PEDIDO
Maria Hilda de J. Alão.
Algemem-me quando eu pedir liberdade,
Confundam-me quando certeza eu tiver,
Não ouçam os gemidos de sonhos deflorados
Pelo desejo que é uma lâmina de espada
Pendente sobre a minha pobre cabeça.
Não sequem as lágrimas dos meus olhos,
Ao ouvir diáfano cântico na janela
Pleno de sentimento louco e santo,
Que sai das muitas bocas marmóreas
Das estátuas da minha imaginação.
Deixem-me, vendada, caminhar na estrada,
Pisar os pregos da dor e da desilusão.
Apaguem a luz das noites iluminadas,
E o fogo da acolhedora lareira.
Cruzem floretes com som metálico
Ferindo nuvens que correm no céu.
Escalem intransponíveis muralhas,
Edifiquem castelos de infelicidade,
Façam do meu coração uma herdade,
Construam indevassável prisão
Para encarcerar meu corpo e minh’alma
No escuro de gélida masmorra,
Mas não tirem do meu âmago
A semente de amor que brotará um dia.
28/07/04.
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