvimento intelecto-sentimental força a que cada qual adquira o desejo, a vontade, a ânsia de progredir. Se o Cristo nos incentivou ao amor, indiretamente solicitou que conhecêssemos o mundo interior para fazer germinar tal sentimento.
Ninguém decide: "É chegado o momento de dedicar-me amorosamente ao próximo", e, a partir daí, passa a agir segundo tal prisma filosófico-religioso. É necessário que haja séria reflexão a respeito do objeto da nova preocupação, para o que se exige amplo conhecimento de todas as reações subjetivas. É preciso ir à procura das causas que coagiram o indivíduo a, até então, recusar-se ao procedimento de acordo com as normas evangélicas.
Por outro lado, o que é igualmente dificultoso, há que se examinar detidamente o mundo exterior, de sorte a não se desperdiçar o esforço, ficando-se impedido de alcançar os resultados colimados, através da aplicação do princípio do amor.
Note-se que estamos a referir-nos somente à segunda parte do mandamento, pois, para se satisfazer ao princípio do amor a Deus, haver-se-á de ir muito mais longe, em ambos os aspectos do conhecimento, quer na descoberta da realidade interna, quer na investigação do mundo objetivo.
Para que o discurso não se restrinja ao campo das abstrações, digamos que seja o indivíduo honesto operário, trabalhando em fábrica de fósforos e ali exercendo as modestas funções de embalador de mercadorias prontas. Tal indivíduo talvez venha a refugar oferta de trabalho que pressuponha conhecimentos elaborados a respeito de todo o processo de fabricação. Tem consciência de suas deficiências, embora saiba que outros operários existam que se dedicam à produção de isqueiros e outros de aparelhagens eletrônicas para a produção de faíscas que queimarão os gases. Evidentemente, através de conhecimentos químicos adequados, pode despertar para o aprendizado de como se produz o fósforo. Mas, se se ativer a ficar na época do descobrimento dos efeitos dos atritos da madeira para a obtenção de fogo, não terá reconhecimento algum junto aos membros da moderna civilização. E por quê? Porque não evoluiu. E, sem o simples conhecimento da existência do palito de fósforo, não terá sequer como se propor a ser admitido na fábrica. Sua mentalidade precisa ajustar-se aos princípios atuais da cultura.
É o que se passa em relação a todos nós quando nos apresentamos à porta do paraíso. Havemos de comprovar que conhecemos os meios adequados de produção da luz espiritual.
É extremamente comum encontrarem-se pessoas que não respeitam o princípio da necessidade do saber. São de opinião que a sociedade produz todos os ingredientes necessários para a manutenção das riquezas dos poderosos, esquecendo-se de que é do trabalho que nasce a função da vida, antes de ser mero artifício de dominação.
Sem derivar o raciocínio para áreas do contato político, aí também há que se estudar o relacionamento entre os seres para se poder emitir conceitos válidos. Dizer que estão os homens neste ou naquele ponto de evolução, tendo em vista que estagnam em certos patamares, por força de coações materiais, é estar muito aquém da verdade. É esse estudo que faz falta para a maior parte das pessoas. A reflexão a respeito do todo como conseqüência da criação, da realidade circunstante como produto de fatores superiores é o que se exige de quem se propôs a investigar a intimidade das razões que obrigam à vida e à existência.
Destinemos mais tempo ao estudo, mesmo que não tenhamos sido apaniguados por grande poderio mental. Não importa: ingressemos em algum instituto de ensino elementar e iniciemos o aprendizado de amor. O que importa é a predisposição mental com que abraçaremos o conhecimento, pois o respeito a Deus deve presidir todos os atos, por mais humildes sejam.
Não iremos além neste aspecto do humano progredir, posto não possamos deixar de afirmar, peremptória e categoricamente, que é o homem responsável pelo seu caminhar com Jesus.







4

PEQUENINOS GANHOS





Um dos maiores obstáculos que temos sentido junto aos encarnados é a reação de desagrado que têm diante da constância das assertivas dos mensageiros do etéreo de que o homem se distancia do reino de Deus.
É no fundo de seu orgulho que a humanidade se presume dona do destino, como se possível fora afastar-se do poder divino. Cada pessoa, no recesso do coração, sonha com o dia em que usufruirá felicidade perfeita, mas são poucos os que incluem o Criador em seu ato, pois são incapazes de caracterizar esse desejo como dom universal, como próprio da natureza espiritual, já que, na maior parte das vezes, ser feliz significa mais dinheiro e poder de influenciação social.
Admitida a lei do trabalho como norma essencial da vida, e não como necessidade momentânea, haveremos de, forçosamente, reivindicar outro prisma para encarar o conceito de felicidade, pois só o esforço representará motivo válido de todo júbilo, com a plena consciência de que o resultado será irreversível ponto de evolução.
Se evoluir significa aperfeiçoamento, qualquer seja o ângulo de visão do observador, é preciso considerar que existem infinitos pontos a serem conquistados, para que haja a concretização do ideal de perfeição. Assim, é obvio que, se colocarmos como objetivo a ser alcançado essa virtude excelsa, iremos ter de esbarrar, de imediato, na condição mais evidente das criaturas: a sua inferioridade diante da vida e da existência.
Irmãos, coloquemo-nos sob ótica nova diante das vergastadas desferidas pelos espíritos que querem impor-nos, desde logo, a norma do bem servir, para que obtenhamos a regalia de alcançar os níveis mais elevados. Acatemos as palavras de incentivo, lembrando-nos de que mui paulatina será a ascensão.
Visa o texto amainar os entusiasmos, com proficiente aceitação das responsabilidades da vida, uma vez que não há encarne que tenha por meta aperfeiçoamento integral. Existem até os que configuram pontos bem próximos para o avanço, de molde a não se sentirem frustrados diante da condição do encarne. São preferíveis vitórias mínimas a grandes derrocadas, pois nada há mais desagradável do que obter como resultado da avaliação a necessidade de vir a ter de saldar novos débitos, quando o que se visava era o alívio das dívidas.
Não se desespere, por se sentir muito pequenino diante da súplica de Jesus. É que o Mestre tudo deveria dizer para não ser acusado de falsário, pois se colocava na posição do messias, do ungido, que traria a salvação à humanidade. Eis que Jesus, apesar de todo o sofrimento que lhe foi imposto, perdoou os que o crucificavam, exortando o Pai que tivesse comiseração pelos ignorantes da ordem moral. É, pois, mais do que evidente que deve ser esse o prisma de nossa visão relativamente às fraquezas. Arrependamo-nos se, deliberadamente, ferirmos os semelhantes e desfaçamos as ações malfazejas, impregnando de amor os atos, em busca da harmonia que deve reinar entre os homens. Não nos massacremos moralmente por reconhecermo-nos em fase existencial tão primitiva. Se não alcançarmos o próprio perdão, jamais iremos admitir qualquer ato de compaixão e de soerguimento.
Considere, bom amigo, este o passo inicial na longa peregrinação atrás da perfeição, mas lembre-se de que todas as ações devem nascer-lhe no fundo do coração, como se fosse a consciência entidade incorpórea a determinar-lhe a obrigação da mudança de rumo. Se não for assim, perder-se-á o valor da deliberação por falsidade e hipocrisia.
Se é deste roteiro que o irmão vem cansando-se, paciência! Ainda prosseguiremos muito neste passo de tartaruga. Valha-nos a fábula que valoriza a experiência para a obtenção da vitória. Se bem que a lebre tenha, de fato, a possibilidade de chegar primeiro, deixa-se conduzir pela convicção da superioridade e fica pelo caminho despreocupada e inconseqüente. Fiquemos atentos nós para não nos deixarmos envolver pela volúpia de considerarmo-nos assaz perfeitos, de forma a desprezarmos a valiosa contribuição dos que insistem na demonstração de que temos de realizar, metodicamente, a análise da personalidade. Essa pertinácia só demonstra interesse e dedicação; não deve, portanto, tomar-se como rabugice e obstinação.
Assim sendo, não se volte contra as hesitações do caráter. Veja em tudo certa ânsia íntima de aprimoramento. Não se apresse, para que tenha a possibilidade de garantir a segurança de cada novo passo. Não se aventure por sendas desconhecidas. Examine bem a situação, antes de cada pequenino avanço. Não se iluda com as aparências e concretize o conhecimento mais elevado, ao aplicá-lo em cada mínimo gesto ou iniciativa. Só assim os pequenos ganhos se sedimentarão na personalidade, moldando-lhe o caráter segundo as normas evangélicas.
Essa é outra assertiva excessivamente geral, mas compreensível se lhe aplicarmos os princípios que nortearam este texto. Não há fugir: a cada menosprezo dos reais valores, restará a suspeita de que o raciocínio não condiz com a verdade. Daí a exigência do máximo de cautela, de prudência, como se devêssemos caminhar com os passos dos velhos.
Não será esse o estímulo, pois a senectude não apresenta tão-só elementos valiosos para a condução do pensamento, uma vez que está eivada de achaques, de preconceitos e de cristalizações incompreensíveis em quem deveria ter como apanágio a experiência. Mas a velhice sem perturbações, lúcida, poderá servir de modelo para que saibamos compreender que a vitória sobre os pequeninos fatos evidenciará estar sendo vigorosamente cumprido o plano de realizações.
Não sejamos gananciosos e aceitemos as palavras dos mensageiros, mesmo que não se constituam na mais perfeita manifestação do pensamento. Abramos o coração para a verdade da imperfeição. No entanto, saibamos refletir a respeito do que se encerra em seus textos, cansativamente repetitivos embora, para adquirirmos segurança no caminhar.
Não há progresso possível sem dedicação e sem trabalho. Logo, não vamos jamais imaginar que o dia esteja completo. Sempre haverá algo a mais para fazer ou sobre que meditar. Façamos por nós mesmos, pois qualquer socorro será paliativo e insuficiente. Se não fizermos, por nós ninguém fará. Aceitemos a exortação provinda dos irmãos encarregados destes conselhos, não como produto gratuito de vontade imperiosa, mas como dever do ofício de socorristas; não como exercício de caridade e de benemerência, mas como necessidade improrrogável de se colocar a serviço do Senhor, no oferecimento dos préstimos ao próximo. É trabalho que se exige; não é diletantismo estudantil.
Graças a Deus, temos podido freqüentar as aulas dos mentores, o que nos tem propiciado inúmeros elementos para reflexão. É esta a experiência que gostaríamos de ver multiplicar-se pela divulgação dos textos. Eis os pequeninos ganhos que propomos aos irmãos, frutos da perseverança no esforço da aprendizagem e da assimilação responsável, os quais virão a constituir-se na maior felicidade. Se assim for, poderemos considerar-nos premiados e aí pleitearemos maior responsabilidade e mais trabalho.
Que Deus nos ajude a todos nós, nestes empreendimentos de amor!

Vamos orar pequena prece de agradecimento pelos momentos maravilhosos que temos desfrutado.

Pai de infinito amor, queremos dizer-vos que temos a mais profunda convicção de estarmos servindo-vos. No entanto, enviai sinal de que estamos na rota certa, fazendo-nos crescer em alegria com a nossa participação nos trabalhos do grupo. Dai-nos a íntima felicidade de podermos avaliar o desempenho, como sendo justamente o que nos é solicitado pelos mentores e mestres. E que essa satisfação possa transparecer nos atos e palavras, para demonstrar aos irmãos o quanto de respeito por vós se contém em nosso coração. Gratos, Senhor, por tudo que nos tendes proporcionado. Ficai certo, Pai, de que temos procurado honrar os compromissos que assumimos. E que este bem maior possa ser levado para todos os irmãozinhos, especialmente os que se debatem nas trevas da dúvida e da ignorância. Dai também a eles, Senhor, a certeza de que crescerão em virtudes e que atingirão a compreensão necessária para o proceder evangélico. Graças a Deus!







5

A PREPARAÇÃO





O que mais atemoriza os encarnados é a perda das regalias materiais. De fato, se ouvirmos a voz do Cristo tal qual ressoa nas expressivas manifestações dos evangelistas, será bem pouca a importância a atribuir-se aos bens corpóreos, conseguidos, muita vez, através de muita luta. De repente, surge um iluminado que nos afirma estar a aspiração enganada, que, fruto do orgulho, é empecilho pecaminoso para o avanço no campo espiritual.
Não seremos nós quem irá asseverar que o Cristo estava errado ou que seus biógrafos estavam equivocados ao lhe reproduzirem os ensinamentos. Não há, contudo, como justificar o fato de se propiciar ao homem imensa série de necessidades e os meios de satisfazê-las, para, depois, simplesmente, dizer-se que estiveram em falta para com o Senhor, no momento em que, para não perecerem, buscaram agasalho e alimento.
É que os princípios do prazer, inseridos pela natureza na organização densa da carne, sedimentam desejos de aperfeiçoamento relativo a cada setor em que se segmenta a individualidade. Se, ao comermos, obtemos satisfação, surge-nos o pensamento de prolongarmos a sensação que promove o bem-estar, possibilitando saciedade e conforto, físico e mental. Haverá crime em se deleitar pelo consumo de cremes e quitutes, de doces e guloseimas, preparados com esmero e carinho, no intuito de promover alegria pelo afago do paladar?
Não vamos perlustrar as interrogações do hedonismo, pois não é objetivo nosso estabelecer qualquer censura. Visa o comentário a esclarecer possível dúvida humana quanto ao fato de ter sido o acrescentamento de prazeres à satisfação das necessidades materiais originado da própria natureza. Se os animais lutam pela sobrevivência, não buscando senão saciar a fome, por que iria a humana criatura conceber algo absolutamente incongruente com sua capacidade de consumo? Finalmente, eis o ponto crucial: desde que não há possibilidade de todos sequer preencherem os requisitos das necessidades naturais, não será o prazer de uns a condição de pauperismo de muitos, que terminam por tornar-se incapazes de equilíbrio físico e emocional?
Volvamos a Jesus. Teria o Mestre, durante a vida, rejeitado as sensações prazerosas, ao degustar seus nacos de pão? Não pretendemos discutir as teses que o consideram vegetariano e abstêmio. Mesmo que tenha havido a intervenção dos evangelistas, por razões que não nos importa considerar, não é problema que se coloque agora. Baste-nos perquirir se teria preferido o pão duro da véspera ao petisco adrede preparado para recepcioná-lo.
Se Jesus era passível de receber o influxo das sensações dolorosas, também era dotado das faculdades do prazer. Novamente preterimos a necessidade de discutir a hipótese de que portava organização corpórea não densa mas fluídica, não se tendo, realmente, deixado encarnar. Era casto, não impotente, sem que nos refiramos tão-só aos aspectos sexuais mas a todos os pontos orgânicos do prazer.
Por que tendemos a nos fixar tão demoradamente na pessoa física de Jesus? É porque julgamos justo que tenha vindo pregar a verdade com plena convicção, o que nos obriga a afirmar que tenha aplicado à própria vida todos os ensinos. Era perfeito no que pode ser perfeito o gênero humano. Sendo assim, é o exemplo maior. Preparemo-nos, portanto, para a vida e para a morte, de acordo com o sacratíssimo roteiro que nos ofereceu pelas palavras e pelas obras, sem chegarmos, contudo, ao absurdo extremo de imaginar que devamos anular a personalidade, observando como premissa da salvação o sacrifício absoluto da cruz.
Se formos capazes de equilibrada ponderação a respeito, iremos chegar, iniludivelmente, à conclusão de que não teria desejado o Nazareno ver a ferocidade dos algozes levada ao auge, tendo somente respeitado as forças cármicas que se conjugaram para impelirem-no, inexoravelmente, à condição de vítima. Para quem havia adotado a filosofia da serenidade, da paz, do amor e do perdão, em contraste com os valores provindos do magnetismo material, sob que agia a humanidade à época de seu encarne e do qual ainda não aprendeu a libertar-se, não haveria outro caminho senão o do calvário, pois não seria crível que se aventurasse no orbe terráqueo, se os dons a espargir já coroassem as atitudes humanas.
Para nós, entretanto, a realidade é bem outra. Se imersos no mundo islâmico ou em outro qualquer dominado por religião oficial da qual não há discordar nem se opor, haveríamos de nos conduzir conforme o padrão crístico do sacrifício integral, desde que, da doação, surgissem condições para efetivo proveito do ensino. Vivemos, porém, em civilização dita cristã, em que os valores evangélicos são tidos na conta de sublimes, de ideais para a consecução dos objetivos da vida. Logo, não há temer que requisitemos desapego dos bens materiais, para dedicação em caráter de exclusividade à espiritualidade.
Por outro lado, se não insistimos no sacrifício, exigimos compreensão e discernimento na elaboração das diretrizes de vida fundamentada nas virtudes exalçadas por Jesus. Não há extremismo na exortação, por conseguinte, não creiam em que estamos desejando transformar cada ser humano em fanático seguidor da doutrina espírita, como se houvesse necessidade de se criarem conflitos entre os que aceitam e os que negam seus princípios. Antes, o que pleiteamos é a humanização das atitudes, a aceitação do próximo como criatura de Deus, irmão nosso, embora, muitas vezes, distanciado das verdades do Cristo. Se não julgamos oportuno o sacrifício in extremis, é imprescindível que abramos o coração e estendamos os braços para levar aos que sofrem o lenitivo da compaixão e do amor.
A hora é de edificar, de criar condições de soerguimento, seja material, seja espiritual, de trabalhar em favor dos desvalidos. Isto não inclui dedicação cem por cento, a não ser para certos missionários, que logo se identificam e se colocam à testa dos empreendimentos, pois o que significaria algo impossível para a maioria, para eles é como se fosse a realização mais comezinha.
Vamos compreender, irmãozinhos, que a instrução é sumamente importante, não havendo como realizá-la sem dedicação até certo ponto egoísta, já que se trata de se compenetrar de que algo deveremos fazer por nós, se considerarmos que não haverá progresso, se não nos conhecermos a nós mesmos, como se inscreveu no frontispício do templo de Delfos, para fixação no inconsciente coletivo da civilização ocidental. E esse inteirar-se de si mesmo deve gerar prazer, pois será o desvelamento de que estamos aptos a cumprir as obrigações cármicas.
Se, ao contrário, forte sentimento de culpa nos pressionar, causando-nos sofrimento, não nos alheemos, mesmo assim, dos princípios evolutivos e decifremos as causas dos desequilíbrios, para podermos aplicar-nos à superação dos males.
Eis que completamos o círculo da preparação. Situamo-nos diante da consciência, felizes ou infelizes, mas apetrechados para enfrentar o labor da regeneração ou para receber o prêmio da participação nos trabalhos da redenção. Singularmente ou coletivamente, perlustremos o caminho da verdade, orando fervorosamente para que isso se dê, para honra e glória de nosso salvador, Jesus Cristo.







6

A ORAÇÃO





Pode, para muitos, parecer precípite a decisão de assinalar, desde logo, o lugar da oração no caminho evolutivo. É que rejeitam as pessoas a idéia de que não devam seguir sozinhas, uma vez que confiam em suas forças. Já os velhos, os doentes, os fracos sabem que não lhes é dado todo o poder de concretização dos pensamentos e, por isso, apelam para o etéreo, seja qual for a crença, solicitando ajuda para a resolução dos problemas.
O que a mediania humana desconhece é que são a fraqueza e a impotência a sua condição normal, já que têm a impressão de domínio de todas as circunstâncias. Pessoas há que aparentam grande independência, por suspeitarem-se dotadas de força capaz de submeter inclusive as entidades do plano espiritual.
A natureza, todavia, que é pródiga em dar, também é sábia em tirar, de modo que toda robustez física e intelectual, um dia, desvanece. Há velhos que têm a impressão de jamais terem perdido seu élan juvenil; é que não se compenetraram de que a existência na carne pressupõe passagens obrigatórias, sendo a debilidade física uma das mais importantes, para que haja fortalecimento dos aspectos espirituais. Devemos mencionar que os fatores desses desvios de procedimento são mais encontradiços junto aos homens, pois poucas são as mulheres que não perdem o natural pendor para o fascínio, que é o dom que fundamenta sua arrogância vital. Os homens que permanecem ativos intelectualmente são os que mantêm a ilusão da prepotência.
Não nos afastemos do tema que nos trouxe à presença do amigo leitor: a necessidade da oração.
Em dias comuns, a prece entra no corpo das atividades em harmonia com as obrigações e deveres. Pessoa equilibrada reserva preciosos momentos para concentrar-se, em busca de entrar em conjunção emotiva com as forças espirituais que a cercam e protegem. É imperioso que se aceite a existência dos orientadores e mentores, espíritos guardiães ou anjos da guarda, que devem velar para que as programações de vida se realizem. É esse constante retorno às premissas do encarne, por meio do contato com os vigilantes espirituais, que vai facilitar arraigar-se na consciência a verdadeira concepção da vida, pois é indício seguro tal submissão à apreciação dos protetores de que existe a pretensão de dar à humildade a condição de virtude essencial para o desenvolvimento. E a prece nada mais é do que o sinal de que essa importante conquista está em andamento.
Como deve ser a prece? Sentida, compungida, confrangida, emotiva, ou racional, operosa, direcionada para os problemas, ou enaltecedora dos dons recebidos, agradecida, efusiva, alegre... Deve ser conforme com a necessidade psíquica, pois deve evidenciar o estado passional em que se debate a criatura.
Nada há de mais grandioso que se abrir o coração a Deus, sem esconder-lhe nada na vã e inútil tentativa de obtenção de regalias indevidas. Se o indivíduo persiste em sua hipocrisia, dizendo algo que seus atos contrariam, não terá sobre que conversar com o Senhor, afastando ainda os amigos da espiritualidade que poderiam auxiliá-lo, já que nada repugna mais aos justos e honestos do que a tentativa de estabelecer prevalência sobre as criaturas.
Assim, dizer um pai-nosso da boca para fora traduz péssima disposição do aparato moral e, em lugar de se conquistar simpatias, só se obtém a presença de espíritos inferiores, desejosos de tripudiar sobre os encarnados em fase de acrescentamento de débitos.
Havemos de orar, irmãos, de peito aberto e de alma lavada nas lustrais águas da verdade e da pureza. E o nosso pedido mais instante incluirá a compreensão das leis que se aplicam ao nosso caso, pois os estados de revolta se dão por não estarmos aptos a entender os pontos que estamos infringindo. Esta cegueira dá origem às injustiças contra o irmão e contra Deus. Solicitemos, pois, integral compreensão para o exercício do livre-arbítrio, já que temos obrigação de responder responsavelmente por todos os nossos atos.
Não vamos encerrar sem manifestarmo-nos religiosamente, agradecidos ao Criador, reconhecendo, resignadamente, que sempre estaremos dependentes de sua infinita misericórdia:

Pai de amor e bondade, eis-nos diante de vós para exprimir o desejo de evolução. Tudo depende de nosso desforço, mas é capital que expressemos o nosso júbilo, para compreendermos o preço do progresso. Fazei, Senhor, de nós humildes servos, prontos para o socorro aos necessitados, impedindo-nos de ensoberbecermo-nos diante da fragilidade das outras criaturas ou de invejarmos o bom desenvolvimento dos que se nos apresentam superiores. Dai-nos a convicção de que temos realizado o melhor de nossa capacitação na consecução de nossos ideais. Aceitai, querido Pai, este agradecimento por tudo de bom que nos tendes proporcionado. Reconhecendo que nosso estágio é rudimentar e nossos méritos, insignificantes, ainda assim vos suplicamos que deis às humanas criaturas condições de serem guindadas aos páramos celestiais. Graças, ó Deus, vos damos, pela beleza, pela pureza, pela força e pela inteligência. Preservai-nos essas qualidades, pois, sem elas, não alcançaremos a bênção da redenção e fazei-nos compreender que devemos amar-vos sobre todas as coisas, fazendo pelo nosso irmão como desejamos que façam conosco. Assim seja!

O amigo leitor pode modificar a prece em todos os termos, desde que preserve o sentimento da humildade, para configurar a existência, em sua alma, das virtudes evangélicas imprescindíveis para a salvação.
Quanto ao momento de dizer a prece, toda hora é oportuna, caso esteja o coração livre das injunções que o prendem às mesquinharias mundanas. Lembre-se das recomendações de Jesus, concorrendo para que haja recolhimento e boa vontade. Jamais se canse de repetir as velhas fórmulas do pai-nosso, que é a expressão máxima da religiosidade universal. Outras orações existem em que as palavras parecem brilhar com mais intensidade. Reconhecemos o fato, especialmente quando nos lembramos das preces de Cáritas e de Francisco de Assis, mas, como expressão de maior envergadura espiritual, o ensino do Mestre ainda é a manifestação mais sublime que se possa endereçar ao Pai.
Vamos recolher-nos ao hábito mais saudável: a meditação. Esforcemo-nos por inteirar-nos das verdades contidas nesta mensagem e acrescentemos outros argumentos extraídos de nossa experiência e de nossa acuidade intelectual, mas não deixemos de valorizar a oração como o meio mais eficaz de integrar-nos na criação.







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CONSAGRAÇÃO AO TRABALHO





Desde que estejamos predispostos a evoluir, temos de aceitar como premissa do progresso todo esforço. Se, mais tarde, estivermos reconhecidos por haver atingido graus elevados de perfeição, haveremos de distinguir o quanto deveremos a essa predisposição. Elejamos, pois, o trabalho como eficaz meio para atingirmos as metas que se proporão como roteiro de vida.
É o trabalho o veículo do progresso; seria estultice, porém, cotejar o esforço para a produção de riqueza material com a enérgica consagração ao bem que pressupõe a necessidade do avanço moral.
Quando a criatura deseja obter bens materiais em grandes proporções, começa por sacrificar justamente o que tem de mais importante na vida: o tempo. Principia por aceitar a condição da abnegação e de prolongado período de escassez, de forma a ir acumulando haveres para constituir-se no capital a ser empregado para a consecução do objetivo. Estabelece como meta a aquisição de algo maior, que lhe propiciará enormes lucros, partindo para novos sacrifícios e novos estágios de penúria. Aspira a sentir-se dono de muito, mas é como se fosse proprietário de nada.
O avanço moral, ao contrário, pressupõe a obtenção, desde logo, do bem maior: a aplicação efetiva do tempo em prol do estabelecimento da felicidade da compreensão dos benefícios morais. Assim, se deseja o indivíduo vir a ser bom, desde o primeiro instante principiará a praticar a bondade; o mesmo com a caridade, o desprendimento, o amor, a justiça, enfim todas as virtudes, grandes ou pequenas. É no exercício do próprio evento que se encontra a felicidade de sua conquista. Não há como dizer-se:
"Vou amar a Deus sobre todas as coisas, mas hoje vou ter de olvidar essa deliberação, para dedicar-me aos negócios na bolsa dos valores sentimentais."
Não há risco nem jogo no ato da decisão moral superior, não estabelecendo o trabalho concernente pré-requisitos de espera. Ou o sujeito ama ou não ama. Se ama, opera em amor. Se não ama mas pretende amar, não há como se afastar da luta para alcançar o seu desiderato, concretizando a prática em função da compreensão das falhas que induzem ao desamor. Fixar o amor como padrão e agir com ódio, com inveja, com rancor, não é possível no campo da espiritualidade.
Não é da mesma forma que se dá quando se abre mão de comer bem, de viver confortavelmente, para obter-se maiores regalias no futuro. Deitar-se em catre imundo e alimentar-se das sobras dos mercados, para resguardar futuro de luxo é mera fantasia de quem não vê na vida senão os objetivos materiais.
A média da inteligência dos humanos é alta o suficiente para entender os pontos que temos levantado. Se não corresponde a ação à intelecção é que algo se superpõe à evidência, de modo a forçá-los a agir de forma contrastante com os resultados dos próprios esforços intelectuais. Não há como deixar de acusar o pobre leitor em descompasso com a fé. É risco que haveremos de correr, se quisermos demonstrar que o coração tem razões que a mente teima em não reconhecer, parodiando a expressiva manifestação de Pascal.
Não é que não conheça os motivos que obrigam o coração a sobrepor-se às concepções meramente formais do raciocínio. É que os impulsos admitidos, os quais levaram o filósofo à sua observação, são os que constrangem os indivíduos à consecução de tarefas, de atividades, de diligências que lhes proporcionam o máximo de prazer, em confronto com os dispositivos racionais dispostos com rigor, mas que não surtem efeito sobre a vontade. Este fraquejar de um dos setores da personalidade, em favor de eventuais lucros das atitudes, é que estamos colocando para exame e rejeição.
O primeiro trabalho é coordenar as ações em perfeito equilíbrio entre o resultado das aplicações intelectuais e as premissas sentimentais, obtendo, desde logo, força de vontade capaz de impor ao conjunto a necessidade da evolução como objetivo único sobre que se estabelecerão todos os princípios das ações e reações. Não há como ocultar da visão evangélica os pequenos deslizes, que se perdoam em nome da fragilidade estabelecida como norma para o ser humano. Nada há de mais correto do que afirmar-se que errar é humano e perdoar é divino. Todavia, tornar esse dístico maravilhoso como básico para as ações é instituir o erro como premissa e o perdão como regra. Claro está que não se exige a perfeição a quem se propugna atingi-la, pois o arremesso para tal conquista se fundamenta no reconhecimento de que o que não se possui não pode reger o procedimento. Contudo, conhecer o certo, substituindo-o pelo errado, maliciosamente, resguardando-se a desculpa para aplicação em momento oportuno, é afirmar com o vulgo que a persistência no erro é diabólica.
Evoluir é trabalho que pressupõe absoluta lealdade para consigo mesmo. Não há subterfúgio quando se trata de se tornar melhor a cada instante que passa. Arremeter para o futuro a aquisição de bens é reconhecer que não se deseja honestamente pautar o comportamento pelas virtudes evangélicas. Dizer que amanhã auxiliaremos os desafortunados, é fazê-los fenecer à míngua ainda hoje, não havendo a quem oferecer os préstimos no dia aprazado. Quem pretende munir-se de caridade, que a pratique.
Esse é o trabalho. É a firmeza de decisão coerente com a vontade enrijecida pela confiança em que estão corretas as teses espirituais. Hesitações, dubiedades, indecisões são admissíveis, durante o ato, de acordo com as inumeráveis circunstâncias e das possibilidades de aplicação. Uma vez estabelecido o roteiro, porém, não há fugir dele.
Suponhamos, entretanto, que, no decurso das tribulações, inesperadamente, surpreendemos alguma irregularidade relativa à aplicação de algum princípio. De repente, descobrimos que algo não progredia a contento, por exercermos a vontade de maneira confusa, não compatível com as premissas estabelecidas. Verificamos, enfim, que o empreendimento ia realizando-se por força de alguma vaidade íntima, que não aflorara perante o arguto exame de consciência a que nos havíamos submetido. Haverá, então, que se reformularem princípios e se reajustarem diretrizes? Não. O que merece correção é o ato falho imperceptível que, finalmente, se revelou. Evoluímos para determinar com rigor o procedimento mais próximo da perfeição, sem confiar em que jamais seremos abalados por surpresas concernentes a evidências de fraquezas, já que somos seres imperfeitos à busca da perfeição. Eis o ponto em que entra a necessária compreensão do perdão, virtude excelsa que se atribui ao Senhor.
Saber reconhecer-se pequeno, observando as prescrições da humildade, da boa vontade e do perdão, é estar a adquirir não pequenos atributos do comportamento superior dos espíritos mais puros. Se se constituíssem as virtudes evangélicas no aparato moral de cada ser humano, de há muito a Terra teria deixado de ser este planeta de dor e expiação.
Encerrando o tópico, lembramos que o conceito de trabalho aqui aplicado difere essencialmente da dedicação dos encarnados em suas lides profissionais. Trata-se de esforço íntimo para a compreensão dos princípios que regulam a angelitude e a produção das sábias atitudes para o aprimoramento das relações psíquicas e sociais, no plano da realidade. Haveremos de melhor compreender o tema com a apresentação dos pontos essenciais da obra.







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SUBSERVIÊNCIA AO AMOR





O amor é o tirano que nos subjuga quando nos apaixonamos. Será que tal sentimento não se exerce com o mesmo poder de fascínio quando nos vinculamos ao Criador ou à humanidade?
Estabeleçamos, como o fizemos ao tratar do trabalho, correlação entre os fatos materiais e os eventos espirituais. O amor conjugal, ou seja, o que propende para a procriação, nasce da profunda simpatia entre os seres. Quando se apaixona, a pessoa se consagra ao amor, olvidando tudo o mais, que passa a executar maquinalmente. O amor refoge a esse princípio, pois extrapola a conduta costumeira, implementando atitudes novas no campo das realizações.
O apaixonado torna-se bom, pois transfere para as esferas do relacionamento a ventura de que se julga possuído. Mas nem sempre é correspondido. Muitos desandam diante do fracasso amoroso, como se a vida perdesse o sentido. Há os que chegam ao suicídio, sem falar dos homicidas, que se desarvoram diante das incertezas das concretizações dos ideais sentimentais.
Amar a Deus não contém tal risco, pois, se incompatibilidade existir, partirá do ser humano. Se a correspondência é tão absolutamente certa, como é que muitos se perturbam, não admitindo entregar-se incondicionalmente ao Senhor? É que, deveras, são incapazes de amar, constituindo-lhes o egoísmo em seu pendor psíquico mais arraigado. Pessoas voltadas exclusivamente para a satisfação de meros desejos individuais, não têm muito a oferecer ao mundo. São despóticas, incapazes de perceber que é necessário desprendimento para a recepção das vibrações amorosas dos parceiros de existência. Se é assim que ocorre entre os humanos e os espíritos, como realizar a submissão ao amor a Deus?
Sentir amor sem a pretensão de defini-lo é prerrogativa do ser que se envolve na aura do ente que lhe envia as sutis vibrações que o encaminham para esse espécie de alienação. Quão diferente é o senso de responsabilidade que se impõe a quem deseja amar a humanidade! O primeiro se deixa dominar; o segundo pretende dominar-se a si mesmo, para fazer vingar sua intenção.
Vamos configurar clara situação em que se dá o progresso do indivíduo no setor emocional de caráter superior no âmbito da espiritualidade.
Certa feita, estávamos enleados nos estudos do espiritismo, em virtude da leitura das obras de Kardec. Ao ler a respeito do amor a Deus e aos homens, sentimos forte empuxo intelectual para a compreensão do desejo de integração absoluta na essência existencial. Tal conhecimento, contudo, exigia completo desprendimento, como se fora possível anular-se a personalidade, em busca de tornar-se um com Deus e um com a humanidade. Aí refugamos, pois julgamos que a perda das características individuais seria crime de suicídio totalmente consciente. Foi-nos preciso prolongado meditar para configurar que a recusa em mergulharmos no oceano, como gotícula de sua composição, era fruto de pouco saudável sentimento de amor-próprio, que colocava como premissa daquele amor a retribuição do sentimento, como se fôramos capazes de absorver a totalidade das emoções universais.
Não tendo ficado clara a necessidade do sacrifício, deixamos passar a oportunidade de estender o sentimento de que nos imbuíamos para a percepção do ato de amar. Ocorreu conosco como pode estar a acontecer com o amigo leitor, temeroso de perder a individualidade, inapto para se propor ao envolvimento de sua partícula de ser diante do conjunto universal. É absolutamente natural esse receio, pois a dissolução corpórea para o encarnado significa desaparecimento da individualidade. Ora, o que é preciso ressaltar é que a conseqüência mais importante, para quem se deixa invadir pela necessidade do amor imperecível — qualidade inerente a ser incrustada na personalidade — é a consciência desse amor. Adentrar Deus é adquirir condição divina, de sorte que o ser desaparece como propriedade unitária mas ressurge na consciência absoluta do Criador.
Não queríamos encerrar o tópico sem frisar convenientemente que o caminho da compreensão é longo e tortuoso. Não há ser encarnado ou nas imediações da crosta que tenha conseguido avançar nesse sentido, pois a aquisição das virtudes evangélicas é o dom que promove a evolução, de forma a projetar a entidade para os círculos superiores, onde o conhecimento se amplia e as emoções se tornam dóceis à dominação. No entanto, pôr-nos a discorrer a respeito conduzir-nos-ia, irresistivelmente, ao campo das conjecturas, já que o desenvolvimento que atingimos não nos assegura cabedal de atributos que nos autorize a avançar tecnicamente na apreciação dos seres angelicais. Limitamo-nos, portanto, a reproduzir o que aprendemos na Escolinha.
Contudo, é fatal que todos os seres cresçam em todos os aspectos. Basta aceitar este princípio para ficar-se irremediavelmente preso às premissas do amor universal. Ajamos, pois, de acordo com esta convicção, para obtermos merecimentos que nos indiquem o caminho do progresso. Amemo-nos uns aos outros, como nos recomendou Jesus, e façamos por compreender, acatar e respeitar o amor que Deus tem por nós. Isso nos engrandecerá perante nós mesmos, tornando-nos mais propensos à felicidade. Eis o sentido último da subserviência ao sentimento do amor.







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A LUTA





É chegada a hora de enfrentar a realidade da vida. Em pleno mar revolto, sob o estrondar dos trovões, a embarcação ameaça soçobrar. É hora de procurarmos as soluções para os problemas. Em que ponto estamos? Há meios de orientação? Para que lado pender? Estamos em condições de ser socorridos? São perguntas aflitivas que nos conduzem a raciocínios nem sempre perfeitos, como a sensação de estarmos à deriva, sem esperança. Se tivermos fé, entretanto, estaremos protegidos desses distúrbios naturais. Por isso, tenhamos confiança em que seremos salvos de todos os males pela misericórdia divina, para o que abramos o coração em festa.
Ponderemos a respeito dos artifícios de que se utilizam os nossos maiores para nos colocarem na Terra. Vejamos quantos atos devem desenvolver para nos darem condições de nascimento. Terá sido tudo fortuito? Não divaguemos, sonhando de olhos abertos, supondo que tudo se dá para nosso bem-estar, esquecidos dos preços das regalias. Se é imprescindível a dor para se detectarem os males físicos, o mesmo ocorre com os distúrbios morais e espirituais, que se revelam pelo sofrimento. Assim se diz que este orbe se destina às lágrimas, à expiação, às provas.
Reconheçamos os fatos íntimos que nos impeliram ao encarne, examinando detidamente as ocorrências do dia-a-dia. São muitos os que receberam por obstáculo intransponível lesões de caráter mental. Mas esses operam durante o sono. Em vigília, ficam atoleimados, inermes, indiferentes. Aspiram, contudo, inconscientemente, pela redenção. São seres em temporária suspensão de atividades. Todavia, como consegue o amigo leitor perlustrar estas linhas, absorvendo convenientemente as idéias expressas, fica-nos claro que outras são suas condições intelectuais.
Vamos, então, tratar de frente o tema da luta. Está você disposto a enfrentar o destino? Sabe o que significa trabalhar para poder progredir? Já meditou a respeito do amor, quando percorreu o item anterior? Deseja progredir? Então, encare, face a face, os problemas da vida e considere-os desafios inteiramente espirituais.
Seu filho passa fome? Trabalhe, consiga dinheiro, compre-lhe o pão da vida. Não há trabalho? Resta minguar até a morte? Erga os olhos ao céu, pedindo ao Senhor força moral para enfrentar a aspereza da provação. Não será jamais útil qualquer rebeldia. Há, sim, a prece restauradora da paz. Há o auxílio espiritual para o recebimento das almas, a fim de serem proporcionados tratamentos adequados. Há vida após a morte, de forma que se não pode colocá-la como derradeira manifestação do ser.
Tem este tópico vários desafios incrustados. Não vamos tecer comentários repetitivos nem revelar atitudes que devam reger o procedimento segundo cada circunstância. O exemplo acima é extremo, apesar de corriqueiro, pois são muitos os encarnados que se vêem em tais situações de desgraça. Grassa a tragédia junto às populações carentes, no entanto, nem por isso acusemos a espiritualidade ou Deus, pelos infortúnios causados pelos próprios homens, quer na vigência das atuais condições das sociedades, quer nos desdobramentos cármicos promovidos por débitos contraídos.
A luta, portanto, deve travar-se em duas frentes, ou seja, interna e externamente, sendo esta última mera projeção ao plano material para efeito da ideoplastia, pois o que importa é o que acontece no interior do indivíduo, como ser pensante, emotivo e agente da própria felicidade.
Não percamos o élan perante as fraquezas naturais da carne. Fenece-nos a coragem? Não temos brio? Não aspiramos a ser heróis nas batalhas contra as adversidades? A pusilanimidade é dom dos inferiores, dos que se debatem nas trevas da ignorância. Os que demonstram superior vocação para a luta, terão realmente sucesso diante dos problemas morais?
É chegada a hora da reflexão a respeito do que providenciar para os embates. Não há fugir da dor nem do sofrimento, pois são inerentes à humanidade. Há que se compor hino de estímulo à luta, a qual será travada independentemente da disposição e das armas de que se dispõe.
Este é o nosso aviso e a nossa exortação. Vamos caminhar ufanos de possuir vínculos com o amor divino. Não nos contentemos, porém, em combater pela honra de vencer, mas para adquirir os valiosíssimos despojos das vitórias sobre os inimigos mortais dos vícios e dos maus pendores. Após cada pequeno entrevero, pensemos as feridas e costuremos o estandarte roto, pois é improvável que saiamos ilesos das refregas.
No entanto, não nos atemorize o resultado final, enquanto estivermos com o domínio e controle das virtudes evangélicas. Haveremos de ufanar-nos ao perceber que estão os amigos a nos aplaudir, esforçando-se solidários por nos auxiliarem nos transes mais difíceis. Eis que teremos a nossa vez de homenageá-los, ao reconhecermos neles os baluartes das virtudes a serviço do Senhor.

Trouxemos este tópico sob forma alegórica, demonstrando ser possível transformar o pensamento positivo em exortação emotiva. É que a mente dos mortais se deixa invadir por reações estereotipadas, de forma a tornar as estruturas rígidas. No campo da espiritualidade, a concretude dos problemas se dá dentro das consciências, de modo que não há males externos, senão sensações de desconforto e de infelicidade.
Muitas vezes, as pessoas se esquecem de si para fixarem-se nos entes que lhe são caros, propendendo a sofrimentos que se caracterizam pela impotência ao auxílio. É mal que se insere nos corações dos que têm agudo sentimento de responsabilidade. Antes de se predisporem ao socorrismo, haverão de examinar e superar essa tendência que lhes propicia as razões de inútil debater.
A luta, portanto, a que nos referimos não é a que se passa nos campos a que estão afeitos os encarnados, ultrapassando, inclusive, a possibilidade de intelecção, posto lhes seja possível o contorno das angústias e depressões, ao agirem conforme as leis de Deus e os ensinos de Jesus. Por mais complexa seja a elaboração teórica do carma, há de se encontrar a solução na voz dos mensageiros do Senhor e na atitude de desprendimento dos valores materiais.
Sejamos sensíveis à capacidade de imaginar as agruras espirituais dos que se prejudicam por orgulho e egoísmo. Evitemos, porém, estar na pele de um deles, requerendo, desde já, incorporação às hostes do Senhor.







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REBELDIA





Consideremos o caso dos que se recusam a progredir, na expectativa crescente de que venham a reencarnar-se nas sublimes condições de se tornarem luminares da humanidade. São seres muito infelizes, incapazes de perceber que os prodígios só lhes ocorrem na imaginação, já que os grandes cientistas, os políticos de visão, os filósofos e os santos construíram o destino com base em muitos sacrifícios, enquanto aqueles só pedem à Divindade que lhes dê a oportunidade de ostentar tais atributos para serem reverenciados pelo povo. São portadores de síndromes de grandeza, por excessivo desejo de possuir o que lhes parece ter sido ofertado a outros pelo Pai, em pleno exercício de injustiça.
São, contudo, casos raros, se bem que expliquem, categoricamente, todas as volúpias, desde a recusa à aquisição da boa vontade até o ardor com que se mergulha nos crimes e nos vícios. O princípio é sempre o mesmo: o da rebeldia, que se condensa na imortal figura do anjo decaído.
Veja, querido irmão, se seu procedimento não autoriza a concluir que vários fatores advêm desse tipo de postura, ou seja, se não encerra algum aspecto mau que não queira admitir. Aos portadores dessas defecções, recomendamos que se interessem em examinar a consciência, pois o que mais dificulta a superação dos estados mórbidos do espírito é a falta de domínio das ações que se produzem segundo causas profundas, incrustadas desde milênios na personalidade. Simples suspirar opresso diante do carro novo do amigo pode demonstrar que algo sobrevive independente, dentro do caráter em desalinho.
A ação de perquirir, partindo do princípio de que a humildade seja virtude que se conquiste, terá muita possibilidade de dar certo. Reconhecemos que é difícil, para quem se vê infestado de males, proceder de modo sublime, na busca da cura. Haverá de sofrer enorme percalço até ver-se na condição de ser inferior. Com grande mágoa, irá percebendo os erros que deixou imiscuírem-se nas atitudes. É comum ocorrerem aos egressos dos hospitais alterações substantivas de procedimento. É que a morte lhes sondou as almas, obrigando-os a sérias reflexões a respeito de suas fantasias de vida e dos sonhos misteriosos do além.
Não espere, caro amigo, cair em desgraça perante a natureza, estando a pique de transferir-se para esta nova escola. Vença na em que se encontra, acatando generosamente as experientes palavras dos que desencarnaram em dor e que mereceram a honra de volverem ao convívio dos humanos, para lhes trazer a advertência e o sentido real do existir.
Que se veja rebelde é até compreensível, quando se sabe da existência de inúmeros pontos falhos no relacionamento entre os encarnados, obrigando-se a maioria a lutar para usufruir ínfimas regalias, havendo quem não sobreviva às condições de miséria em que são jogados pelas injustiças sociais. No entanto, a meditação exige moderação quanto às atitudes, forçando, necessariamente, à consideração de que é o ser humano divino em sua contextura existencial. Daqui a superba expressão cristã: "Dai a César o que é de César e a Deus, o que a Deus pertence."
Abatidos pelo egoísmo, não seremos capazes de erguer o ânimo ao perceber que as ponderações se tornam inócuas mediante as falsidades conceituais que se infiltraram no procedimento. Damos de ombros até às aspirações e intuições, postergando, para quando tivermos mais tempo, a decisão de ultrapassar o limiar da vergonha da admissão das falhas. Péssimos pendores os que nos forçam a agir em contradição íntima, entretanto, são afagados pelo ego envaidecido, pois são premissas de imensa série de silogismos falsos, verdadeiros sofismas do comportamento.
Sim, é preciso coragem para enfrentar a necessidade de mudança. Poucas são as criaturas que estabelecem como básica a evolução espiritual dentre os fatores essenciais da vida, de sorte a agir em consonância com tal interpretação. Evolução significa, acima de tudo, necessidade de perfeição, o que envolve o conceito de que seja perfectível a criatura, não sendo, desde logo, portanto, perfeita. Não sendo perfeito, o homem apresenta falhas, está sujeito a erros. Para sua correção, exige-se a convicção da mudança.
Não há fugir da lógica do raciocínio. Se você acha que adquiriu todas as condições angelicais, dedique-se a cantar hosanas ao Senhor, sem se esquecer, contudo, de que o conceito de anjo, etimologicamente, remete às criaturas que trazem o anúncio da vontade divina, sendo, portanto, servidores fiéis que cumprem obrigações superiores. Ora, para se tornarem seres de tanta luz, não lhes bastou estarem investidos dos atributos da pureza, das virtudes e do supremo ideal, mas lhes foi preciso portar a tocha da verdade com que iluminar os meandros obscuros das mentes que se debatem nas trevas da ignorância. Ser anjo é vir dizer aos pobres seres inferiores qual é o caminho que os conduzirá aos pés do trono do Senhor. Ser anjo é reconhecer o bem e o amor, como normas superiores da vida, transformando as ânsias íntimas em ações de caridade e benemerência. Ser anjo não é estado de espírito, mas qualidade superior de quem está a serviço de Deus.
Se, bom camarada, após a explanação eivada de eflúvios emocionais, ainda está convicto de que não deva submeter-se à prova, para descobrir quais os pontos necessitados de melhoria, paciência! Certamente, irá prosseguir na expectativa de receber os atributos de grandiosidade, para se ver na condição de luminar da humanidade. Saiba, contudo, que muitos foram apaniguados com excelsos atributos intelectuais e deslumbrantes disposições materiais, e nada realizaram que os elevasse às esferas mais desenvolvidas, pois recusaram-se a admitir ser a humildade a virtude maior que lhes faltava.
Abramos o coração para a verdade, mesmo que sejamos surpreendidos pelas incríveis e insuspeitadas péssimas condições do aparato intelecto-emocional. Confiemos em que Deus é misericordioso e não nos permitirá submergir nos espasmos do sofrimento. Acendamos a lanterna da esperança e procuremos o ente que somos. Serão ínvios os caminhos a trilhar, mas, ao lado de Jesus, jamais nos perderemos.
Oremos para que o instinto da rebeldia se aplique contra os vícios e as malversações dos dons espirituais, aproveitando sabiamente essa atávica tendência que nos tem regido o procedimento pelas vidas afora. Sejamos otimistas, porque a palavra do Mestre é absoluta, tendo-nos garantido o reino de Deus.







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PESADELOS





São inúmeras as pedras de tropeço que se colocam a quantos aspiram a progredir. São pessoas e espíritos que se deixam enciumar, propondo-se a derruir as construções apenas iniciadas, utilizando-se dos mais sagazes métodos e dos mais argutos raciocínios. Mas o trabalhador do evangelho convenientemente preparado sabe transformar o adversário em solidário colaborador, para que juntos singrem nos encapelados mares à busca da bem-aventurança.
Tomar os inimigos como frutos das árvores da malignidade que se encontram plantadas ao longo do caminho, é sadio indício de que o processo de salvação se desenrola satisfatoriamente. Não temer, pois, os que se contrapõem, é evidente sinal de evolução. O lento processo vai sedimentando as virtudes básicas, transmudando o ódio em amor, descrédito em fé, desacorçoamento em vibrante e definitiva esperança.
Eia, pois, irmãos! Vamos decidir-nos por entender as causas que prodigalizam tantas vicissitudes. Vamos decifrar os pesadelos que nos atormentam no negrume da noite, deixando-nos perplexos diante da maldade.
Às vezes, são os melhores amigos, o irmão, filho ou pai, o companheiro de toda a hora que se antepõem como obstáculos, forçando-nos a tomar atitudes que contrariam as determinações assinaladas pelos objetivos evangélicos. Não foi à toa que nos afirmou o Mestre que separaria os familiares: é que nem todos estão aptos a compreender a necessidade do sacrifício, do desprendimento, do obrar em função do próximo, em detrimento de aspectos materiais de interesse dos que se julgam lesados. Eis a causa das rebeldias no seio das famílias, sempre que alguém se propõe a perlustrar os caminhos de Jesus. O tempo, porém, corre igualmente para todos, de forma que é só aguardar com paciência o momento azado, para reparar que os óbices estão a remover-se, por injunção dos fatos que concorrem para fustigar os indivíduos à meditação.
São muitas as ocorrências mero resultado da postura de cada qual, criando-se as circunstâncias ao sabor de imensa série de pequeninas atitudes. Há, no entanto, acontecimentos absolutamente imprevisíveis, cujos cordões se manipularam pelas entidades do etéreo, a maioria das vezes de acordo com o desiderato dos indivíduos, no intuito da evidência das razões sobre que se forjaram os raciocínios imperfeitos. Outras vezes, havendo quem se interesse pelos parceiros de forma correta e amorosa, são os guias impelidos, através das orações, a atender, promovendo situações em que os opositores se vêem na necessidade de profunda ponderação em torno da realidade espiritual.
Essa a convicção que deve firmar-se na mente de quem se decidiu à evangelização, com a finalidade de que o pensamento se erija sobre bases justas, já que há a necessidade de se extrair o melhor proveito de cada circunstância. É pena que a influência doméstica, muitas vezes, seja excessivamente poderosa perante a vontade do aderente às matrizes espirituais. Ao impacto de algumas diretrizes estabelecidas pela malícia dos que não querem perder determinadas regalias materiais, logo o sujeito se desestimula, prosseguindo, como antes, a agir sob o impulso dos hábitos adquiridos.
Exemplo rústico pode ser retirado da atitude relativa à sustação dos vícios do fumo ou do álcool. Se os familiares não se convencerem de que devam ser extirpados, dificilmente deixarão de concorrer para a manutenção dos vícios, tudo fazendo para dissuadirem o companheiro de sua deliberação. É por isso que, inúmeras vezes, há que existir parecer médico conclusivo, no sentido de se colocar a alternativa da vida ou da morte.
Dilemas tão poderosos têm o condão de favorecer o envolvimento das pessoas. Quando se trata, contudo, de situações que se originaram de compenetração íntima, a participação voluntária dos circunstantes há que partir da explicitação dos argumentos. Como exemplo, podemos lembrar a decisão de se tomar aulas sobre mediunidade, para o que se deverá freqüentar obrigatoriamente alguma mesa de socorrismo espiritual. Caso não sejam os familiares espíritas, as resistências poderão até vir a constituir-se em absoluto boicote, havendo processo de crescentes hostilidades, até a vitória por fim de uma das partes.
Cada situação irá resolver-se segundo as circunstâncias que determinem os relacionamentos, mas haverá abalos profundos, que podem provocar dissidências definitivas, em relação ao presente encarne. Esse é um dos pesadelos dos que se decidirem pela evolução espiritual. Saber contornar os problemas, no caso, não será aceitar de forma pacífica a prepotência dos demais, como o rompimento não será a deliberação mais sábia. É preciso que haja vontade tenaz, mas sustentada por profundo amor. Suplantar as razões de desagrado será a inequívoca comprovação de que se respeita a sensibilidade dos que não se convenceram daquela necessidade. Exclui, porém, tal respeito a subalternidade e a subserviência, até mesmo quando se trata de seres de total dependência nos aspectos materiais, caso dos filhos sem habilitações profissionais ou de esposas impedidas de se proverem por requisição dos filhos menores, os quais exigem contínua assistência, por exemplo. Poderão os amigos leitores estender a exemplificação, pois é intento nosso dar colorido familiar à exposição.
O amor, a compreensão, a boa vontade e o firme propósito de não magoar-se nem ferir serão as alavancas que demoverão os obstáculos, para o que concorrerá a oração poderosamente, no sentido de oferecerem os guias insuspeitados recursos, para o convencimento dos que se colocam renitentemente contrários.
Tudo o que ficou dito não deve refletir-se na mente dos amigos como algo simples, já que os embates prenunciados são sérios, provenientes de condições de pré-encarnação, quando os seres se aproximaram por razões cármicas. Assim, mero mal-estar à vista de expectativas frustradas pode encerrar indícios de graves compromissos de encaminhamento evangélico. Esteja-se atento para não se imaginar serem os fatos aleatórios. Há que se prevenir, inclusive, quanto a reações desencontradas e resistências até de quem só se poderia admitir estímulo e apoio, podendo acontecer que pessoas fortemente impregnadas da doutrina espírita se coloquem frontalmente contra iniciativas que não se rejam por sua cartilha.
Saiba-se, finalmente, que cada pessoa se situa em certo ponto evolutivo, de modo que a nossa propositura talvez venha a ferir certos princípios em que se lhes assentam os atuais argumentos. Haverá, portanto, extensa série de tipos de reações, desde os mais violentos até os mais sutis, todos para obscurecer a projeção da luz com que se deseja iluminar a estrada. Nesse sentido, a leitura dos textos de origem espiritual pode despertar para a problemática, mas a resolução de cada caso deve restringir-se à decisão particular dos envolvidos, segundo o estudo que farão das causas das oposições, a partir dos efeitos evidenciados. O que se pede aos amigos é muita paciência, para que não se lhes sejam transformados os sonhos em pesadelos.







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SOCORRO





Na carne, nem sempre são ouvidos os apelos súplices, não tanto porque os encarnados não se deixem contaminar pelos sofrimentos dos irmãos, mas porque podem apresentar os pedidos inequívocas vibrações do desejo de preponderância sobre quem iria pôr-se efetivamente a serviço dos necessitados. Não se trata de falta de responsabilidade de quem nega, mas de falsidade de quem solicita. Têm os encarnados precisos meios de investigação das reais condições do pedinte e, uma vez declarada a fraude, é o indivíduo colocado sob suspeita, dificilmente recebendo qualquer auxílio.
Na espiritualidade, os recursos para se conhecerem as reais necessidades dos seres em via de receberem socorro são totais. Não há quem não emita, para quem está apetrechado para o reconhecimento, sinais claros de sua natureza íntima. Contudo, os que estão a falsear emoções, pondo-se na condição de embusteiros, recebem também o amparo dos irmãos, principalmente porque toda a ajuda prestada corresponde à verdadeira necessidade, negando-se, evidentemente, o que representaria comprometimento moral da parte do pedinte. Por isso, muitas vezes parece aos encarnados que não lhes chega qualquer auxílio do etéreo; é que não há como iludir os socorristas.
A partir desse princípio espiritual superior da caridade, deve o prezado amigo concluir que todos os seres receberão incondicional apoio para soerguimento e renovação dos objetivos? Sim, certamente, conquanto não deva ser precípite na ilação de que dívidas serão perdoadas ou trabalhos poupados. A caridade não se realiza sem elevado teor de justiça, configurando-se todos igualmente filhos do mesmo Pai, que vela equanimemente pelo progresso de cada criatura. Se os que mais devem recebem apoio emergencial, a partir dos sentidos apelos, nem por isso serão guindados a condições superiores a quem percorreu os caminhos da ascese e do sacrifício, segundo as próprias forças lhe permitiram. A grandes benfeitorias correspondem trabalhos de igual envergadura. Não nos iludamos, pois, ao requisitar junto ao Pai a sua misericórdia; saibamos compreender que ao rogo deve corresponder despojamento de mesma intensidade, para que tudo se equilibre na esfera da causalidade.
Seguir por esta linha de pensamento não será dificultoso para o amigo que discerniu os conceitos envolvidos. Não se trata mais do que aplicar o amor, antes e acima de tudo, sob o amparo das virtudes maiores da fé, da esperança e da caridade, em cada minúscula circunstância da vida. São os nomes, muitas vezes, pomposos demais, dependendo da situação. Mero acomodar-se na fila para evitar o sol aos irmãos pode parecer algo que se faz com naturalidade, mas que longo caminho percorreram os seres para tão simples atitude de fraternidade e de compreensão das humanas necessidades! Dia virá em que não haverá filas, uma vez que se espraiará o sentimento da benemerência, facultando aos mortais o estabelecimento dos bens evangélicos para aplicação imediata. O mundo, verdadeiramente, sentirá o poder do socorro oportuno, tornando-se completamente estranho que algo possa realizar-se com prejuízo para quem quer que seja.
Parece utópica esta configuração de relacionamento entre os humanos, todavia, não é outra a condição dos seres nas esferas evoluídas. Por que deva ser diferente, se todos temos o arrimo do Senhor? Os seres mais perfeitos encontraram o seu ápice moral após penosas experiências carnais, cada vez mais sublimes. Chegados ao ponto de cabal execução das exortações superiores, não mais tiveram o que aprender nos círculos mais densos. Se de seu parecer e de sua ajuda precisarmos, basta orar, com fervor, prece de humilde reconhecimento das necessidades. Comparecerão pressurosos para o socorro oportuno, o qual, levado a efeito, deixa como lastro a devida penitência a ser cumprida como obrigação moral, para que se justifiquem os pontos esclarecidos ou os perigos contornados. A natureza cobra seu preço na jornada evolutiva.
Imaginemos algo como que o reverso desta medalha, ou seja, que alguém, estando necessitado de dinheiro, obtendo o concurso dos amigos da espiritualidade, logre o primeiro prêmio na loteria, recebendo quantia muito superior à solicitada. Quererá significar que a dívida estará acrescida do tanto que ultrapassou o limite da necessidade? Evidentemente. Não é porque venham a sobejar os recursos que possa o indivíduo desembaraçar-se dos compromissos. Recebeu a maior, terá de cumprir os passos relativos ao capital que foi aplicado. Deus dá, como nos explica Jesus, a uns, dez talentos, a outros, cinco e a muitos, um. Ao cobrar a utilização dos recursos, fará segundo a oferta e não conforme o parecer do recebedor.
Fizemos questão de buscar o exemplo sagrado, para comprovar que não estamos inovando na exposição de caráter evangélico. As nossas razões são as que portou o Messias, em seu jornadear de amor. É que o homem parece rejeitar a linguagem bíblica, como velharia a ser consumida pelos anciães, aposentados do bulício da vida agitada desta civilização. Há ranços nessa expressão à antiga que não sabem ao paladar moderno. Isso é artifício retórico para procrastinar a decisão do reconhecimento da verdade, como fundamento para fixação do ideal evangélico. O homem parece recusar-se ao progresso espiritual, apesar de enaltecer sobremaneira tudo o que venha a representar avanço no aspecto material. Invenções e descobertas científicas são glorificadas como sendo as mais significativas conquistas da espécie humana, a valorizarem o século como o mais perfeito dentre todos os vividos pelas criaturas.
Há, é claro, posições diametralmente opostas, mas é preciso desvendar o quanto de frustração se esconde sob tal ponto de vista. O saudosismo é matreirice psíquica, pois o que ocorre, na verdade, é o desejo de se subtrair aos problemas, fugindo à luta.
Com estas assertivas, remetemos o amigo às partes desenvolvidas anteriormente, para que retome a linha de nosso pensamento, situando-se quando fraquejar e precisar de auxílio. Se for essa a sensação atual, não se furte a pedir, implorando aos mentores atenção para as condições de sua indigência, mas faça-o desprendidamente das humanas ânsias da prepotência, sem a sagacidade que se instalou na mente dos encarnados, junto com outros imensos defeitos da moderna concepção ideológica da vida material.
Tudo se resume em estabelecer os valores preferenciais a que destinar os esforços. Com Jesus, não nos afastaremos da verdade, obtendo os recursos mais excelsos para definir com exatidão as metas a serem alcançadas a cada instante. Saibamos viver de maneira pura, sem ofensa às leis de Deus, não olvidando que temos recebido a bênção da existência como dádiva suprema, dívida extrema a ser resgatada. Ponhamo-nos nas mãos de Deus, discernindo com justiça a verdade que nos remeterá, em definitivo, para o reino do Senhor.







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O LUCRO





Tudo que fazemos objetiva algo de bom para nós, mesmo o que é claramente ofensivo aos direitos alheios. Entre os humanos, é básico que tudo vise a um resultado, no entanto, nas esferas superiores, a recompensa de qualquer esforço é inerente à natureza da tarefa, não ficando registrada como pagamento na mente do socorrista. O lucro advirá naturalmente, na forma de atributo incorporado ao conjunto das qualidades.
Não existe, pois, trabalhar por diletantismo no plano espiritual, uma vez que tudo o que se faz reverte forçosamente em benefício do trabalhador.
Da mesma forma acontece com quem deseja manifestar maldade, já que os dons malversados arruínam a tranqüilidade, obrigando os seres a se reconhecerem inferiores e infelizes. Não há como obterem-se lucros saudáveis dos atos de perversidade. No entanto, são inumeráveis os que persistem nessa linha de procedimento. Por quê? Não são afetados pelo desconforto, pela sensação desagradável do sentimento de culpa ou será que simplesmente desconhecem que sofrem?
Não há resposta pronta para tal perquirição. O que se pode adiantar é que o ciúme, a inveja e o orgulho demonstram a força do egoísmo de que se nutre a maldade dos indivíduos, não lhes permitindo aceitar que alguém possa ter merecido a ventura do prazer evangélico, enquanto eles mesmos estão encerrados em cavernas de horror. Se pudessem, friamente, considerar sua condição, iriam conhecer a verdade, propondo-se à reforma. Ocorre, porém, que se deixam envolver por frêmitos inferiores de emoção, agindo sob impulsos elétricos gerados por baixas condições vibratórias. É como se condensassem energia e não conseguissem suster a expansão das forças. Sofrem e têm a noção das causas, mas são incapazes de controlar as fontes do despautério.
Não deseje o bom amigo colocar-se na pele desses seres infelizes. Existe certa tendência de se porem dúvidas sobre as informações rotuladas de mediúnicas. Mas pensem que, se fosse mais fácil vivenciar a dor moral por meio dos desajustes, por que iríamos influir no sentido de facilitar a compreensão da realidade espiritual? É pergunta que se deixa embutir na apreciação a este tipo de comentários. Ora, não se devem jamais colocar os humanos nas condições dos seres eternos. Ao contrário, é o efêmero, o passageiro, o fugidio que devem marcar as atitudes de quem se reconhece perecível, pelo menos em considerável parte da organização, uma vez que a força da imaginação pode fazer pressupor que algo haja para além da matéria a implementar a vida.
As considerações de caráter filosófico tendem a manter as pessoas desatentas para as condições reais da espiritualidade. A fria reflexão que provém da postura material, como seja a que oferece equilíbrio orgânico entre o aparato físico e as condições mentais é o que se desconhece após o desenlace, quando se perde a serenidade do concreto, já que o meio em que se depara o perispírito não favorece o mesmo ritmo de pulsação.
Exemplifiquemos, para não sermos acusados de excessivamente teóricos, não sem advertir para a dificuldade de que o exercício talvez seja novo e o ensino surpreendente.
Quando se usufrui a paz da perfeita saúde aliada a bens estáveis, supondo-se integralmente feliz, adquirem-se estruturas mentais apropriadas para a manutenção desse estado. Se se tivesse, porém, o dom de vislumbrar a corrente das vidas perlustradas, saber-se-ia que o atual bem-estar não significa algo mais do que frágil elo a ligar o estágio anterior no etéreo ao seguinte. Ora, a felicidade assim alcançada deveria ser considerada, em sua verdade imanente, transitória. Mas as pessoas transformam esses momentos em algo grandioso em si e não em função da possibilidade que é oferecida à mente e ao coração para deslindamento dos mistérios que lhes propiciaram a trégua para a reflexão.
O bem maior, o lucro desses instantes de sossego, adviria do entendimento da existência como realização espiritual, de forma que, ao invés de se agradecer a felicidade, dever-se-ia reconhecer a existência de algo por detrás dessa oferta, para nos induzir à reforma e ao melhoramento. Se os homens se levarem pela ilusão do beneplácito, vão abandonar o posto sem se terem iluminado com as luzes do saber. Ao adentrarem o etéreo, não portarão mérito algum, pois perderam a oportunidade da reflexão.
Aqui não haverá o corpo saudável a deliciar-se nas sensações do prazer da tangibilidade material. Haverá, sim, consciência preenchida pelo ócio. Desse modo, exercer-se-á pressão de dentro para fora, de modo inteiramente incontrolável, pois as perspectivas de tranqüilo futuro desaparecem, substituídas, irremediavelmente, pelas frustrações produzidas pelo arrependimento. Esse é sofrimento sem termo, pois não há esperança a fundamentar sentimentos de caridade e de amor. Sem segurança, não subsiste a fé no divino poder, estiolando-se o ser indefinidamente, até que venha a configurar para si a necessidade de mudar a maneira de proceder e de pensar. É quando surge o primeiro leve indício de que o desequilíbrio provocado pela tendência de se considerar superior aos demais possa vir a ceder.
Durante todo esse período, não há socorro possível, debatendo-se a entidade nas trevas. Quando surge o primeiro raiozinho de esperança, a primeira vibração de apelo ainda não caracterizado como tal pela própria criatura, mas claro para quem esteja apto a descodificar as informações íntimas, aí se atrevem os socorristas a intentar os primeiros serviços, em prol do ser em estado cataléptico no âmbito da moralidade.
Não nos estenderemos sobre as atividades que se seguem, pois o objetivo era de simples exemplificação; no entanto, havemos de dizer que o lucro a se conquistar advém da coerência entre a concepção da espiritualidade como princípio da existência a enformar os atributos da carne, e o desenvolvimento pelo trabalho, no intuito de serem suprimidas as más tendências, enquanto se promovem as ações propícias ao estabelecimento dos elos da solidariedade e do amor.
Pode imaginar o bom amigo que quem se espoje nos lodaçais dos vícios esteja diante de digressão absolutamente incompreensível. Pois esteja bem certo de que esse seria caso extremo para quem se atrevesse a olhar para mais além, estarrecendo-se diante da enxurrada dos conceitos novos.
"A vida espiritual, se for exatamente o que estão a revelar-nos, deve constituir-se em imensa decepção. Onde os lucros para quem veio ao mundo para sofrer, já que os instantes de prazer são mínimos, como até os mensageiros reconhecem?"
Gostaríamos de responder de forma a tornar a perquirição incorreta; entretanto, concordamos com o amigo transtornado pela perspectiva, porque se atrelou ao erro, acostumado que está a raciocinar sob esse prisma. Para que a resposta possa satisfazer, no entanto, haverá de reformular-se a questão:
"Que fazer para que este vale de lágrimas se transforme em lucro no plano da espiritualidade?"
Aí citaremos os diversos itens do evangelho de Jesus, os pontos essenciais das leis de Deus e a longa série de atividades concernentes à realização do ideário espírita. Para os que se compenetraram, porém, da necessidade do bom procedimento, evidentemente, nada teremos que dizer, pois estão aptos, melhor que nós, a desfiar a série de virtudes a serem alcançadas para se constituírem no apanágio com que deverão apresentar-se à espiritualidade, para não sofrerem os percalços da falta de perspectivas, recebendo, desde logo, os dividendos da aplicação de seu capital de amor, na forma de integração na comunidade dos seres de coração puro.
Oremos, irmãos, para não estarmos entre os que se perdem e procuremos achar-nos no seio dos que se amam e buscam a eterna felicidade.







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AS VIRTUDES





Quando aprenderam os homens que haveria maior progresso em sua união em torno de ideais comuns, formularam série de processos psíquicos que deveriam prevalecer em seus relacionamentos. A norma incluía a possibilidade de haver trânsfugas, de forma que houve a necessidade de códigos restritivos e penalidades.
No começo, os registros se deram no inconsciente, pela transmissão de pais a filhos. Com o advento da linguagem e, principalmente, da escrita, conseqüente das necessidades de fixação das diretrizes para estabelecimento de princípios inalteráveis, o que definiria os limites do exercício dos direitos, viram-se os encarnados detentores de algo novo: a sua individualidade, em função da importância dentro da sociedade. Uns exerciam poder sobre os outros e isso ia impondo-se como regime pelos meios consuetudinários.
Muitos desses princípios encontram-se até agora impressos nos códigos legislativos mais modernos e avançados. O que nos interessa, porém, é o aperfeiçoamento das virtudes, ou seja, das qualidades dos varões, tendo em vista os préstimos a serem dedicados ao conjunto social. As qualidades consideradas hoje íntimas, como a bondade, o amor ou a comiseração, não eram somente a contrapartida da maldade, do ódio e do desprezo, mas a necessidade de se ajustarem os indivíduos aos limites comunitários.
Quando os espíritos comparecem diante dos humanos para solicitar a aquisição das virtudes com que deverão adentrar os páramos celestiais, desejam absorção dos princípios evangélicos que regerão o procedimento do cidadão da pátria de Deus. São esses os elementos essenciais do desenvolvimento individual, os quais mantêm estreita conexão com os deveres maiores que se tem de respeitar como obrigação para se fazer jus ao progresso.
Contudo, desde há muitos séculos, têm os homens apostado tudo nos defeitos, esquecidos das qualidades, dos méritos, das virtudes. Isto porque é processo elementar dentro da sociedade organizada o insuflar dos valores, de forma que prevaleçam as normas estatuídas sobre os arroubos íntimos. Apesar de tudo, as vitórias que se conquistam devem muito à influenciação espiritual, o que faz com que a caminhada da humanidade se dê trôpega mas reflexiva, ajustando-se as consciências individualmente à medida que vão aperfeiçoando-se.
Não se conjeture fácil a aquisição de cada pequenino apanágio moral. Tenderá o humano a ela? Sim, se vier imaculado conforme foi criado; não, se só acumula desejos de grandeza.
Perlustremos o caminho de Jesus. Procuremos sentir o que o levou a encarnar, partilhando dos horrores da suprema dor de ver os seres em lutas fratricidas. Se você, amável leitor, se deixa desesperar diante das iniqüidades que originam morticínios, ponha-se na visão do Cristo, ser puro, a observar os desavisados gestos de impudicícia, de valentia e de desafio.
Quando nos dizia Jesus que, naquela mesma noite, o homem arrependido estaria ao seu lado, no reino do Pai, queria expressar a alegria imensa por estar alguém empenhado na realização de algo bom, fugindo ao padrão de conduta vigente, alterando a contextura moral para dar guarida à esperança, ao reconhecer o valor da espiritualidade.
Vamos antecipar a caminhada, assimilando as noções evangélicas, as quais respeitaremos como leis na pátria espiritual.
É evidente que estamos longe de compreender o que de sacrifício representou o encarne para Jesus, portanto, não tenha visões de azorragues e de cruzes. Não levantaremos a voz para açoitar o pequeno ser ignorante, como responsável pelo sofrimento do Mestre. Não apontaremos o dedo acusador contra o irmão, por julgá-lo culpado pela morte do Salvador. Tempos são passados e enterrados. Se houver quem deseje exumá-los, é porque não compreendeu a pujança do perdão.
Companheiro, quem vem pregar o amor, exigindo sacrifícios, não deverá acrescentar mais dor e sofrimento. Antes, trará os recursos seguros para se estancarem as lágrimas do desespero, acenando com a ascensão às moradias mais amenas do Senhor, onde a dor estará derrotada e o progresso estabelecido como norma.
Sorria, parceiro, ao compreender que o bem maior está à espera, por detrás de cada pequenino afago ao irmão carente, por detrás de cada pequenino gesto de desprendimento, por detrás de cada atitude de solidariedade. Vista a camisa deste time e saia a desfilar a incoercível felicidade de se sentir apaniguado pela sabedoria do bem viver.







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DISTÚRBIOS EMOCIONAIS





Tema de mui difícil intelecção para quem jamais se sentiu deveras transtornado, uma vez que é impossível de se cogitar na reação de quem, de súbito, se põe a contrariar as pessoas. É que existe interna dicotomia na raiz do procedimento disparatado: o sujeito se sente, a um tempo, necessitado de socorro e impedido de recebê-lo, deixando-se levar pelas circunstâncias, sem poder de atuação.
Assim, promove o meio ambiente forte desprestígio pessoal, predispondo-lhe o ego a violenta crise. É o ponto em que se chega ao desespero, sem que se deixem pistas para a percepção de que há possibilidade de restabelecimento da normalidade. É onde julgamos inócuas as explicações, pois são pouquíssimas as criaturas que conseguiram retornar desse estágio para o convívio sadio dos humanos. A iniciativa será de só exortar que se evite a perda da esperança, nesse mergulhar depressivo nas sombras.
A criatura em desespero tende à loucura, agindo, por conseguinte, de modo diferenciado em relação aos padrões sociais. É que perde sua individualidade a importância diante dos companheiros, avultando o contra-senso de que as atitudes sem qualquer desejo de predominância passam a constituir-se, exatamente, nas que melindram as susceptibilidades.
Desarvorado, a princípio volta-se para o exterior com afã, na ânsia de reaver o relacionamento salutar. Não conseguindo, dada a estranheza que causam suas atitudes, delibera agir revoltado, acintosamente contrariando as regras de conduta, instalando-se o processo neurotizante que o transformará em alvo da rejeição social.
Todo este complexo raciocinar pelo avesso cresce, havendo momento em que a repulsa se configura como institucional e, em sendo violentas as reações, será excluído do círculo, quer por ter contribuído com algum ato criminoso, quer por estar impossibilitado de acatar determinações.
Vamos, irmãos, orar com amor por essas criaturas, solicitando, súplices, que se restabeleçam os elos sociais rompidos, já que jazem enclausuradas nos manicômios e noutros institutos congêneres, ou rondam pelas vias públicas, como sombras perdidas, sem utilidade para si e para o bem comum.
No plano da espiritualidade, tais devaneios têm sentido claro, podendo apoiarem-se os socorristas em algo concreto para o despertar. No âmbito carnal, no entanto, o tratamento há que conter, necessariamente, os elementos da química terapêutica, pois é muito difícil o chamamento consciencial por via da ponderação racional.
Quer isto significar que suspenderam, temporariamente, a possibilidade de progredir? Com certeza, pois estão impedidos de atinar com as verdades evangélicas, desconhecendo até o que ocorre em suas mais naturais reações orgânicas. Como pleitear adquirirem domínio sobre si mesmos, que é a resposta que se espera de cada pequena virtude instalada na personalidade?! É, pois, com pesar que contemplamos encarnados descambarem para o lado das emoções sem controle, desajustando-se com a realidade.
Mas esse estado tem fases, não chegando ao auge senão após inúmeras manifestações parciais de desequilíbrio. Bem no começo, há participação consciente durante a ação, de forma que se sabe que não deveria ser bem aquela a atitude a tomar. Ao invés de sustar o movimento naquele sentido, tende-se a enfatizar a concretização da falha, pelos mais diversos motivos. Nesse instante, encontra-se o encorajamento deletério de parceiros e de obsessores, que, agindo impiedosamente, impedem que se desencadeie o mecanismo da reflexão.
É vital, portanto, que se vigie o procedimento em todas as circunstâncias, impedindo-se que haja o domínio das emoções sobre a racionalidade, apanágio do ser humano. Havemos de nos fazer compreender: há emoções inteiramente controláveis e naturais, como o choro sentido pela perda de entes queridos. Não sofrearemos, simplesmente, os impulsos emotivos. O que devemos impedir são as reações incontroláveis, absolutamente incompreensíveis, diante dos insucessos, as quais devem ser investigadas, antes que se transformem nos fantasmas que fomentarão os desajustes mais graves.
Entramos profundamente em áreas do conhecimento humano para as quais há inumeráveis pesquisas e pesquisadores, qual seja a do comportamento não padronizado. Não é objetivo nosso, contudo, contribuir para o conhecimento das causas e das soluções, pois não há interesse de nossa parte em apresentar teses próprias. O que viemos enfatizar é o processo de instalação desses distúrbios emocionais, no sentido de prevenir os amigos para que se não enovelem nessas traumatizações, de onde é quase impossível o retorno. Esta precaução é de caráter moral, espiritual e filosófica, de molde a subtrair dos psicoterapeutas futuros pacientes, através da vigilância evangélica. Com que objetivo? Com o fito de lhes dar condições para o aproveitamento do encarne, tornando-o profícuo no sentido da aquisição dos bens que lhes oferecerão oportunidades de progresso.
Não há, portanto, mistério. Caso os estudiosos julgarem que estamos indo fundo demais nas conclusões, sem que tenhamos perpassado pelos processos normais da perquirição e da argumentação, que nos perdoem o entusiasmo. É que temos em mira algo bastante mais geral. Reconhecemos que o trabalho de restabelecimento do equilíbrio emocional levado a cabo no âmbito da Psiquiatria e da Psicanálise é meritório e necessário, mas há de se concordar conosco que seria muito melhor se não houvesse pacientes.







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O EXAME





Vestir a estamenha do pobre ou adornar-se com a suntuosidade dos ricos não trará aos espíritos qualquer prevalência em relação ao infinito. Quando a alma é convidada ao reencarne, pouco importa às forças superiores qual a indumentária escolhida, pois não reside aí o peso da responsabilidade.
São poucos, entretanto, os que admitem permanecer a vida toda em condições de inferioridade, uma vez que, ao assumirem a carne, lhes é depositado na consciência o desejo de crescimento, natural, no que tange ao físico, e consagrador, no que respeita ao espírito. Mas não se dão os eventos de maneira simples, de forma que vão as pessoas assimilando as estruturas sociais, embalando-se nos sonhos que norteiam a vida junto às entidades que os cercam.
E quanto às referências cármicas que se lhes incrustaram na personalidade? Aparecerão quando entrarem em choque as aspirações terrenas com o influxo torrencial das tendências pessoais. É essa a luta a ser vencida. Se as pessoas encontrassem campo favorável ao desabrochar de suas personalidades, não haveria mérito algum em se dar curso às tendências na adaptação ao meio. Assim, torna-se congruente que se exasperem diante das adversidades, posto que, no âmago da consciência, algo lhes recorde perenemente que hão de se submeter às circunstâncias, amainando os impulsos de rebeldia e aceitando as condições de inferioridade, mesmo quando investidos de dons considerados superiores pelos parceiros.
Este encaminhamento nos conduz, obrigatoriamente, à análise dos fatos que nos ocorrem, à vista das repercussões conscienciais. Se registrássemos altas teses, evidenciando-se alheamento ao humano proceder, de nada adiantaria nossa participação neste constante comunicar-se entre os planos. Se só vasculhássemos a mentalidade, revelando o acerto das decisões, estabeleceríamos mera exemplificação nem sempre condizente com as necessidades dos leitores. Se ralhássemos os defeitos e incentivássemos as virtudes, trazendo casos elucidativos, poderiam os homens considerar as mensagens como literatura diante da realidade. Se nos empolgássemos pelas ocorrências dos grandes conglomerados, postando-nos como superego da sociedade, poderiam os indivíduos subtraírem-se do conjunto, não percebendo com clareza que a análise proposta a eles se referia. Entretanto, se nos predispusermos a reconhecer a valia maior do livre-arbítrio, lembrando os fatos como resultantes da postura moral, ensinando que a verdade é fruto da resolução dos problemas cármicos, não haverá fugir da aplicação de nossos dizeres aos atos, no intuito da descoberta da realidade psíquica, como fator inerente à existência essencial do espírito.
Se vai a mensagem tornando-se enigmática, à medida que se aproxima a recomendação de superior atitude de resguardo emocional e preparo intelectual, introjetando-se na mente dos leitores o fascínio pela realidade espiritual, é porque vêm favorecendo a perscrutação íntima como hábito, o que, implacavelmente, pressupõe que o escrito deva merecer percuciente investigação, porque eivado de notações evangélicas, como recomendação constante para o bom proceder.
Não fazemos caso, porém, de que a mente encarnada vacile diante de nossas propugnações, já que é inevitável que se dê a crítica, mediante a possibilidade da dúvida. O que suplicamos é que não se opte pela negativa quanto ao exame do próprio equilíbrio, na intenção de se avaliarem perfeitamente as condições de encarnação, com a finalidade da percepção das condições espirituais.
De que nos valerá preservar a mensagem, os mensageiros e o mediador, elaborando texto de perfeito entrosamento entre causas e efeitos, com sofisticada terminologia e vigorosos conceitos, se não atingirmos a sensibilidade dos leitores, no ponto ideal de sua área de decisões e programações?! É óbvio que todo o sistema desabará, caindo por terra o encantamento mediúnico que nos move, que nos entusiasma e que nos indica o caminho da caridosa participação na vida terrena.
Considerem, amigos, esta fase do relacionamento entre os planos e acatem as sugestões contidas nas inumeráveis comunicações obtidas neste frutuoso intercâmbio. Se a expressão se veste da estamenha dos pobres ou da nobre seda dos ricos, conforme seja seu parecer, não dêem importância ao fato, mas ponham-se na posição de seres superiores, buscando neste alimento os nutrientes da alma.
Visou este tópico conter o ritmo das explanações sobre os temas em discussão, para implantar na mente dos amigos a necessidade de postura engajada, sem o normal distanciamento dos devaneios das leituras. O que pleiteamos neste exato instante é a integração dos leitores ao âmbito do texto. Se nos fora possível, dar-lhes-íamos a palavra para prosseguimento da escritura, segundo a própria capacitação, tornando esta arremetida em algo substancioso e aproveitável. Não façam do texto apenas um caldo de letras para saciar a fome de um dia, mas transformem a leitura em algo que demarcará dois instantes absolutamente distintos de suas existências: o anterior, sem importância e sem repercussão, e o atual, padronizado pelos cânones evangélicos do ensino de Jesus.







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DESLEIXOS





Quando primar o homem por compostura firmada nos princípios evangélicos, haverá sorrisos no céu. Esse o alvo mais nítido de quantos se reconhecem donos de alma imortal a ser preservada dos crimes, nos descaminhos pelos quais perpassa a humanidade.
São poucos os que regram a vida pelo ensino de Jesus. O que fazer pelos demais, desde que sabemos que todos terão de alcançar a padronização de comportamento pelas normas superiores do bem viver? Devemos, cada qual, cuidar de difundir o ideal evangélico pelo exemplo e pela palavra. É notório que, se cada um se atribuísse os deveres compromissados pelo carma, estariam todos procedendo segundo a determinação cristã. Portanto, o primeiro empenho será relativo a si mesmo, almejando-se atingir a perfeição de comportamento o mais pronto possível.
Vamos deixar de lado, irmãos, a fúria das conquistas, como se nos oferecesse a vida oportunidade única. Adotemos a reflexão como padrão de conduta, agindo em consonância com os ditames do sacrifício em prol da coletividade, no que respeita ao plano material. Pode parecer que seja a pobreza o que vimos propugnando, mas não é verdade que seja esse nosso desiderato. Ocorre que, ao se falar em desprendimento, logo vibra na mente o pensamento de que deva haver fome e sede. Não é bem assim. O que se requer é o tempo e as forças disponíveis para o trabalho socorrista. Cumprindo-se as obrigações, haverá necessidade de descanso para a recomposição energética e celular, haverá de se tranqüilizar a mente, haverá de se proporcionar ao espírito estabilidade emocional, para se perscrutar se o que se vem realizando realmente condiz com as proposituras cármicas. Para que tal aconteça, só se o indivíduo estiver nutrido e dessedentado.
Chamamos de desleixos as oportunidades perdidas. Possui o homem atributos de notável perspicácia moral, mas se deixa arrastar por sórdidos desejos, em que a inflamação dos aspectos sensuais comanda o procedimento e o pensamento. Aparecem os vícios, postergando-se o cumprimento das promessas anteriores ao encarne. Esquece-se do próximo como objetivo de ajuda e de amor. Instala-se o egoísmo, acentuando-se o distanciamento entre os atos e as predeterminações. Assomam os desleixos, assumindo o comando da personalidade.
Jovem companheiro que tem todo um porvir de maturidade e de senectude, se você está nessa condição vital, tome as rédeas do destino, colocando em seu impulso de realizações algo de relativo à pregação de Jesus. Esqueça que houve martírio e crucificação. Lembre-se daquela queimadura ou corte que você sofreu e que se encontram cicatrizados. Pense o mesmo em relação ao sacrifício do Mestre. Olvide a dor e o sofrimento, não se importando com os aspectos mórbidos, pois o que está feito é irreversível. Mas recorde-se das sábias palavras que se registraram nos Evangelhos e se interpretaram no Espiritismo. Dedique-se ao estudo com entusiasmo. Não desleixe nesse aspecto fundamental do conhecimento moral ou superior, para não ter de recapitulá-los indefinidamente, em sofridas existências carnais. Enalteça o amor, a amizade, a virtude; não só da boca para fora, nas exaltadas manifestações em que se faz a chamada de seu testemunho. Mas progrida na absorção integral dessas premissas do saber evangélico mais puro, para proceder segundo elas. Faça-o já, desabridamente, pois para o humano o tempo conta e se põe como perspectiva de frustração.
Aos mais velhos, resta a expectativa de não haver desleixado em nenhum aspecto essencial, seja no trabalho digno, seja na formação de família nobilitada pela benquerença e pelo respeito às leis de Deus. Contudo, vamos conjecturar o pior, que tenha havido o mais terrível desleixo, dando-se o arrependimento, uma vez compreendidas as exigências do encarne, quando não há mais que uns poucos anos para encerrar-se a permanência na carne. Ainda assim, a compenetração das falhas não deve gerar protestos conscienciais. Que se dê crédito à verdade da inteireza de propósitos de se emendarem os atos em desacordo com as divinas regras e que se pratique, desde já, o bem, em escala ascendente, introjetando-se na mente e no coração as noções de superior entendimento da existência.
Por último, se o amigo estiver categorizado entre os que julgam dispensável esta prática, quer porque se considerem aptos à percepção dos valores angelicais, quer porque não aceitem a regeneração como ponto de partida para novos cometimentos consoante o juízo dos mentores, os quais desprezam ou não lhes intuem a existência, se for esta a sua deliberação, apesar de se ter aventurado nesta leitura, restar-lhe-á a esperança das preces dos amigos e dos protetores, que intentarão atenuar os maléficos efeitos da superioridade decalcada no egocentrismo e na vilipendiação dos bens recebidos.
No entanto, se não tiver havido desleixo, que maravilhosa perspectiva, que suave despertar de consciência, que incrível felicidade de se saber apaniguado pelos dons das santas virtudes! Que acordar em amor nos braços acolhedores dos seres amados! Eis que se abrem os portais do sétimo céu, podendo o irmão confraternizar com os espíritos plenos de luz, na alegria de se ver melhorado, para prosseguir vitorioso na estrada, rumo à casa do Senhor.
Lamentavelmente, as palavras que dedicamos aos encarnados nem sempre apontam para a excelsitude, como bênçãos a descair em catadupas do Alto. É que temos o compromisso de indicar a necessidade do saneamento dos maus hábitos, não fora este um planeta de expiação e de dor. Sabemos que os homens anseiam por palavras de estímulo, provindas da espiritualidade, pois parece a eles que a única atribuição dos que regressaram seja de amparo e consolo. Na realidade, só o fato de se acatarem estes dizeres como provenientes do etéreo espiritual deveria constituir-se no corolário das conclusões de que Deus dá às criaturas com que se redimirem, pois esta nossa presença está a demonstrar que existe integral possibilidade de evolução.
Desconfie-se, embora, de que estejamos muito atrasados na escala dos seres. Coloque-se dúvida, inclusive, na intermediação do escrevente. Mas não se esqueça de atribuir-se à contextura da existência algo de divino, já que o Criador não terá tido prévias condenações às criaturas a quem dotou de discernimento e livre-arbítrio.
Caso extremo, se você é dos que julgam o homem e a vida frutos do acaso e da matéria, incrédulo quanto à existência de Deus, ainda assim não transgrida as normas da boa moralidade nem os estatutos da legislação humana, pois haverá trespasse, com certeza, podendo haver surpresa a contrariar as atuais expectativas. Dê um voto de possibilidade, já que não aceita confiar na espiritualidade.
Que Deus se apiade de todos nós, compreendendo as aspirações íntimas de cada um, transformando-nos a incompetência em saudável esperança de progresso. Sejam essas suas bênçãos de amor.







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REPOUSO





Que péssimos seres seríamos se não compreendêssemos a humana necessidade de repouso! Quando para cá partimos após a derradeira vilegiatura, trazíamos a impressão de que toda a dor do mundo se concentrava sobre nossas costas. Havia uma como que ânsia por descanso, tão poderosa que nos forçava a imaginar que nada mais iríamos conseguir realizar. Era a ruína absolutamente eterna da disposição a impossibilitar-nos a suposição de que nos recuperaríamos. Entretanto, tão desagradável sensação foi passando, à medida que nos oferecíamos para cada pequena tarefa do socorrismo.
Eis porque votamos perene simpatia por todos os obreiros que nos solicitam alguns dias de descanso, mesmo sabendo que a determinação consciencial se dê com diferente disposição, deixando de encontrar o pedido ressonância espiritual. Há o cansaço material, a exaustão mental, o enjôo sentimental ou emotivo, o medo de ver o trabalho fracassar, portanto, existe, contraditoriamente, a sensação de que se erre ao pretender a temporária suspensão, bem como a confusa impregnação de dúvida e de temor na vontade, sem que haja a competente anuência do inconsciente, o qual se arroga o direito de agir de forma atuante, construindo obstáculos conscienciais. Há dor, sofrimento e angústia. É dolorosa essa sensação de impotência e de indecisão.
Se o amigo se vê pressionado pelo anseio do repouso, não se preocupe, pois é o influxo natural de íntima desconfiança de que não está obtendo a aplicação de seus esforços resultados compensadores. Se você é médium e se sente isolado, a empenhar-se sem o dom da visão do proveito que as entidades espirituais estão logrando usufruir, creia que será essa a perspectiva que o futuro lhe desdobra à frente.
Após o milésimo dia de contínuos esforços, vê-se o mediador diante de textos que se repetem interminavelmente, em contínua exploração do instrumental evangélico. Embora possa haver extraordinária complexidade vocabular, para o escrevente quer parecer-lhe que as construções sintáticas vão retornando e retornando, sem que se apresente nada de novo. Também, pudera, se é ele mesmo quem fornece as diretrizes metodológicas em relação à gramática! É por isso que deve ter o cuidado de variar as leituras, para que os estilos se modifiquem à luz de novas formas de dizer.
Por exemplo, o nosso médium está temeroso de que possa esta página vir a revelar a algum incauto leitor que não haja mais que simples animismo, uma vez que lhe ficou claramente estabelecido em nossa orientação que a comunicação espiritual depende de seus estudos. É risco que se há de correr, à vista de que as atitudes das pessoas se relacionam à sua liberdade de pensar. Não há como sufocar essas vozes, especialmente se prenhes de conhecimentos técnico-científicos hauridos de pesquisas e de aplicação aos compêndios e às aulas. É para isso que existem as escolas, para dar capacitação aos indivíduos de discriminar entre o certo e o errado. No entanto, nem sempre os impulsos correspondem exatamente ao ramo de conhecimento que empreenderam, havendo, por conseguinte, mera transferência para a área da mediunidade, ou seja, do relacionamento possível entre os planos. Não há curso superior de espiritismo que diplome bacharéis, doutores e livres-docentes, posto muitos se sentarem nas cátedras do saber espírita.
Não vamos adentrar através da hipocrisia, senão daríamos a impressão de nos termos frustrado mediante a geral falta de confiança que se coloca em nossas produções, principalmente quando elaboradas ao correr da pena. Se não temos permissão para improvisações, de qualquer modo o resultado das sessões em que não haja transmissão mecânica é quase sempre deficitário. Tal é a causa de havermos solicitado ao mediador que se disponha a rascunhar livremente os ditados, reservando outro período para passar a limpo a composição. Foi a fórmula que imaginamos que nos daria condições de imprimir à escritura o cunho de nossa personalidade.
Veja que demonstramos dificuldades em apresentar trabalhos condignos, já que não possuímos a desenvoltura dos literatos e professores que se dedicam ao burilamento de suas manifestações. É diversa a nossa condição, pois partimos do pressuposto de que deva prevalecer nas composições a clareza dos enunciados, não nos atemorizando, portanto, as repetições, os clichês, os esquemas correntes, desde que possam os leitores absorver a idéia.
Não se iluda, pois, bom amigo, com o título que atribuímos ao texto, nem com o teor da mensagem, pensando que vá obter descanso quanto ao trabalho da intermediação mediúnica. Jamais. Sabemos que a compostura mental de quem se propõe a apanhar ditados obriga a contentar-se com pouco, especialmente na compreensão de que o emissor não possui dons superiores, devendo alegrar-se, pois, com o volume das atividades.
Como sempre, voltamos para recompor esta mensagem, de sorte que poderá o leitor ficar bastante bem impressionado com a forma, em contraste com o fundo, com as palavras, em confronto com os pensamentos. Nada de admirar, contudo, pois temos tido o cuidado de não nos permitir deslizes assaz contundentes. É bem verdade que recorremos aos conhecimentos lingüísticos do mediador, mas só no campo da expressão pura e simples. As construções frasais e as idéias são nossas, assim como o léxico, uma vez que, do aparato que nos é oferecido, livremente selecionamos o que nos parece conveniente para a manifestação.
O primeiro texto, transmitido de afogadilho, portanto, ficará para trás, não representando esta versão condignamente o impulso inicial. Esta deliberação de explanar a respeito do roteiro adotado pelo grupo visa a proporcionar aos médiuns, especificamente ao nosso, segurança no desempenho. Fique em paz, bom amigo, sem temer a perda da psicografia ao dar vazão a aparentes jorros de baboseiras, mesmo quando nada lhe parece digno dos atributos evangélicos. Mais tarde, ao analisar a produção, poderá verificar que, no mínimo, existe algum sentido de solidariedade em tudo o que se diz ou na atitude de quem escreve, pois sempre há quem necessite de esclarecimento e de ajuda.
Esteja ciente de que os guias estão vigilantes, desejosos de não desperdiçar as boas oportunidades de ministrar alguma orientação a ser jungida às demais, na busca da concretização das aspirações do socorrismo.
Havemos, finalmente, de dizer que também os espíritos têm necessidade de parar, para que possam examinar, avaliar e concluir a respeito dos melhores caminhos para prosseguimento da jornada.
Observe que estamos terminando esta longa digressão com ânimo forte e rejuvenescido, a comprovar que, quando o trabalhador está preparado, o trabalho se realiza. Parecer-lhe-á ter sido bem aproveitada a frase divulgada por Kardec? Pois é intenção nossa indicar, através dela, qual a postura ideal dos medianeiros da seara evangélica.
Oremos para que o povo espírita não esmoreça, adquirindo a compreensão de que existe o cansaço, sendo o repouso de obrigação. Antes e acima de tudo, é preciso confiar nos orientadores, depositar fé em Deus e obrar com viva esperança de que todos chegaremos a integrar-nos em seu puro amor.
Está boa esta estrutura ou lhe parece que tudo vem repetindo-se de modo insosso e desagradável? Esta perquirição reflete o temor dos humanos, cuja vida é trepidante pela sua natureza, uma vez que há contínua necessidade de aplicação energética; mas o descanso é de lei. Que seja essa a sensação que nos aguarde no regaço do Senhor!







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TEMORES





Cabe a cada um evitar que os desejos de glória não se desfaçam em vãos receios de se ver coagido a receber modesta participação no bem coletivo. Considere-se o valor das palavras, pois glória tem o sentido superior que se lhe atribui na espiritualidade (a glória do Senhor, por exemplo) e bem coletivo se refere às programações dos encarnados (são as regalias do conforto).
Pode-se resumir o entrecho da seguinte forma para melhor entendimento: o homem executa seus planos sem recursos apropriados, ficando temeroso de enfrentar, ao regressar, aqueles com quem combinou vencer as refregas morais. Terá sorte se encontrar os demais com as expectativas realizadas, uma vez que teriam acréscimos de significativa expressão, havendo, contudo, a possibilidade da aquisição das essenciais virtudes da comiseração e do perdão, pondo-se aptos ao entendimento das razões dos fracassos e predispondo-se ao auxílio.
Eis que se prolongou a frase explicativa para além do que ficou expresso no caput da mensagem. É como ocorre com as pessoas: por medo de não deixar claro os objetivos, por temor de não alcançar a anuência do parceiro, por receio de desagradar ao demonstrar imperícia e inferioridade, estendem-se longamente, tornando sua manifestação enfadonha, sem ritmo, absolutamente opaca.
Não é sempre que estamos animados a configurar, através do discurso, a exemplificação temática, embora o assunto se proponha a isso, sendo extremamente fácil para obter os efeitos desejados, quando se trata de vilipendiar o ego. Está este discurso, portanto, bem longe de representar peça acabada; dirá, antes, de nossos atributos, confirmando que nossos temores se confundem com os do humano proceder. Na verdade, em tudo somos criaturas semelhantes aos leitores; se, às vezes, damos a impressão de muito saber, é que nos utilizamos de via de mão única, favorável a que sejam os defeitos o mais disfarçados possível. Este desenvolvimento pode estar a sugerir ter diminuído nossa responsabilidade, já que vai compondo-se atabalhoada e inseguramente, querendo significar que nenhuma esperança temos de vê-lo diante dos humanos, desleixando quanto à forma e imprimindo ao conteúdo cunho acidental.
Haveria aí sábia conclusão, se não nos imbuíssemos da necessidade de desfazer nossos temores. Apesar da fragilidade da estrutura lingüística e da pobreza argumentativa, posto que tenha havido a revisão a que aludimos no texto anterior, ainda assim temos de enfrentar condições adversas para demonstrar o denodo com que nos arrojamos à luta contra as imperfeições. Apesar de completa desarmonia em relação aos pontos mais elevados que nos são propostos como tema, ainda assim enchemo-nos de brios para levar a efeito a obrigação.
O amigo que vem perlustrando de mente aberta este arrevesado texto, atento para as prováveis alterações que se recomendarão no âmago da consciência, no sentido de debelar os maus hábitos, instalando-se as virtudes evangélicas em falta, percebeu que a nossa palavra trouxe como incentivo a nossa própria contextura deficiente e débil? Foi para que o argumento pudesse ser utilizado eficazmente, na admissão da fragilidade da parte do humilde leitor; ou estamos a gastar o latim à toa, uma vez que o amigo é imperturbável em sua postura? Pois aí é que deveria residir o medo, como força propulsora das ações de recondução dos pensamentos e das atitudes, com vistas à obtenção de melhores resultados. Sabemos que são bons, caso contrário sequer teria iniciado a leitura, mas podem ser aperfeiçoados.
Está meditando o amigo a respeito do direcionamento tomado pelo escrito e pensa se não teria sido melhor ir à estante para buscar obra recheada de pregações morais do tipo mais rançoso, já que prazer nenhum está proporcionando-lhe este chorrilho de baboseiras. É que a evolução exige o reconhecimento das falhas, as quais só podem ser devidamente avaliadas em cotejo com os méritos da virtudes.
Caberia a séria recomendação da releitura dos tópicos anteriores, onde as discussões se dão em estilo direto, com claros objetivos. Do jeito pelo qual armamos este escrito, tudo leva a crer que só iremos descomprometer-nos dos deveres, concretizando a tarefa solicitada, mas largando o mais nas mãos do apavorado leitor, que só aguardava sisudas orientações dentro da diretriz evangélica que norteia a confecção das obras mediúnicas de caráter moralizante.
Havemos de, contudo, sem temor, frustrar tais expectativas, pois não incluímos no roteiro a tendência deletéria da hipocrisia dos irresponsáveis. Não há fugir da assertiva de que todo o progresso se contém no cumprimento das obrigações, de sorte que, por mais que façamos, não ultrapassaremos o limite da simples indicação do caminho e da recomendação de prudência, insuflando os corações de coragem. Se se vencer o temor do enfrentamento das deficiências que se incrustam na consciência, em breve se suplantará o medo da admissão das culpas, ficando bem mais fácil a execução dos ideais do reencarne.
Anotamos já os percalços advindos do medo como pedra de tropeço e enaltecemos o receio como valioso meio de se perceber impotente para o cumprimento das obrigações, existindo forte desejo de absorção dos ensinos cristãos. Resta-nos encaminhar o raciocínio para o setor mais dramático desse sentimento: o pavor de se ver diante das agruras da vida, imaginando que as vicissitudes ali estejam colocadas injustamente pela divina providência. Tenhamos muito medo dessa sensação de rebeldia. Valha-nos a recomendação supra da releitura de certos tópicos. Só estamos a recordar as teceduras temáticas anteriores para demonstrar que, na maioria das vezes, passamos por sobre os textos sem aprofundar a reflexão. É esse o temor santo que insidiosamente estamos tentando introduzir-lhe na consciência.
Por ora basta deste ir e vir na formulação destas idéias. Se não ficou claro o desenvolvimento, reprise a concentração e restabeleça o contato com a temática, sem temor de estar sendo embaído ou atraiçoado. Se estamos a auxiliar a reflexão, é porque não desejamos a ninguém que caia nas armadilhas da desatenção e da irresponsabilidade. Como se pode sentir, fecha-se o círculo argumentativo, adquirindo qualquer outra recomendação mais o cunho da redundância e da repetição. Se o bom leitor se apercebeu do alcance das observações, deve tão-só estar aguardando a palavra final.
Seria você capaz de imaginar o que se contém no restante do desenvolvimento? Se for bom leitor de textos mediúnicos, esperará que se termine a mensagem com a chave de ouro da prece. Mas nós não no faremos expressamente, pois a surpresa será deixar, corajosamente, que o amigo se decida a enfrentar o trabalho de encerramento, conduzindo-se pelas linhas seguintes, que abrimos à sua responsabilidade.
Fique nas mãos de Deus!

Íamos solicitar ao editor que oferecesse algumas linhas extras, para que o amigo realmente pudesse deixar registrada sua conclusão a este tópico, mas nos arrependemos bem a tempo, no temor de não sermos compreendidos. Sendo assim, oremos a oração ao Pai, para restabelecermos as vibrações energéticas desgastadas por esta aplicação muitíssimo diferente de nossos hábitos de reflexão. Agora, sim, irmão, fique na paz do Senhor!







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AS CATEGORIAS





Eis princípio incrustado na mente humana, pois a tudo o homem atribui valores, constituindo escalas, em cujo interior se deseja ver bem categorizado, tornando-se o tormento de muitos o fato de não pertencerem aos escalões superiores.
Não é diferente na espiritualidade, principalmente entre os que possuem densidade energética próxima da dos encarnados. Como é imensa a quantidade de falanges espirituais, costuma-se denominá-las com a finalidade de distinguir de pronto a que categoria pertence o espírito. Da mesma forma que se tornaram conhecidas as ordens dos anjos, arcanjos, serafins e querubins, nomenclatura recebida pelo vulgo por influenciação religiosa, são estabelecidos paralelos de semelhanças, para favorecer o ingresso dos recém-desencarnados, segundo as características morais e intelectuais que transparecem em sua luminosidade.
É de difícil intelecção este tópico pelos encarnados, já que seu sentido de visão se restringe às impressões que se transportam ao cérebro através da captação dos fótons ou unidades de energia luminosa dispersos na natureza, por meio de dois ou três recursos principais. Entre nós, a fonte dessa energia situa-se no âmago do ser, sendo o poder de vibração individualizado.
Por outro lado, enriquecer-se significa entre nós apoderar-se de volumes cada vez mais nobres de pensamentos e emoções, os quais depuram o espírito, dando-lhe condições de se postarem em categorias sucessivamente mais adiantadas.
Correlatamente, ao lado de possuir mais brilho ou mais luz, amplia-se, em conjunto, o poder de percepção das emanações de seres mais perfeitos. Há entidades que nem sequer aceitam a explicação que enunciamos, incapazes de emitir e de enxergar qualquer luminosidade. Vivem nas trevas, se assim podemos alcunhar o estágio mais intenso da ignorância e da maldade.
O que dá poder a esses infelizes tão inferiores? É o conjunto das vibrações que espraiam desde os pontos mais profundos em que se concentram. Estando o poder de captação das energias relacionado às vibrações de igual potência, os que se deixam abater nas lutas são atraídos pelas forças que os conduzem para os setores de seus domínios.
Cada indivíduo apresenta condições de reagir, de forma que sua imantação vai até o limite desse atributo, não descendo para além desse natural pendor, prendendo-se aos semelhantes, repugnando as condições suplantadas, não se deixando vencer pela fraca potencialidade dos ambientes menos categorizados.
Ao encarnado é dado resistir a todas as influenciações, pois o orbe apresenta aspectos próprios, misturando-se, nessa esfera, espíritos de diferentes categorias, principalmente porque a misericórdia divina os expõe aos entreveros em que promovem seu aperfeiçoamento, à proporção que se reconheçam necessitados de agir em prol da salvação dos companheiros. Eis aí a diferença essencial entre os diversos círculos da espiritualidade e o carnal.
É por isso que a pregação através dos recursos mediúnicos, desde que baseada nos cânones evangélicos, objetiva que os encarnados se inteirem do processo evolutivo inscrito nos ensinamentos cristãos, qual seja o do amor a Deus e ao próximo, como fundamento de todos os atos.
Imaginar o leitor que, ao despregar-se do mundo, poderá integrar equipes de resgate como a nossa é estar com altas pretensões. A mais correta atitude, baseada na virtude da humildade, a qual deve presidir as conjecturas a respeito do adiantamento espiritual, é a de que virá a passar por período de turbação mental, até que se faça nítido na consciência o procedimento que se levou a cabo durante o encarne.
Tendem os amigos da crosta a superestimar a atuação, considerando bons mesmo os pequeninos arremessos em prol dos semelhantes, esquecidos das atitudes meramente reflexas, de resguardo natural, como cuidar dos filhos e respeitar os pais e familiares. A partir dessa postura lúcida diante dos parentes, a consideração de que todos os encarnados sejam igualmente irmãos é inferência irretorquível, para que se diga que há predisposição para o progresso.
No entanto, não se esqueça de que os embates mais intensos são travados justamente nesse campo, onde o conhecimento é mais íntimo e os atritos mais sérios, por estabelecerem-se frustrações diante das mazelas, hesitações e maldades. Se houver maior responsabilidade, haverá de existir maior glória em se ultrapassarem os obstáculos.
A partir dos relacionamentos mais chegados é que se poderá concluir algo a respeito dos ganhos que se estão alcançando. Se há graves dissidências no âmbito familiar, prepare-se para o pior. Cabe lembrar que o Senhor Jesus nos propiciou ampla visão dos fatos, ao nos declarar que tinha vindo para separar e não para unir, ao mesmo tempo que nos induzia à reconciliação imediata, para merecermos penetrar no reino do Pai.
Empenhemo-nos em compreender a exposição de Jesus. O Mestre não veio para desunir; é que sua pregação não seria assimilada por todos, de modo que uns rejeitariam os outros, à medida que se descobrissem dispostos, no plano espiritual, em categorias diferentes. Não seria justo que o dignificado pelo sacrifício, pelo desprendimento e pelo reto proceder fosse guindado à mesma região em que se encontram os faltos de qualquer qualidade. Dada a imensa série de localidades, haverá, fatalmente, separações, desde que os encarnes não são igualmente aproveitados.
E a reconciliação? Havendo dissidência, os que estiverem em melhores condições receberão como encargo envolver os infelizes em seu amor, tornando-se protetores e guias justamente daqueles com quem conviveram e que se desviaram em direção das profundezas abissais.
Poderá alguém estar a perguntar se será justo atribuir-se tal responsabilidade aos que melhor desempenho lograram. A nós não nos é colocada a questão mediante o envolvimento afetivo que nos prende aos seres amados. Assim, é direta e natural a responsabilidade, como é inteiramente lógico para a psique humana que devam os pais cuidar dos filhos. Seria absurdo o inverso, embora, com o correr dos anos, seja o que se pede a quantos se sintam dotados de poder para agasalhar os mais velhos impedidos de se proverem do necessário. É a lei do amor.
Como ficam tais relacionamentos no etéreo é o problema que primeiro se põe para os que meditam a respeito da espiritualidade, como forma concreta de se realizarem os ditames evangélicos.
Deixemos registrada esta configuração provisória. Não estamos prometendo aprofundar as informações, fornecendo minúcias dos relacionamentos. O objetivo do grupo é levar a nível de ponderação certos princípios essenciais para o crescimento espiritual. Aos encarnados basta cumprir. Aos encarnados basta cumprir os compromissos cármicos, para o que apresentamos pistas bastante seguras de como vencer as dificuldades morais e intelectuais, que não são mais do que o desenvolvimento, a explicitação e a exemplificação atualizada dos cânones evangélicos.
Se não fora hábito encerrar os tópicos pela recomendação à prece contrita, para estreitamento dos laços com as forças encarregadas do ajustamento ao modelo crístico, deixaríamos esta mensagem com a mais natural pergunta que se possa esperar das consciências, após o desenvolvimento das reflexões: Em que categoria estou?
Oremos para que a resposta nos traga imensa felicidade. Deixemo-nos, contudo, ficar, qualquer seja a perspectiva de novas provações, nas mãos de Deus, que nos agasalhará e nos reconfortará.







21

A PRECE





Quando tudo parece perdido é que o encarnado vai lembrar-se do Senhor. São poucos os que destinam um pedacinho de cada dia para essa vinculação energética de caráter supremo. No entanto, se solicitados a opinar a respeito, todos demonstram que entendem do riscado, instruindo os parceiros sobre as vantagens da oração. Sendo assim, não vamos destinar a mensagem ao roteiro esclarecedor das razões que devem conduzir os humanos à contrição. Vamos preferir o enaltecimento do revigoramento que se produz através dos eflúvios advindos dessa verdadeira bênção em que se constitui a oportunidade de se buscar o auxílio divino.
Na verdade, os seres que se apresentam de bem com a vida, quando se põem diante de Deus, sabem agradecer as regalias que conseguiram por força do complexo de circunstâncias que promoveram tal resultado. Se se souber entrever nesse ajuste a mão de Deus, é natural que se agradeça tudo que se recebeu, mesmo algo que possa estar fazendo sofrer, já que o sacrifício sem reclamação se constituirá na ponte que atravessará o rio turbilhonado dos vícios e males.
Eis pequena amostra de tema tão cediço, dada a ênfase com que se repetem os valores transcendentais da prece, pelos espíritos de superior categoria. Pensamos estar contribuindo para que haja bem-estar em confronto com a exigência de reflexões que os temas têm produzido. Se tudo a que nos reportamos tem apresentado alguma dificuldade de entendimento, dado que os conceitos não são simples e a argumentação arrevesada quanto aos raciocínios, nada existindo de simplório na espiritualidade, especialmente porque os seres se utilizam de artifícios a serem contornados, este desenvolvimento, ao contrário, se apresenta com extrema leveza.
Vamos ampliando a mensagem de forma acessível, elevando ao Senhor prece de profundo agradecimento pelas oportunidades de trazer algumas noções que desenvolvemos com a ajuda dos mentores, a quem coube a ingente tarefa de desbastar as falhas interpretativas que trouxemos de nossas desventuras.
Abramos o coração e dirijamo-nos ao Pai, diretamente, sem a intermediação dos seres mais perfeitos, não olvidando que tudo o que deles recebemos vem da misericórdia divina, pela configuração universal do processo evolutivo.

Pai de infinito amor e bondade, aceitai esta manifestação de carinho e abri os braços acolhedores para nos receber em vosso regaço. Fazei com que esta prece contenha algum ensino aos irmãos encarnados que nos têm brindado com sua leitura, uma vez que é intuito nosso registrar pedido que se renove a cada releitura. Perdoai a pretensão e favorecei-nos a realização deste cometimento, pois pretendemos juntar-nos aos amigos a cada tentativa de realização com o etéreo. Por isso, Pai, fica em aberto a nossa prece, pois intencionamos que o que se sedimentou nos corações dos amigos se constitua nosso mais veemente apelo. Dai-nos a felicidade do exercício pleno do socorrismo como a bênção mais desejada. Muito obrigado, Senhor! Assim seja.

Aos que conseguiram atingir este ponto do compêndio, queremos exortar para que atribuam maior atenção às palavras com que se dirigem ao Senhor e aos irmãos da espiritualidade, elaborando preces próprias que exprimam com fidedignidade os sentimentos de amor e respeito. Não dêem importância aos termos com que vazamos a nossa manifestação, pois, com certeza, não se harmonizam com seus altos estímulos religiosos. Para orar, é preciso ser poeta e místico, e nem todos conseguem inspiração para exprimirem-se emotivamente de maneira perfeita. Sejamos só criaturas que almejam evoluir, na busca incessante de atingir o melhor desempenho.
Não exortamos à fé, mas à compreensão, pois, para se chegar ao Pai, não há que se ultrapassar os limites da individualidade; o que é preciso é a vontade de consegui-lo e o esforço despendido. Havendo sinceridade, os ganhos demonstrarão o avanço na direção dos objetivos do Criador. Por enquanto, baste este despertar para o sofrimento e para a morte como passagens impostergáveis e imprescindíveis. Ativemos os sensores para a percepção de nossa verdade particular, a fim de chegarmos à perfeição do entendimento universal. Oremos também para isso.
Finalmente, ao encerrar este tópico importante, embora de fácil realização, aceitem a recomendação de que não se esqueçam de pedir pelos que não têm recursos de compreensão, vagando perdidos pelo mundo, refazendo constantemente suas dolorosíssimas encarnações, muitas até para conseguir ínfimos instantes de esquecimento, uma vez que a brutalidade de seu sofrer chega a impedi-los de reconhecer a grandiosidade da criação.
Que Deus tenha piedade de nós!







PALAVRAS FINAIS





Muito deveu à tenacidade do médium o bom desempenho do grupo nestas tardes de psicografia, ainda que nem todos os dias tivessem oferecido condições ideais para o trabalho, havendo momentos em que o sofrimento se fazia constrangedor. Daí ser-lhe destinada a primeira prece agradecida, para que o Senhor o ampare e à família, a quem auguramos todas as venturas.
Aceite o amigo leitor a extensão desse suave agradecimento em prece de amor, dada a atenção a estes escritos, tendo em vista a possibilidade de aplicação dos conceitos às suas atividades, de forma prática e salutar. Se tem existido entrave para entendimento das mensagens, impute a falha aos emissores. Mesmo assim, efetue releituras completas, fazendo com que todo o mecanismo psíquico se oriente no sentido da absorção integral das verdades temáticas aqui depositadas, como perene sugestão para seus roteiros de vida.
Seria idéia do grupo que a fixação da obra em forma de volume devesse dar-se por meio de argolas, de forma que não se pudesse configurar onde inicia e termina. Se não fosse de rigor a numeração dos tópicos, ficaria o leitor sempre diante de novo texto, já que, a cada releitura, novos aspectos se acresceriam à maneira de encarar os temas, não se apartando da obra senão quando todos os pontos estivessem sendo automaticamente praticados. Não é assim que se faz com as obras essenciais?
Como estamos a atribuir tanta força a estes escritos, é imperioso que aludamos a seu real valor. Não têm méritos especiais diante da literatura psicografada, mas representam impulsos para a reflexão em aberto, uma vez que incentivam à meditação, tendo como condição a verdade. É essa a superior pretensão destas páginas, à vista da responsabilidade que nos foi atribuída. Para tal assertiva, preciso nos foi despojar-nos de falsa modéstia, embora reconheçamos que toda a nossa grandeza reside, de modo particular, na honra de podermos contar-nos entre os que estão no coração dos amigos.
Incompleto ficaria este posfácio sem a necessária referência aos mentores, que se têm dedicado emeritamente às atividades docentes, imprimindo às aulas o vigor de seu conhecimento. A eles a justa homenagem do grupo. Saibamos todos compreender-lhes as vitórias sobre a dor e o sofrimento, para que possamos estar aptos a conquistas iguais.
Elevemos os pensamentos ao Senhor, agradecendo-lhe esta misericordiosa existência em evolução. Quando nos lembramos de infelicidades recentes e cotejamos com as perspectivas de paz que decorrem naturalmente da aplicação aos estudos das energias concentradas por força das atividades socorristas, sentimo-nos concretizando as virtudes evangélicas, amparados firmemente pela bondade de Jesus.
Muito obrigado, Senhor!













EQUIPE II DOS AMIGOS DA VERDADE



















1

OPINIÃO





Têm os humanos a tendência de firmar opinião a respeito de cada tema, dedicando particular interesse aos que se referem às atividades espirituais, desde que logrem estabelecer diretrizes para a imposição de sua vontade. Em suma, visa o ser humano a estender os seus domínios sobre os demais. Ocorrendo, porém, a falência dessa presunção, recorrem ao estratagema da impostura, dando a impressão de que não se interessam pelas concepções teóricas da vida. Tomam o lado prático como tábua de salvação, servindo a ignorância e a falta de preparo como válvulas de escape da irresponsabilidade.
Contendo a propositura que nos serviu de preâmbulo a idéia de liberdade e do rompimento das peias da escravidão dogmática e doutrinal, podemos esperar por extensas contestações de quem se veja frontalmente atingido em seus interesses religiosos.
Pois é como são obstados quantos desejam progredir no conhecimento das verdades da espiritualidade, à vista da força empregada na coação, para que acatem os procedimentos intelectuais forjados pela tecitura da dominação. A prevalência dos que se assenhorearam das cátedras filosófico-religiosas objetiva a manutenção dessa condição de superioridade, uma vez que toda organização se instala sobre bases materialistas.
Nós mesmos, seres do etéreo próximo da crosta, sentimos a influenciação desses arrogantes senhores, que se insinuam no seio dos agrupamentos dos espíritos ignorantes com a promessa da salvação, o que lhes significa o alívio das dores e dos sofrimentos, sem o correspondente sacrifício. É-lhes útil, portanto, manter estreitos vínculos com a espiritualidade comprometida, para se perpetuarem em seus domínios.
Queremos dizer que há sucursais na espiritualidade das organizações humanas? Não. O que acontece é o inverso: as instituições terrenas são mero reflexo do que no etéreo não pode se concretizar com igual força, mas de onde provêm todos os dispositivos.
Havemos de temer tais instituições? Sim, enquanto demonstrarmos rebeldia, sem firmeza de convicção dos deveres para com o Criador. À medida, contudo, que prestamos assistência aos sofredores, crescemos em atributos, libertando-nos das pressões da malignidade.
Sentem-se os amigos apreensivos, com medo de que estejamos referindo-nos às grandes religiões e aos estados estruturados sob a legislação constituída nestes dois últimos milênios? Pois é exatamente assim, dado que as pátrias e as religiões se sobrepõem instantes acima dos indivíduos.
Disse Sócrates, ao lhe ser oferecida a opção da fuga, que aceitava as diretrizes da cidade, já que ali vivia. Se não tivera força para promover a evolução das leis, era justo submeter-se-lhe ao jugo, para configurar ser bom cidadão. Eis, em tese, o sacrifício a que se intima todo aquele que adquire consciência das condições precárias do equilíbrio social.
É dever de cada um lutar pela melhoria dos padrões de igualdade, respeitando o direito de integridade de cada irmão. Enquanto não compreenderem todos o que é o melhor para a sociedade, haveremos de suportar as diferenças estabelecidas, aceitando-as tão-só como princípio a ser refeito tão logo se desligue o indivíduo do plano material. Se se atribuem os ocupantes de cargos importantes valor maior do que o dos míseros serviçais, que concebam diferentemente a espiritualidade, para não se arriscarem a sérias decepções.

É este tema complexo o suficiente para manter viva a discussão por longos capítulos. No entanto, a querela se tornaria meramente acadêmica, pois que todos os argumentos se extrairiam das condições existentes na atualidade. Lembremo-nos, contudo, de que a eternidade nos aguarda, para admitir que o perecível não deve figurar como norma existencial.







2

DE NOVO





Será o homem tão caturra que não consiga aprender os mínimos ensinamentos evangélicos? Sabemos que tal perquirição não repercute psicologicamente justamente junto a quem mais necessita evoluir, dado que repetem inutilmente as encarnações. Até quando? Até que se faça a luz, talvez ao impacto de idéias como estas que se espalham pelo orbe através da mediunidade.
Não iremos, à vista das dificuldades do entrevero, abster-nos ao auxílio. Jamais! Se prezamos a verdade evangélica, divulgando-a, é porque se sustenta a nossa firmeza na fé, na esperança e na caridade fundamentada no amor, na misericórdia, na comiseração, no perdão e nas demais virtudes que se extraem do fluxo de sabedoria que dimana de Jesus.
Sustentados pela ignorância e mantidos pela maldade, existem inúmeros prognósticos de que são chegados os tempos da separação. Há previsões de que planetas chupões absorverão os que não progridem, o que se constitui em verdadeiro alívio para quantos se compenetraram das verdades cristãs mas se vêem impotentes diante do poder da malignidade. Há outras teses que indicam o caminho das esferas mais adiantadas, devendo permanecer no orbe terráqueo os que estão a degradá-lo irremediavelmente.
Não nos parece, contudo, que esteja tão prestes qualquer divisão para se levantar a hipótese de que esteja esta sendo a derradeira oportunidade dada aos mais perversos e imorais.
Haveremos de muito perlustrar uns ao lado dos outros, pois é destino de todos exercer o socorrismo, sob todas as formas e com todas as forças, resgatando os irmãos que se debatem nas trevas dos vícios e dos crimes. Se cada vez mais fortes nos parecem as organizações do terror, é porque anda arrefecida nossa confiança no Pai. Se bem pensarmos em que Deus tudo pode e tudo espera da fidelidade dos filhos, não seremos nós quem duvidaremos da salvação da humanidade.
Não nos bastou o sacrifício de Jesus? Pois aí está o Espiritismo robusto e decidido a triunfar. Derribará a malícia humana os postulados espiritistas, como tenras plantinhas mal presas ao solo? Então, imperativamente, temos de imaginar que existem outros recursos a serem empregados pelo Senhor para dar luz aos cegos, pois de sua cornucópia de amor não cessarão jamais de jorrar os bens aos humanos, por mais vis nos pareçam.
Estamos a abrir em leque este esquema de trabalho regenerativo, para que os necessitados possam conhecer que nunca estarão ao desamparo dos amigos da espiritualidade, mesmo quando rojados nos lamaçais das mais abjetas condições; e para dar aos demais a noção de que devem apartar-se das idéias pessimistas que, insidiosamente, o materialismo vai impregnando nas consciências, ao revelarmos o quanto de trabalho se reservou para todos em cada alma a salvar.
É claro que havemos de conquistar a redenção, antes de qualquer aplicação do bem em prol dos seres que nos repelem e nos agridem. Não temos a intenção de requisitar de ninguém inúteis sacrifícios, os quais não alteram o atual estágio dos seres em litígio moral, como incidem em desarmonia interna, desequilibrando emocionalmente o socorrista que se deixar seduzir pela grandeza de se anular o ego, em arremetidas suicidas.
Com esta exposição, pretendemos restabelecer a verdade bíblico-evangélica, segundo a qual quem não aceitar a Jesus não adentrará o reino de Deus. Este é o princípio elementar que se encontra em cada mensagem mediúnica, desde que não forjada por falsos profetas, que os há em todos os planos.
Se esta pregação vem com o epíteto da redundância, da reiteração, da insistência, da repetição para a fixação dos valores mais elevados, é porque estamos todos muito necessitados de meditar a respeito das atitudes que, a cada hora, ferem os objetivos do encarne. É louvável que se enfade o leitor diante das comunicações que lhe parecem vistas, lidas e relidas. Mas não há fugir a esse enfado, senão pela correta aplicação dos cânones evangélicos. Se se der como hábito a leitura e o esquecimento imediato, é inequívoco sinal de que estamos muito no início da caminhada.
Oremos ao Pai que não nos permita duvidar de que todos teremos salvação.







3

A HONESTIDADE





Sentido bem amplo é o que daremos a esta virtude que deveria ser natural para todo encarnado. No entanto, raramente topamos com alguém inteiramente puro quanto a essa qualidade. É que se impõe o aprendizado da defesa, de forma que as pessoas se precatam contra a possibilidade de serem assaltadas, predispondo-se à mentira, à falsidade e à hipocrisia. Nós mesmos, que pleiteamos integral policiamento sobre as atitudes, temos os nossos quiproquós com a consciência, pois sabemos da luta para fugir das viciações e dos maus hábitos.
Serenamente, contudo, após algumas décadas de esforço contínuo, aportamos no cais maravilhoso dessa virtude transcendente, de modo que a aquisição dos demais atributos se impõe como necessária. A pessoa passa a conduzir-se com franqueza, liberando-se dos maus pensamentos e envolvendo-se seriamente com a verdade. Após alguma hesitação, passa a ser capaz de se expor à opinião, deixando aflorar os defeitos para a correção.
Estamos suavemente a discorrer sobre tema tão profundo, esquecidos dos diversos amigos com quem temos compromissos de atendimento, pois, apesar do desinteresse pela publicação das mensagens, é preciso manter a dignidade dos escritos.
Este é sério problema de honestidade para nós mesmos, pois, uma vez que abrimos a obra afirmando da não intenção de sua divulgação editorial , pode parecer contraditório referirmo-nos a prováveis leitores. Se o amigo desconfiar de desonestidade, irá por água abaixo o crédito que hemos adquirido por pertencer à Escolinha e por estarmos processando esta transmissão mediúnica.
Não há, todavia, falta de decoro nem intenção de iludir, pois é lícito suspeitar-se de que haja possibilidade de se dar à editoração o resultado destas manifestações, principalmente pela abertura proporcionada pelos atrevimentos dos grupos que nos antecederam. Eis que se estimula o pessoal diante dessa perspectiva e imprime sentido diferente ao texto, para a eventualidade desse aproveitamento. Que não se espante o amigo nem se ponha de sobreaviso para a ausência de sentido moral, já que o que mais prezamos é esta oportunidade de escrita mediúnica.
É verdade que demos ao médium opção de escolha, pois tem o direito de se desfazer das páginas que não se coadunem com o roteiro habitual. Mas também prevenimos quanto à nossa necessidade de aprender a manejar o instrumental mediúnico. Assim sendo, não há novidade no que temos para expor.
Tudo sobre que vimos discorrendo advém dos impulsos do grupo em desenvolvimento. Se forem bem aprendidas as lições, em breve passaremos a amigos mais habilitados as mãos do escrevente. Tudo o que afirmamos o fazemos do modo mais honesto possível, posto possa parecer preenchimento inócuo de papel.
Haveremos, contudo, de nos fazer merecedores de confiança, para o que requeremos muita paciência de todos. Saber que existem dificuldades no âmbito da espiritualidade, quando o desenvolvimento é diminuto, irá auxiliar na compreensão destes trabalhos.
Acompanhamos as leituras do médium, na tentativa de fugir aos temas que lhe prendem a atenção, pois não desejamos que se creia no fenômeno do animismo relativamente a estas mensagens. Para isso, temos de apreciar outros aspectos do tema da honestidade, já que nos vem à lembrança a clássica questão:
"Até que ponto o trabalho não está a refletir os conhecimentos do mediador?"
Em havendo honestidade, não há animismo, bastando que o mediador se deixe influenciar pelas vibrações que lhe chegam ao cérebro, como ocorre neste justo instante. Com a disposição de escrever tudo o que vem à mente, ficará facílimo avaliar, a posteriori, se o conjunto se dispõe harmoniosamente, a indicar claramente se houve prévia formulação ou se se trata de escrita ao correr da pena. Como se poderia elaborar texto com premissas, desenvolvimento e conclusão, sem que se confeccionem os diferentes aspectos que adquirem os argumentos? É aí que reside a comprovação da honestidade do ato mediúnico.
O irmão que se ocupa deste tema pensa ter trazido útil esclarecimento aos que desconfiam do próprio trabalho com os espíritos. Por isso, deixa de lado a modéstia para afirmar que tudo o que concorre para a felicidade provém do coração firmemente subsidiado pelas benesses da espiritualidade. Quando se quer enxergar algo inverossímil, utiliza-se da imaginação. Mas se houver naturalidade na apreciação dos fenômenos, transparecerá a verdade, não como elaboração através dos efeitos, mas como desvelamento das causas.
Em tudo devemos ater-nos ao sentido mais profundo dos pensamentos, os quais têm de basear-se nas construções argumentativas. Nem sempre o fluxo da verdade se produz encadeado. Havemos, por isso, de suportar certo caos, procurando deslindar as razões que provocaram este tipo de formação. Reside aí a ciência que se baseia na honestidade de propósitos.
Podemos, finalmente, dar-nos ao luxo de encerrar esta participação, declarando-nos não inteiramente satisfeitos com o resultado final do escrito, mesmo após a refacção. Não queremos que se levantem suspeitas quanto a que o texto definitivo esteja em desacordo com a proposta temática inicial. Realizamos pequenas alterações lingüísticas, acentuando a verdade das proposições, onde nos pareceu fraco o argumento persuasório fraseológico.
Tudo, na vida, pode sofrer aperfeiçoamento, até a exposição a respeito da honestidade, desde que se procedam as alterações segundo o roteiro evangélico.
Solicitamos que os amigos se confraternizem conosco na oração ao Pai, que é a mais poderosa suma do conhecimento da verdade, quando se diz a prece tendo como objetivo o ideal da perfeição.
Pai nosso, que estais...







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A LEALDADE





Quem quer que tenha tido o ensejo de avaliar a lealdade dos amigos, pode inferir da importância deste tema para a manutenção dos vínculos do relacionamento entre os humanos.
Nada nos provoca maior temor do que o arrefecimento do poder de imantação entre as pessoas, por meio de interesses que firam os legítimos desejos de composição fraterna.
Quando nos situamos no plano espiritual, almejamos ter garantida a devoção de quantos a quem dedicamos afeição e simpatia. Às vezes, sentimo-nos distantes e esquecidos do companheirismo que nos uniu em congregações familiares, profissionais ou sociais. No entanto, fica sempre, no fundo do coração, o sentimento da saudade, a indicar que, se pudéssemos, restabeleceríamos as ligações.
Ocorre, muitas vezes, que o afastamento se dá por excessivo tempo, de modo que os vezos característicos das criaturas, imperceptivelmente, vão acentuando-se em nossa mente, para reconhecimento em caso de reencontro. Necessariamente, portanto, os que aspiram a reatar os laços com antigos camaradas devem prever que poderá haver decepções, já que a saudade que se instala não remete a ponto futuro, mas às circunstâncias e condições que mantinham o equilíbrio do relacionamento no passado. Sempre existirá nessa vontade o risco da frustração.
Para sermos fiéis a esses seres que se cristalizaram em nós, melhor seria se não nos atrevêssemos a procurá-los. Seria preferível que firmássemos a convicção de que todos têm direito à evolução, no entrechoque dos acontecimentos que norteiam os princípios do ajustamento à vida.
Quer significar que propugnamos que se deixem estar as pessoas só nas lembranças? Absolutamente, não! Tão-só estamos a prevenir de que a realidade deve despojar-se dos encantamentos da fantasia, criados a partir da falsa impressão de que o passado está envolto em halo de pureza que não se vislumbra na atualidade.
O tempo não estaciona. Para manter-se a lealdade às figuras que nos povoam a mente, deveremos reconstruir totalmente as condições em que nos colocamos à época dos fatos que nos dão a sensação de que algo se perdeu no passado. É útil que haja confraternizações entre antigos colegas que se reúnem ou entre familiares juntados nas alegres festas dos casamentos ou nos lúgubres cenáculos dos velórios.
Aí nos aprestamos para o reatamento dos laços, notando até que ponto é possível esse restabelecimento, não sendo raras as ocasiões de extrema desilusão, quando percebemos que a nossa presença não tem a mesma repercussão junto aos demais, como as figuras que mantivemos vivas no coração.
Perguntará o amigo se se dá o mesmo por ocasião do falecimento, quando almejamos rever os que mais cedo partiram. Precisamente, é essa a sensação que se tem, até mesmo em relação aos parentes mais chegados, apesar de terem sido inúmeros os anos de convivência. Filhos, irmãos, companheiros, esposos, pais e mães se sentem inseguros quanto aos acréscimos de experiências, reagindo mal ao encontro com os parceiros com quem não tinham afinidade, o que lhes foi desvendado ao perpassarem pelo portal do grande mistério. É que nem sempre existiram vínculos de afetividade, não sendo poucos os casos de aproximação de antigos rivais ou adversários.
Quando o indivíduo é recebido em festa, deve oferecer ao Senhor prece de profundo agradecimento pela misericórdia de não se ter enganado na interpretação dos sentimentos, sejam seus, sejam dos demais.
Se a pessoa não encontra ninguém conhecido, deverá lamentar a falta de lealdade, mediante a esperança de que estava possuído? Naturalmente, poderá ocorrer que os seres que desejava reencontrar não sejam tão evoluídos quanto supunha, impedidos, portanto, de lhe retribuírem a devoção. O mais comum, porém, é o contrário, isto é, a pessoa não fez por merecer o direito ao reconhecimento dos que lhe trazem o conforto pelo transe, permanecendo na escuridão de sua infelicidade, embora cercada pelos companheiros, que velam para que haja rápido crescimento moral, tendo em mira a sintonização vibratória na mesma freqüência de ondas. Trabalharam durante a vida do parceiro pela sua reforma íntima; continuarão a desvelar-se com o mesmo objetivo, até lograrem incutir-lhe na mente que está em descompasso com o tônus do grupo.
Empenhemo-nos no cultivo do aparato intelecto-emotivo em função da aplicação das verdades evangélicas em todos os atos, desenvolvendo a capacidade de amar e de compreender a vida em seus aspectos mais sublimes, ou seja, na ampliação dos bons sentimentos que nos integram com os demais seres do universo. Cuidemos de amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo com igual intensidade dedicada a nós mesmos. Se for impossível reconhecer-nos como causa dos desequilíbrios, contritamente oremos ao Senhor, implorando que o nosso amigo, o nosso irmão ou o nosso desafeto não nos sejam indiferentes, mas consigam o mesmo nível de progresso, para que estabeleçamos as condições de felicidade que só persistem, realmente, em nossa imaginação. Acreditemos em que Deus é pai de misericórdia e que interpretará com propriedade os nossos anseios de lealdade.







5

REVELAÇÃO





Este grupo propõe-se a efetuar trabalho de pequena envergadura. Pode-se, inclusive, conjecturar em colocar-se o produto das reuniões como apêndice ou adendo ao trabalho que nos antecederam. Estamos, com isto, sugerindo que não se devem ter grandes preocupações com o apanhado do ditado. Há que se pôr tento aos dizeres, registrando-se a forma definitiva nas tardes destinadas às correções. É intenção nossa deixar o médium completamente tranqüilo, pois desejamos implementar aos conhecimentos os recursos que estão disponíveis, para aquisição dos bens que nos faltam.
Não se deixe, pois, envolver, caro médium, por vãos temores, agindo com naturalidade e predispondo-se suavemente para o trabalho, fazendo a pena correr em harmonia com as vibrações que lhe imprimimos ao cérebro. Sendo assim, não se apoquente se o ditado inicial contiver pequenas falhas de interpretação e tradução. Não nos empenhamos a fundo, no sentido do aperfeiçoamento estilístico segundo os valores humanos. A nós nos basta ver o escrito ganhar corpo, dentro da necessária coerência diante dos princípios doutrinários espíritas, ao mesmo tempo que nos interessa passar a idéia de que existe na manifestação saudável equilíbrio psíquico.
Alheios às possíveis críticas dos incrédulos, vamos imprimindo aos textos o cunho de nossa personalidade. Se for por demais semelhante ao que o intelecto humano produz, paciência! Que o procedimento de cada qual condiga com as verdades evangélicas contidas em cada pequenino trecho, pois o que fazemos é fruto do amor e boa vontade.
Se este texto, por exemplo, for considerado por demais pessoal, endereçado ao mediador, que se saiba que só empregamos simples recurso retórico, no intuito de fazer fermentar as idéias. Na verdade, a pretensão é de alcançar a quantos se abalançaram a enfrentar a leitura. Não haja, pois, da parte dos editores, a precipitação de subtrair este escrito do conjunto, já que o sentido último da mensagem faz parte do arcabouço da obra.
Havemos de referir-nos também ao pressuposto de que nem tudo que se produz mediunicamente deve merecer atenção, especialmente quando os temas se constituem de pequeninas observações a respeito do procedimento de cada hora. Acostumados à leitura dos textos literários dos pródromos da espiritualidade, julgam que só as pérolas merecem figurar na tiara preciosa, entre o ouro dos Evangelhos e a prata da Codificação Kardequiana.
Por outro lado, se fôssemos deter-nos na análise de certos trechos bíblicos, concluiríamos que nenhuma atenção atrairiam se dados fossem como de autoria espiritual. No entanto, estão entre as jóias sagradas das Escrituras, em rude contradição com os ensinos de Jesus. Lá estão e de lá não serão retirados, mas que sirvam de exemplo aos irmãozinhos principiantes, cujo intento é o de passar aos leitores os conhecimentos que vêm assimilando a duras penas.
Estabelecida a defesa do grupo perante o médium e a opinião, resta dizer que, se está o amigo com o texto debaixo dos olhos, é porque alguma força persuasiva convenceu os editores, a dar sinal de alguma importante razão.
É preciso, então, que a leitura contenha poder de envolvimento, para que sejam as lições assimiladas e colocadas em uso, para o que nos empenhamos em revelar os nossos íntimos temores, as hesitações e problemas, aspergindo na mensagem o feitiço de nossa realidade.
Há, no roteiro da Escolinha, inumeráveis depoimentos de sofredores a dar o testemunho das fraquezas e a promover o apelo à reforma de comportamento, através da superação dos defeitos e vícios, por meio de sábio exame de consciência. Não vamos aprofundar-nos na apreciação dos artifícios empregados para ludíbrio da vontade de transformação. Cabe a cada um avaliar se procede com honestidade em relação às diretrizes evangélicas que dominam, conforme a extensão de sua formação espírita.
Sendo inúmeras as tendências e características individuais, não avançaremos para além do sinal de alerta, mas não nos olvidaremos jamais de incentivar que as ações e reações se dêem ao influxo do amor a Deus e ao próximo. Que este entreato sirva para remeter à reflexão e à meditação, como atos entrelaçados do coração e do cérebro.
Esse o sentido mais profundo destas revelações, as quais não têm outra aspiração que não seja despertar os amigos no mesmo sentido de se exporem com franqueza diante de si mesmos. Desse ato de contrição, brotarão intenções de melhoria, no sentido de se intensificarem o trabalho e o afeto pelos parceiros de existência.
Sendo assim, ficaremos nas mãos de Deus, na obrigação de agradecer-lhe a misericórdia em comovidas preces.







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DESENVOLVIMENTO MEDIÚNICO





Quem se inicia nos ensinos espíritas, desde logo se depara com a possibilidade de oferecer-se para o teletransporte, na expectativa de regresso lúcido das experiências, registrando conscientemente o que vier a ouvir. Mas, tão pronto se dá a compreensão da doutrina, é posto de lado tal projeto. Vem, então, o desejo de intermediar os planos com a finalidade de servir de intérprete às pessoas conhecidas, aos seres amados, aos doutrinadores e espíritos de luz. Após tentativas inócuas, aí se presta de boa vontade a ser o porta-voz dos sofredores, limitando-se a desempenhar com proficiência o papel de atores, a representar cenas insólitas.
Para este simples oferecimento, há que se ultrapassarem sérias barreiras, quanto ao hábito de considerar os espíritos como verdadeiros fantasmas. Paulatinamente, através das leituras especializadas e das explanações dos amigos, principalmente pela aplicação das instruções que se contêm n O Livro dos Espíritos e n O Livro dos Médiuns, vão os neófitos tomando tento do que seja pôr-se a serviço da espiritualidade.
Tendo boa vontade e não hesitando em expor-se perante a opinião, logo conseguem oferecer-se ao trabalho. Se são tímidos, orgulhosos ou temerosos do ridículo, previnem-se, não deixando vazar as informações, pois pensam estar falseando as comunicações. Para estes, existem os cursinhos nos centros espíritas, onde os mais experientes se transformam em orientadores espirituais.
Com certeza, está o amigo a perguntar aonde pretendemos chegar com o texto, pois os informes são do corriqueiro saber de quem se aprestou em leituras mais promissoras, como as do irmão André Luís. Nós não pretendemos trazer subsídios técnicos, pois, se estamos comentando os fatos deveras comuns, é porque desejamos demonstrar que existe extrema facilidade em obter da espiritualidade o necessário apoio para o desenvolvimento do dom da mediunidade. Este escrito visa a derruir as resistências, afirmando que não se trata de nada especial, bastando confiar no sucesso e deixar-se conduzir. Em breve, cada qual, no setor mais favorável, irá produzir serviços valiosos, em prol do crescimento moral dos grupos humanos e espirituais.
Tenhamos paciência, caro irmãozinho pouco afeiçoado às manifestações destes que intentam aprender a manipular o instrumento com que contam exercer seu ministério de amor. É que desenvolvemos aspectos do aprendizado dos encarnados, quando o que realizamos é treinamento do ponto de vista espiritual, embora a responsabilidade seja absolutamente a mesma perante os mentores, cuja missão é capacitar os discípulos à produção de comunicações sérias, fundamentadas nos ensinos evangélicos.
É preciso ser prudente e aceitar a intermediação, seja em que plano for. O bom amigo já se viu alguma vez na pele do emissor de mensagens? Faça isso e verá que graves conseqüências advirão se se atrapalhar, não deixando no papel o estímulo necessário às reformas morais, favorecendo a manutenção dos maus hábitos e dos vícios. Seria reprovado e não mereceria deixar os limites desta organização educacional. Teria de voltar aos compêndios, resignado a reiniciar o aprendizado, como nas escolas do globo.
Esta página irá servir como prova do nosso progresso, para que se possam confiar a nós questões mais sérias e abrangentes para explanação aos companheiros, auxiliando-os na reflexão a respeito da existência ou fornecendo-lhes subsídios com que enfrentar os embates da vida.
Se merecer este texto a aprovação dos orientadores, constituindo-se em página a inserir-se no contexto da obra dos que nos antecederam, estaremos profundamente contritos, pois haverá aí claro indício de progresso. Tendo, porém, espírito crítico, julgamos, desde logo, não estarmos aptos a elaborar matérias sequer parecidas com as dos mestres e instrutores, embora signifique este primeiro tentâmen a mesma pequena vitória que sentem os amigos ao se deixarem envolver pelos eflúvios energéticos em sua primeira missão mediúnica.
Graças a Deus, estamos no ponto da mensagem da exortação à prece agradecida. Viemos até aqui com extrema felicidade, receoso, é verdade, de que houvesse distorções que forçassem o escrevente a repudiar o escrito, confiante, porém, por estar sob o amparo dos amigos. Eis que chegou o dia do aperfeiçoamento do trabalho, coroamento desta fase importante dos estudos. Graças a Deus!
Muito agradecemos a todos o auxílio oferecido. Devemos, contudo, registrar que esta alegria só será compartilhada pelo amigo leitor, quando se dispuser a pôr-se a serviço da espiritualidade, na qualidade de modesto colaborador, para a recepção de simples comunicados de sofredores em vias de regeneração, quando receberão os avisos judiciosos dos doutrinadores.
Permitam-nos dirigir-nos a quem principia, pois nada teremos a dizer aos experientes. Perdoem-nos se o título os iludiu, predispondo-os para a obtenção de informes de nível superior. Reconhecendo-se aptos a dedicarem-se a melhores comunicações, ajam com humildade, compreendendo o ponto evolutivo deste companheiro.
Para aproveitamento deste final de mensagem, elabore o tópico em que se enseja ao leitor participar das alegrias do grupo, por meio da oração de agradecimento ao Senhor. Não seja este desafio mais que o recurso por nós utilizado para que entre em contato com os amigos que lhe dão assistência e amparo.







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O DESESPERO





Às vezes, o nervosismo faz com que os encarnados se transtornem e pratiquem atos cujas conseqüências estão longe de poder medir. Será justo considerar-se, em casos de extrema violência psíquica, quando o indivíduo se encontra fora de si, que não venha a ser responsabilizado? De forma alguma. Não é porque a causa dos malefícios se atribua a condições de precário autodomínio que vamos inocentar os indivíduos que sacam de armas de fogo e atiram na multidão. É certo que há desequilíbrio, mas há que se avaliarem as condições mentais, para saber-se o que viera ali fazer no momento do desvario.
Imaginemos um tumulto para o qual são designados vários policiais. É justo que cheguem armados diante das pessoas que se ocupam de obstruir o trânsito em algum logradouro público? Conjeturemos que sejam desafiados pela população, que reivindica a construção de passarela para pedestres; será plausível que disparem no intuito de intimidação? Nem perante as leis dos homens; que se dirá, então, em termos evangélicos?!
Vejamos.
O policial deve preservar a ordem pública. Cabe-lhe, portanto, manter a calma, refletindo serenamente a respeito da melhor decisão. Se só ou com pequeno contingente, não será dando tiros para o ar ou sobre o povo que conseguirá conter os atos de rebeldia. Ao contrário, se se desesperar, não vendo nos circunstantes mais do que inimigos pessoais, perderá a razão. Se suas atitudes forem incompreendidas, por exagerada agressividade, poderá vir a sofrer revide do populacho, que lhe aplicará a lei de talião.
Como reagir em circunstâncias tão graves? Com tranqüilidade e fé em que o mundo não se fez num só dia, dando tempo ao tempo e exigindo de si a mesma paciência que espera ver nos outros. De modo prático, deve-se aguardar as deliberações das autoridades superiores a quem cabe, em última instância, determinar como proceder para se evitarem problemas mais agudos. No caso em tela, não há como fugir do aumento do contingente policial para fazer-se cumprir a lei.
Não há como se justificarem os atos de loucura. Pode-se compreender, após fria e completa análise, de que natureza são as causas, mas não se pode oferecer isenção de culpabilidade.
E quando as situações são delicadas e refletidas, sendo os desafios sutis e as reações intelectualizadas?
Aí a perda da razão é completa, pois, se, no auge da contenda, não é perdoável a ação violenta, menos ainda será quando se teve todo o tempo para preparar as reações do perdão e do auxílio.
Vamos considerar o caso de um pai desobedecido. Será justo que dê uns bons tabefes na criança, para restabelecimento da ascendência da autoridade paterna? Tapas, bofetões, palmadas, murros são a demonstração do poder da força. Sabemos que muitos pais se justificam, dizendo que os filhos são incapazes de ouvir a voz da razão. Mas será que meditaram a respeito das causas da desobediência? Na maioria das vezes, a peraltice tão-só demonstra carência afetiva, o que a surra irá acentuar. Se os fatos levaram ao ponto de a única saída parecer ser a agressão física, é porque algo ficou para trás no caminho do amor.
Agir conforme os padrões evangélicos é o melhor recurso em quaisquer circunstâncias. Há momentos em que não vemos saída possível senão rompendo o nó a machadadas. É preciso reconhecer, contudo, que nem todos os problemas se resolvem de imediato.
A reação mais inteligente para quem sente o sangue ferver é afastar-se do local da desavença, orando contrita prece em que se solicite, em nome de Jesus, que os protetores se façam presentes, para auxílio nas decisões. Sentar-se em silêncio e sorver um bom copo d água em goles lentos ajudará a serenar o coração. Se o adversário prosseguir investindo com furor, retirar-se rapidamente, mesmo que o gesto possa ser interpretado como de covardia. O que se deve evitar é o agravo da situação, através do acirramento dos ânimos. Não aceitar os impropérios como algo definitivo, mas lembrar-se de que ninguém será eximido das responsabilidades perante Deus.
Este arrazoado pode dar a idéia de que foi escrito sob o impacto de alguma forte impressão, provocada por violência injustificável. Realmente, causou-nos espanto a atitude de certos policiais que, para dispersar multidão reunida com o fim de interromper o trânsito de veículos, dispararam para o ar e para o chão. Tiveram sorte de não terem recebido por resposta mais do que xingamentos e algumas pedradas.
Fica-nos a pergunta de como teriam agido se soubessem que estavam sendo observados por inúmeras entidades espirituais, umas incentivando o desregramento, outras tentando impedi-lo.
Eis que acrescentamos argumento espírita para a reflexão do amigo. Será que as forças espirituais cevadas no amor poriam mais lenha na fogueira ou iriam providenciar que se apagasse o fogo da intemperança?
Pensamos ter claramente definido as razões que nos levam a afirmar serem passíveis de punição todos os que se desesperam, mas se os motivos que apresentamos não forem suficientes, que não se apresse o nosso refutador em defrontar-se com a verdade das conseqüências, buscando refletir maduramente a respeito das resistências ao nosso ponto de vista.
Fiquemos todos na paz do Senhor!







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OPOSITORES





O orgulho e o egoísmo são os péssimos atributos que promovem o desenvolvimento dos rancores, a impedir que todos comunguem dos mesmos ideais. Sabemos que outros móveis existem, avultando o ciúme e a inveja como subprodutos daqueles, que dão origem aos sentimentos de repulsa pelos companheiros.
Entreveros há, contudo, que não são promovidos propriamente pela existência de algo que se põe em jogo entre os litigantes, como no das guerras, onde os soldados se chacinam, sem que tenham mantido qualquer relacionamento particular. É que as animadversões ocorrem sem que as causas sejam conhecidas, por incrível possa parecer. Constroem-se arquétipos mentais que se ajustam nos indivíduos, gerando antipatias. São longínquas lembranças, indefinidas, de fatos desagradáveis que se aplicam ao presente, em função de estímulos produzidos pelos sujeitos da repulsa.
Não há bem que sempre dure nem mal que nunca se acabe. Podemos citar o dito popular para o fim que temos em vista, qual seja o de afirmar que as oposições não são eternas, embora se estendam por vários encarnes e durante os entreatos das vidas. Se o adágio se refere também à destruição ou perda do bem, aí somos obrigados a avaliá-lo em função de visão puramente materialista, pois, do ponto de vista espiritual, acentuam-se os relacionamentos fundeados no amor, de sorte que não se poderá presumir que não haja bem que sempre dure. Ao contrário, os laços de amor eternizam os afetos, unindo os seres como se o tivesse sido por Deus.
Claro está que não existem simbioses afetivas, onde os seres como que existem tão-só um para o outro. O amor se espraia pelos espíritos afins, havendo confrarias que se juntam por força desse sentimento, cumprindo-se em seu seio, integralmente, a ordenação cristã. Em tais irmandades, encontram-se, freqüentemente, indivíduos que se uniram afetivamente após terem sido adversários durante milênios. É que as divergências se desfizeram, os ódios se apagaram, dando-se, enfim, a percepção de que todos somos irmãos em Deus.
Enquanto encarnados, todavia, a visão nos é toldada por sutis influenciações, a nos impedirem de ver a verdade. Por isso é que temos a sensação de que jamais iremos confraternizar-nos com certos indivíduos, julgando que a repulsa mútua, mesmo sem ações ofensivas, impedirá qualquer manifestação de carinho. É evidente que não iremos incentivar que todos se identifiquem uns com os outros, nem seria possível, nas condições do orbe, cirandar em amor. Se não há o risco de que se venham a prejudicar-se, não há por que fazê-los aproximarem-se. Que o bem produzido alcance a todos, indiscriminadamente, havendo verdadeiro congraçamento entre os que convivem sob o mesmo teto, nos lares, nas oficinas e nos clubes.
Entretanto, quando a inimizade é declarada, o nosso pensamento se modifica substancialmente. Aí haverá necessário estudo das causas que originaram as divergências, pois desse exercício de análise, certamente, nascerá conhecimento mais íntimo de si mesmo e do outro, a impelir as pessoas às reformas cabíveis. Quase diríamos que a existência dos adversários seja providencial, não fora temerário deixar passar a idéia de que possuir inimigos seja próprio da natureza humana. Poderia alguém dizer:
"Se não tenho inimigos, quer significar que estou em orbe errado?"
Não, caro amigo, não ter inimigos é o supremo desejo dos espíritos superiores, que compreendem que toda desgraça decorre, exclusivamente, desse fator, pois, in extremis, é lícito afirmar que o maior opositor de cada um é a própria deformação moral que carrega consigo, a qual, em última análise, se fundamenta no orgulho ou no egoísmo. Não foi assim que abrimos o texto?
Pois é chegada a hora de nos compenetrarmos de que o auxílio aos amigos deve centrar-se na possibilidade de debelarmos as más tendências, aspirando a conviver com todos pacificamente, em amor, ferindo de morte qualquer sentimento subalterno que objetive pôr-nos em conflito com qualquer outro ser. Saibamos viver em paz, já que corre solta no mundo a guerra, mesmo entre quem jamais se conheceu.
Ergamos preces ao Pai, deixando escorrer esperançosas lágrimas por sabermos que estaremos juntos, um dia, em seu regaço de amor.




Observação



Motivou o texto ameaça de morte recebida telefonicamente pelo médium. Veio de longe, por ligação a cobrar, através de voz desconhecida, anônima e grosseira. Era trote, evidentemente, mas perturbou o amigo, que ficou a relembrar o fato de não ter podido auxiliar a quem o ameaçou. Na verdade, não houve meios de se controlar o emitente, preparado para falar e não para ouvir.
Mas algo de bom pôde ser feito: a prece em favor de quem está agindo de modo tão inconseqüente e irresponsável.
Recomendamos calma ao amigo, já que nada lhe acontecerá de ruim, a menos que dê azo a que se criem fantasias em torno do funesto acontecimento. Estaremos atentos, contudo, aos corolários possíveis dessa simples situação.
Fiquemos todos nas graças do Senhor!







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O BEM-QUERER





O relacionamento entre os seres pressupõe a necessidade, já que o que se espera dos demais é que nos sirvam, para o que nos pomos à disposição. Essa troca de favores se dá sob o influxo das tendências sentimentais, de forma que a frieza que se poderia aguardar do ato de permuta de obséquios passa a ter o calor do afeto, da benquerença.
Se refletissem um instante os humanos a respeito de tão simples pensamento, talvez chegassem a conclusões mais honestas sobre a vida em sociedade. Do jeito que estão as relações, nota-se que o envolvimento emotivo tende para o pólo negativo, já que se instalaram suspeitas diante do grande número de frustrações. Até em meras questões de comércio, onde o preço dos produtos depende das chamadas leis de mercado, as desconfianças de que se desejam passar para trás uns aos outros colocam prevenidos os corações, quando não estimulam verdadeiro e danoso ódio.
Não precisaríamos ir mais adiante nos comentários, se houvesse boa vontade em aceitarem-se as premissas que estabelecemos. Reconhecida a falha, sabendo-se que a aflição onera e que o prazer reconforta, bastaria ao ser humano eliminar os maus aspectos dos relacionamentos, perdoando todos os prejuízos, fazendo tábula rasa no processo de barganhas e deixando-se embalar tão-só pelo desejo de servir, sem esperar ser servido. É tão simples que parece obra de varinha mágica.
No entanto, complica-se o raciocínio, tornando-se as razões incompreensíveis pela junção de novos argumentos. Há reflexos de antigos crimes a inibirem sadia postura. Há vinganças inconclusas, misteriosos motivos escondidos no fundo das consciências. Desde quando as coisas podem ser tão simples? Jamais! É preciso buscar causas exóticas, insólitas, desconhecidas. Há o consciente, o inconsciente, o inconsciente coletivo, o ego, o superego, o id a pressionarem cada pequeno gesto. Se a criança brinca alegre na rua, supõe-se que os jogos se predisponham de modo que umas mandem e outras obedeçam. É a formação da hierarquia, desde cedo, justificando mundo de desigualdades, onde uns poucos possuem mais, outros muitos, menos; alguns têm poder, enquanto a maioria vive na ignorância e na miséria.
Forjam-se leis para manter este tônus relacional, tornando-se a civilização intrincada e confusa. O que deveria ser troca de favores mediante as necessidades mútuas, transforma-se em jogo de interesses, onde tirarem-se vantagens é o objetivo principal.
Um dia, na vida de cada um, apresenta-se momento propício para total entrega a outro ser, dada a exaltação apaixonada dos sentimentos. Seria de se aguardar que o amor construísse a felicidade, a partir da compreensão profunda desse sentimento. Mas quê! Os indivíduos como que cristalizam o afeto, egoisticamente, excluindo todos os demais seres, de molde que se tornam enceguecidos para a necessidade de se darem à humanidade. É momento de fascínio único, expressivo, vigoroso, mas que encastela a pessoa, prendendo-a em torre de marfim. É o isolamento. É a suprema forma do egoísmo, embora haja força positiva a presidir as ações e reações. É que existem tendências atávicas, provindas por hereditariedade e concretizadas nos relacionamentos sociais, obrigando os indivíduos a se tornarem obtusos para a universalização dos sentimentos.
Realmente, a partir do princípio de que existe para cada criatura a necessidade de um criador, nada mais justo do que demonstrar-lhe respeito e ternura. Mas os homens se tornam ingratos mediante a dor e o sofrimento cármicos, em virtude do livre-arbítrio. Em lugar de aplicarem a inteligência na compreensão dos deveres, deixam-se iludir pelos excessos de poder e de prazer. O bem-querer, que deveria reger a vida, passa a ser a fantasia de uns poucos visionários, a quem não se dá nenhuma importância. E se irmãos da espiritualidade conseguem desbloquear resistências, para trazerem advertências e exortações, são recebidos como seres impuros, malfazejos, cuja pregação virá a estabelecer sacrifícios.
Se se prestar atenção a esta mensagem, verificar-se-á que nada exigimos de ninguém que não esteja inscrito na natureza e que se imprimiu no arcabouço orgânico e mental de cada um. Basta penetrar na floresta das incompreensões, do orgulho, da vaidade e do desejo de prepotência, que fica bem fácil de entender nossa oratória.
Vamos simplificar a vida, amando a natureza, respeitando a criação e estendendo à humanidade braços acolhedores, cumprindo a palavra evangélica e as leis de Deus. Há sacrifícios, desprendimentos, necessidades de reformas? Pois façamo-los imediatamente, enquanto é tempo na presente encarnação, para que evoluamos espiritualmente. Se houver compreensão do desiderato do Pai, sentiremos alegria e felicidade, quaisquer sejam as perdas. Na realidade, o que existe para quem possui Jesus no coração é enorme ganho, pois pode contar com o bem-querer dos espíritos que velam por nós, que nos guiam e nos protegem. Será esse, com certeza, o caminho à verdade da vida e da existência.
Oremos contritos para que não sejam levadas as palavras pelo vento das incompreensões e inconformismos, na presunção de que algo se possa aproveitar da mensagem.
Fiquemos nas augustas mãos do Senhor!







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A HORA DE CHORAR





Todo ser humano deve reservar perspectivas emocionais em que se verá inferiorizado. É o sagrado momento de tomar consciência de que nem tudo se desenrola de conformidade com os programas.
Baste-nos simples exemplo.
Muitas vezes, nadamos em dinheiro e em saúde, possuímos propriedades e renda segura. Aí saímos bêbados de alguma festa, chocamos o carro e perdemos as pernas. Eis bom motivo para que nos rolem lágrimas compreensíveis, dada a perda daqueles prazeres legítimos, quando a alegria parecia vibrar como sinal de harmoniosa disposição universal. Isto se não espatifarmos a vida, ficando em penoso estado no etéreo, muitas vezes aturdidos, sem forças até para as lágrimas.
Quem é previdente a ponto de imaginar que terá de se haver com o destino, mantendo reservas emocionais condignas? Uns poucos que se conhecem pequeninos diante da magnificência existencial, primando no exercício das virtudes evangélicas. São seres preparados para enfrentamento das agonias, nos embates que são capazes de adivinhar mediante a falência dos companheiros.
Como o bom amigo vê este tópico? Sente-se mal perante as assertivas e argumentos, não desejando, simplesmente, ouvir falar disso? Se continua sintonizado em nós é porque espera alguma palavra de orientação e conforto.
Pois bem, a orientação vem sendo ministrada desde que Jesus peregrinou pelo orbe. Nada acrescentaremos, a não ser que temos visto verdadeiros milagres, no sentido de incréus passarem a valorizar os conhecimentos espiríticos, depois de sofrerem sérios impactos na vida — o principal, a perda dos entes queridos. Tais pessoas não haviam reservado espaço para o sofrimento, achando que a felicidade terrena resultaria da boa aplicação dos recursos à mão, os quais, sendo fartos, não lhes faltariam. Pois da desilusão passaram ao desespero e deste à crença de que algo deveria existir a dar sustentação à vida, além de suas pobres deduções materialistas. São, assim, conduzidos os imprevidentes que guardam distância dos ensinos de Jesus.
Temos visto também pessoas trabalhadoras, para quem o ideal é estar a serviço do Senhor, no auxílio incondicional ao próximo. São seres que sentem a precisão do trabalho caridoso, como algo tão natural quanto beber água. Têm desenvolvido o senso da justiça, sabendo que os méritos se contam pelo esforço sóbrio e consciente. Estão compenetrados da verdade, tanto que jamais estabelecem qualquer dúvida relativamente a virem a necessitar de socorro alheio, dada a naturalidade com que encaram o fado. São gentis e cordatas criaturas, para quem não há revide que não pareça exercer-se na justa medida da necessidade cármica. São seres perfeitos do ponto de vista moral, que não têm palavras de revolta com lágrimas de amargura.
Estamos diante de alguém com tal disposição? Se assim for, caro irmão ou irmã, receba os parabéns e humilde pedido de perdão, por não termos nada a acrescentar ao seu modo de ser. Erga ao Criador o pensamento, orando com fervor para que a humanidade venha a crescer na compreensão dos desígnios divinos, o que será o máximo que temos para dizer, principalmente por não termos tido o mesmo discernimento no último encarne.
Eis-nos a apresentar o próprio exemplo como algo em que não se deve basear. O nosso sacrifício, contudo, foi oportuno, de sorte que tivemos o privilégio de ser guindados à condição de discípulo desta Escolinha, o que muita felicidade nos causou. Foi a nossa hora de chorar, pois se dava o entendimento, finalmente, de que Deus é pai de justiça e de misericórdia, tanto que estamos ávidos para retornar à carne, para refazer os elos perdidos de nossa corrente de fraternidade e de amor. Esperamos em Deus ter a oportunidade de nos depararmos com textos como este, em que se faz a advertência para a compreensão da vida, bem a tempo de sofrearmos os maus pendores que, sabemos, teremos de extirpar da personalidade.
Saberemos desconfiar de que, se viermos a nos encontrar com este mesmo escrito, tivemos, um dia, algo que ver com as emoções de sua construção? É bem verdade que nos transformamos e que velhos cadernos, quando decifrados após longas peregrinações, nos surpreendem pelas ingênuas sensações que imprimimos, como se fôramos saudáveis e honestos. Não ocorre freqüentemente? Não aconteceu ao amável leitor? Pois bem, rogamos a Deus que esta manifestação se torne o mais pura possível e que nosso espírito não se surpreenda com a qualidade dessa pureza, no momento de reavivar antigos sentimentos.
Isto quer significar que sabemos estar demonstrando ingenuidade e afastamento das terríveis batalhas a que os encarnados se propõem vencer. Aspiramos, todavia, conquistar algumas vitórias, apesar de rogar para não estranharmos o idealismo de que nos vemos revestidos neste sublime momento. Como seria bom se, ao lermos o que aqui se encerra, tivéssemos o tônus emocional equilibrado, sem estremecimentos de surpresa! É o que mais desejamos para o reingresso na matéria. É o que bradamos ao Senhor que esteja ocorrendo ao caro amigo.







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O VIBRIÃO COLÉRICO





Está bem configurado na literatura espírita o papel das doenças endêmicas e epidêmicas. Sabe-se que o homem enfrenta tais vicissitudes por diferentes razões, todas convergentes no sentido de lhe proporcionarem fortaleza para suportar as dores, angústias e sofrimentos delas provenientes, podendo ascender na escala evolutiva, com a compreensão das leis de causa e efeito.
O caso específico do surto que grassa pelas terras sul-americanas, nada tem de excepcional, a não ser o fato de se poder demonstrar, através dele, aos donos do mundo, que bem pouco fazem para espraiar a benemerência junto aos miseráveis espoliados que se deterioram à míngua, à beira dos rios e dos mares, sem recursos válidos para debelarem as doenças, abandonados que se encontram do poder e do dinheiro.
Chegando a doença aos centros populosos, começa o medo a crescer, verificando as pessoas o quanto deveriam ter feito em prol dos infelizes. Haverão de perguntar:
"Há aí a mão do Senhor? Terá Deus providenciado, como se narra na Bíblia relativamente ao Egito, para se libertar o povo de Israel de seu jugo? Existe advertência aos dominadores de que têm de melhor cuidar dos governados?
Como gostaríamos de responder que sim; no entanto, nada pode ser imputado ao Senhor, senão como efeito de suas leis. Não é difícil de se perceber que, a cada geração, a quantidade de párias aumenta, concentrando-se a riqueza nas mãos de poucos. Não vamos considerar se há ou não justiça de acordo com os códigos humanos. O que importa é conhecer se haverá justiça pelos estatutos divinos. Sendo assim, se não quisermos ver crescer os sofrimentos, se quisermos afastar de nós os perigos, se quisermos que se extinga a ameaça da doença sem rastro de cadáveres, trabalhemos em favor de maior assistência aos que jazem em negra miséria; miséria de saúde, miséria de cultura e de civilização.
Têm os homens consignados nas letras das leis roteiros imensos de serviços a serem prestados à comunidade, na forma de prescrições, de obrigações, de deveres, de competências e de atribuições. Mas a força impera no dia-a-dia da sociedade, tornando a lei tão-só letra morta. Parece atacada por conhecido vibrião, porque está a grassar tremenda epidemia de egoísmo e de prepotência, disseminando-se pelas almas os vírus da riqueza e do poder.
Sabemos que nada do que expusemos tem de ver com o costumeiro teor dos textos mediúnicos. Sabemos que nos empolgamos com as palavras, sapecando até junto a quem seja impotente e inocente inolvidável sermão, a exigir que todos se julguem culpados pela invasão do cólera. É preciso conter os ímpetos de acusação para manifestar o desejo da solução, por meio da solidariedade e do amor.
Interesses econômicos estão em jogo. O turismo fenece e a indústria pesqueira deixa desempregados inúmeros indivíduos, cujas famílias começam a passar necessidades. Estão os políticos a perceber a iminência do colapso social e requerem verbas, esquecidos daquelas que se extraviaram anteriormente.
Vamos aproveitar a doença para reparar antigos vezos, que permitiam o desvio dos fundos. Olhemos pelos irmãos, dando-lhes condições de sobrevivência. Não imaginemos lucros demográficos com a morte de grandes magotes da população. Lutemos por imprimir nas mentes que se deve reagir benignamente diante dos males que se avizinham, mantendo em alto nível os recursos emocionais, intelectuais e morais, no sentido de reconhecer nas doenças aquele valor cármico que representam.
Sejamos práticos na desgraça, rechaçando qualquer intuito de aproveitamento pessoal. Existem até religiões que almejam conduzir para os seus cofres o dinheiro pequeno dos sofredores atraídos pela pregação fácil dos tempos tormentosos, propiciando-lhes a ignorância de sua falsidade, a mergulhá-los nas águas das crendices, da mesma forma que os batizam nas águas da submissão.
Visa a advertência despertar para os diversos fatos que estão em fase inicial de desenvolvimento, mas que crescerão com o avança catastrófico da epidemia. O cólera demonstrará intenções e desejos, mas estarão os pobres sobremodo aflitos para porem tento às ações dos aproveitadores. Principalmente, revelará o quão pouco de amor se tem à vida, já que se ignora a importância do encarne em função do progresso espiritual.
Eis que estamos a elaborar prognósticos, não porque estejamos dotados de visão profética, mas porque é fácil de aplicar-se a lei de causa e efeito, quando se tem por mostra a história da humanidade.
Pode-se estranhar que estejamos tão preocupados com fatores meramente carnais, mas de que valerão as comunicações mediúnicas, se não tiverem o objetivo de ajudar os encarnados a compreenderem a vida em todos os aspectos? Advertimos e advertiremos sempre para os fatores desajustadores da serenidade individual e da paz coletiva. Somos, sim, pequenina peça no imenso tabuleiro da vida, mas precisamos estar preparados para enfrentar a existência. Se uma das principais tarefas evangélicas é amar o próximo, não haverá sentido em fazê-lo abstratamente, negando-lhe o socorro na exata hora da precisão. Amor não é contemplação extática; é trabalho e alegria, com vistas à felicidade eterna aos pés do Senhor!
Vamos orar para que os que vierem a perecer sejam os que melhor possam aceitar, por razões plausíveis, a cessação da peregrinação pelo orbe, assumindo a responsabilidade cósmica com tranqüila determinação.







DERRADEIRA PÁGINA





Estamos despedindo-nos. Satisfizemo-nos com os gloriosos dias dedicados à mediunidade, embora tenhamos deixado o mediador preocupado com as inovações, quer quanto às correções a que submetemos os textos, quer no que se referiu ao transporte prévio a que o conduzíamos, para preparação do momento psicográfico.
O médium teve calma e ponderação para aceitar a metodologia, embora agisse prudentemente, sempre desconfiado de que poderia estar a elaborar os textos animicamente. Queremos desfazer de vez tal impressão, através da afirmação de que imprimimos aos escrito o nosso pensamento da forma que nos é peculiar. Se se habituou com o sistema, poderá colocá-lo à disposição dos próximos grupos.
A partir da mensagem intitulada Opinião, assumiu o comando outro conjunto de alunos da mesma equipe. Tal fato não tem qualquer importância, mas precisamos registrá-lo para oferecer os motivos de certa alteração na escritura das comunicações, bem como quanto ao estilo, não tendo a temática sofrido solução de continuidade.
Que os esforços da equipe sejam recompensados com a influenciação sobre aqueles que vierem a depositar confiança nos trabalhos, é o que, contritos, rogamos ao Pai, neste agradecido comentário final. Oremos o pai-nosso para reconforto de todos.
Que as bênçãos de Deus recaiam sobre nós!
Graças a Deus!









APÊNDICE



TEXTOS PREPARATÓRIOS E COMENTÁRIOS













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PRIMEIRAS PALAVRAS





Este escrito é mais um teste para avaliarmos a possibilidade de magnetização e o ritmo que poderemos imprimir à escrita, bem como o nível das dificuldades de expressão. Disseram-nos que encontraríamos bastante facilidade, tanto na influenciação vibratória, como no ritmo do trabalho, mas não estamos satisfeitos inteiramente, pois está a parecer-nos que os esquemas do irmãozinho estão por demais cristalizados.
Sugerimos-lhe que efetue leituras mais livres dos temas espiríticos, para que haja maior elasticidade na contextura fraseológica. Pede-nos um exemplo? Pois vamos ditar-lhe algo cuja formulação não esteja bem de acordo com o seu sistema. Veja quanto tempo levou para colocar a palavra sistema, tendo-se lembrado de inúmeras outras que deixamos à sua própria conta relembrar. O que temos para pedir-lhe é que favoreça grande abertura mental, sem desesperar-se por não perceber que a frase esteja ganhando corpo. Há que confiar em que tenhamos arbítrio suficiente para discriminar o que for melhor para nós. Eis porque lhe solicitamos que deixe de lado estas páginas iniciais, na intenção de virmos a reorganizar a comunicação, conforme nossos prismas e nossa capacidade.
Quando lhe dissemos que não esperasse nada de sobrenatural (ver Introdução), estávamos referindo-nos, inclusive, ao próprio linguajar e à fraseologia. É que desejávamos imprimir o cunho de nossa personalidade, que, em muitos aspectos, poderá até ferir certos princípios lingüísticos mais refinados que percebemos estar de posse o mediador. O nosso esquema, portanto, prevê algo diferente, mas não necessariamente superior.
Suspendemos aqui as observações iniciais, mas solicitamos que o amigo não fique a sonhar com as soluções que traremos. Deixe tudo por nossa conta e risco, pois é hora de não assumir responsabilidade conjunta. Evidentemente, se houver desvios de caráter metodológico, doutrinal ou moral, haverá, certamente, a explicação concernente, jamais ocorrendo de podermos intentar macular os nossos compromissos e a nossa responsabilidade perante a verdade.
Estamos por demais satisfeitos com o entendimento de nossas formulações. Achamos que será possível atingir os nossos desejos, de modo a facilitar a consecução da programação. Fique com Deus, caro irmão, e proteja-se dos influxos maldosos dos obsessores, orando com fervor pela ajuda de seus instrutores e amigos. Fique com Deus!
(20.12.91)







2

PRESSUPOSTOS





Estamos adquirindo confiança na facilidade com que imprimimos os vínculos, de forma que há bem poucas palavras que estão correndo por conta do escrevente. O de que não estamos gostando é de ter ficado o escrito muito parecido com os das turmas precedentes, mas temos de convir que o ritmo proposto corresponde aos instrumentos lingüísticos. Assim, se desejarmos uma alternativa, não há fugir de ou; se for repetida, temos quer...quer, seja...seja, já...já, ou...ou, que...que e outras que poderemos forjar ou inventar, segundo os preceitos gerais que regem o idioma.
Por isso é que precisamos de mais um pouco de tempo. As páginas não transcritas não devem ser colocadas fora, pois irão servir de base para os refazimentos necessários, de modo que servirão para a transformação dos impulsos iniciais em exemplificação abonatória.
O irmãozinho propõe que a letra se modifique para ver se os impulsos que lhe transmitimos estão sob perfeito domínio do grupo. Pois que assim seja.
Veja se consegue arredondar mais as letras e diminuir o tamanho delas. Observe que, apesar de ter o domínio do braço, ainda nos restou o trejeito da vibração. Isto quer, necessariamente, significar que você pode deixar-se levar pelas vibrações íntimas que constituem o fulcro do ditado, sem prejudicar, naturalmente, o que temos para dizer. No entanto, se liberar o pulso, deixando a mente mais libre por sua vez, se não ficar vigiando se já escreveu a palavra livre outras vezes, se enfeia o estilo a repetição do já, se não está bem o equilíbrio ou a simetria da frase, aí irá verificar que temos o domínio da magnetização e que seu trabalho repercute os nossos desejos e não os seus.
Fique, portanto, bem calmo, sereno, ponderado, evitando emitir conceitos que possam prejudicar o treinamento. O que pretendemos irá ser um pouco inusitado; por isso, precisaremos que não perca os impulsos intuitivos. Vá escrevendo despreocupadamente, esquecido até de que existe cansaço. Pense em que estes escritos contenham orientações iniciais ao médium, e não se afobe com o temor de que tudo venha a se constituir em balelas só, sem fundamento e sem lucro para ninguém: encarnados ou desencarnados.
Você ia propor outra terminologia. Pois é isso que desejamos que evite. A palavra que lhe surgir na mente em primeiro lugar é que deve ser grafada. Agiu bem relativamente ao termo grafada, apesar de não ser exatamente aquele a que daria preferência. Sabemos bem que as idéias repetidas, mal expressas, a terminologia dúbia e os enganos no apanhado dos ditados podem vir a ser corrigidos, o que não nos dá o direito de reclamar dos princípios postos em prática pelos instrutores para esta iniciação mediúnica.
É também bom treinamento levar o médium a ficar a pensar em outros assuntos, ao tempo em que seu punho está a apanhar os impulsos quase mecanicamente. Sabemos que a velocidade do pensamento é imensuradamente superior a qualquer forma de redação, pois existe o trabalho material a vencer, já que a lei da inércia pura só se realiza no vácuo absoluto e o peso da mão, a transmissão nervosa e a captação mental, tudo onera sobremodo a rapidez com que se poderia acompanhar o raciocínio.
Veja que, sem termos assunto definido, entramos pela sexta folha ou lauda ou página, como preferir anotar. Não tem importância, pois a referência que desejávamos assinalar está de fato bem nítida, qualquer venha a ser o vocábulo preferido.
Agora, sem maiores avisos, vamos deixá-lo de vez entregue às suas tarefas de preparação do Natal.
(22.12.91)







3

ESPECIFICAÇÕES





Nossas primeiras manifestações para valer terão início no próximo ano. Até lá iremos abster-nos de graves pronunciamentos. Cabe-nos treinar o pulso ao amigo, para que fique bem leve e para deixar escorrer as palavras conforme vierem a ser ditadas.
Veja como tudo corre muito bem, enquanto a mente fica apenas preocupada em acompanhar a melodia distante do carro de gás. Continue assim, bom amigo, que é o que desejamos obter de você.
Sinta o ruído da água da chuva a fustigar as folhas movida pelo vento. Veja como as cortinas se enfunam, cheias do desejo de partir em busca de outras formas, mais condizentes com o seu destino vislumbrado pelo momento de glória. Sinta como se retraem, muitas vezes, temerosas do atrevimento. Eis que um pouco de poesia pode não ser totalmente desprezível para a comprovação de que o fato mediúnico pode assumir aspectos inesperados.
Vá até lá fora, em pensamento; sinta o frescor da água em significativo contraste com a temperatura cálida desta tarde de verão. Assimile o poder da natureza de dominar o homem, reduzindo à expressão mais pueril do desempenho físico. Mas que grandiosidade em sua possibilidade de reconhecimento do divino poder! Que importância haverá em estarmos diminuídos em nossa organização material, se temos a centelha que nos une profundamente a tudo?!
Sentir-nos-emos profundamente honrados, se conseguirmos obter a adesão do médium para os escritos, de sorte que venha a acreditar em que algo de bom estamos preparando para os leitores, possíveis companheiros de peregrinação, se conseguirmos irrestrita solidariedade.
Vemos que o tema está a interessar o mediador, mas pedimos-lhe que se abstenha de valorizações indevidas para este momento. Quando da conferência do ditado, aí poderá refletir a respeito do teor das exposições. Por enquanto, mantenha-se atento a que o registro se dê de modo a não permitir dúvidas posteriores e vá anotando palavra por palavra, emoção por emoção, tópico a tópico, tudo o que lhe chega em simples forma de desejo de manifestação.
Gostamos da disposição que as frases estão obtendo, pois nos parece aconselhável deixar o fluxo das idéias conduzir a expressão lingüística de forma o mais livre possível. Sendo assim, não restrinja o léxico, mas abra-o completamente, como se fosse possível ir buscar no fundo do dicionário, ordenadamente, as palavras mais adequadas para a tradução mais plausível dos pensamentos.
Fique, caro amigo, pois, liberado de ter de vigiar as expressões, atendendo tão-só ao impulso. Há repetições, há ecos, há impropriedades semânticas? Mais tarde discutiremos e proporemos substituições a título de se escoimar o texto de algum peso estilístico que repugne ao ouvido do leitor, mesmo que não seja exigente, mas que deseje ver no livro que adquiriu o resumo do ideário espírita que lhe propiciará condições para avanço na área do conhecimento que está a interessá-lo no momento.
Não queira, caro colega, chegar a enfatizar demais os termos, buscando, escarafunchando aquele que maior impacto emocional ou intelectual possa provocar. Essa parte, para nós, é absolutamente secundária, apesar de importante. Antes, vise a conhecer o sentido da expressão no campo do valor evangélico, o que, de resto, nós estamos a impedi-lo de fazer neste exato instante da transmissão.
Esta parte pode até constituir-se em roteiro para amigos compenetrados em saber manejar a pena psicograficamente. Veja que a frase ficou bem diferente, embora expresse com vigor a mensagem que pretendíamos. Estamos chegando parto do objetivo, pois os recursos de que dispomos estão em plena estabilização e o mediador não está precisando esforçar-se um nadinha para descobrir o ritmo impresso no volteio gráfico.
Temos para hoje longo texto preparatório, que inclui até as fases em que, normalmente, o médium arrefece o entusiasmo, premido por certo cansaço psicológico, no temor de que o impulso se atenue e o texto não tenha continuidade que faça jus ao que foi transmitido até este ponto.
Isto é mera provocação para que o amigo se compenetre de que estamos atentos aos ajustamentos psíquicos que se dão durante a transmissão mediúnica. Veja como tudo transcorre normalmente, inclusive no tônus mais adequado para fazê-lo perceber que o ritmo costumeiro está levando-o a conformar-se com este tipo de trabalho. Fique, portanto, bastante sossegado e não se arrisque pelos caminhos da suposição do texto que dará prosseguimento à mensagem.
Veja que não nos preocupamos em iniciar as frases com a mesma invectiva pessoal, linguagem de apoio emocional para imprimir-lhe à mente o devido cuidado em receber com justeza a força magnética que dá vazão ao nosso empuxo, no momento da comunicação.
Achamos bom que venha refletindo a respeito do que está escrevendo, principalmente porque estamos notando que há níveis de exclamação em suas reações íntimas, em virtude de expressar-se diante da propriedade da tecitura textual em conjunto com os pensamentos que lhe vêm surgindo completos e perfeitos — no sentido de terem um início, um meio e um fim, ou seja, tratamento verdadeiramente lógico. Sabemos que, em outras oportunidades, esteve sob o domínio de outras equipes igualmente interessadas neste tipo de aprendizagem, pois o que vimos fazendo neste treinamento é mero aproveitamento da boa vontade do mediador, uma vez que é dotado de qualidades ótimas para o apanhado das manifestações espirituais.
Já se vê que somos meros aluninhos e que não pretendemos vir dar grandes lições a ninguém. Aliás, neste aspecto, é bom não esperar grandes produções, pois pode parecer, pelo cuidado que estamos tomando, que teremos grandes ofertas ou novidades. Qual nada! Como se pode inovar em matéria evangélica? Ainda que conhecêssemos outras normas superiores, nos veríamos manietados pelas proibições explícitas dos maiores, pois é totalmente vedado ao plano espiritual extrapolar certos limites, dada a própria condição dos encarnados, quer quanto ao aspecto intelectual, quer no que respeita aos meios de que dispõem para a confirmação de tudo o que lhes possa ser oferecido como conhecimento específico da espiritualidade.
Está o amigo, com razão, considerando o discurso altamente repetitivo, no que se refere ao plano das idéias. É verdade, bom irmão! É como afirmamos acima: nada haverá de novo nesse setor. Podemos inovar na forma, apesar de todas terem sido tentadas desde que se vem publicando estas mensagens: há textos em forma de sermão, de poesia, de teatro, de romance. Há inúmeros diálogos, confissões, diários, cartas. Há pessoas que se desvencilharam das palavras, projetando em telas imagens pictoricamente concebidas. Há maneiras que somos até incapazes de conhecer, dada a nossa pouca cultura. Mas o fundo permanecerá integralmente vinculado à notícia emanada de Nosso Senhor Jesus Cristo, a quem se ensejou dizer tudo que o homem precisa saber para agir em função de seu crescimento evolutivo, se assim podemos dizer, até que atinja o limite máximo superior que o remeterá para círculos mais aperfeiçoados, no sentido de se encaminhar para Deus.
Estamos chegando ao fim desta exposição, treino valiosíssimo para bem considerarmos as reações de que dispõe o mediador, uma vez que a velocidade que imprimimos ao escrito superou até a que tínhamos em mente. Hoje, somos capazes de avaliar melhor o instrumento que temos à mão, bem como o nosso próprio valor no desempenho destas atribuições.
Há algo que gostaríamos de ressaltar: é a pacienciosa atitude do escrevente, sempre disposto a apanhar qualquer ditado, esteja certo ou aparentemente errado, crente de que todas as idéias se esclarecerão no devido tempo. Isto é ter fé em Deus, pois foi nas mãos dele que foi depositado o seu coraçãozinho respeitoso pelas entidades que o guiam desde o plano espiritual.
(26.12.91)







4

EXPERIMENTOS





Vamos iniciar os trabalhos trazendo o testemunho de um ser que na Terra comeu, literalmente, o pão que o diabo amassou.
Era jovem quando foi convocado para servir a Pátria nos campos estrangeiros. Deveria sorver as agruras de longa enfermidade, de modo que não foi perdoado pelos morteiros inimigos, ficando aleijado definitivamente. Em linguagem atual, diríamos paralisado da cintura para baixo, hemiplégico, paraplégico ou diplégico. Escapou de ficar tetraplégico por comiseração de certo guardião que lhe arrefeceu os impulsos de auto-impiedade, se assim podemos registrar.
Não amoleçam o coração diante da desdita, mera conseqüência do muito que errou o irmão em encarnes anteriores, quando maltratou demais as pessoas que se viam na condição de escravas. Não sabemos por que maldade do destino, nunca lhe foi negada a condição de refazer os débitos na situação de senhor; no entanto, era só se ver no domínio das pessoas e já estava pronto a lhes pespegar os castigos mais cruéis.
Não se iludam, portanto, com a pena rigorosíssima que lhe foi imposta pela sorte: era aquela que pleiteara antes de vir ao mundo. Para sorte sua, o arrependimento demonstrado não era totalmente falso, como sói acontecer com quem teme os percalços a serem enfrentados.
Não nos basta este pequeno trecho. Queremos dizer que o amigo testemunhou Jesus na cruz e pôde considerar-se quite com a benemerência divina. Eis, finalmente, que retornou ao plano espiritual em condição de crescimento evolutivo, pois o seu sofrimento foi considerado suficiente, tendo em vista que se compenetrou das falhas durante o período em que ficou na dependência dos outros. É bom acrescentar que os amigos que o auxiliaram a subir na escala da espiritualidade eram os mesmos que havia supliciado anteriormente, o que lhes foi revelado em sonhos, apesar do inteiro esquecimento de parte deles.
Era o inferno e o céu, pois havia certa consciência intuitiva de que tudo fora planejado para o efeito.

Sentimos muito estar ainda tateando neste ditado, pois temos necessidade de melhor conectar as nossas ondas à possibilidade do receptor. Não vemos como fazê-lo sem este treinamento. Fiquemos, contudo, convictos de que o texto ditado vai organizando-se segundo os impulsos e não conforme a aspiração do mediador. Neste momento, estamos dando-lhe verdadeiro baile, pois desconhece até o último instante qual o termo que irá registrar, embora seja perfeitamente capaz de conhecer a intenção do parágrafo. Eis que, de repente, mudamos o termo, o vocábulo, a palavra, a expressão e ele se vê assustado e um pouco hesitante em relação ao que deverá escrever. Pedimos-lhe que nos desculpe, pois o objetivo é despojá-lo da vontade, o mais completamente possível, mecanizando-lhe a escrita.
O sono que lhe pesa sobre as pálpebras o atemoriza ainda, pois lhe parece irresponsabilidade não dar assistência aos amigos do etéreo. Não se prenda por nós, bom amigo, e, se quiser, poderá deixar o pensamento vagar ao léu, até mesmo sem direção. Temos a norma lingüística sob domínio, o que nos dará a possibilidade de manter a integridade textual no campo sintático e fraseológico.
Vá com Deus, bom amigo, no que se refere ao aspecto espiritual, mas deixe os apetrechos conosco, pois serão o instrumental de que lançaremos mão para dar prosseguimento às experimentações.
Estamos vendo que a sua preocupação não é das maiores, mas ainda existe, pois interfere a cada passo, na ânsia de não nos permitir qualquer erro. Não haverá importância no fato de alguma das frases não apresentar sentido. É que não temos o desejo de elaborar textos para publicação. Se, mais tarde, após análise eficiente do que sobrar de nossas arremetidas, segundo critério a ser fornecido pela casa editora, houver tal possibilidade, aí efetuaremos alterações, no sentido de dotar as mensagens de mérito para promover-lhes a divulgação.
Esta tarde está, particularmente, sendo ótima para o nosso desenvolvimento, pois estamos testando inúmeros meios para efetuar a aproximação, de forma que nos colocamos aptos para bem discernir a respeito do que irá suceder quanto mantivermos relacionamento para valer.
Se houvesse algum leitor para este pobre escrito, ficaria curioso em saber quanto tempo levamos para preencher estas seis ou sete laudas de trinta e poucas linhas, num total de, aproximadamente, a considerar que a média das palavras é de oito por linha, mil e quatrocentas palavras em cada mensagem.
Se o leitor considerar isso muito diante do pouco que ele mesmo consegue em cerca de uma hora de trabalho, pense que nosso Chico Xavier já tomou extensos ditados, livros inteiros de mais de duzentas páginas, em dois ou três dias de trabalho quase contínuo. Não temos a facilidade dos transmissores que o apaniguaram com sua atenção, nem nosso mediador está habilitado para algo sequer aproximativo. Eis que do nada que muitos produzem para o pouco que fazemos, existe já alguma evolução. Mas dos meios de que dispomos para os recursos de que lançam mão espíritos como André Luís ou Emmanuel, nada significa a nossa presença aqui. Isso se considerarmos tão-só o aspecto material da transmissão. Se formos levar em conta o teor dos textos, então, iremos sentir-nos os mais pobres dos espíritos, pois não há ponto de contato nem de confrontação entre a produção de uns e nossa tentativa quase frustrada.
No entanto, vamos avançando, nesta tarde chuvosa do verão esquisito que está estendendo-se neste ano, pois que a temperatura está prestes a cair.
O irmão quer saber se a informação nos chegou por meio de seu cérebro ou se fomos capazes de examinar as condições climatéricas por nossos meios.
Pois devemos informar que nem tudo retiramos da mente do irmão, da mesma forma que os autores acima citados não retiram os seus, pelos pensamentos da mente do confrade Francisco Xavier, embora nada obstasse que pudessem fazê-lo, dada a grandiosidade dessa meiga criatura. Mas não iremos enveredar por esta rota batida, já que não nos levará a nada. Fique tranqüilo que a temperatura e as condições atmosféricas estamos habilitados a observar.
Outra observação do irmão se dá quanto a estarmos a encher lingüiça inutilmente, já que os assuntos formam verdadeira miscelânea, de modo que tudo parece muito diferente da organização das equipes anteriores, que deixaram inequivocamente expresso que tudo deveria estar devidamente homologado pelas autoridades espirituais, para que se pudesse colocar aos olhos dos mortais, pelo menos se se definissem considerações de caráter moral ou evangélico.
Pois o nosso alvará inclui este tópico inicial da aprendizagem dos fatores impeditivos ou obstrutivos da mediunidade, de sorte que temos ampla possibilidade de testar o aparelho, desde que, é claro, não ofendamos os princípios do bom relacionamento que deve ser mantido e de acordo com a premissa maior de que deveremos respeitar o livre-arbítrio do escrevente.
De tudo o que pudemos oferecer como demonstração de nossa postura, restou algo que está intimamente vinculado à boa vontade do mediador. Claro está que este treino findará, finalmente, pois não seria crível que ficássemos durante cerca de quarenta dias com esta conversa mole para boi dormir. Mas também não vamos gastar boa vela com mau defunto, nesta comédia de anexins, à moda de Artur Azevedo. Gratos pela lembrança para a citação, mas saiba que elaboramos a mensagem com tudo em cima, de sorte que até as expressões mais fuleiras, mais populares ou mais bregas estavam devidamente programadas para o efeito, de modo que pudéssemos, além do mais, avaliar as reações do médium, à vista da possibilidade de descer o nível da linguagem para aspectos mais chulos, sem, no entanto, cairmos nos jargões mais rústicos, grosseiros e imorais. É-nos grata surpresa esse cuidado muito especial do irmão, pois, para quem se propõe a tomar qualquer ditado, até que as restrições são bastante fortes.
Diz-nos que não quer contribuir para o acréscimo de débitos daqueles que não desejam refrear os impulsos da maldade.
Faz muito bem, mas se o nosso texto for só exemplificativo, deverá conter, por exemplo, falas de personagens que poderão exprimir-se de forma a ofender os bons princípios da linguagem culta.
Nesse caso, responde-nos ele, o teor do texto deverá ser elevado, de modo a justificar uma ou outra palavra de sentido pejorativo, desde que tudo venha a ficar definitivamente esclarecido.
É medida de prudência louvabilíssima, o que nos conforta e nos indica os caminhos que devemos seguir. Desde que os fins sejam elevados, os meios poderão ser admitidos, não desvirtuando a própria finalidade. Se este período não ficou bem claro, pode reescrevê-lo futuramente, pois a nossa idéia é de que nada deverá ferir a moralidade que devemos deixar impregnada nos escritos.
Fique, agora, irmãozinho, na paz do Senhor, pois, conforme estamos notando desde o início desta transmissão, hoje tem sido dia particularmente cansativo, já que existe certa ânsia de ver o trabalho chegar ao fim, pois o que gera insegurança é o fato de os temas não se definirem, de modo que paira no ar a dúvida de que o grupo esteja capacitado a discorrer a respeito de algo nobre (eis a palavra), para que as pessoas possam tirar proveito da leitura.
Escrever por escrever, pode ser útil para a equipe introduzir-se na mediunidade. Mas a manutenção deste tônus pode ferir a susceptibilidade do amigo, uma vez que tem em conta que outros seres mais evoluídos pudessem estar dignificando a sua própria disposição, ou seres sofredores, obtendo o auxílio dos socorristas.
Como você vê, entendemos e registramos o recado. Mas o certo é que, quando você escreve atento para a escrita, parece que se esquece dos aspectos emotivos que o preocupavam, de forma que todo o texto parece ganhar mais vida. Quando a escrita fica só por conta dos espíritos, como nesta própria frase, o seu élan esmorece, já que não dá tanta importância ao que vem registrando. Observe como a frase se iniciou com força e terminou fragílima, uma vez que utilizamos desses dois recursos alternadamente.
Mas o importante para nós é obter de você a colaboração para o segundo tipo. Nós não o queremos dentro do escrito. Fique alheado, passivo. Não se intrometa. Deixe-nos errar à vontade. Haverá momento para as correções. Não se entusiasme, se estiver de acordo, nem se aborreça, se julgar que navegamos contra a sua corrente. Vá devagar com este andor que o santo é de barro. Achamos que sua preocupação em tornar o texto praticável para publicação deve esmaecer, deve empalidecer, deve desmaiar ou embranquecer. Veja que exageramos na frase para torná-la exatamente o contrário daquelas que você gosta de assinalar. Vá, portanto, tentando adquirir confiança no grupo, pois, em último caso, se nada lhe parecer satisfatório, restar-lhe-á somente lamentar as horas perdidas com esta turma, representadas fisicamente no pequeno fogo a ser aceso e mantido com o combustível destas folhas

Fizemos com que suspendesse a escrita, para poder reafirmar-lhe o desejo de prestar homenagem ao Senhor, pela dádiva da existência. E o faremos através da prece dominical dita em conjunto por todo o grupo. Sabemos que você constantemente repete a oração, como fórmula para concentração energética, em função dos trabalhos que esteja a pique de executar, mas aceite este convite para orar conosco, de modo a bem configurar que nos filiamos, realmente, à Escolinha de Evangelização, entidade educativa destinada a oferecer aos desencarnados e aos encarnados algo de novo em sua maneira habitual de ver a vida, ou seja, a visão do Cristo, do amor, da fé, da esperança e da caridade.
Não há necessidade de se preocupar com a nossa frase, querido irmão; deixe que os impulsos lhe guiem a mão, para que se defina com precisão nossa necessidade de crescimento.
Fique na paz do Senhor!
(27.12.91)







5

EQUIPE DA JUSTA MEDIDA





O nome poderá sofrer alteração, pois não houve consenso em sua escolha. Talvez fiquemos com algo que lembre o dever de se estar prevenido para o ponto crítico em que a justiça de Deus se dará dentro de cada consciência. Assim, talvez venhamos a preferir algo como Grupo da Advertência ou Equipe do Sofrimento Bem Conduzido. Como se vê, talvez venha a ser preferível Grupo dos Indecisos. Mas não será por um mero nome que iremos perder-nos. Fique o irmãozinho tranqüilo. Desconfia ele de que isto seja mero teste de sua paciência, o que põe à prova a sua deliberação de escrever todos os ditados, sem interferências. Pois faz muito bem em pensar assim. Como você vê, continuamos o treinamento, pois não é chegada a hora da deliberação definitiva.
O texto que redigimos hoje (A hora da decisão) sofrerá modificações, portanto, não o leve à transcrição. Fique bastante calmo, que o sistema irá prosseguir desta forma, até a mensagem final . Estamos absolutamente interessados em pensar e repensar, pois o que nos traz a este lar de amor é a fome que temos de testar os dispositivos mediúnicos, principiantes que somos no campo de contato com as pessoas. Por isso, o texto de abertura não condiz com muitos dos que foram tomados nos últimos tempos, o que inclui os três anos anteriores, desencorajados que estamos até de citar os tempos mais antigos de Maciel, João e Homero.
Fique, querido irmão, bem à vontade para escrever, pois este é o exercício que estamos pretendendo. Descanse a cuca e não tema estar sob domínio de espíritos cabeçudos.
Vá em paz para seus afazeres. Não se prenda por nós, que estamos bem à vontade para agir segundo a fórmula que obtivemos dos maiores. O que estamos, na verdade, querendo é romper com a escrita pela forma que vinha realizando-se. Para isso, há que sofrer com a interrupção. Vá em frente nas leituras. Em breve, tudo se esclarecerá.
Eis um modelo muito bom de ritmo que os ditados irão adquirir. Vá escrevendo em linhas alternadas, que ficará mais fácil para decifrar e para corrigir. Finalmente, estamos superando uma das dificuldades. Se a letra adquirir boa contextura, aí voltaremos a lhe pedir que escreva em todas as linhas. Submeta este texto à apreciação da esposa e verá que apoiará a iniciativa.
Se você se recordar, e isso parece-nos bastante claro, os médiuns que se ocupam de ditados apanham-nos em papel sulfite sem pauta, o que lhes facilita o espaçamento. As linhas são meros auxiliares para o roteiro. Se quiser pegar papel em branco, esteja à vontade.
Veja que tínhamos ainda algumas noções para passar; por isso, achamos que fez bem em estimular-se para permanecer conosco.
Fique com Deus e não mais tente descobrir outras peculiaridades deste grupo. Aos poucos, irá tendo outras pequenas surpresas.
Grupo dos Amigos da Verdade.

Eis outro bom nome. Talvez adotemos este.
(3.1.92)







6

O PARTO DA MONTANHA





É expressão antiga que a montanha pariu um pequeno rato, apesar do grande escândalo que fez.
É como nos estamos sentindo hoje, mediante a confecção de nosso primeiro texto para valer (A hora da decisão — versão definitiva). Desconfiou o amigo médium que estivéssemos desconectando a escrita da possibilidade de publicação. Isso é bem verdade. É como o que disse a esposa querida quanto ao fato de se poder escrever sobre todas as linhas. É uma questão de se acostumar.
Até hoje, os grupos visavam a grupo imaginário, como se suas mensagens contivessem valiosos dispositivos morais, capazes de atrair a atenção aos encarnados. Na verdade, nihil novi sub soli, ou seja, não existe nada de novo debaixo do sol. É preciso ser original para se redigir algo que venha a interessar o povo. Não basta, contudo, incentivar-lhe o interesse pela curiosidade ou pela emotividade superficialmente estimulada. Ninguém adquirirá força moral sem profunda reflexão a respeito dos valores de que impregnou a vida. Por isso, o nosso texto sério se fez nesse sentido.
As explicações se estendem monótonas, pois visamos muito mais o treino mediúnico do que o teor evangélico dos textos. Haveremos de contornar os problemas no momento em que estivermos trabalhando com a doutrinação oral dos espíritos em estágio de pouca evolução. O socorrismo não tem outra mira. Por isso, pouca importância atribuímos a estes escritos, no sentido de se constituírem em perfeitos roteiros de evangelização. Pode parecer que não estejamos integrados à Escolinha, mas o tempo demonstrará que tal conclusão tem muito de precipitada.
Vamos encerrar esta tarde de treinamento, pois estamos satisfeitos com a percepção de vários aspectos da recepção que têm as nossas vibrações. É excitante poder avaliar o resultado quando condiz perfeitamente com os objetivos colimados. É ainda superior a sensação de se ver o ditado sendo apanhado com inteira propriedade, recebendo até certos elogios íntimos do mediador, que gosta quando a frase adquire certa flexibilidade, ficando as palavras equilibradamente dispostas, havendo simetria nos segmentos. É entusiasmante perceber que não é à toa que estamos trabalhando em prol de nosso crescimento neste setor do conhecimento espiritual. Sabendo-se quão dificultoso sempre foi tal contato e tendo-se diante de si resultado adquirido com tanta facilidade, é de deixar a pessoa profundamente mergulhada em lucubrações de caráter superior.
Fiquemos por aqui para não incidirmos em elogios desproporcionais. O que gostaríamos de registrar ao final é que muito teremos de perlustrar as mentes dos encarnados para a obtenção de grande número de adesões a este tipo de contato entre os planos. Até o amigo médium, acostumado a estes ditados, sente certa fraqueza na turma, pois desconfia de que esteja havendo muito improviso, quando se afeiçoou às turmas precedentes que traziam tudinho bem rascunhado e devidamente homologado.
O que estamos pretendendo é dar certa fluência ao escrito, dando a impressão do improviso; por isso, essa idéia de que tudo esteja sendo realizado no justo instante da transmissão. Ao contrário, temos tido o cuidado de não descurar deste aspecto fundamental do contato, qual seja, de que o discurso mereça o alvará das autoridades.
É evidente que a idéia fica mais solta quando as palavras são livremente apanhadas dentre o vocabulário mais corrente do mediador, mas saiba que estamos atentos para a expressividade de cada uma, de sorte a não experimentarmos profundas frustrações, por não vermos os pensamentos reproduzidos.
O amigo espanta-se por termos feito referência a despedidas e, depois disso, estarmos a ocupá-lo por longo tempo. É que os impulsos podem ser fustigados pela disponibilidade do médium, de modo que, se desânimo houver de sua parte, logo nos desligamos. O contrário é isto que se está observando, ou seja, as idéias vão brotando e o texto vai alongando-se.
Isto determina a conclusão de que a autorização não se prende a pequenas fórmulas diárias, mas ao conteúdo integral de todo o período em que estivermos com o amigo à disposição.
Você pode verificar que o assunto está fenecendo e os impulsos estão sendo recolhidos. É que não queremos magoá-lo com pequenos desenvolvimentos sem nexo. Avalie o trabalho de hoje e notará que progredimos bastante, no sentido de colocá-lo a par dos objetivos e dos recursos de que estamos dotados.
Para finalizar, uma vez que está você sendo incomodado por alguns distúrbios, estas páginas podem ser encaminhadas para a transcrição.
É bom falar um pouco a respeito deste tema, pois pode parecer que tudo o que expusemos até agora pode constituir refugo mediúnico, com o único destino do cesto de lixo. Na verdade, gostaríamos de ver todos os textos passados a limpo e, mais tarde, devidamente datilografados.
Como você foi informado, o nosso sistema elege a refacção como um dos principais métodos de treinamento do pessoal, momento em que sentimos como reage o mediador em circunstâncias especiais.
Quanto ao pedido por melhoria dos problemas de saúde, pode contar conosco, que conversaremos com Deus a respeito. Fique sossegado.
Adeus, bom amigo! volte agora às atividades habituais. Fique com Deus!
(6.1.92)







7

ESCLARECIMENTOS





Como descobriu o médium, haverá sempre, durante a nossa permanência, um como que segundo tempo de transmissões destinado aos esclarecimentos a respeito dos trabalhos do grupo e demais temas circunjacentes.
Já não estamos precisando dizer diretamente, por exemplo, que o texto principal deve repousar durante uma noite para ser refeito ou recomposto no dia seguinte. Sabemos o sistema por demais moroso, mas não vemos outra maneira para tornar o texto mais perfeito e exeqüível para apresentação ao público. Não temos interesse em ser perfeccionistas, mas é que acreditamos que, quanto mais o leitor se agradar pela forma, mais importância irá dar ao conteúdo.
Veja este escrito de hoje (Fatores do progresso — primeira redação), como está bastante complexo, cheio de idéias banais mas ditas de modo arrevesado. Por outro lado, existem alguns lampejos de genialidade. É preciso eliminar os primeiros e esclarecer os últimos, com argumentação mais acessível ao grosso do povo que necessite, realmente, chegar às conclusões ali aventadas.
Aos poucos, caro irmão, o nosso domínio da escrita vai realizando-se, de modo que, parece-nos, estamos navegando em águas conhecidas, sem o perigo de naufrágios catastróficos. Afine-se com este grupo para facilitar o nosso trabalho e o seu.
Vamos realizando a tarefa com calma e tranqüilidade, por isso você está tendo a sensação de que estamos vazios quanto aos assuntos, necessitando ficar fazendo hora com treinamentos superficiais de mero controle eletromagnético do aparelho e do instrumento. Esta observação é verdadeira, mas é parcial, pois aproveitamos o ensejo para passar inúmeras noções que podem ser simples para você, mas que significam verdadeiras surpresas para muitos dos leitores. É por isso que não desleixamos o vocabulário e mantemos as frases tensas e bem formuladas.
Quer um exemplo de ausência de interesse? Então, escreva:
"Hoje o dia amanheceu em flor. A tranqüilidade do meio-dia empobreceu a manhã vigorosa dos insetos a zunir. A noite promete ser tépida a incentivar momentos de ardor apaixonado."
Você poderá ir por aí e verificará que o contexto não condirá com a intenção de auxiliar o bom amigo que aspira, talvez, a se pôr a escrever de modo a refletir as vibrações e pensamentos dos irmãos da espiritualidade.
É claro que a maioria não se prestaria a tomar ditados deste teor, mais interessados estão em resultados práticos, como sejam os contatos com familiares ou amigos, para se ter a notícia de como estão, na presunção de que, se estiverem bem, será sinal evidente de que assim se sentirão quando partirem para o mistério, para o desconhecido.
Eis revelado mais um sentimento humano mui natural entre os indivíduos que não agem cem por cento honestamente, segundo os próprios pontos de vista, calcados na noção que têm do dever evangélico. Até o irmão médium se sente um pouco constrangido por ter demonstrado desconfiança de não estar sendo fiel aos preceitos da mediunidade, uma vez que não acata irrestritamente este nosso vezo de dizer as coisas um tanto desabridamente.
Diz-nos que hoje até que o texto parece estar condizente com o nível evolutivo que se requer das comunicações dos alunos da Escolinha. É bem verdade. Para a matrícula, são necessários certos pré-requisitos, condição mínima intelectual e moral e desejo não desmentido de que o progresso é a meta final dos que se propõem a cumprir os deveres curriculares. Neste ponto, está o amigo perfeitamente correto.
Como vemos que estamos avançando sobre nosso horário, estando o irmão um pouco ansiado por ver-se livre desta tarefa, apesar de seu compromisso apresentar-se inteiramente responsável, como ainda notamos que o influxo energético está perigosamente em níveis muito baixos, vamos encerrar este escrito, rogando aos irmãos mentores que voltem a nos fornecer os esclarecimentos necessários a respeito dos resultados dos trabalhos desta tarde.
Sabemos que há sempre curiosidade em torno de como se acomodam hierarquicamente os espíritos em nossa organização escolar. Mas não iremos repetir, a não ser o fundamento, a essência do relacionamento: o respeito integral, completo, absoluto, à precedência moral e intelectual, de forma que os mais aptos e melhor dotados estão sempre em postos mais elevados. Não há a presença de pistolões a favorecer injustiças. Tudo aqui decorre do mérito de cada qual.
Como ontem, se nos der o amigo corda, iremos desfiando as notícias que nos chegam à lembrança. Veja como é agradável para nós participar desta mesa tão gentil e conviver com seres tão simpáticos.
Oremos para obter do Senhor as suas bênçãos de luz.
(7.1.92)







8

SOB FORMA DE COMENTÁRIO





Nem sempre a opinião do médium irá prevalecer, apesar de suspeitar que esteja elaborando o texto conforme premissas próprias, quanto à orientação estético-literária que vai impregnando à mensagem.
É bom resguardar-se de pensar estar colaborando espontaneamente. É bem verdade que há momentos em que a imantação enfraquece, mas o sistema que adotamos nos dá inteiro domínio da situação, pois a refacção dos trechos impulsiona o pensamento para os caminhos que estamos constantemente a abrir.
Observe este escrito. Parece-lhe que está sendo produzido por sua consciência, por sua mente, ou fica-lhe claro que estamos elaborando o texto segundo roteiro que lhe escapa inteiramente ao controle? Não é verdade que abrimos os parágrafos e os períodos sem lhe passar a noção do que se irá escrever? Quando muito, você é capaz de imaginar o teor do conteúdo pelo contexto em que se vai inserir a escritura. E é só. O mais lhe refoge à imaginação, e você fica em estado de admiração diante do resultado final.
Por isso, a nossa formulação tem de apresentar algumas fases bem distintas, diferentes do trabalho elaborado pelas turmas anteriores. É que estamos instruídos a treiná-lo sob condições adversas, segundo a ótica em que você se coloca. Veja como arranjamos a frase para que você pudesse colocar termo que previamente desejou ver utilizado.
Para demonstrar que temos domínio de sua mente, no sentido de conhecer em profundidade tudo o que nos coloca à disposição, sendo-nos impossível adentrar os escaninhos que estão sob letreiro de proibida a entrada, é que nos atrevemos a trazer-lhe estes conhecimentos de como agimos. Se não lhe servir como meio de contato direto, pelo menos o pomos a par de que há possibilidade de sugestões, como se a intuição que solicitamos aos encarnados esteja sendo usada em relação a nós, como se fosse estrada de duas mãos. Veja que isso lhe abre boas perspectivas, no sentido de transformar nosso relacionamento em agradável tertúlia, pois evidenciamos a possibilidade de responder às perquirições íntimas. Aliás, muitos desenvolvimentos das turmas anteriores se fundamentaram em questões propostas por você, consciente ou inconscientemente.
Eis mais uma abertura no flanco de nossas possibilidades: o conhecimento até de intuitos desconhecidos do próprio mediador em estado de vigília. É que a alma humana se desprende do corpo toda vez que se põe a repousar, sem estar sob o efeito deletério das drogas ou dos obsessores. Se fôssemos estender-nos a respeito deste tema, iríamos muito longe. Para modestos comentários, é bom restringirmos o atrevimento.
Fique, caro irmão, vigilante para propor-nos temas de interesse, que lhe sejam impossíveis de resolução. Não lhe prometemos a verdade, mas bem próximos ficaremos de responder com mais precisão do que a sua fantasia possa criar. Claro está que haverá assuntos impossíveis para nós, mas isso nós deixaremos elucidado, pois não pretendemos portar toda a sabedoria.
Como este diálogo está tomando aspectos bastante desinteressantes, uma vez que estamos explorando tão-só a informação como roteiro do alinhavo desta pequena mensagem, vamos encerrar por hoje, demonstrando alegria por termos conseguido ampliar o texto principal (Fatores do progresso), alijando-o de certas imprecisões, conforme o cotejo dos originais poderá demonstrar.
O irmão que está utilizando-se do aparelho, em nome do grupo, agradece a boa vontade do médium e lhe deseja muita paz e felicidade no seio da família.
Pede-nos informações a respeito das provas vestibulares dos filhos. Pois o prêmio, a recompensa, a medalha será dada a todos os que demonstraram valor. Mas qual é esse prêmio? Eis que lhe devolvemos a interrogação, para que você se ponha a meditar; você e quem mais tiver contato com este texto.
Fique, pois, tranqüilo que tudo o que se coloca nas mãos de Deus frutificará em amor e esperança.
Vá em paz, querido irmão!
(8.1.92)







9

PEQUENOS INFORMES





A Equipe dos Amigos da Verdade se sente compelida a manifestar a sua surpresa por perceber a docilidade que tem encontrado no instrumento de que se serve para estas comunicações. Achávamos que seria difícil de dominar mentalidade tão voluntariosa. Entretanto, quanto mais temos verificado que o amigo domina os temas de que temos tratado, mais admirados ficamos por vê-lo ceder às determinações, executando muitas vezes o que lhe seria, a princípio, totalmente avesso à concepção.
Tal maleabilidade intelectual foi adquirida no transcorrer destas tardes de trabalho psicográfico, naturalmente, pois se deixa conduzir com absoluta confiança em que nada poderá afetá-lo nas convicções doutrinárias. Parabéns, irmãozinho! Continue a agir assim, pois é o que se pede para que se estabeleça poderoso vínculo entre os planos, para que as entidades incorpóreas possam dar seguimento aos projetos de assistência socorrista.
Fique com Deus em suas preces rogativas de humildade e contenção. Faça-se em nós segundo a vontade do Pai!
(21.1.92)







10

AGRADECIMENTO





A equipe está muito feliz com o transcorrer dos trabalhos. Ao aqui chegar, imaginávamos que iríamos enfrentar inúmeras dificuldades. No entanto, a assistência que temos recebido do amigo médium vai deixar-nos penhorados. Sabemos que se dispõe a cobrar da vida os sacrifícios que vem realizando, pois está a acreditar-se em débito, como se sua dedicação se desse por absoluta precisão. Não entraremos no mérito desse ponto, pois não nos cabe intrometer-nos em problemas íntimos, mas temos de dizer, quanto a nós, que o débito é todo nosso, esperando ter como saldá-lo através dos próprios textos.
Por isso, é preciso dar-nos crédito, pois ainda estamos bastante verdes para a consecução de trabalho de superior quilate diante dos argutos olhos dos críticos encarnados. Perdoe-nos você, bom amigo, pois a nossa carga é pesada, sendo que precisamos desempenhar-nos à proficiência para merecermos o progresso almejado em nossa rota.
Saibamos todos nós agradecer estes nossos momentos de realização mediúnica, para merecermos o amparo dos mentores, que não exigem outro tipo de resgate. Oremos, pois, pelo amor do Pai, que seremos recompensados plenamente pelo esforço desta dedicação.
Pai nosso, que estais...
(29.1.92)







11

A UTILIZAÇÃO DA DATILOGRAFIA





A par das providências de caráter meramente formal, há que se ater o mediador ao fato de que deve deixar de lado a emoção por se ver diante de tarefa nova, dificilmente aceita pela família e pelos amigos, mas perfeitamente integrada aos quefazeres das pessoas que se encontram destinadas à feitura dos textos.
É fácil, como se viu, tornar o texto expurgado dos defeitos datilográficos, pois o mecanismo à disposição apresenta recursos conhecidos de quem se põe a trabalhar com afinco. Se você não ficar preocupado com os aspectos parciais, mas tão-só interessado em providenciar o apanhado do ditado, exatamente da forma como está fazendo agora, irá perceber que tudo decorrerá da maneira mais fluente possível. Veja como as preocupações diminuíram sobremodo, depois que providenciamos a correção das falhas da primeira arremetida.
Datilografando diretamente, sem se preocupar em saber se está havendo ou não representação gráfica conveniente, você terá mais velocidade e poderá tranqüilizar-se ao sentir o resultado tão de imediato colocado à sua frente. O que é preciso é reorganizar o horário e a localização perante os demais membros da família, que deverão respeitar os momentos em que deverá isolar-se diante do aparelho para o apanhado dos ditados. Havendo boa vontade, haverá também forte congraçamento em torno dos objetivos comuns, quais sejam os de que todos, cada qual de per si, devam ser atingidos pela paz de saber que existe amparo promovido pelos guias e orientadores.
Não vamos forçar esta situação, pois a novidade foi estimulada até ponto bastante avançado, o que promoverá espanto mediante a facilidade que existe em tomar ditados que venham à consciência de maneira automática, quase mecânica. Veja como existe certa preocupação subjacente em que a ordem das palavras e das frases se ajeitem em função do tema, ao mesmo tempo em que a atenção se concentra muito mais nos registros de caráter mecânico, pois os dedos se dispõem para a escrita, de forma a sucederem-se as batidas sobre as teclas de modo absolutamente correto.
Não queremos mais do que temos conseguido. Isto para nós está inteiramente dentro do que estávamos programando, de maneira que até a escolha dos termos pode sofrer acréscimos, modificações ou supressões, no instante mesmo em que se dá o impulso diante do teclado. Não fique, portanto, apreensivo, mas prossiga escrevendo automaticamente e verá que, aos poucos, o que de mais terrível era para você, ou seja, a perspectiva de se ver frustrada a iniciativa, se transforma em sucesso absoluto e recompensador, pois nada é mais agradável para o psicógrafo do que ver o resultado final de sua dedicação aos companheiros do etéreo, os quais quase nunca tem a possibilidade de configurar de forma material, que seria o poder da audição ou da visão. São realmente muito poucos os médiuns que têm esse apanágio.
Vamos suspender por ora a transmissão e pedir-lhe que volte ao posto no quarto, crente de que outras experiências devam ser levadas a cabo. Trataremos, lá em cima, de corrigir o último texto, para poder deixá-lo com o coração mais sereno e o sangue menos quente, pois notamos que se alteraram sensivelmente suas condições emotivas e mentais. Vemos, com satisfação, que desejaria prosseguir apanhando os ditados aqui mesmo, mas cremos que para tudo deve haver contenção, medida, equilíbrio.
Hoje os dedos correram soltos e estabeleceram muitos toques, de forma quase imprevisível para a mente. O que desejamos, porém, é nível de influenciação bastante mais avançado, de molde a configurar que houve real proveito dos dizeres que se imprimiram na tela. De qualquer forma, o que se viu foi bastante satisfatório, embora este parecer esteja condicionado à apreciação dos demais membros do grupo, já que tudo o que fazemos depende de consenso.
Volte ao pavimento superior para prosseguimento. Não se esqueça de gravar e de refazer as preces habituais.
(4.2.92)







12

EXPLICAÇÕES





Quando fizemos o amigo intuir que a equipe repetiria os conceitos administrados anteriormente e quando nos denominamos de Equipe II dos Amigos da Verdade foi para deixar claro que nossos textos não teriam diretrizes novas, já que o objetivo do grupo é o de aprender a elaborar textos e a divulgá-los junto aos encarnados por meio da psicografia.
Somos turma de aluninhos e não estamos aptos a avançar nos conhecimentos. Baste-nos o treinamento e ficaremos imensamente felizes. Dado o sucesso das turmas anteriores, sentimo-nos muito primitivos para vir dar seqüência temática às manifestações. Queira, bom amigo, humildemente, retornar aos exercícios mais simples, já que o nosso compromisso delimita o campo de atuação, no sentido de prestação de serviço à Escolinha.
Se se der a possibilidade de divulgação dos trabalhos, tanto melhor, pois haverá repercussões não programadas. Mas não queremos correr o risco da frustração, prometendo organizar obra que se constitua em algo precioso. Fiquemos no dia-a-dia do trabalho mais chão, para o que estamos enfatizando o uso de terminologia, de vocabulário bem simples, embora as concepções nem sempre se comprazem com o linguajar de toda a hora, havendo, por isso, necessidade de se recorrer, às vezes, ao léxico mais apurado das ciências, da tecnologia e até da filosofia. Mas isto de passagem, movido pela necessidade temática e pelo reflexo evolutivo de quem estiver de posse do direito da imantação e transmissão.
Que o enfado a que nos referimos no corpo da mensagem (De novo) não desestimule o amigo. Sabe ele que se fundamenta no princípio do deixar correr livremente a pena, na reprodução mais próxima possível dos reflexos vibratórios das entidades que o procuram. Pois mantenha-se firme nesse ideal, já que é disso exatamente que estamos necessitados.
Não veja qualquer censura ao fato de desejar que as mensagens se tornem cada vez mais enérgicas e profundas no que respeita aos conhecimentos a serem passados. Vá com calma, como se estivesse principiando agora suas atividades mediúnicas, pois estará sob a influência direta de seus protetores e amigos de sempre.
Graças a Deus!
(26.2.92)

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