Quebra-quebra tem receita
muito tradicional,
não comê-lo é desfeita,
ele nunca nos faz mal.
Se bem feito leve fica
e se quebra, facilmente,
sua boca adocica,
abranda seu café quente.
Ele é encapetado,
você deve proteger
com ele bem mastigado
o céu da boca, e ver
se o café está quente,
a ponto de lhe queimar;
sopre e fique ciente
que ele vai esfriar.
Como hóstia deve ser
sobre a língua deitado,
pra que possa derreter
com seu sabor consagrado.
Pela língua elevado
ao céu da boca sensível,
com café é amornado,
tornando-se absorvível.
Não deve ser mergulhado
no café com leite, ou sem,
pois lá fica retalhado
e, assim, nem gosto tem.
Quebra-quebra é antigo,
coisa de confeitaria,
mas tem um outro abrigo,
quando há pancadaria.
Quando não há mais receita,
o povo fica quebrado,
toda prescrição rejeita,
e vai pra rua irado.
Primeiro faz um protesto,
há discursos odientos,
solta-se um manifesto,
dão-se atos violentos.
Vitrines são desmanchadas,
espalha-se o sabão
pelas ruas bem calçadas,
pra servir de proteção:
chega a cavalaria
da polícia militar,
começa a correria,
corcéis vão escorregar.
O fogo nas conduções
põe mais gente pra correr,
são muitas as reações,
o povo não quer ceder.
Água com alta pressão,
balas duras de borracha,
a polícia em ação,
povo só toma bolacha.
Lá do alto, na janela,
quebra-quebra comendo,
quem nunca se descabela
vê o que vai ocorrendo.
Hoje em dia o povão
come muito quebra-quebra,
é um povo folgazão,
e qualquer coisa celebra.
Vamos ver, na eleição,
se o povo quer voltar
a tempos de rebelião,
ou se já sabe votar.
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