Em tempo de eleição,
sério jovem político
bolou sua oração
calcada em texto mítico;
e ao palanque subiu,
onde ninguém mais cabia,
certo de que produziu
o que tirava de fria
muitos correligionários,
como ele candidatos,
pois, contra seus adversários,
reunia muitos fatos.
Era a primeira vez,
sua primeira mensagem;
o povo, com avidez,
testava sua coragem.
A multidão acenava
e sacudia bandeiras,
às vezes, esbravejava,
não queria mais besteiras.
Ele, no palco, bem tenso,
começava o seu pânico;
alguém lhe jogou incenso
de adubo inorgânico.
Faltavam poucos minutos
para ser anunciado,
dentre colegas argutos,
o especializado;
porém, a cada minuto,
maior a sua tensão,
aquele povo astuto
causava apreensão.
Desistir jamais, nunquinha,
de pregar o que pensava;
gastara tudo que tinha,
porém, algo o travava.
Os momentos de espera
lhe causavam um sofrer,
turvava sua esclera,
precisava desmorrer.
Quando sua vez chegou,
qual vara verde tremeu;
alguém o anunciou,
e, então, quase gemeu.
Seus colegas de partido
ficaram apreensivos;
mas, sem ser repreendido,
os aplausos efusivos
mascaravam o vexame,
que logo se revelaria,
e que, por certo, certame
interno provocaria.
O microfone chegou,
o povo ficou calado;
ele, então, começou
o discurso esperado.
"Meu nome é..." suspirou,
e fez nova tentativa.
"Meu nome é..." não lembrou,
tremeu sua conjuntiva;
cheio de sestros, suava
mais que cerveja gelada,
o povo só escutava
"Meu nome é..."; que mancada!
Numa última forçada,
disse "Meu...", quase caiu;
sua mão foi amparada
e alguém lhe subtraiu
o microfone babado,
dando continuação
ao discurso esperado,
com uma cópia na mão.
Pro palanque veio maca;
enfermeiro de plantão
com cuidado a atraca,
sem deixá-lo ir ao chão.
Como este, em outubro,
dentre muitos candidatos,
um ficará muito rubro
perante outros abstratos.
É normal acontecer
em momentos decisivos,
de alguém que quer crescer,
esses lapsos retentivos.
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