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Cartas-->Calma, Lumonê! Lula pode nos decepcionar ainda mais! -- 17/03/2003 - 09:10 (Penfield Espinosa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Calma, Lumonê! Lula pode nos decepcionar ainda mais!

(Sobre texto SOU MILITANTE PETISTA!!! E agora???, de Lumonê)

Lumonê, receba um abraço deste seu admirador: seus textos sobre política são muito bem colocados, honestos e sinceros.

Desculpe dizer isto, mas é preciso dizê-lo. Sei que você é petista, mas também sei que é um petista não fanático, que admite discussões e trocas de idéias.

Eu, que não votei em Lula, posso dizer com tranqüilidade que ele me surpreendeu muito favoravelmente.

Por várias razões:

1) a união que ele promoveu em toda a nação brasileira: paulistas, baianos, paulistas baianos (como eu), nipo-cearenses, modettes, globettes, starlets, proletários, emergentes etc.

2) o banho de autoestima e esperança que ele nos deu.

Lula é muito carismático e sua própria vida é um exemplo do que nós brasileiros podemos fazer. Não é preciso fazer parte da velha elite, ser um gênio poliglota, um professor da Sorbonne, um aristocrata, para se ser inteligente, bem informado, articulado e capaz. Enfim, não é preciso ser FHC para ser presidente do Brasil.

Enfim, um de nós pode ser presidente do Brasil. E, com certeza, um presidente até melhor do que FHC, que presidiu também sua imensa vaidade e o pequeno bloco dos banqueiros;

3) pequenas coisas que ele fez e que mostram que ele terá mais vontade política ou iniciativa de fazer as coisas, principalmente no plano internacional.

Por exemplo, não deixar Chavez, da Venezuela, nas mãos de sua própria precipitação e das empresas de comunicação venezuelanas. Sem falar, é claro, nos suspeitos usuais, como a embaixada americana.

Sem fazer muito alarde, sem invocar o nome de profetas de esquerda, Lula e seu governo foram a um só tempo hábeis para oferecer apoio a Chavez, como para costruir um espaço de negociação com os países maiores participantes da crise venezuelana. Inclusive, até mesmo, os EUA.

Fantástico! Em uma única tacada deixou de lado o covarde "não tenho nada a ver com isso" de FHC, e a porralouquice que se esperaria de um petista -- que os amigos antipetistas não deixam de apregoar;

4) contrariamente a todas previsões catastrofistas, os especuladores não promoveram o total açambarcamento do país, naquele tipo de agressão que se chama ataque especulativo.

Fora uma alta explicável do dólar, devidas às peraltices do companheiro Bush, tudo vai relativamente bem. Tão bem quanto possível. Tão bem quanto FHC nos deixou.

No entanto, depois de um começo mais do que auspicioso, Lula com certeza vai nos decepcionar. Também por várias razões:

A) seu governo será, no máximo, de centro, levemente voltado para a esquerda. Grosso modo, não se diferenciará ideologicamente daquele de FHC.

As razões para isto são basicamente três. Em primeiro lugar, o parlamento ainda é o local do "centrão", aqueles políticos fisiológicos, que apoiam apenas medidas mínimas, sempre a troco de favores como nomeações para cargos, verbas para currais eleitorais etc.

Em segundo lugar, como decorrência dos anos FHC, os sindicatos estão minimizados, mudos.

Em terceiro lugar, mas não menos importante, também como decorrência do governo FHC, nossa dependência do capital especulativo estrangeiro é monstruosa, assombrosa, paralisante.

Enfim, não obstante sua habilidade e carisma, Lula e seu governo estarão bloqueados em qualquer iniciativa menos pensada, menos negociada ou mais ousada;

B) do fato do governo FHC ser um governo de banqueiros para banqueiros, decorreu que ele tinha certa habilidade com os outros banqueiros -- da banca nacional ou internacional. É bem mais fácil a um banqueiro imaginar o que outro banqueiro pensa.

Neste ponto, o talento da chamada equipe econômica de FHC não pode ser disputado: outras equipes com ideologia semelhante, como aquela da Argentina, foram bem menos hábeis do que a nossa. É bem verdade que o Brasil sempre esteve sujeito a desequilíbrios e crises de todo tipo, sempre em posições cada vez mais delicadas.

Mas o fato é que ele sempre se saiu melhor do que os vizinhos.

Neste ponto, o governo Lula tem muito que aprender. Ele deixou outra raposa tomando conta do galinheiro. Isto é: colocou outro banqueiro no Banco Central. Contudo, já se comenta que a direção atual do BC tem deixado o mercado de dólar muito menos controlado do que na época de Malan & cia. que, mesmo que neoliberais, eram mais hábeis com finanças que Palocci e sua equipe, que são mais à esquerda;

C) por último, Lula assume em uma conjuntura internacional muito pior do que a de FHC. Talvez aqui internacional pudesse ser trocado por "americana", sem muita chance de erro.

Ao passo que o governo Clinton, muito hábil, dedicou-se a criar uma bolha especulativa na economia em geral e nas bolsas em particular, o bem menos hábil governo Bush tem de administrar o estouro desta bolha.

Mesmo quem não ache Bush Jr. um débil mental completo sabe que seu governo é muito mais ideológico (e portanto cego) do que o de Clinton. Suas ferramentas para combate aos problemas da economia se limitam a cortar impostos e a criar guerras. Mesmo na grande imprensa americana, surpreendemente pouco crítica, já há quem diga abertamente que Bush não é bom de economia.

Apesar dos americanos serem centrados em economia, há um grande patriotismo no país, e a ameaça de guerras sempre os mobiliza.

Assim, por mais hábil e determinado que seja Lula, haverá muito menos espaço para manobras políticas do que aquele disponível para FHC;

D) por último, Lula realmente está mais à direita do que já esteve. Ele mesmo deixou de ter um vínculo com o movimento operário e se comporta como um político tradicional. E isto não é pessoal: toda a cúpula do PT está composta de políticos profissionais. Lideranças sindicais tradicionais foram alijadas do poder: Vicentinho e Meneguelli (ex-presidentes da CUT), por exemplo, são figuras menores no PT. O presidente atual da CUT... como é mesmo o nome dele? O presidente do sindicato dos metalúrgicos do ABC, Marinho, consegue alguma voz, mas ela é bem pequena.

E, no entanto, estou convencido de que este é o melhor governo que poderíamos ter. Estou convencido de que meu candidato, José Serra, não teria um milésimo da habilidade de Lula em uma situação de tanta crise quanto esta.

E, no entanto, mesmo sendo a melhor alternativa, este governo vai nos decepcionar. Pois o mar não está pra peixe...

Sofre coração...

P.S.: relendo o texto agora, antes de publicá-lo, fiquei surpreso com seu pessimismo. Eu, que já disse que Lula iria perder as eleições, posso mais uma vez estar enganado.

Creio que sim: do mesmo modo que há azar no mundo também há sorte. Também há espaço para a habilidade. Todos sabemos que quem lutou contra a ditadura é bem capaz de dar um jeito nesta crise braba em que estamos.

Tomara!

(Copyright (c) 2003 P. Espinosa)
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