Vila
maria da graça almeida
Vila doce, doce vida
de meninas e moleques,
um cheiro de bolo, danado,
um garoto esfomeado...
Vila plantada em flores,
vila isenta de dores,
nas ruas certos folguedos
ensaiam o amor de brinquedo.
Vila que a solteira vigia,
na madrugada sombria
e mal contida disfarça
o abraço alongado na praça!
Vila onde o sono se cruza
com serenatas intrusas,
cantando a vida lá fora,
vindo e indo-se embora!
Vila de casa caiada,
de gerânios na sacada
e que de porta aberta,
o gatuno desconcerta.
Vila, que não ousa conflitos,
se vigilantes da lua,
adormecendo nas ruas,
ressonam alto seus mitos.
Vila que sempre em alerta,
bem mais cedo desperta,
sorrindo pelas calçadas,
para a luz recém- chegada!
Vila doce, doce vida
de meninas e moleques,
um cheiro de bolo, danado,
um garoto esfomeado...
maria da graça almeida
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